Thursday, February 19, 2009

Com toda a agitação devido ao ataque dos vampiros e todo o cerco que o Ministério fazia, quase nenhum aluno optava por passar o fim de semana na escola. Restavam apenas aqueles que moravam em outros países ou alguns veteranos ocupados demais com deveres para se importar com a vigilância constante e a liberdade perdida. Evie era uma das alunas que não suportava mais ficar em Durmstrang e fugia toda sexta-feira para a casa com o avô, mas pela primeira vez, os planos mudaram. Vendo que a prima começava a se animar outra vez com o teatro, Dario sugeriu passarem o fim de semana em Londres, onde poderiam assistir algumas peças no West End e se desligar um pouco dos problemas. Junto com eles estaria Marta, a prima de ambos que estudava na Espanha e compartilhava com eles a paixão pela dança. Seriam apenas os três, sem regras e horário para nada, apenas curtindo as poucas horas que tinham antes de voltarem à escola.

‘Adorei a peça’ Marta se atirou na cama do hotel cansada, tirando os sapatos ‘Não achava que fosse gostar de Les Mirésables’

‘Eu também gostei, mas é muito triste’ Evie respondeu sentando em sua cama, cabisbaixa ‘Me deprimiu’

‘Ah nada disso’ Dario levantou da cama e encarou as duas ‘A peça é triste, mas nada de choro aqui hoje!’

‘Não estou chorando, só disse que não sai da peça dando saltos de felicidade’ Evie respondeu irritada e Marta também ficou de pé

‘Sabe o que devíamos fazer?’ Ela cortou o assunto antes que começassem a brigar ‘Devíamos fazer o teste para o elenco de Cats!’

‘Olha só, Evie, ela pirou’ Dario falou debochado e Evie acabou rindo ‘Está louca, mulher?’

‘Não estou louca não, o que temos a perder?’

‘A nossa dignidade?’ Evie sugeriu e foi a vez de Dario rir

‘Bobagem, ninguém nos conhece aqui’ Ela ignorou os dois e abriu o armário do quarto, puxando uma garrafa de tequila de dentro ‘Tudo que precisamos são de algumas doses de coragem. Quem me acompanha?’

‘Eu pego o sal’ Dario se prontificou, animado.

‘E eu o limão!’ Evie levantou animada também, já esquecendo que estava triste.

*****

‘Não tenho mais visto Hanna com você’ Evie comentou depois de virar sua sexta dose de tequila. A mesa do quarto estava suja de sal, respingos de tequila e continha diversos bagaços de limão ‘Não que isso seja da minha conta, só estou fazendo uma observação’

‘Querem saber o que aconteceu?’ Dario forçou uma risada ‘Não me incomodo em contar a vocês’

‘Sim, estou curiosa, admito’ Ela encarou o primo e deu um sorriso fraco

‘Algumas pessoas na escola estão comentando coisas sobre mim’ Ele deixou um suspiro escapar e passou a encarar o copo vazio enquanto falava ‘E Hanna teve sua parcela de culpa, foi ela quem espalhou, por vingança’

‘O que Hanna espalhou, Dario?’ Marta perguntou curiosa, com um pedaço de limão preso na boca ‘Por que Hanna quis se vingar de você?’

‘Eu sou gay’ Dario foi direto e elas se assustaram, embora Evie já tenha ouvido boatos ‘E quando Hanna descobriu e me confrontou, eu confiei nela e me abri’ Sua voz era de desgosto enquanto falava ‘Foi o maior erro da minha vida. Ela não aceitou como eu esperava que aceitasse e contou aos nossos pais, que por sua vez também não reagiram bem a noticia. E como não queria que as pessoas soubessem, ela passou a me chantagear, me cobrar favores e eu era obrigado a obedecê-la. Mas eu cansei disso, cansei de me esconder e não me importo mais que as pessoas saibam. Então quando me recusei a espionar você para ela, ela espalhou a fofoca pra escola toda’

‘Não acredito que Hanna tenha feito isso!’ Evie falou enjoada ‘Pedir pra você me espionar pra que? Pra ter o que contar a Inês? Sei que elas andam juntas!’ E Dario confirmou com a cabeça ‘E chantagear você, que horrível’

‘Não aja como se não conhecesse minha irmã, Evie. Você sabe que ela seria perfeitamente capaz de algo assim. Mas Hanna não dá ponto sem nó, ela deve estar vendo alguma vantagem nisso tudo, ou não teria se metido. Não sei o que ela pode estar ganhando, mas agora meu pai praticamente me escorraçou de casa e quando as aulas acabarem, eu não tenho pra onde ir’

‘Como você não tem pra onde ir? Fale com o vovô, conte isso a ele! Ele nunca ia deixar você na rua’ Marta falou indignada, com raiva de Hanna. Dario sempre teve muitos defeitos, mas era família e agora um de seus melhores amigos, ela não admitia que lhe fizessem mal.

‘Não tenho coragem de dizer que meu pai me odeia e me expulsou de casa. Tenho vergonha de dizer a ele o que sou’ Ele pareceu derrotado. Era a primeira vez que elas viam o primo assim ‘Mas o que mais me magoa foi o que Hanna fez. Você acha que conhece uma pessoa, confia sua vida a ela, e ela trai você’

Evie não respondeu. Estava pensando na última coisa que ele havia dito. Sabia bem como era aquela sensação, de confiar em alguém e ser traída. Era a pior sensação do mundo, e agora ela não se sentia mais tão segura em confiar em qualquer outra pessoa. Ela não suportaria passar por tudo outra vez.

‘E você? Não vai voltar a falar com Max nunca mais?’ Dario pegou-a de surpresa ‘Já faz quanto tempo que estão brigados? Um ano?’

‘Algum dia acha que vai perdoar Hanna e voltar a falar com ela?’ Evie perguntou no lugar da resposta e Dario se calou, rindo de leve e balançando a cabeça ‘Pronto, já respondeu sua própria pergunta’

‘Dario, deixe de bobagens e fale com o vovô’ Marta foi direta, enchendo outra vez os copos ‘Se você não falar, falo eu. Você não vai ficar sem casa, é patético pensar isso com a família que você tem. Todos vão lhe apoiar’

‘Estou sendo um idiota, não estou?’ Dario perguntou sem encarar as primas

‘Sim’ As duas responderam juntas e ele riu, levantando a cabeça.

‘Ok, ok, vou conversar com ele quando voltarmos. Prometo’ Ele sorriu parecendo mais animado e lambeu o sal da mão, virando mais um copo e mordendo o limão em seguida ‘Argh, já está começando a queimar. Acho que não consigo andar até o teatro’

‘Vocês estão mesmo pensando em ir fazer esse teste?’ Evie encarou os dois, espantada ‘Só podem estar brincando, não é? São 3 horas da manha, nem dormimos e estamos bêbados!’

‘Bobagem, podemos fazer o teste sim. Só temos que subir no palco e cantar Memories’ Marta respondeu confiante ‘Você só precisa de mais doses de coragem, tome’ E estendeu mais um copo a prima.

‘Preciso de doses de coragem pra tanta coisa...’ Ela respondeu baixo, mais para si mesma do que para os primos.

‘Está falando dele?’ Marta perguntou olhando para Dario, receosa.

‘Sim’ Evie virou a bebida de uma vez só e devolveu o copo a ela, para encher outra vez ‘Queria dizer tanta coisa a ele’

‘O que te impede de pegar aquele telefone ali, agora, e ligar pra ele?’ Dario pressionou ‘Medo do seu pai?’

‘Não é por medo, é por falta de coragem’ Ela respondeu encarando o chão, a voz fraca ‘Acho que ia ouvir a voz dele e travar, não ia conseguir dizer nada’

‘Mas só de poder ouvir a voz dele já seria bom, não é?’ Marta perguntou e Evie assentiu com a cabeça, sentindo seu rosto corar ‘Então! Liga pra ele, Evie. Tenho certeza que ele vai ficar feliz, mesmo que você não diga nada’

‘Liga, liga, liga, liga’ Dario começou a repetir, batendo com a mão na mesa de leve, e Marta se juntou ao coro. Evie ainda tentou resistir, mas não conseguiu segurar o riso.

Marta levantou do chão e caminhou até o criado mudo, pegando o telefone e estendendo a Evie. A garota ainda relutou, mas acabou cedendo e pegando o aparelho. Fechou os olhos e respirou fundo, discando o numero que já sabia de cabeça, sem nem precisar olhar para as teclas.

((Continua...))