Friday, September 30, 2011
- Quando chegarmos à enfermaria, não conte que ela tomou o vidro inteiro – Ozzy advertiu Leo – Deixe que eu falo com ela.
- Está maluco? Como ela vai salvar a Parv se não contarmos o que aconteceu?
- Se contar a ela que Parvati tentou se matar acha que não vão mandá-la de volta aquele manicômio hoje mesmo? – Leo não respondeu nada e eles chegaram à porta da enfermaria – Espere aqui, vai ficar tudo bem. Confie em mim.
Ele entrou na enfermaria e fechou a porta com o pé depressa, impedindo Leonora de entrar. A enfermeira veio correndo e levou um susto ao ver a palidez no rosto da garota e de como seus lábios estavam roxos. A aparência era de alguém a beira da morte. Ozzy a colocou em uma das macas e tentava parecer preocupado da maneira que a situação pedia.
- O que aconteceu com ela? – a enfermeira empurrou Ozzy para o lado e pegou o pulso de Parvati – Quase não está respirando direito!
- Ela está tomando um remédio para depressão e esqueceu que tinha tomado um whisky de fogo depois do jantar.
- Merlin, não se deve tomar isso com nenhuma bebida alcoólica!
- Eu sei, ela também, mas a aula do curso de auror foi tão exaustiva que ela esqueceu. Ela vai ficar bem?
- Não sei – ela pegou uma poção do armário e voltou depressa, empurrando pela boca de Parvati – Não sei mesmo. Ela ainda está respirando, isso é um bom sinal, mas misturar um remédio forte assim com álcool pode ser fatal. Ela vai precisar ficar em observação.
- O que eu posso fazer pra ajudar
- Não me atrapalhar está de bom tamanho – ela falou ríspida, mas pareceu se arrepender ao notar uma preocupação verdadeira no rosto dele – Ela não vai acordar agora, não há nada que possa fazer. Mando lhe chamar quando ela melhorar, mas por hora, volte para a sua república.
Ozzy olhou uma última vez para a maca onde Parvati estava desmaiada e saiu. Leonora ainda estava aos prantos e agora estava acompanhada de Robbie. Alec tentava acalmar os dois, sem entender o que estava acontecendo. Assim que pisou de volta no corredor os três correram até ele.
- Pelo amor de Merlin, o que aconteceu? – Alec perguntou angustiado – Leo não para de chorar e não consegue falar coisa com coisa. E Liseria entrou na Kratos atordoada atrás de Lucian e tudo que conseguiu dizer era que Parvati estava morrendo!
- Ela tomou 20 comprimidos do remédio pra depressão de uma vez só – ele respondeu sério – Tentou se matar.
- Merlin do céu! – Robbie caiu sentado no banco – Por que ela fez isso??
- Foi minha culpa! – Leo sentou do lado dele e os dois se abraçaram – Ela entrou tão atordoada no quarto e eu não dei importância, estava mais preocupada em escolher roupa pra um encontro!
- Não foi culpa sua, Leo – Alec sentou ao lado dela e afagou seu cabelo – Parvati vai ficar bem, ela não vai morrer.
- Como você pode ter tanta certeza disso? Não viu o estado que ela estava quando Ozzy a tirou do quarto. Estava tão pálida que já devia estar morta!
- Ozzy, é hora de contar a eles – Alec olhou o amigo com uma expressão séria e determinada – Não podemos ajudar muito se as únicas pessoas em quem ela confia estiverem no escuro.
- Contar o que? – Robbie olhava de um pro outro totalmente perdido – Do que vocês estão falando?
Os dois trocaram um olhar preocupado, mas sabiam que não tinham escolha senão contar a Robbie e Leo toda a verdade. Se queriam ajudar Parvati de verdade, eles precisavam saber. Ozzy sentou ao lado de Robbie e com a ajuda de Alec começou a contar tudo que tinha dito a Parvati minutos antes. A reação dos dois foi diferente dela. Primeiro não pareciam acreditar em toda aquela história de Imortais, mas depois Robbie se lembrou de já ter lido sobre o assunto e convenceu Leo. Em seguida ficaram chocados por saber que Parvati havia morrido no acidente. Quando compreenderam que os dois, junto com Oleg, tinham trazido ela de volta a vida e conseqüentemente a transformado em uma Imortal, voltaram a não acreditar.
- Ok, espera – Robbie ergueu a mão para interromper a história – Está querendo que a gente acredite que Parvati nunca vai morrer? Que vai viver pra sempre?
- Impossível – Leo apoiou o amigo – Isso não existe! A menos que você seja um vampiro, não é possível.
- Ainda pouco acreditou na história, porque agora não acredita mais? – Alec questionou e os dois ficaram sem uma resposta – Qual é a diferença?
- Porque você está dizendo que minha melhor amiga nunca vai morrer! – Leo respondeu como se ele fosse um idiota de não entender – Está dizendo que ela vai ficar eternamente linda e bela e sem rugas, e todos nós vamos envelhecer.
- Estão falando sério? – Robbie parecia estar absorvendo melhor a idéia – Ela morreu mesmo e vocês a trouxeram de volta? – os dois assentiram e ele abraçou Ozzy, enquanto Leo abraçava Alec – Obrigado por trazer ela de volta.
- Ela não estava pronta pra partir, não podíamos deixá-la morrer – Ozzy respondeu – Mas ela não gostou de saber, disse que a condenamos a viver eternamente com a culpa do acidente.
- Ela precisa parar de se culpar para aceitar isso – Alec completou – Ela não confia em nós, mas confia em vocês. Vocês podem ajudar.
- Ela vai entender – Leo secou as lágrimas – Vamos fazê-la entender que ela ganhou uma segunda chance e não vai desperdiçar essa!
- Sim, uma segunda chance – Robbie também secou suas lágrimas, mais calmo – Dessa vez vai ser diferente.
Os quatro continuaram conversando sobre os últimos acontecimentos e sobre como a vida de Parvati seria diferente. Seria preciso muita paciência para acomodá-la em uma vida que não pediu e claramente não queria, mas eles iam conseguir. Eles não concordavam em muitas coisas, mas uma era consenso: segundas chances são feitas para serem aproveitadas. E eles não iam deixar que a amiga desperdiçasse a sua.
Tuesday, September 27, 2011
Os professores entraram na sala às 17h em ponto e a turma se acomodou nas primeiras mesas, mas ela ficou mais afastada. Por mais que eu tentasse, não conseguia evitar olhar na sua direção a todo instante. Ainda precisava encontrar uma maneira de contar a ela tudo que aconteceu, mas qualquer tentativa de aproximação era imediatamente cortada. Não fazia idéia de como ia fazê-la me escutar.
- Boa tarde – um homem moreno com uma cara séria falou – Me chamo Micah Wade e essa é minha parceira Shannon O’Shea. Somos nós que vamos fazer vocês se arrepender por ter escolhido essa profissão.
- O curso vai até junho e à medida que os meses forem passando, as aulas vão ficando mais exaustivas. Esperamos que todos que estão aqui estejam realmente comprometidos, porque não nos importamos de expulsar alguém do programa faltando apenas uma semana pro término.
- A proposta do curso é preparar vocês para o que vão encarar na academia, mas também para a vida de um auror formado, então vamos começar com algo muito importante: parceria.
- Nenhum auror trabalha sozinho, é preciso sempre ter um parceiro. No primeiro dia como auror vocês vão ser designados a trabalhar com outro auror e essa parceria vai ser pra sempre.
- Só existem duas maneiras de uma parceria acabar – o auror chamado Micah começou a andar entre as mesas – Ou um dos dois se aposenta ou morre.
- Seu parceiro é aquela pessoa que vai sempre dar cobertura e estar lá pra tirar você de alguma encrenca, que vai salvar sua vida. E você vai fazer o mesmo por ele. Uma parceria é baseada em confiança, você confia sua vida à outra pessoa e ela faz o mesmo.
- Como a base da parceria é a confiança, vocês serão divididos em pares e vão trabalhar assim o ano inteiro. Se não gosta ou conhece seu parceiro, aprenda a administrar isso. Vocês vão precisar confiar um no outro e se ajudar, não só aqui nessas aulas, mas em qualquer coisa. Se o seu parceiro se meteu em confusão e vai apanhar, vá até lá e o ajude, esse é o seu dever.
- As duplas já foram formadas, com a ajuda do professor Marko – a auror chamada Shannon puxou um pergaminho da bolsa – Quando ouvirem seu nome procure sua dupla e comecem a se conhecer melhor. A aula de hoje vai ser para vocês conhecerem bem a pessoa com quem vão passar o resto do ano e depois vamos falar um pouco sobre o nosso trabalho.
- E nem pensem em pedir para trocar.
Eles começaram a ler os nomes das duplas e a turma começou a se dividir. Já sabia que não iam me deixar trabalhar com Oleg se a proposta era trabalhar a confiança, seria fácil demais, e isso se confirmou quando a auror chamou o nome dele e o juntou com Mitchell Callahan. Os dois se cumprimentaram animados e começaram a conversar. Conhecíamos Mitchell, mas não bem o bastante. Acho que essa seria a oportunidade perfeita. As duplas já estavam acabando quando ouvi meu nome.
- Oscar Lusth – ela consultou o pergaminho mais uma vez – Parvati Karev.
Mesmo sem olhar pro lado sabia que todos os olhares na sala estavam voltados para nós dois. Em outros tempos ia amaldiçoar aquela escolha, mas agora via aquilo como a minha chance de ouro. Ela não seria louca de pedir para trocar e ia ter que me deixar se aproximar. Mais cedo ou mais tarde, confiaria em mim o suficiente para ouvir o que tinha a dizer. Mas quando parei ao lado dela no fundo da sala, soube o que fazer para que ela me escutasse naquele instante.
- Sei que não tivemos um começo muito bom, mas estamos presos um ao outro. Vamos ter que nos adaptar – disse sentando ao seu lado e ela só assentiu, sem dizer nada – Tire esses fones, não vai conseguir ouvir a aula com eles.
Puxei os fones de seu ouvido e sua reação foi tentar pegá-los de volta desesperadamente. A expressão de pânico no rosto dela deixou claro o quanto aquela novidade a estava torturando, mas antes que conseguisse pegar os fones de volta, ela parou. Olhou pra mim confusa e acabei rindo.
- O que aconteceu?
- Eu disse que também posso ouvir. Estou bloqueando o som, ao menos por um tempo.
- Como você faz isso?
- É fácil, mas leva um tempo até conseguir.
- Diga como faço isso agora.
- Não, não aqui e não agora. Depois da aula nós conversamos.
- Ozzy...
- Parvati, por favor. Preciso contar muitas coisas a você e aqui não é o lugar pra isso.
Ela me encarou outra vez sem dizer nada. Mais uma vez, a dúvida estava lá. Ela ainda não sabia se podia confiar em mim, mas ao mesmo tempo sabia que precisava. Por fim acabou assentindo e continuei ao seu lado, bloqueando os pensamentos para que ela pudesse assistir à aula sem os fones. Não trocamos mais nenhuma palavra até o fim da aula e quando deu 21h e fomos liberados, ela me acompanhou sem hesitar até o pátio. Não tinha ninguém ali, todos que saiam das aulas iam direto para as repúblicas, então não teria uma oportunidade e lugar melhor para contar tudo de uma vez.
- Muito bem, estou aqui, diga como parar isso – ela falou quando paramos perto dos bancos.
- Primeiro preciso que você entenda porque pode ler pensamentos – respondi sentando no banco, mas ela não fez o mesmo. Continuou em pé, de braços cruzados – Você já ouviu falar sobre as famílias de Imortais, certo? – ela assentiu e continuei – Alec, Oleg e eu, nós fazemos parte dessas famílias. Quando nós completamos 16 anos passamos pelo ritual que nos tornou Imortais.
- Vocês três? – ela pareceu surpresa e assenti – Certo, consigo acreditar. Isso explicaria porque sua família é tão grande, mas o que isso tem a ver comigo?
- Quando completamos 16 anos, desenvolvemos certas habilidades. Cada um tem a sua e algumas são únicas, como Alec e Oleg, que podem controlar os elementos. Juntos eles fazem muitos estragos, como você já viu no clube de Alquimia. O meu é ler pensamentos. Essas habilidades só se revelam depois que passamos pelo ritual. Você sabe como ele é feito?
- Li uma vez que vocês morrem e são trazidos de volta, é isso? – assenti e por um instante ela pareceu não entender, mas então a compreensão ficou estampada em seu rosto – O que você está tentando me dizer?
- Nós estávamos lá. Chegamos minutos depois do acidente e vimos o estrago. Descemos a colina desesperados, mas já estavam todos mortos. O homem do caminhão, Jack, Alexis... E você – os olhos dela começaram a se encher de lágrimas, mas me obriguei a continuar para não desistir – Oleg pode ver espíritos, ele viu Jack e Alexis indo embora, eles não tinham nada pendente e fizeram a travessia, mas você ficou. Você não estava pronta pra partir. É assim que voltamos, nossos espíritos demoram alguns minutos para atravessar e nos trazem de volta antes disso acontecer. É por isso que os rituais só são feitos por anciões, para não haver erros.
- Eu morri? – ela encostou-se ao muro, já sem conter as lágrimas – Como isso é possível? Vocês não podem...
- Oleg sabia como fazer e Alec e eu... Nós ajudamos. Trouxemos você de volta.
– Eu... Eu sou como vocês? – ela parecia tanto chocada quanto horrorizada.
- Sim. Quando você volta através das palavras do ritual, se torna uma Imortal.
- Não...
- Você não estava pronta, era o certo a se fazer.
- NÃO! – ela explodiu, as lágrimas já cobrindo todo o rosto - Não cabia a vocês decidir isso!
- Nós salvamos a sua vida.
- Não, vocês só a pioraram! Como se já não fosse ruim o bastante a perspectiva de me culpar pelo acidente até a minha morte, agora vou passar toda a eternidade carregando esse fardo!
- O acidente não foi sua culpa, Parvati.
- Era eu atrás do volante, não era? Fui eu quem jogou o carro de encontro com aquele caminhão.
- Isso tudo, eu sei que é muito pra absorver, mas você vai ver que não é uma coisa ruim. Nós vamos ajudá-la.
- Não, vocês já fizeram o bastante, me deixem em paz!
Ela saiu correndo do pátio, mas não tentei ir atrás. Era muita coisa para absorver e ia levar um tempo, o melhor a se fazer era dar a ela o espaço necessário. Mais cedo ou mais tarde ela ia aceitar e nos procurar para que possamos ajudá-la a entender melhor o que mudou em sua vida. Levantei do banco e comecei a fazer o caminho de volta para as repúblicas com calma, mas uma gritaria vinda da Atena me fez parar. As meninas estavam histéricas e a porta abriu de repente, com Liseria saindo desesperada.
- Ozzy! – ela correu pra fora da varanda e agarrou meu braço – Rápido, precisamos de ajuda!
- O que houve? – perguntei correndo com ela pra dentro da república, já assustado.
- É a Parvati! – ela começou a chorar e subimos as escadas correndo.
Quando chegamos ao quarto delas, Parvati estava jogada no chão e Leonora estava debruçada em cima dela, aos prantos. Uma tampa de remédio estava perto das duas e vi que o frasco vazio dele estava em sua mão. Ela estava pálida e os lábios já estavam roxos. Estavam todas em um pânico tão grande que foi difícil manter a calma.
- Ela tomou todo o vidro de antidepressivo! – Leo falou soluçando – Por favor, tem que levar ela pra enfermaria, é pesada demais, não conseguimos levantá-la!
- Calma, ela vai ficar bem – abaixei-me ao lado dela e peguei Parvati no colo – Vai ficar tudo bem.
Sai da república com ela desacordada em meus braços e Leo veio atrás de mim, ainda chorando. Todas as meninas estavam assustadas e muitas choravam achando que ela ia morrer, mas eu sabia que ia ficar tudo bem. O que me preocupava no momento era saber que ela preferia morrer.
Tuesday, September 20, 2011
Lembranças de Lucian P. Valesti
É difícil dizer quem mais sofria, mas acho que Parvati, Julie e Ozzy eram essas pessoas, por razões distintas. Parvati e Ozzy carregavam com eles a idéia de que a culpa da morte era deles e nada que eu dissesse fazia Ozzy mudar de pensamento. Tentava ajudar Parvati também, mas ela voltara ao castelo fechada em um casulo, na forma de fones de ouvidos e casaco que jamais retirava. Julie tentava ser forte, como sempre foi, e eu, Lenneth e Liseria a ajudávamos pessoalmente. Era difícil demais para ela perder o irmão gêmeo e a prima pequena. Ela se abria conosco, mas principalmente com Lenneth e nós a ajudávamos sempre. Acho que ela era a única que sabia que precisava seguir em frente. Os próprios Jack e Alexis iriam querer isso.
Pensando em todos eles eu fiz meu primeiro texto como editor-chefe do Expresso. Escrevi sobre Alexis e Jack, dedicando a primeira edição inteira a eles. Fiquei feliz ao perceber que os alunos queriam isso e recebi muitas palavras de carinho e agradecimento, de várias pessoas. Até mesmo Parvati e Ozzy me agradeceram pelo que escrevi e Julie também.
Aceitar o cargo de Editor-Chefe foi uma honra que eu não esperava receber. Sempre me dediquei ao jornal, mas nunca quis os cargos mais ligados à liderança dele, me contentando em ser apenas jornalistas. Achei que Parvati ou Leonoroa seriam selecionadas para Editor-Chefe, e me surpreendi quando Parvati disse que ia sair do jornal e mais ainda quando a Mira e a Ferania indicaram meu nome para o cargo. Fiquei sem responder por uns segundos, até que o sorriso acolhedor e confiante de Liseria me fez sair do topor e eu aceitei o cargo feliz.
Percebi então que esse cargo vinha a calhar. Ele significava que eu estaria na linha de frente na batalha contra aquele tal Antaris. Na verdade, suspeito que tenha sido esse um dos motivos para eu ser selecionado como editor-chefe. Ferania e Mira sabiam que eu não toleraria mais textos dele e comigo como líder do jornal, essas matérias nunca seriam publicadas.
Esse ano prometia surpresas e várias novidades, eu sabia disso. Só não tinha noção do tamanho das mudanças.
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- Lucian, mais uma vez! – Robbie falou, voltando a tocar o piano. Eu comecei a cantar, mas não adiantava o quanto tentasse, não alcançava o tom certo.
- Robbie, não está dando. Não consigo me concentrar. – Eu falei, dando de ombros. Robbie bufou.
- Temos que continuar, você está longe de estar pronto para cantar essa música.
- Eu sei, mas... – Eu falei e indiquei a platéia, que era o grupo menos empolgado e alegre possível.
Estávamos todos lá: Alec, Oleg, Finn, Ozzy, Leo, Liseria, Lenneth e Julie. Apenas Parvati não estava. Tentávamos continuar com os ensaios, mas as memórias das músicas cantadas por Jack ainda nos assombravam e apesar de estar mais calmos, ainda era difícil.
Robbie suspirou e desistiu, e descemos juntos o palco, indo nos juntar aos outros. Me sentei ao lado de Liseria, que logo deitou a cabeça em meu ombro. Lenneth estava abraçada a Oleg e me olhou rapidamente quando me sentei.
- Lembram de como ele gostava de tocar violão? – Ozzy perguntou e começou a dedilhar algumas notas no violão e ouvimos quietos.
- Lembram quando ele tentou ensinar ao Finn como tocar e o Finn conseguiu arrebentar todas as cordas? – Lenneth falou e todos sorrimos. Os sorrisos agora eram mais comuns e passamos um bom tempo conversando e nos lembrando de coisas boas do Jack.
- Mas o melhor ainda era ele ensaiando com o Ozzy. – Julie falou e todos sorrimos.
Um momento de silêncio caiu sobre nós novamente e Liseria me abraçou mais forte e eu sabia que ela estava se segurando. Ozzy estava ao lado de Julie e vi que ela apertava sua mão com força, enquanto Lenneth segurava as lágrimas abraçada a Oleg. Nesse momento, a porta do teatro se abriu e Patrick entrou correndo.
- Me desculpem a demora, me atrasei na aula de Literatura... O que aconteceu? – Ele perguntou ao notar todos esfregando os olhos. Seu olhar parou em Lenneth que saia do abraço de Oleg e vi que seus olhos se estreitaram. Ele ficou em pé rigidamente até Lenneth se sentar e sentou ao lado dela.
- Nada, você não entenderia. – Ela respondeu.
- É serio, aconteceu alguma coisa? É o Jack? – Ele perguntou novamente e Lenneth assentiu, mas respondeu.
- Sim, Patrick, mas já falei que você não entenderia. – Ela respondeu novamente e vi como ele ficou irritado com isso, e olhou irritado para nós. Ele abraçou Lenneth possessivamente, encarando Oleg.
- Vamos continuar ensaiando? – Liseria falou, querendo quebrar a tensão.
- Acho que não tem mais clima. Vamos nos reunir de novo amanhã, quem sabe consigo trazer a Parv? – Robbie falou e começamos a sair em grupos. Patrick foi o primeiro a levantar e saiu do teatro rapidamente. Lenneth foi atrás dele, revirando os olhos ao passar por mim.
- Não sabia que o Patrick era tão possessivo. – Eu comentei, enquanto eu e Lis íamos para as repúblicas.
- Nem eu. O olhar dele para o Oleg foi doentio. – Ela respondeu, apertando minha mão.
- Você acha, digamos, perigoso?
- Não sei, Lucian, mas não devemos nos meter. Lenneth é bem grandinha para saber se cuidar. – Ela respondeu.
- Eu sei, mas fico preocupado. Com ela e agora até com o Oleg.
- O Patrick não seria maluco de fazer qualquer coisa. – Ela respondeu e eu concordei.
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Esse ano eu mantinha meu trabalho na livraria da Ferania e a experiência que eu tinha com a livraria de minha família, aliada à energia de Ferania e seus primos proporcionou um crescimento nas vendas da livraria. Alunos de Durmstrang e moradores da vila estavam organizando grupos de leitura na livraria e eu sempre participava, quando era possível.
O depósito da livraria, afastado do centro da vila, estava cada vez mais com a minha cara. Ferania me deu a liberdade de torná-lo mais habitável. Eu adorava aquele local. Era um pequeno chalé, mais ou menos do tamanho de uma república.
Ele tinha tudo que eu gostava: pilhas de livros, estantes e mais estantes, uma poltrona reclinável, uma lareira e uma vista maravilhosa para os bosques ao redor da vila. Nos meses frios, quando a neve caia, o cenário parecia uma pintura de tão belo e sereno, com os flocos de neve cobrindo tudo ao redor, as árvores, a trilha, deixando tudo em um belo tom de branco.
Eu tomei a responsabilidade de organizá-lo, e ninguém conhecia-o tanto quanto eu. Colei em uma das paredes um mapa da Terra-Média, além de pendurar escudos e espadas que encontrei jogados dentro de um baú. Fer disse que deviam ser de seus pais, pois eram bem antigos, e ela logo se entusiasmou de pesquisar sobre eles. Ela era a única que ficava comigo no depósito, pois passávamos horas conversando sobre história e mil outros assuntos. Seus primos raramente iam lá, pois gostavam de mim e aprenderam a me dar esse pequeno espaço. Era para lá que eu gostava de fugir quando queria descansar ou pensar. Liseria entendia que eu precisava de um espaço e foi apenas uma vez conhecer o local, dizendo que era a minha cara.
Voltava do depósito, com uma pilha de livros nos braços quando ouvi vozes alteradas, uma feminina e outra masculina. Estávamos afastados da vila e fiquei preocupado, me aproximando com cautela. Só então reconheci as vozes e larguei a pilha no chão correndo até elas.
- Você não manda em mim, Patrick, entenda isso. – Ouvia Lenneth falar atrás de uma árvore a poucos metros de onde eu estava.
- Eu não estou mandando. Mas não quero mais que fique de abraços com outros garotos. – Ele respondeu, sua voz mais alterada que a dela.
- E você acha que eu vou aceitar? Vou deixar de ficar com meus amigos porque você está com ciúmes idiotas? – Ela respondeu e eu cheguei nessa hora. Patrick estava perto dela e parecia muito irritado. Lenneth estava irritada como eu nunca vi.
- Ei o que está acontecendo aqui? – Eu perguntei, me colocando entre os dois. Eles me olharam de forma estranha. Patrick pareceu ainda mais zangado, enquanto Lenneth pareceu surpresa e até sem jeito.
- Não te diz respeito. – Patrick respondeu.
- Não fale com ele assim! – Lenneth falou, alteando a voz e vi que Patrick ficou vermelho.
- Calma, não vamos nos exaltar. Patrick, vá esfriar a cabeça. É melhor, depois vocês conversam.
- E por que eu obedeceria você? – Ele falou, levantando o queixo. Eu fiquei com raiva dele também e um sentimento estranho de proteção subiu pelo meu pescoço. Me senti pronto para brigar, mas Lenneth pousou a mão em meu braço e eu me acalmei. Respirei fundo e o olhei novamente.
- Patrick, estou querendo ajudar, é melhor você ir se acalmar. Ela precisa de um tempo. – Eu falei. Ele me olhou de cima abaixo, sendo que eu era mais alto que ele, e depois olhou para Lenneth. Ele virou as costas indo até a vila.
Senti quando a tensão em Lenneth diminuiu e quando ela segurou minha mão eu vi que ela tremia.
- Ei o que houve? – Eu perguntei e ela começou a chorar.
Eu senti uma mistura de sentimentos. Senti raiva de Patrick por tê-la feito chorar, senti vontade de abraçá-la, senti vontade de correr atrás de Patrick e o socar. Mas o mais estranho deles foi sentir vontade de beijá-la... Eu me assustei com esse pensamento e notei como ela estava linda, mesmo chorando. Ela sentou-se no chão e eu me sentei ao seu lado, abraçando-a. Ela chorou em meu ombro por um longo tempo e não falamos nada, enquanto eu apenas fazia carinho em seus cabelos, falando calmamente com ela.
Ela não quis me dizer porque chorara, mas me fez prometer que não procuraria o Patrick por causa disso. Ela também quis que eu prometesse que não ia arranjar briga com ele. Eu engoli o orgulho e prometi a ela que sim, e só então ela se acalmou e sorriu. Novamente aquela vontade de beijá-la.
Eu me levantei logo e a ajudei a se levantar e voltei para pegar os livros, tomando o cuidado de não demonstrar nenhum daqueles sentimentos estranhos. Tomamos café com Ferania e lá Lenneth conseguiu se acalmar. Eu sabia que ela estava melhor, pois a conhecia bem e não conseguia mais tirar os olhos dela.
Wednesday, September 14, 2011
Esse é meu primeiro trabalho como editor-chefe e quero que ele seja especial. Nesse primeiro artigo quero mostrar para vocês o que me proponho a ser: verdadeiro e sincero, sem esconder ou mudar nada que vá até vocês.
Foi com orgulho que aceitei o cargo, e me senti muito feliz de poder trabalhar e ajudar mais o jornal que sempre gostei a crescer. Trabalhar nesse jornal tem sido uma alegria e muita diversão.
Mas tudo esse ano fica escondido ou debaixo de uma nuvem de tristeza e um sentimento de vazio se apodera de todos.
Aceitar o cargo, receber os parabéns de todos, pareceram vazios e sem sentido, sem um garoto sentado ao meu lado. Um amigo que sempre participou comigo no jornal, sempre se animando com minhas matérias e me ajudando quando eu tinha um bloqueio.
Refiro-me ao Jack, o nosso e meu grande amigo.
É por isso que deixo essa surpresa para vocês. Essa edição será feita em homenagem a ele, e a sua prima, a também querida Alexis. Começarei meu trabalho dedicando a eles essa edição. Ela será curta, apenas com esse meu artigo, mas sei que importante para todos.
A perda deles, tão cedo e precocemente, foi um baque para todos da escola. Para mim foi uma dor maior, ser o primeiro a saber, e o responsável por dar as más notícias a todos...
Jack sempre foi uma inspiração para todos, desde alunos a professores e funcionários. Nunca teve problemas com ninguém, nunca discutiu com nenhum aluno ou desrespeitou um único professor. Conviver com ele foi uma benção que eu tive a sorte de ter e, apesar do pesar, me alegro de ter conhecido uma pessoa como ele.
Ele sempre se preocupou com todos. Quantas vezes éramos eu e ele que segurávamos o time de Hockey? Ou que evitávamos brigas desnecessárias? Enquanto escrevo essas palavras eu acabo sorrindo, me lembrando de tudo que passamos e fizemos juntos.
Sorrio sim, pois sinto uma dor forte por ele não estar aqui, mas as lembranças com ele são intensas e especiais e nunca sairão da minha mente. E acho que é isso que devemos sempre carregar conosco, as lembranças boas que temos com ele, seu sorriso, sua energia alegre e divertida.
Jack era incrível. E eu digo isso com todas as palavras. Ele era esportista, estudioso, divertido, alegre, bondoso, carinhoso e educado. Eu desafio a uma pessoa sequer falar algo contrário disso. Mas ele nunca deixou isso tudo subir a sua cabeça, sendo sempre humilde e educado com todos, um exemplo a ser seguido, que eu mesmo me espelhava para ser alguém melhor. Fanático por Star Wars, quantas vezes eu assisti as duas trilogias com ele? Lembro-me até hoje de um dia que ele obrigou a todos a fazer uma maratona e assistimos os seis filmes em um único dia! Foi cansativo, mas muito engraçado. Tudo bem, eu obriguei todo mundo a assistir Senhor dos Anéis no dia seguinte, as versões estendidas!
Ele nos deixou um vazio no coração de todos. Para Penelope, sua namorada, foi uma dor profunda, perder um namorado tão carinhoso e bondoso quanto ele. Para mim, para todos do time de Hockey, da República, todos da escola, para seus familiares. Para Julie foi uma perda sem comparação, ele não era apenas seu irmão gêmeo, mas também seu melhor amigo. Mas sabemos que ele nunca nos quereria tristes, que ele iria nos querer sempre alegres. E principalmente, sempre juntos.
E quanto a Alexis? Conheci-a bastante, pois sempre foi a melhor amiga de meu irmão, Lawfer, e de Edgar, mas pedi que os dois me ajudassem a escrever esse texto, e agradeço aos dois por isso. Edgar e Alexis possuem uma história tão dramática quanto Penélope e Jack. Eles tinham tomado a coragem para se declarar apenas uma semana antes e mal tinham começado o namoro, a conhecer o que o amor é.
Desde a primeira vez que eu vi Alexis, quando ela foi a minha casa com meu irmão e o Edgar, nas férias do Natal do primeiro ano deles, eu vi como ela era uma menina doce, meiga e carinhosa. Uma garota forte, inteligente, cheia de vida e felicidade e acima de tudo confiante. Ainda jovem já era a líder de seus amigos, a responsável, a inteligente. Sua presença sempre alegre iluminava a todos ao seu redor.
Nada era capaz de abalar sua alegria, nada. E isso eu admirava e muito. Ela era capaz de passar por qualquer situação com um sorriso alegre no rosto, pronta para superar o que fosse necessário. Uma característica essencial para que seu sonho se tornasse realidade: ser Curandeira. E ela tinha o dom para isso, pois era capaz de ajudar qualquer um e apenas sua presença nos fazia se sentir melhor.
Alexis se espelhava em sua irmã, Parvati, que, como toda irmã mais velha, era o ídolo dela. Alexis via como Parvati era forte, inteligente e nada a abalava e a imitava. Parvati pode ter seus defeitos, mas sempre foi um exemplo para Alexis, que conhecia o seu lado que poucos conhecem. Muito do que Alexis tinha e era, ela aprendera com a irmã mais velha. Parvati era a inspiração para Alexis. Assim como o Jack, a Alexis não iria querer ver nenhum de nós triste, ela iria querer nos ver juntos.
Jack e Alexis nos deixaram cedo, mas sei que viveram suas vidas plenamente, sempre alegres e sempre aproveitando tudo que eles podiam. Sei que nunca se arrependeram de nada. E me sinto orgulhoso de ter conhecido-os e saber que viveram tão bem e tão felizes.
A dor é intensa, eu sei, e vai nos acompanhar eternamente. Mas devemos dar valor àqueles momentos que tivemos com eles. Devemos lembrar de seus sorrisos e sorrir com eles. Lágrimas fazem bem, mas lágrimas demais não.
O mais importante disso tudo é que devemos aprender a dar valor aquilo que temos, a todos. Não podemos deixar isso para amanhã ou depois, tem que começar imediatamente. E é importante também não procurarmos culpados e causas. Tudo acontece por uma razão. A morte deles teve uma razão, desconhecida para nós no momento, e talvez para sempre, mas teve uma razão.
Eu finalizo essa homenagem com um peso menor nos ombros. Sei que posso e que todos podemos glorificar a memória deles e nunca nos esquecermos de tudo que vivemos e aprendemos com eles. Acima de tudo devemos nos manter juntos, nos apoiarmos mutuamente.
Devemos ser perseverantes e fortes como a nossa querida e pequena Alexis.
Devemos ser humildes e felizes como nosso querido Jack.
E devemos sempre amá-los, sempre nos lembrarmos de seus momentos alegres e felizes.
Deixo-os aqui, esperando poder dar a vocês todos, a cada familiar, cada amigo, um pouco de consolo. Um pouco de carinho.
Como já dizia nosso Jack: “Que a força esteja com vocês”.
Setembro de 2015.
Sorrindo para todos que pegassem o jornal estava uma foto de Alexis e Jack abraçados, fazendo aquilo que sempre faziam, sorrindo e acenando alegres.
E havia também uma foto de toda a turma junto: Alec, Oleg, Ozzy, Finn, Julie, Lucian, Liseria, Lenneth, Jack, Penelope, Parvati, Robbie, Leonora, Edgar, Alexis, Lawfer e Orion. A última foto com todos juntos, tirada no gramado da casa de Lucian, semanas antes do acidente. Um dos raros momentos em que Jack conseguira reunir todos.
Tuesday, September 13, 2011
Nossa volta para a escola não foi em grande estilo como eu imaginava. Com Parvati tentando se ajustar à nova realidade, ficava dificil, fazer as coisas que costumávamos fazer antes, então alguns alunos nos olhavam assustados quando entrávamos para as aulas quietos e nos sentávamos no fundo da sala. E mesmo os professores, optaram por não falar nada conosco, então éramos deixados em paz. Parvati agora usava casacos com capuz, onde a ajudamos a costurar pequenos bolsos onde cabiam seu iPod e fones de ouvido. Ela também tinha um rádio a pilha, caso houvesse alguma interferência no castelo, e sua música alta fosse interrompida. Robbie e eu no começo até tentamos conversar com ela sobre isso, mas ao ver o seu olhar de pânico, em nossa primeira noite em nosso quarto na República, nos convenceu a fazer o que ela queria, pelo menos por enquanto, então Robbie e eu sempre estavamos por perto, para que ela não tivesse que falar com as pessoas.
As coisas nunca mais seriam as mesmas para nenhum de nós.
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Quando as aulas terminaram eu era a garota gorda e rica, que namorava o amigo de infância. Em nossa volta eu era uma garota muito, mas muito rica, sem namorado e com um corpo de fazer inveja às líderes de torcida dos times de hóquei, elas me olhavam com raiva, e eu adorava é claro. Minha transformação havia sido tão surpreendente que chamava a atenção dos garotos que antigamente se dirigissem um carro e eu atravessasse na faixa de pedestres, eles me atropelariam, mas agora? Sempre havia algum convite para sair, uma cantada um bate papo sem compromisso entre as aulas. Robbie e eu ríamos destas coisas e eu ate comecei a aceitar alguns convites, afinal eu queria saber como era estar do outro lado.
Numa noite, acabei indo até o vilarejo tomar um café com Orion, e confesso que só aceitei pois fui movida pela curiosidade, afinal, todos sabem que ele não se envolve com ninguém. Acabei vendo que Mitchell estava no mesmo café, com uma garota, do 6º ano, e não parecia se divertir. E depois de algum tempo de conversas comuns, Orion começou um monólogo sobre o quanto ele era inteligente, seus projetos de sucesso no futuro, eu olhava disfarçadamente para a mesa de Mitchell e a garota parecia ser do tipo que também gostava muito de si mesma, e quando ela puxou um espelho da bolsa para se admirar, e ele sorriu e piscou para mim.
Voltei meu olhar para um distraído Orion e aleguei ter um trabalho para terminar, e ele me levou de volta para a república, e até trocamos um beijo, que me fez sentir que beijava um peixe. Mal esperei ele ir embora, e entrei na república, não me contendo e limpando os lábios.
Comecei a subir as escadas, quando ouvi uma batida na porta, e quando a abri e fui puxada para fora por Mitchell, que me encostou na parede e me beijou. Quando parou para respirar, abri a boca para perguntar o porque daquilo, mas ele me interrompeu com outro beijo. Acabei sorrindo enquanto o beijava e ele riu junto. Afinal, conversar pra que?
o-o-o-o-o-o-o
Estávamos voltando para a nossa república, quando passamos perto de um grupo de garotas que ao nos verem começaram com risinhos e provocações, Parvati e Robbie passaram ignorando-as, e eu até ia fazer o mesmo quando ouvi:
- Lá vai o trio de patetas: o gay nerd, a balofa camuflada e a pé de chumbo assassina.- não aguentei e fui até elas:
- O que foi que você disse, Layla?- perguntei à líder do bando, a nova chefe de torcida dos Dukes:
- Apenas disse a verdade, ou seu amigo não é gay, você não é gorda, e sua líder não respeita limites de velocidade?- e elas voltaram a rir e eu as olhei de cima a baixo com raiva.
- Quero que você pare com estas provocações ou vai se dar muito mal.- Acho que alguma coisa em meu olhar deve ter alertado às outras porque as risadas começaram a morrer:
- Você não pode mais ameaçar as outras pessoas impunemente, Leonora, se o diretor ficar sabendo, pode te expulsar. Todos sabem disso, você não assusta mais.- ela disse presunçosa, e eu senti vontade de unhar a cara dela e fazer um bom estrago. Mas respirei fundo e disse o mais calma possivel:
- E quem está fazendo ameaças? Estou te alertando, como membro do jornal da escola, que se você não calar esta sua boca mal siliconada, o diretor, toda a escola e até mesmo seus pais, ficarão sabendo o porque do seu nariz mal operado viver entupido.Aliás, todas vocês vivem resfriadas ultimamente, não é?- olhei para as garotas e ela ficaram vermelhas. Layla empinou o queixo:
- Todos sabem que você é da coluna de fofocas, ninguém acredita em suas mentiras.- e eu ri cínica:
- Onde há fumaça há fogo e minhas matérias deixam de ser fofoca quando se tem provas para corroborar, e se você não sabe o que esta palavra significa, quer dizer...
- Eu sei o que isso significa.- ela me cortou irritada e eu continuei sorrindo:
- Você sabe que se isso sair no jornal da escola, é o primeiro passo para sair no Profeta Diário, e vai respingar em todas as repúblicas...Sinceramente? Eu não ligo se isso acontecer. E ai? Quer pagar pra ver?- como ela ficasse calada me olhando com ódio eu completei:
- Acho que agora estamos entendidas. – virei as costas e caminhei até onde Parvati e Robbie me esperavam.
- Não precisava ter saído feito uma leoa para me defender, eu não ligo para o que falam. – ele disse sério, e como eu o olhasse de volta ele disse logo:
- Mas eu adorei assim mesmo. Vai conta logo, o que você disse que fez as hienas sossegarem?- ele quis saber e eu sorri:
- Disse a Layla, que iria contar em detalhes no jornal, sobre os retoques que ela fez, naquele cirurgião caro de Sofia, afinal ele também é médico de Camille. Inclusise sobre aquele em particular. – disse apontando para a linha abaixo da cintura e Robbie riu, Parvati deu um meio sorriso, mas algo no seu olhar, me fez pensar em que ela de alguma forma sabia toda a verdade, e não pude evitar um pequeno arrepio na nuca.
Friday, September 09, 2011
De volta à rotina de aulas, a mudança de comportamento daqueles afetados pelo acidente ficou ainda mais visível. Sempre bagunceiros e divertindo os alunos ao atrapalhar as aulas, ninguém mais interrompia o professor com piadas. Ninguém sequer conversava. Os treinos de Hóquei, que recomeçaram na 2ª semana de aula, passaram a ser apáticos. Os Ducks, campeões na temporada anterior, já não eram mais favoritos ao bicampeonato. Ozzy, capitão do time, não conseguia mais manter seus jogadores focados, estavam todos abalados demais com a perda do companheiro de time para pensar em jogo. Ele se sentia culpado pelo acidente e a idéia de que pode ter causado a morte de seu melhor amigo o torturava. Não podia contar a ninguém, não o levariam a sério, e as únicas pessoas que conheciam seus motivos não acreditavam em sua culpa, mas ele não conseguia se perdoar. Era mais fácil se culpar e dar um motivo a morte tão brutal do amigo do que pensar que ele partiu sem razão.
Se Ozzy se culpava por ter dito a Parvati que batesse com o carro, ela se culpava por estar ao volante. Parvati não conseguia, e nem queria, se perdoar por ter tomado as chaves da mão de Jack e dirigido enquanto estava tão alterada. E o pior, por ter sobrevivido. Parvati não compreendia por que um acidente daquela gravidade havia tirado a vida de sua irmã e de seu primo, mas poupado a sua, a culpada por ele ter acontecido. Ela não aceitava aquilo e sempre que cruzava com a prima, via em sua mente o mesmo questionamento. Julie agora não dividia mais o quarto com as meninas da sua turma. Assim que voltou a Durmstrang, pediu a presidente da casa para mudar e agora estava alojada no quarto de Lenneth, no 3º andar. Parvati entendia sua raiva e não tentava se aproximar, pois sabia que não ia suportar ouvir alguém dizer o que ela dizia para si mesma todos os dias.
As tardes de quinta-feira eram sempre ocupadas com a aula de Educação Física e para que os alunos relaxassem da já puxada rotina dos N.I.E.M.s, Maddox pediu que se dividissem em duas equipes e se divertissem um pouco com um simples jogo de queimada. A partida corria bem e todos estavam gostando de descarregar um pouco do estresse atirando bolas uns nos outros, mas a coisa ficou séria quando Derek chutou uma bola no rosto de Ozzy. Querendo apenas um motivo para estourar, o garoto partiu pra cima do colega e em um instante uma roda se formou no meio do campo e os dois trocavam chutes e socos no meio dela. Maddox correu com a varinha em punho e com um único feitiço apartou a briga. Os garotos caíram de costas na grama, cada um pra um lado.
- Quero os dois fora do campo agora! - Maddox gritou furioso - Noah e Alec, levem os dois pra enfermaria pra cuidar dos machucados e se certificar que não vão mais brigar. Derek e Ozzy, da enfermaria direto para suas repúblicas e 10 pontos a menos para cada casa!
- Anda, vamos embora - Alec puxou Ozzy pelo braço para o amigo levantar do chão.
- Não precisa me segurar, não vou atacar ele - Ozzy reclamou e o amigo o soltou.
Alec e Noah levaram os amigos até a enfermaria e depois de terem os ferimentos no rosto limpos e cuidados, Noah rebocou Derek de volta a Osíris antes que algo mais acontecesse. Alec esperou até que eles já estivessem bem afastados para começar a andar com Ozzy para a Kratos. Foram o caminho todo calados, mas Alec quebrou o silêncio quando passaram em frente a Atena. Parvati estava sentada sozinha na varanda, o rosto escondido por um capuz e um olhar perdido. Só então eles perceberam que ela não estava na aula de Educação Física. Ozzy parou de andar quando a viu e Alec parou ao seu lado, o encarando sério.
- O que foi?
- Você sabe o que precisa fazer, não é?
- Não preciso fazer nada.
- Sim, precisa. Ela precisa saber o que aconteceu, você tem que contar a ela.
- Por que eu? Você e Oleg também são perfeitamente capazes de explicar tudo.
- Só você pode ajudá-la e sabe muito bem disso. Não é só explicar o que houve, é ajudar nas mudanças.
- Nós nos odiamos, ela não vai me ouvir.
- O modo como você agiu quando estava tentando salvá-la, ninguém faz isso por alguém que odeia.
- Preferia ter salvado o Jack.
- Eu sei, mas vocês não se odeiam. O que aconteceu pra vocês chegarem a esse ponto?
- Não aconteceu nada, só não vamos com a cara um do outro.
- Se você diz... Tenho que voltar pra aula, nos vemos mais tarde. Faça a coisa certa.
Alec deixou o amigo sozinho na estrada das repúblicas e voltou para o campo. Ozzy ficou parado em frente à Atena por um bom tempo, tentando decidir o que fazer. Ele sabia que tinha que contar a ela porque estava viva e o que isso significava, sabia que tinha que lhe dizer que as vozes que ouvia não significavam que estava maluca, mas ele não sabia como. Seu relacionamento com Parvati era complicado, tinha um passado que desencadeou dois anos de brigas e trocas de insultos que acabaram em tragédia e ele agora não sabia como lidar com a situação. Ainda devia odiá-la, ou a morte de Jack e Alexis deveria apagar tudo que aconteceu? Como falar com ela, sabendo que era o culpado por tudo aquilo que estava acontecendo? Até onde ela acreditaria nele, se chegar a ouvi-lo? Quando ele decidiu se aproximar, ainda não sabia o que ia dizer.
- Oi – Parvati levantou os olhos para ver quem estava parado na sua frente e voltou a encarar o vazio – Queria conversar com você, pode tirar o fone do ouvido?
- Não tente querer ser legal só porque acha que deve isso ao Jack. Por favor, me deixa em paz.
- Não estou tentando ser legal, só quero conversar – ele ignorou seu pedido e sentou ao seu lado – Há algumas coisas que precisa saber.
- E por que é você quem tem que me contar?
- Porque só eu posso explicar o que está acontecendo com você. Sou o único que pode ajudar.
- A única maneira de me ajudar é me deixando em paz! – Parvati levantou irritada do banco e começou a caminhar na direção da porta – Não finja que se importa, não preciso de pena!
- Eu sei o que você está sentindo, sei das vozes! – Ozzy ficou de pé também e ela parou de costas pra ele – Você não está louca. Eu sei o que causou isso.
- Não, você não sabe o que eu estou passando, ninguém sabe!
- Também posso ouvi-los, o tempo todo. Então sim, eu sei o que você está passando.
Parvati o encarou e por um instante Ozzy viu em sua mente que ela estava considerando aceitar sua ajuda. Por mais doloroso que fosse, ela queria deixar que ele a ajudasse, mas não durou muito tempo. O que antes era dúvida havia se transformado em raiva. Ela não confiava mais nele. A mágoa ainda existia e talvez nunca fosse passar.
- Me deixe em paz – disse por fim e virou de costas outra vez, batendo a porta da república ao entrar.