O teatro do vilarejo era muito antigo. Seu palco era um pouco menor que o palco de Durmstrang, algumas tábuas estava soltas e as cortinas corroídas, assim como alguns assentos na platéia. Foi necessário um mutirão com os alunos para deixar o teatro seguro e depois de se certificar que todas as tábuas do palco estavam seguras, o professor Ivo deu inicio aos ensaios para a peça. Eu já havia montado minha equipe. Filipe seria o responsável pela iluminação, Wes ajudaria com a sonoplastia e Gina havia se voluntariado para me ajudar com o cenário. Discutíamos sentadas no fundo do teatro como ficariam as peças no palco, mas paramos quando o grupo ia começar a ensaiar a música La Vie Boheme. Era minha parte favorita do musical e estalávamos os dedos no ritmo da música, vendo Gabriel em cima da mesa dançando.
‘Ele fica uma graça cantando’ Gina comentou rindo, enquanto Gabriel deslizava pela mesa na direção de Ricard ‘Ele disse que vai cortar o cabelo quando estiver mais próximo da peça, pra entrar no clima do personagem’
‘Adoro os meninos dançando e cantando nas peças, fica um charme mesmo’ Respondi rindo também, observando agora Chris subir na mesa ‘Muitos aqui acham que é coisa de mulher, só mesmo Chris e Alexei não ligam pro que pensam. Gostei quando Gabriel, Dario e Ricard se animaram esse ano’
‘Não sei se teria coragem de subir num palco e cantar’ Gina sacudiu a cabeça e ri ‘Ia morrer de vergonha’
‘Também pensava isso, mas ano passado foi muito legal, o professor conseguiu desinibir todo mundo e adoramos encenar um musical’
‘E por que você não está lá no palco?’ Ela perguntou curiosa e balancei a cabeça
‘Muito complicado, melhor você não entender’ Respondi forçando um sorriso despreocupado e ela percebeu, então não insistiu ‘E estou gostando de ser contra-regra, variar um pouco é bom’
Paramos de conversar e voltamos a prestar atenção no ensaio, que estava nem animado. Quando a cena da música terminou, o professor deu alguns minutos de descanso e Gina levantou para tirar algumas medidas do palco. Dario sentou do meu lado com uma toalha no ombro, esgotado.
‘Você está mais cansado que o normal’ Comentei quando ele deitou no banco e fechou os olhos ‘O que houve?’
‘Tenho dormido pouco’ Ele sentou outra vez e me encarou sério, conferindo se os outros estavam longe ‘A Sociedade, andei investigando’
‘Descobriu alguma coisa?’ Larguei a prancheta que segurava e encarei-o aflita
‘Acho que sim. Ele é mesmo Accolon, isso pude comprovar no dia da minha iniciação. Andei o seguindo, e ontem ouvi uma conversa estranha. Não consegui ouvir tudo, mas definitivamente ouvi o nome do Micah e depois falaram sobre um homem chamado Arthur Strauss’
‘Arthur Strauss’ Repeti pensativa ‘Onde já ouvi esse nome? Ele não é estranho’
‘Arthur Strauss foi encontrado morto em um lago não muito longe daqui, atacado por Grindylows. Ele era da Sociedade, seu nome lá era Percival. Pelo que ouvi, ele estava disposto a entregar tudo, revelar a um jornalista tudo que sabia sobre os Reis e Sombras, mas morreu antes que pudesse fazer isso. Estranho, não?’ Perguntou desconfiado
‘Micah me disse que tinha encontrado uma pessoa que ia contar a ele tudo sobre a sociedade, tinham combinado de conversar’ Aos poucos ia lembrando de fatos soltos ‘Isso foi na época que saiu a nota de falecimento dele e logo depois Micah foi atacado’
‘Evie, não posso afirmar ainda que seu pai tenha ligação com a morte desse homem, mas temos que concordar que é muita coincidência justamente ele estar falando dos dois’ Concordei com a cabeça, assustada, e ele continuou ‘Se pudéssemos encontrar alguém ligado a esse homem, talvez a pessoa possa nos dizer se ele teve algum contato com o Micah. Temos que saber quando que ele morreu e seus passos durante o dia’
‘Foi um dia antes do aniversário do Micah, 26 de Março’ Respondi de imediato ‘A nota do jornal saiu no dia do aniversário dele, aconteceu no dia anterior’
‘Ótimo, já temos um ponto de partida. Se conseguirmos ligar Micah, Arthur Strauss e seu pai, podemos por um fim nisso’
‘Dario, o descanso acabou, volte para o palco!’ O professor gritou da frente do teatro e Dario levantou
‘Depois continuamos a conversa, mas conte as meninas hoje a noite’
Assenti com a cabeça e ele correu de volta pro palco, se preparando para ensaiar um numero com Alexei. Gina sentou outra vez ao meu lado, seguida por Wes e Filipe, e passamos o resto da noite discutindo sobre o que faríamos na peça. Conseguimos acertar praticamente tudo e quando o ensaio finalmente terminou, Ivo conduziu os alunos aos poucos de volta para o castelo. Apenas a equipe do jornal, que por coincidência todos faziam parte do teatro, ficou pra trás. Nos reunimos nas poltronas para conversar sobre o jornal alternativo e quando não restava mais ninguém para atravessar a passagem, o professor veio até o nosso grupo.
‘Sei que amam minha aula, mas temo ter que pedir que voltem ao castelo’ Ele brincou quando se aproximou e rimos ‘Qual o motivo da reunião?’
‘Estamos com um problema, professor’ Falei vendo que ninguém mais ia responder e eles me olharam alarmados ‘Tudo bem, ele vai ajudar’
‘O que aconteceu?’ Ele perguntou preocupado, sentando do lado de Georgia
‘Nós saímos do jornal por, digamos que divergência de opiniões’ Gabriel explicou
‘Sim, estávamos discordando de algumas coisas e decidimos sair’ Georgia falava agora ‘E pensamos em criar um jornal alternativo’
‘É, por baixo dos panos, sabe?’ Miyako comentou um pouco incerta se deveria dizer aquilo
‘Excelente idéia!’ Ivo falou animado e até nos assustamos um pouco ‘É exatamente isso que vocês têm que fazer, lutar contra eles!’
‘É esse o problema, professor’ Falei tentando não desanimar ‘Queremos lutar, mas não temos armas’
‘Não temos onde imprimir o jornal’ Gina explicou quando ele não entendeu ‘A redação esta sendo guardada como um cofre do Gringotes’
‘O problema de vocês é só imprimir o jornal?’ Ivo perguntou e confirmamos ‘Então eu posso ajudar, mas vocês terão que correr contra o tempo. Tenho uma amiga jornalista que trabalha aqui no vilarejo e ela pode imprimir pra vocês, mas ela sai de férias na terça-feira. Acham que conseguem me entregar tudo até segunda, na hora do almoço?’
‘Conseguimos, não é pessoal?’ Georgia ficou de pé, mais animada, e concordamos com a cabeça animados também ‘O jornal vai estar na sua mão segunda-feira, sem falta!’
‘As matérias já estão definidas, certo?’ Perguntei em duvida
‘As matérias menores sim, mas ainda não temos definidas as matérias que vão cobrir a primeira pagina’ Miyako respondeu
‘Então vamos decidir isso agora. Miyako, pode escrever sobre o campeonato de quadribol?’ Miyako assentiu com a cabeça e Georgia se virou para Wes e Nina ‘Wes, quero uma pesquisa na escola, saber o que os alunos estão achando da intervenção do Ministério. E Nina, preciso de um resumo sobre a nossa peça, quero a historia dela contada em detalhes no jornal e os motivos que fizeram o Ministério impedir que ela fosse apresentada’ Os dois concordaram animados e ela olhou pra mim ‘Evie, precisamos contar do ataque dos vampiros. Você participou de tudo, sei que consegue falar dele. A escola teve uma noite de caos e ninguém deu importância. E alguém precisa falar do torneio tribruxo’
‘E qual vai ser a matéria de capa?’ Gabriel perguntou olhando para Georgia ‘São matérias boas, mas nenhuma é bombástica o suficiente pra matéria principal’
‘Alguma sugestão?’
‘Que tal uma entrevista com quem já sofreu com a repressão do Ministério?’ Gabriel sugeriu e ele e Gina sorriram cúmplices
‘O que tem em mente, Lupin?’ Georgia perguntou com um tom de animação nítido na voz
‘Gina e eu podemos fazer uma viagem a Londres amanha’ Ele falou animado e Gina concordou ‘Voltamos com a sua matéria de capa, pode confiar’
‘Façam o que quiserem, confio em vocês. Eu fico então com o torneio tribruxo. Fechamos?’ E fizemos que sim com a cabeça
‘Ótimo! Então mãos a obra! Quero ver essa edição pegando fogo!’ O professor bateu palma animado e sorrimos, confiantes outra vez ‘Agora vamos voltar antes que notem nossa ausência’
Ele levantou da cadeira e nos guiou em grupos de 2 de volta para o teatro do castelo, onde éramos recebidos pelo professor Marko. Quando todos voltaram eles nos levaram de volta para as republicas e embora cansada, não consegui pregar o olho durante um bom tempo. Com todo aquele ar de revolução nos rondando, era difícil relaxar e curtir uma noite de sono tranqüila. Mas uma coisa era certa: "O Berrador" ia entrar pra história.