Friday, February 20, 2009

I'm so tired of all we're going through
I don't want to live like that
I'm so tired of all we're going through
I don't want to love like that
I just want to be with you
Now and forever, peaceful, true...

Elaborate Lives- Tim Rice and Elton John- Aida


Micah estava deitado na cama encarando o teto, imaginando o que ela estaria fazendo. Quando ele a deixou, há dois meses, ele fez algumas promessas a si mesmo, e uma delas era que iria consertar as coisas. Faria tudo que pudesse para reparar o dano que ele causou e não mediria esforços para mantê-la segura, mesmo sabendo que ela ainda poderia estar o odiando.

Evie às vezes não fazia sentido algum. O jeito que ela tinha para lidar com os problemas era apenas uma das coisas que não combinavam com ela. Ela provavelmente pensava que merecia tudo isso. Ele não a conhecia há anos, mas conhecia tempo suficiente para imaginar seus motivos.

Mas agora ele já havia desistido de fingir que havia a esquecido. Ele havia desistido de fingir que não o matava não tê-la ao seu lado. Depois de deixá-la para trás e voltar para a escola da Califórnia à força, ele havia dito a Chris que não iria desistir e ele dizia a verdade.

Seu telefone estava jogado em cima da almofada ao seu lado, a almofada que era dela e que acidentalmente ainda carregava seu perfume. Ele queria tê-la outra vez só para ele e não sabia como lidar com isso. Então, quando seu telefone tocou ao seu lado e ele viu o nome dela na tela, quis ignorar. Mas se pegou atendendo ao primeiro toque.

‘Alô?’ Ela não podia falar, sua garganta parecia estar fechada ‘Evi’ Ela mordeu os lábios, concentrada no jeito que a voz dele dizia seu nome.

Ele a ouviu se mexer do outro lado da linha e desejou que ela ao menos admitisse que era ela, mas sabia o quanto a tinha custado para ligar para ele primeiro. Ele tentou então ficar feliz que ela tenha ligado no fim das contas.

‘Eu tenho pensado em você, sabia? Você é persistente’ Ela sorriu, entendendo aquele sentimento ‘Ultimamente tenho me focado no jeito que você fica quando dorme. Sabia que você fala durante o sono às vezes? Nada revelador, na verdade não faz sentido algum, mas é adorável’ Ela fechou os olhos e apenas o ouviu ‘Sabe, você não precisa…’ Ele parou e ela abriu os olhos, esperando apreensiva.

Ele queria dizer a ela que ela não precisava ligar para ele, que ela não precisava estar sozinha. Ele queria dizer a ela para ir até ele. Mas ele sabia que não podia.

‘… esqueca. Então, você vai falar comigo?’ Ela não respondeu ‘Ok então. Isso vai ser divertido’

Ele se atrapalhou um pouco, incerto do que dizer. Se ela estivesse sentada ao lado dele, eles não precisariam estar conversando.

‘O que você está pensando?’ Ela sorriu, imaginando os braços dele em volta dela enquanto ele sussurrava em seu ouvido.

‘O que você acha?’ Ela respondeu baixo

‘Ela está viva!’ Ele estava mais do que feliz por ouvir a voz dela, era quase patético. Ele sentou na cama para ficar mais confortável e passou a encarar a janela.

‘Cale a boca’ Ela o provocou, torcendo para ele não levar a sério

‘Ok’ Ele concordou com ela. Ele queria fazê-la falar, queria ouvi-la.

‘Não!’ Sua voz era cheia de necessidade e ela odiava que ele a deixasse tão desesperada às vezes.

‘Não o que, meu amor?’ Ele se sentiu culpado, mas sabia que ele não poderia ser o único disposto a manter a conversa. Ela teria que trabalhar para isso também, ou no fim não teria significado algum.

‘Continue falando’ Ela sabia que se ele não continuasse falando eles teriam que desligar, e sendo um erro ou não, ela não queria que terminasse ainda. Apenas ouvi-lo parecia acalmar o caos um pouco.

‘Por que?’

‘Você precisa de um motivo?’

‘Sim’

Ele não iria recuar e ela sabia que se quisesse ele de volta em sua vida, ela teria que superar o medo de se entregar por completo. Ele não estava pedindo muito, ele apenas queria saber por que ela queria ouvir sua voz.

‘Ta bom’ Ela cedeu com um suspiro ‘Porque eu gosto de ouvir você’

Ele não pode impedir o sorriso que se formou em seu rosto, não pode evitar a sensação de sentir o estomago revirar.

‘Ah é?’ Ele perguntou torcendo para que ela confirmasse

Ele tinha que saber que quando ele falava assim, a fazia querê-lo ainda mais. Ela podia imaginar o sorriso pretensioso que ele tinha no rosto, aquele sorriso afetado que a enlouquecia.

‘É, mas não deixe que isso suba à sua cabeça’ Ele sabia que as bochechas dela estavam vermelhas, que ela havia virado a cabeça para o lado tímida. Ela sorriu, mais feliz do que havia estado há dias. Apenas em falar com ele sobre nada fazia da vida mais simples, fazia eles parecerem poder dar certo.

‘Então’ Ela levantou do chão caminhando até a cama, o olhar dos primos a seguindo e nenhum dos dois emitia qualquer tipo de som.

‘Então’ Ele respondeu no mesmo tom. Eles se calaram por alguns segundos.

‘Eu talvez sinta sua falta’ Ela confessou, toda a tequila ingerida mais cedo enchendo-a de coragem.

‘Eu sinto sua falta’ Ele admitiu de verdade

‘Você acha que…’ Ela queria pedir que ele ficasse na linha, mas ela não tinha esse direito e era bobo e estúpido. Ele provavelmente tinha coisas melhores para fazer. E também ele ainda devia estar chateado com ela. Claro que ele estava sendo legal agora, mas se ela começasse a soar carente ele não iria adiante.

‘Eu acho o que, Evi?’ Ele podia dizer que era importante, ela sempre ficava hesitante quando queria pedir algo que precisasse.

‘Nada’ Ela respondeu depressa, lamentando ter levantado o assunto.

‘Você pode falar comigo, Evi’ Ele imploraria se fosse preciso

‘É idiota’

‘Eu duvido’ Por que ela tinha que questionar tudo?

‘Eu não mereço você’ Ela sussurrou

‘Você está errada’ Ela se culpava, ele estava certo.

Ela suspirou, sentindo-se cansada. Talvez fosse a conversa. Ou talvez ele apenas a fizesse sentir-se tão segura e capaz que estar com ele daquele jeito, ouvindo sua voz, baixa e suave, gentil e carinhosa, a acalmava.

‘Você parece sonolenta. Estava bebendo, não é?’

‘Talvez um pouco’ Ela admitiu e virou para o outro lado, abraçando o travesseiro e esfregando o nariz nele por um momento, imaginando o perfume dele.

‘Queria estar ai’ Ele sussurrou suave. Ela sorriu.

‘Eu queria que você estivesse aqui também, mas ainda há muitas coisas que você não sabe. Coisas que não posso contar a você ainda’ Ela suspirou e virou de costas. Ele merecia mais dela e ela não podia oferecer mais a ele até que seu pai estivesse fora do caminho.

Ele quase desejou que pudesse contar a ela que ele sabia, tornar as coisas mais fáceis, mas teria que ser assim. Ele não podia arriscar colocar a vida dela em risco, por um deslize seu. Faria as coisas como havia planejado.

‘Eu só preciso ouvir a sua voz’ Ela odiava ter se tornado tão dependente dele. Mas isso era tudo que ela conseguia pensar, no jeito que a voz dele soava, o jeito que ele a fazia se sentir tão segura e amada. Ouvi-la implorando quase partiu seu coração.

‘Eu talvez tenha outros sentimentos por você’ Ele disse suavemente, seus dedos brincando com o fio solto do telefone. Esperando ela cortá-lo, como sempre.

‘Eu sei’ Ela respondeu no mesmo tom.

‘Você não vai fazer nenhuma objeção quanto a isso?’ Ele se surpreendeu com a reação dela.

‘Não posso e acho que você sabe o porquê’ Ela agora brincava com a ponta do cobertor. Dario e Marta trocavam olhares rápidos vez ou outra, atentos a tudo.

‘Evi, por que você não diz logo?’ Ele suspirou. Sempre um passo a frente, dois para trás.

‘Então, eu tenho pensado em dar um nome ao cachorro’ Ela comentou mudando de assunto.

‘Entendi, assunto encerrado’ Ele suspirou e saiu da cama, encarando o sol que fazia do lado de fora. Sua mala com os casacos que separava para voltar a Durmstrang aberta no chão.

‘Só…’ ela parou, abrindo a porta da varanda do hotel e saindo ‘…espere’ A chuva que caia estava diminuindo, mas o frio não passava.

‘Para sempre?’ Ele perguntou impaciente, os dedos batucando na janela.

‘Apenas não agora’ Ela deixou um suspiro escapar e entrou outra vez, se atirando na cama outra vez.

‘Ok, então, o que está fazendo?’ Ele perguntou enquanto voltava para a cama, deitando de costas.

‘Falando com você’ Ela riu

‘Obrigado, já havia decifrado essa parte’ A risada alta dela o fez sorrir ‘Evi, eu...’

‘Não, Micah’ Ele se calou. Ela apenas queria que ele soubesse, e não sabia como dizer a ele.

‘Eu não preciso da sua pena e não quero só um encontro casual com você, especialmente pelo telefone’ Sua voz era firme, inflexível, e ela sabia que ir além seria inútil, mas ela não podia deixá-lo com o pensamento de que aquilo tudo não significava nada para ela.

‘Não é nada disso que você pensa!’

‘Então o que é?’ Ele realmente não sabia e era inteiramente culpa dela. Como ele poderia saber que ela estava morrendo por dentro por tê-lo deixado ir embora? Ele estava certo em exigir mais dela. Sempre voltaria àquele ponto. Mas ainda assim ela esperava que ele pudesse ler nas entrelinhas e enxergar o quanto ele significava para ela. Talvez ela nunca fosse capaz de dizer isso a ele.

‘Se você não sabe, então não vale a pena. Boa noite’ Ela puxou o telefone para longe do ouvido e estava prestes a apertar o botão para desligar, mas as palavras dele foram altas o suficiente para que ela ouvisse.

‘Eu apenas não sei o meu lugar ao seu lado. Você me diz que quer mais, mas veta quando eu tento avançar’

‘Não posso’ Ela recolocou o telefone no ouvido e respondeu a ele

‘Certo’ Ele disse sem emoção. Como se ela estivesse fazendo de propósito.

‘Ah, por favor. Não seja um cretino sobre isso’ Ele podia dizer que ela estava com raiva, mas ele tinha o direito de ficar puto e ela teria que lidar com isso. Ele estava cansado e de saco cheio dela afastá-lo.

‘Não, eu tenho que fingir que está tudo ótimo!’ Ele exigiu saber

‘O que você quer de mim?’ Ela revidou. Se ele pensava que isso era fácil para ela, ele estava louco.

‘Algum tipo de confirmação não seria ruim’ Ele fez uma pausa, esperando. Sempre esperando por ela.

‘Você quer que eu diga que eu te amo!’ Ela levantou outra vez e empurrou a almofada da cama para o chão, irritada.

‘Não exatamente. Eu não sei se acredito em você’ Suas palavras foram cruéis e ele sabia disso, mas não se importava. Não mais. Ele socou a parede irritado, incapaz de se conter.

‘Eu não quero brigar com você. Nada que eu lhe ofereça será o suficiente’ Ele era um idiota. Ela o odiava tanto por fazê-la querer chorar ‘Só porque eu estou aqui, não significa que não estou com você’ Ela murmurou.

‘Na verdade meu amor, significa sim’ Ele não podia mais ouvir isso. Não podia mais fazer isso. Ele pensou que pudesse suportar, pensou que apenas ouvir a voz dela outra vez fosse o suficiente. Ele estava errado.

‘Eu lhe prometo Micah…’ Ela sussurrou, sentando encolhida no cama, uma mão segurando firme o telefone e a outra apertando os joelhos.

‘Não faça promessas que não pode cumprir’

‘Eu lhe prometo que se você for um pouco mais paciente...’

‘O que?’ Ele exigiu. O que ele poderia ganhar por ficar esperando sentado algo mais dela?

‘Você também não diz as palavras’ Ela o acusou, com raiva por ele não querer dar mais tempo a ela.

‘Não sou eu que estou sendo questionado’

‘Como você sabe disso, Micah? Como você sabe que eu não questiono você todos os dias? Você apenas se aproximou de mim para se vingar do Josh, e agora eu supostamente deveria acreditar que você não tem outros motivos? Você mentiu também’

Ela não tinha pensado que isso a incomodava, mas a verdade era que incomodava sim. A incomodava e muito que ele também não dissesse. O que ela sabia que era extremamente egoísta e hipócrita da parte dela. Quantas vezes ela havia o impedido de dizê-las?

‘Eu não menti. Você sabe que não’ Ele negou as acusações, não tendo parado para pensar que talvez ela também não pudesse confiar nele.

‘Isso é ótimo… Você acha que ainda seremos capazes de ter uma conversa sem discutirmos?’ Ela se viu lutando contra as lágrimas outra vez.

Ela confiava sim nele, mais do que em qualquer outra pessoa, mas a parte dela que ela não podia entregar a ele cairia sempre no mesmo assunto. Talvez tudo isso fosse sem sentido.

‘Algum dia, talvez’ Ele esperava mais que tudo que suas palavras fossem verdade. Esperava que um dia tudo isso fosse parte do passado, uma parte que talvez fosse necessária, mas que finalmente houvesse terminado.

‘Isso foi uma péssima idéia’ Ela suspirou, sem ter certeza se ela tinha se referido ao telefonema ou ter se envolvido com ele

‘Não, não foi. Nunca mais pense assim’ Ele tentou fazer com que ela visse que não era. Que ela havia feito tanto por ele, deixando ele saber tanto com aquele telefonema. Que ela fez a vida dele melhor, fez dele uma pessoa melhor. Isso nunca poderia ter sido um erro. E ela não poderia pensar isso.

‘Eu quero poder demonstrar o quanto sinto sua falta. Eu quero fazer você se sentir como eu me sinto. Eu não queria brigar’ Uma lágrima escorregou por sua bochecha enquanto ela deitava na cama, puxava o travesseiro outra vez para si e fechava os olhos.

‘Eu quero que isso dê certo’ Ele sussurrou

‘Eu também’ O tom da sua voz, o jeito com que aquelas palavras saíram tão convincentes. Ele acreditava nela.

‘Eu te amo’ Ele sentiu sua garganta se fechar com aquelas palavras

‘…porque?’ Ele mal ouviu ela falar

‘Eu não deveria, sabe…’ Ela sorriu de leve. Ela sabia. Ela conhecia aquela sensação muito bem. Nada disso deveria ter acontecido. Quando ela havia perdido o controle da situação?

Talvez tenha sido a primeira vez na vida que ela estava feliz por ter perdido o controle. Ela nunca havia aprendido como era essa sensação.

‘Eu sei’ Ela confirmou, mas ainda esperando que ele respondesse sua pergunta.

‘Por que eu te amo?’ Ele perguntou sentando na cama outra vez, feliz por ter tirado aquele peso dos ombros. Ele não precisava mais temer que ela rejeitasse seus sentimentos, que ela não se importava mais.

‘Sim’

‘Porque… você é linda. Quando você não está tentando ser outra pessoa, quando você está realmente comigo, eu sinto que posso fazer tudo, como se tudo de errado que já fiz fosse esquecido. Você é tão… você’ Ele admitiu. Tudo na vida dele era incerto, espontâneo, menos Evie. Como ele se sentia em relação ela, aquilo era uma certeza.

‘Eu quero valer isso tudo’ Ela admitiu. Suas lágrimas caindo na frente dos primos como um livro aberto.

‘Ah meu amor… Eu quero valer a pena para você. Não entende? Talvez nós sejamos exatamente o que merecemos’ Suas palavras foram tão convincentes e cheias de paixão, ela não podia evitar acreditar nele.

‘Eu quero você aqui ao meu lado’

‘Me diga o que lhe impede’ A constatação dela deu a coragem que ele precisava e ele a pressionou

‘Tenho medo do que pode acontecer se eu for até ai’

‘Eu nunca deixaria nada acontecer a você, Evi’ Ele prometeu e ela sabia que ele acreditava nisso. O problema é que nem sempre ele tinha o controle de tudo

‘Eu sei que você acredita nisso. Eu também. Eu só preciso resolver algumas coisas antes de nós...’ ela tentou explicar. Sim, ela queria o mesmo que ele, só precisava de um tempo.

‘Antes de termos o que nós queremos?’ Ele tentou arrancar uma confirmação de que ele não estava esperando em vão, que ela realmente queria as mesmas coisas que ele, e que mais cedo ou mais tarde, eles finalmente ficariam juntos.

‘Sim. O que nós queremos’ Ela sorriu e ele quase pode ouvir através do telefone.

‘Evie, procure o Dimitri’ Ele relutou durante toda a conversa para dizer aquelas palavras, mas finalmente se convenceu de que era a única saída.

‘Por quê?’ Ela estava confusa. O que seu irmão mais novo poderia fazer?

‘Apenas me prometa que vai procurá-lo. Ele pode ajudar mais do que pensa’

‘Ok’ Ela concordou, embora incerta do que poderia dizer a Dimitri.

‘Você parece cansada’ Ele podia dizer que ela não ia resistir por mais muito tempo.

‘Não muito, só um pouco bêbada’ Seus olhos fecharam enquanto ela lutava contra o sono, querendo ficar com ele um pouco mais.

‘Você é linda, Evi. Essa é minha hora favorita de olhar pra você, logo que você pega no sono’ Ele murmurou suavemente.

‘Micah?’

‘O que?’

‘Eu te amo’

‘Eu sei. Durma’ Ele sabia que ela estava quase apagando, mas não se importou. Ela o amava.