Fevereiro de 2007
-Ora, ora...O que o leão faz fora da toca?- o dono da casa perguntou ao visitante.
- Porque você foi à minha casa assustar a minha família?
- Fui apenas fazer uma visita, não tive a intenção de perturbar ninguém. Só quero retomar as velhas amizades...- o homem disse cínico.
- Quero que você fique longe deles...- disse o visitante sério.
- Deles ou dela? Tem medo que ela queira relembrar os velhos tempos?
- Não seja ridículo. Somos felizes e nos amamos.
- Se você tivesse tanta certeza disso, não teria vindo aqui. - e o homem percebeu ter tocado num ponto sensível do outro, e aproveitou a vantagem.
- O tempo fez bem a ela, está bonita e talvez ela tenha sentido a minha falta...
- Não ouse se aproximar dela, ou eu sou capaz de matá-lo.- disse o visitante segurando o homem pelas vestes, e o homem respondeu cínico:
- Posso até não me aproximar dela, mas nada impede que ela venha até a mim. Lembro-me de que ela era um furacão. Ainda é assim? - e o homem deu-lhe um soco jogando ao chão.
- Fique longe da minha família, estou avisando. - e o visitante foi embora, batendo a porta ao sair.
O homem levantou-se do chão, desamassando as vestes e disse para si próprio na sala vazia, enquanto massageava o maxilar dolorido:
- Acho que chegou a hora de tomar de volta o que é meu.
Fevereiro de 2000
Depois do ataque dos vampiros, a escola começou a voltar ao ritmo ‘normal’. O diretor Ivanovich procurava manter uma certa normalidade, mas víamos que cada pequena coisa que ele conseguia manter como antes, era conquistada a duras penas, via-se pelas expressões irritadas dos aurores encarregados da censura.
O trabalho da professora Mira foi uma surpresa. Com o ataque dos vampiros, estávamos nos protegendo no castelo, e nem lembramos de levar os nossos ‘filhos’ e eles registraram maus tratos, alguns bebês até queimaram os circuitos internos de tanto chorar. Tínhamos receio de reprovar na matéria dela, mas quando ela nos perguntou o que achamos da experiência de criar um filho e ter uma família ainda na escola, a maioria explicou a ela que ter filhos não estava em nossos planos, pois éramos muito jovens, ela sorriu contente, dizendo que o seu objetivo havia sido alcançado. E deu uma nota boa para todos.
Não haveria baile pelo dia dos Namorados, em respeito aos aurores mortos defendendo a escola, teríamos um jantar, então a nova esposa do diretor, que era a mãe das gêmeas Julianne e Beatrice, cuidou pessoalmente da decoração e das comidas e bebidas e deixou tudo muito elegante. Dava para ver o orgulho do pai da Annia enquanto andava pelo salão cumprimentando os alunos e professores com a esposa ao lado, e era nítido que ela realmente gostava do diretor e queria vê-lo feliz. Atormentávamos Annia, chamando-a de a Nova Cinderela, já que ela agora tinha irmãs, e uma madrasta, todas bonitas rsrs.
Com a tarefa do torneio Tribruxo a cada dia mais próxima, a escola teve que antecipar a aplicação dos simulados dos NIEM’s e isso não deixou ninguém contente. Por todo o castelo via-se a turma do sétimo ano de 3 escolas, estudando, revisando feitiços, ficando até tarde na biblioteca. Na nossa, república, Nina era o desespero em pessoa, não havia post-it suficiente para ela colar pelas paredes do nosso quarto e nós já estávamos nos acostumando com a decoração colorida. Ruim mesmo era quando ela enfeitiçou alguns destes papeizinhos coloridos com alarmes que tocavam nas horas mais doidas da noite. Junte-se a tudo isso, a nossa pesquisa à tal sociedade secreta, estava um pouco conturbada. Não podíamos sair quando quiséssemos, e também tínhamos que ser discretas, mesmo contando com aurores do clã Chronos nos seguindo, era difícil. Pois algumas pistas estavam difíceis de serem rastreadas, e não podíamos deixar que Max percebesse o que fazíamos ou ele contaria ao pai. E isso colocaria toda a investigação abaixo, e deixaria Evie num perigo maior ainda.
Enfim os simulados do NIEMS começaram e isso ocupou todos os nossos pensamentos. Quando vimos nossas notas, suspiramos aliviadas. E para meu espanto, DCAT foi a minha melhor nota em 7 anos, eu tirei um A, claro que eu teria que agradecer e muito ao treinamento intensivo contra vampiros que tivemos nestes últimos tempos. E fomos bem em listar as maldições e contra maldições que o professor solicitou, graças ao papeis coloridos da Nina.
Como o Berrador, o jornal criado pelos alunos em reação à censura do jornal, circulava pela escola denunciando os desmandos do Ministério, era comum ver os aurores confiscando os jornais subversivos, mas é claro que sempre apareciam outros para substituir.
Os aurores encarregados pelo fechamento do jornal quiseram interrogar a Geórgia e os outros membros do staff, mas o diretor foi em defesa deles e não permitiu. Disse que não permitiria o interrogatório de alunos sem provas. E o melhor foi que as diretoras de Beauxbatons e Hogwarts o apoiaram, ameaçando escrever uma denúncia aos ministros de se seus países. Claro que a auror prepotente teve que recuar, mas não sem antes lançar olhares irritados para a galera do jornal. Óbvio, que isso não os impediria de pensar em uma nova edição do jornal.
Os simulados haviam acabado e teríamos um fim de semana livre, então combinamos de ir até a boate nova para dançar. Conseguimos convencer a Evie a vir conosco, então estávamos animados. Quer dizer, eu estava um pouco chateada, pois havia visto no Profeta Diário uma foto de Iago, beijando Hannah Montgomery, artilheira do Harpias de Hollyhead, mas o que eu poderia fazer? Ele não era meu namorado, podia sair com quem quisesse, assim como eu, afinal este era o combinado. Mas porque colocar em prática, este acordo doía tanto?
Estávamos dançando e bebendo há um tempo, quando Luka se aproximou de nossa mesa. Os meninos o olharam feio, mas ele ignorou, me olhava intensamente.
-Milla você poderia vir comigo um pouco? Quero conversar com você, sobre nossos irmãos...- falou perto do meu ouvido, e eu acenei afirmativamente e sai com ele, depois de acenar para as meninas.
- Como vai seu irmão?- ele perguntou.
- Yuri está bem na medida do possível, trabalhando...E Irina?
- Está deprimida. Meu pai diz que ela emagreceu e os médicos acham que ela não vai conseguir levar a gravidez até o final.
- O bebê corre risco?- perguntei alarmada e ele respondeu:
- Ainda não, mas minha irmã parece ter perdido a vontade de viver. Eu queria te pedir um favor. Será que seu irmão poderia falar com ela?
- Acho difícil convencê-lo. Seu pai ofendeu ao meu irmão e ao meu pai, Luka, ele ofereceu suborno, como se Yuri quisesse colocar a Irina na cadeia.
- Meu pai acha que o dinheiro resolve tudo, mas nesse caso não vai resolver. Acredito que se Yuri conversar com ela, ela começa a reagir a se cuidar...
- Seu pai sabe disso? - perguntei
- Não, meu pai não sabe, mas eu não quero perder minha irmã sem fazer nada para ajudar. Eu sei que ela errou feio, Milla, mas há um bebê envolvido nisso, não posso ficar de braços cruzados. É o nosso sobrinho. Você me ajuda?- e ele parecia tão sincero em sua preocupação com sua irmã, que respondi:
- Sim, ajudo. Acho que mesmo que estejam separados, o bebê é o mais importante agora. - na hora começou a tocar uma musica, ele estendeu a mão para mim e começamos a dançar e íamos conversando:
- Você está com o Iago?- ele perguntou.
- Não. Estamos muito ocupados com nossos assuntos, e namoro a distância nunca dá certo. - respondi e ele me encarava bem perto. A forma como suas mãos subiam e desciam pelas minhas costas, me deixava estremecida. Estávamos tão perto que ele começou a me beijar, e eu correspondi. Após alguns segundos, eu interrompi o beijo, ele encostou o rosto ao meu enquanto falávamos.
- Eu sinto sua falta Milla, éramos amigos antes...
- Sim, éramos, mas você mudou Luka. Deixou de ser o garoto idealista que eu...- parei de falar e ele insistiu me puxando para mais perto, acho que o álcool em meu sangue me fez soltar a língua:
- Apesar de nossas brigas, eu admirava o jeito que você conseguia controlar os problemas, não havia brigas com o seu pai e você defendia o que você acreditava, procurava ser justo, mas de uns tempos para cá você mudou, nem seus amigos o reconhecem mais...Eu me decepcionei com você.
-Isso foi porque eu cedi à pressão do meu pai e não lutei por nós não é? Eu fui imaturo e covarde. Você tem razão em tudo, mas você nunca errou? Nunca pediu uma segunda chance? Mesmo rodeada de amigos, às vezes, não se sente sozinha?- e seu abraço era tão confortador, que respondi:
- Seu pai não me aprova e...
-Ssshh! Esqueça o meu pai, tudo que importa é o agora.
- E amanhã Luka?
- Vamos viver o amanhã quando ele chegar, Milla, você não se cansa de sempre pensar no futuro?
Sim, eu me cansava. Eu suspirei e o puxei mais perto quando senti seus lábios nos meus.
Everyone's known someone they just can't help but want
Even though we just can't make it work out
Well the want to lingers on
So once again we wind up in each other's arms pretending that it's right
I may hate myself in the morning
But I'm gonna love you tonight
N.Autora: trecho da música: I may hate myself in the morning, Lee Ann Womack