Sábado, 31 de Outubro de 2015
- Como estou? – Leo virou a cabeça pra trás, mostrando as presas de vampiro falsas.
- Está torto – respondi rindo – Ainda não acredito que vamos mesmo fazer parte disso.
- Nem eu, mas se vestir de crupiê vampira não é tão ruim assim, vai – Leo arrumou a presa torta e se afastou do espelho – Pronto, vamos logo. Quanto mais rápido acabarmos com isso, mais cedo chegamos na festa.
Fechei o estojo de maquiagem que tinha no colo e descemos as escadas para nos juntarmos as outras meninas. Nossa rapública tinha escolhido o tema Cassino Vampiro, então havíamos transformado nossa sala em um cassino digno de Las Vegas, misturado com muito sangue falso e caixões. Com as luzes apagadas era um pouco intimidador, mas o que realmente contava eram as representações. Cada uma tinha seu papel e quando os outros alunos começaram a chegar, a encenação começou. No início não achei que iam realmente se assustar, mas quando Liseria agarrou uma menina do 2º ano e fez menção de morder seu pescoço, ela deu um grito tão apavorado que todas as minhas incertezas evaporaram. No fim, tive que adimitir que foi divertido.
Sai da Atena duas horas depois, quando as atividades nas casas mal-assombradas terminaram. Elas abriram às 19h, duas horas antes da festa no salão principal, para todos terem tempo de explorá-las e ainda assim não perder a festa. A caminhada dos alunos do 6º e 7º ano das repúblicas até o salão principal parecia um circo dos horrores. Tinham as crupiês vampiras da Atena, os zumbis da Kratos, as múmias da Osíris, carrascos da Spartacus e muitas outras bizarrices. Robbie nos alcançou a meio caminho do castelo, arrumando suas ataduras de múmia que já começavam a se desfazer. Alec vinha ao seu lado com uma maquiagem de zumbi tão perfeita que me deu arrepio. Os outros meninos da Kratos iam logo à frente e andavam se arrastando, fazendo da caminhada uma cena de um filme sobre o apocalipse zumbi. Jack adorava esse tipo de filme, não pude deixar de ficar triste em pensar no quanto ele ia gostar de fazer parte daquela brincadeira.
Quando cheguei ao salão vi os professores tendo uma reunião. Eles seriam os encarregados de manter a ordem da festa e estavam vestidos de acordo com o tema. Cinco estavam vestidos como criados, quatro foram vestidos como um lacaio de carruagem e quatro estavam vestidos como aristocratas. Cada um ficaria posicionado em áreas de acordo com suas fantasias. Os aristocratas iam patrulhar a pista de dança e os servos o resto do salão, enquanto os lacaios ficariam no jardim de olho em qualquer casal que deixar o salão para visitar o jardim. Todos devidamente mascarados, era dificil dizer quem cuidada do que, embora eu duvidasse que a professora Mesic estivesse vestida como uma lacaia. Eles também estavam encarregados de distribuir máscaras aos alunos mais desligados que chegassem ao salão sem a sua.
Havia cadeiras que pareciam ter sido tiradas do próprio castelo do Drácula, pufes e sofás e um lustre de cristal lindo sobre a pista de dança. As mesas estavam cobertas de toalhas de aspecto antigo com cortinas de renda branca sobre elas. Cada uma comportava até oito pessoas e estavam arrumadas com pratos de porcelana para o jantar, taças de cristal e talheres de ouro. No meio de cada mesa havia um vidro com rosas como centro de mesa. Havia uma vitrola antiga em um canto tocando música clássica, mas também um espaço reservado para o DJ tocar música popular após o jantar. Parecia que Durmstrang tinha desenterrado seu passado e o reunido no salão principal.
A comida seria servida em estilo buffet. Havia assado de carne, de frango e costela, batata gratinada, legumes misturados e muito pão francês. Havia sodas, espumantes, um ponche delicioso feito a partir de água de gilly e limonada para beber. Conforme os alunos iam chegando, o professores vestido como servos os sentavam nas mesas na ordem em que chegavam. Só depois de sentados eles poderiam levantar e com seus pratos entrar na fila para o buffet.
Eu mal reconheci o diretor quando ele caminhou até o pódio. Estava vestido com uma roupa linda de cavaleiro do século 17 completa, com uma máscara que tinha uma pluma de avestruz escandalosamente longa. Ele circulava pelas mesas satisfeito com o resultado do trabalho do grêmio e parecia estar gostando do estilo de festa que foi criado. Embora a maioria dos alunos mais novos chegasse no salão esbaforidos e assustados depois da visita às repúblicas, o clima no baile não poderia ser melhor. Uma festa divertida e comportada, como há muito tempo Durmstrang nao via. Lucian também chegou cedo ao salão. Como estaria interpretando o anfritrião da festa, foi liberado de ter que se fantasiar de zumbi. Ele estava vestido como Conde Drácula e recebia os alunos junto do diretor, dando as boas vindas à sua casa com as presas sujas de sangue artificial à mostra.
Depois do jantar, e de alguns casais mais desinibidos arriscarem alguns passos de valsa ao som da música classica, todo mundo voltou para o século 21 quando o DJ começou a tocar música atual. Todos tiraram suas máscaras e a festa começou de verdade.
ººººººº
Já era quase meia noite, mas a festa ainda não dava indícios que que ia terminar. Apesar da comida ter sido quase toda devorada, ainda tinha muita bebida e disposição do DJ, então a pista de dança continuava fervendo. Eu já estava jogada na mesa, exausta. Com um salto alto que acabou com os meus pés depois de muito dançar e o excesso de alcool que havia me tirado o poder da concentração, já não estava mais conseguindo impedir que uma onda de pensamentos invadissem minha mente. Leo e Robbie ainda resistiam bravamente na pista, ela dançando animada com Finn e ele com Alec e Lenneth. A energia deles estava me esgotando. Ainda não estava a ponto de desmaiar, talvez o alcool tenha cooperado para isso, mas já estava com uma dor de cabeça insuportável, então enchi minha taça mais uma vez e levantei da mesa, saindo em direção aos jardins.
Muitos casais ocupavam os bancos do lado de fora, mas os quatro professores encarregados da vigilância externa estavam atentos. Agora que estavam sem as máscaras, via que os lacaios eram Mira Sakharov, Maddox, Marko Skoblar e Georgia Yelchin. Os quatro estavam conversando animados no canto do pátio, mas apesar da conversa parecer estar bastante divertida, mantinham os olhos bem abertos e não perdiam ninguém de vista. Eles estavam fazendo um pouco de vista grossa para os alunos do 7º ano, afinal, todos eram maiores de idade, mas os outros não estavam tendo folga. Passei por eles os cumprimentando com um aceno e caminhei até o lado mais afastado, onde os bancos ainda estavam vazios.
A confusão na minha cabeça já estava bem menor quando sentei afastada das pessoas, mas quando olhei para meu lado direito, na direção do lago congelado, achei que já era tarde demais e tinha ficado louca. Parado a alguns metros de distância, ainda com as roupas do dia do acidente, Jack fitava a entrada do castelo com um sorriso saudoso no rosto. Levantei lentamente, certa de que estava vendo coisas e que aquilo era culpa do alcool, mas então ele me viu. Sentei outra vez, sentindo que estava entrando em estado de choque vendo ele caminhar na minha direção. Em um instante ele estava parado na minha frente, a poucos centímetros de distância, e meu coração estava disparado e meu rosto molhado de lágrimas sem eu nem ao menos ter percebido que chorava. Não sabia o que fazer. Devia falar com ele ou desmaiar?
- Como? – foi tudo que conseguir dizer, depois de um longo tempo o encarando.
- É Halloween. O véu entre os mundos fica mais fino, é a noite em que nós, fantasmas, podemos nos comunicar com os vivos – ele respondeu sorrindo, mas eu ainda não conseguia formar sentenças – Estava me perguntando se em algum momento você ficaria sozinha.
- Por que?
- Porque você ia parecer maluca falando sozinha no meio do salão – ele riu, a mesma risada que eu lembrava – Ninguém mais pode me ver, só você.
- Sinto muito. Devia ter deixado você dirigir – dessa vez as lágrimas que cairam foram sentidas – É minha culpa você e Alexis não estarem aqui.
- O que aconteceu foi um acidente e já é hora de você parar de se culpar. Alexis e eu estamos bem, é com você que nos preocupamos. Muita coisa mudou, Parv. Você ganhou uma segunda chance, precisa provar que a mereceu.
- Se estiver falando do Ozzy, não estamos mais brigando.
- Não estou falando só dele. Você e Julie ainda não estão se falando. Ela sente falta de você, mesmo que brigassem na maioria das vezes. Sente falta da família por perto em Durmstrang.
- Ela também me culpa pelo acidente, como seus pais.
- Ninguém a culpa. Eles estavam ainda muito abalados, algumas coisas podem ter sido ditas sem pensar, mas ninguém realmente acha que a culpa foi sua.
- Como eu conserto as coisas com ela?
- Isso você terá que descobrir sozinha. Houve um tempo que vocês eram amigas, mas cresceram e as diferenças foram ficando mais evidentes. Talvez se pudesse lembrar como era aquela época... – Jack olhou para trás de repente e olhei por cima do seu ombro, mas não vi anda – Preciso ir. Alexis está me chamando.
- Ela está aqui? Por que não a vejo?
- Só podemos falar com uma pessoa, ela precisava encontrar Edgar.
- Você não falou com a Julie?
- Julie já seguiu em frente, minha aparição só a faria regredir – ele olhou para o lado agora e senti como se mais alguém estivesse ali. Ele sorriu e me encarou – Alexis quer que você faça um favor a ela. Tem uma caixa de madeira embaixo de sua cama e deve dar ela a Edgar. Quer também que você cuide da sua mãe, ela precisa de você. Ah, e ela está dizendo que sente sua falta.
- Também sinto sua falta, maninha. Você não imagina o quanto. Pode deixar que vou entregar a caixa a ele.
- Agora precisamos ir, nosso tempo está acabando.
- Vou vê-lo outra vez?
- Não. Você precisa seguir em frente – Jack se aproximou e beijou meu rosto. Tudo que senti foi um vento gelado quando sua boca tocou minha bochecha, mas era como se ele estivesse ali de carne e osso assim mesmo.
Ele se afastou e, com um último sorriso, se foi. Não sei por quanto tempo fiquei parada fitando o lugar onde ele desapareceu, pode ter sido alguns minutos, como também podem ter se passado horas. De repente senti uma mão tocar meu ombro e quando olhei para o lado Ozzy estava sentado do meu lado. Ainda maquiado como zumbi, ele tinha um semblante preocupado, mas quando me perguntou o que havia acontecido, tudo que consegui fazer foi me atirar em seus braços e começar a chorar.
Sunday, October 30, 2011
Monday, October 24, 2011
Quando Parvati veio me agradecer por ter impedido que ela desmaiasse na reunião do grêmio e pedir novamente que a ajudasse, parei de torturá-la e concordei em fazer o que havia prometido no começo do mês. Ela queria começar logo, mas pedi que tivesse calma e combinamos que tiraria o sábado para ensiná-la tudo que podia. Ela estava impaciente, mas aquilo levava tempo e isso era algo que não tínhamos de segunda a sexta.
Às 10h em ponto estava parado no portão da escola e cinco minutos depois Parvati apareceu na estrada. Vinha vestida com um casaco pesado, o capuz cobrindo a cabeça e parte do rosto. A primeira vista não vi o iPod que estava sempre em sua mão e já considerei isso um progresso. Se não estava usando ele, era porque estava disposta a aprender.
- Está atrasada – disse quando ela parou ao meu lado.
Ela não respondeu e se limitou a me lançar um olhar irritado. Atravessamos os portões da escola em direção ao vilarejo. Era sábado, a maioria dos alunos estava aproveitando o dia de raro sol passeando pelas ruas e gastando suas economias nas lojas. A praça estava movimentada o bastante para começar a ensiná-la a controlar a mente, então sentamos em um dos bancos dela e imediatamente parei de bloquear os pensamentos para ela.
- Podia dar um aviso antes – ela reclamou quando uma chuva de vozes invadiu sua cabeça de repente.
- Nunca disse para ficar confortável, não faço isso sempre.
- Ok, será que podemos deixar a implicancia de lado um pouco? Já pedi desculpas e agradeci por tudo que tem feito. O que mais quer que eu faça? Estou arrependida do que fiz, mas não posso voltar no tempo e consertar isso.
- Está certa, desculpe. Não estamos aqui pra brigar, mas sim pra ensiná-la a controlar sua habilidade.
- Exato. E como eu faço isso?
- Está vendo aquele senhor sentado do outro lado, lendo o jornal? – ela assentiu – Quero que concentre seus pensamentos nele. Não pense em mais nada, apenas nele.
Ela me olhou meio desconfiada, mas fez o que pedi sem contestar. No começo fez algumas caretas, certamente porque as muitas vozes estavam atrapalhando sua concentração, mas depois de alguns minutos Parvati abriu um sorriso surpreso. Ela olhou pra mim animada, mas naquele instante sua concentração quebrou e ela voltou a ouvir tudo.
- Droga! Tinha conseguido, estava ouvindo apenas ele!
- Sim, porque estava concentrada.
- Mas sempre vou ouvir alguém? Não estou reclamando, é melhor que 50 alunos de uma vez só, mas nunca vou ter paz?
- Não, você vai poder bloquear tudo, mas um passo de cada vez, ok? Primeiro precisa aprender a canalizar apenas uma mente para ouvir, depois vai aprender a desligar ela também. Outra vez, agora a mulher com o cachorro perto da estátua.
Passamos todo o resto da manhã fazendo a mesma coisa. Depois de uma hora ela já estava conseguindo conversar sem perder a concentração na pessoa e pedi que ela mudasse de foco a cada 10 minutos. Levou mais tempo que a primeira tarefa, mas ela finalmente conseguiu. Ainda que fosse continuar lendo alguma mente, não precisaria mais bloquear os pensamentos para ela não desmaiar. Eram quase 14h quando decidimos voltar pra Durmstrang, mas antes mesmo que saíssemos da praça fui pego de surpresa pela chegada da minha irmã, Katarina. Havia esquecido por completo que ela estaria no vilarejo naquele sábado e que tinha prometido almoçar com ela. Entrei em um desespero tão grande pela presença da Parvati e com o que ela poderia descobrir com uma única olhada pra ela que fechei sua mente por completo. Ela percebeu, pois estava focada em uma senhora que passava ao nosso lado, mas bastou um olhar alarmado para ela entender e não questionar.
- Maninho! – Katarina me abraçou e beijou minha bochecha – Desculpe o atraso, fiquei presa numa reunião chatíssima.
- Nem percebi o atraso – sorri tentando parecer relaxado e virei para Parvati – Nos vemos no castelo?
- Sim, nos falamos depois, bom almoço – ela respondeu depressa, mas quando fez menção de sair minha irmã segurou seu braço.
- Bobagem, sua amiga é bem vinda no nosso almoço. Você é a filha da prefeita, não é? – Parvati assentiu e minha irmã sorriu solidária – Sinto muito por sua irmã. Fomos ao enterro, mas você ainda estava no hospital.
- Obrigada – Parvati tentou soar normal, mas sua voz saiu rouca.
- Acho que ela não quer falar sobre isso, Kat.
- Tem razão, mil desculpas. Deixe-me compensar a falta de tato pagando seu almoço.
- Obrigada, mas tenho mesmo que voltar ao castelo – Parvati tentou se esquivar. Meu olhar de pânico deve ter sido realmente convincente, porque ela estava tão ou mais apavorada que eu.
- Não, não aceito não como resposta! – e agarrou Parvati pela mão, a rebocando para o outro lado da rua.
Ela ainda me lançou um olhar perdido, mas dei de ombros indicando que não tinha nada que pudéssemos fazer e as segui. Minha irmã tinha feito uma reserva para nós dois no Rainbow Room, mas uma rápida conversa com o maître e a reserva foi trocada para acomodar três pessoas. Quando nos sentamos à mesa o desconforto era visível, mas ou minha irmã não estava percebendo ou preferiu ignorar. Muito provavelmente ela achava que eu estava namorando Parvati e escondendo da família, e pensando bem, era melhor deixar que ela pensasse isso mesmo. Se descobrisse a verdade estaria em uma encrenca tão grande que não conseguia nem começar a pensar na dimensão das conseqüências.
- Pensei que Joffrey viria com você. Liberou o pobre coitado dos preparativos pro casamento? – resolvi relaxar. Se não tinha jeito, o melhor era parecer o mais natural possível.
- Você vai casar? – Parvati deve ter pensado o mesmo, porque já parecia mais a vontade.
- Sim, na primeira semana de janeiro – Katarina respondeu animada – Seus pais já receberam o convite, quando chegar em casa para o natal eles com certeza vão avisá-la.
- Adoro casamentos, não vou perder o seu – Parvati sorriu de volta e numa fração de segundos as duas já eram melhores amigas.
Aquilo deveria ter me deixado em pânico, mas estava concentrado demais em não deixar que minha irmã invadisse a mente de Parvati para me preocupar. As duas engataram em um papo sobre casamento que em alguns minutos eu já estava bocejando. Minha presença na mesa foi completamente ignorada e agradeci por isso. Minha irmã já tinha percebido que era por minha causa que ela não conseguia ler Parvati e ela era muito mais forte e experiente que eu, estava custando toda a minha concentração para não deixá-la furar a barreira.
Minha atenção pra conversa foi atraída com a mudança do assunto casamento para a nossa festa de Halloween, que estava sendo feita às pressas. Enquanto experimentávamos os pratos sugeridos pelo garçom favorito de Katarina, contamos a ela nossas idéias para a decoração e das casas mal-assombradas. Ela adorou a idéia de transformarmos as repúblicas em casas do terror e ainda mais os temas, que seriam Fábrica de Brinquedos, Corredor da Morte, Cassino Vampiro, Apocalipse Zumbi, Maldição da Múmia, Labirinto das Almas Perdidas, Câmara de Tortura e Expresso da Agonia. Katarina aproveitou para dar algumas sugestões para a decoração do salão onde a festa principal seria montada e ainda deu muitas idéias sobre o problema com as fantasias. Por termos criado duas ambientações, a idéia de ir a rigor no Baile de Máscaras foi comprometida. Minha irmã então sugeriu que, já que a inspiração foi o Conde Drácula, porque não transformar o baile com ele de anfitrião?
- Lucian vai querer se vestir de Drácula – Parvati e eu falamos ao mesmo tempo e começamos a rir.
- Com licença, volto em um instante – ela levantou da mesa e saiu em direção ao banheiro.
- Por que está me bloqueando, maninho? – ela perguntou assim que Parvati se afastou – O que está escondendo?
- Não estou escondendo nada, só achei que podia acabar com a sua diversão.
- Você nunca fez isso com seus outros amigos, o que tem de especial nela? – sua voz era cheia de malícia, mas era melhor ela pensar assim do que descobrir a verdade.
- Kat, tive todo um ano longe de você pra treinar, não vai conseguir me arrancar nada.
- Sabe que tenho meus meios de torturá-lo, não? E também posso desfazer o convite para ser meu padrinho – continuei sorrindo debochado pra ela e ela riu – Brincadeira, nunca ia deixá-lo de fora do casamento, mas falei sério sobre a tortura.
Ia responder, mas Parvati voltou à mesa na hora e o assunto morreu. Voltamos a falar da nova idéia de ambientação pro salão principal enquanto saboreávamos a sobremesa e já eram quase 16h quando deixamos o restaurante. Katarina se despediu de nós com abraços calorosos e aparatou de volta a Bulgária.
- Então ela também pode ler mentes? – Parvati perguntou assim que ficamos sozinhos outra vez.
- E muito bem. Entrei em pânico, tive que passar o almoço todo bloqueando as tentativas dela de saber o que queria esconder.
- Ela faz isso com todo mundo?
- Na maioria das vezes, quando ela não conhece a pessoa não resiste à tentação de espiar. E como eu não deixei, ela ficou ainda mais curiosa. Kat é muito forte, se eu consegui mantê-la afastada é porque meus poderes estão aumentando.
- Tirando a parte que ela tentou invadir minha mente, gostei da sua irmã.
- Ela também gostou de você. Devo me preocupar?
- Eu me preocuparia – sacudi a cabeça e ela riu – Quer tomar um café?
- Claro.
Atravessamos a rua na direção do Café Cultural e ocupamos um dos sofás vazios, cada um com uma xícara gigante na mão. A maioria do conselho do grêmio estava lá e aproveitamos para contar das novas idéias. Como tínhamos previsto, Lucian logo se candidatou a ir de Conde Drácula e já começamos a bolar as mudanças na decoração e também um bom argumento para fazer os professores entrarem na brincadeira. Ia ser uma semana tumultuada, mas no fim valeria à pena. Teríamos um Halloween tão bom quanto o do ano passado, sem precisar invadir o vilarejo.
Às 10h em ponto estava parado no portão da escola e cinco minutos depois Parvati apareceu na estrada. Vinha vestida com um casaco pesado, o capuz cobrindo a cabeça e parte do rosto. A primeira vista não vi o iPod que estava sempre em sua mão e já considerei isso um progresso. Se não estava usando ele, era porque estava disposta a aprender.
- Está atrasada – disse quando ela parou ao meu lado.
Ela não respondeu e se limitou a me lançar um olhar irritado. Atravessamos os portões da escola em direção ao vilarejo. Era sábado, a maioria dos alunos estava aproveitando o dia de raro sol passeando pelas ruas e gastando suas economias nas lojas. A praça estava movimentada o bastante para começar a ensiná-la a controlar a mente, então sentamos em um dos bancos dela e imediatamente parei de bloquear os pensamentos para ela.
- Podia dar um aviso antes – ela reclamou quando uma chuva de vozes invadiu sua cabeça de repente.
- Nunca disse para ficar confortável, não faço isso sempre.
- Ok, será que podemos deixar a implicancia de lado um pouco? Já pedi desculpas e agradeci por tudo que tem feito. O que mais quer que eu faça? Estou arrependida do que fiz, mas não posso voltar no tempo e consertar isso.
- Está certa, desculpe. Não estamos aqui pra brigar, mas sim pra ensiná-la a controlar sua habilidade.
- Exato. E como eu faço isso?
- Está vendo aquele senhor sentado do outro lado, lendo o jornal? – ela assentiu – Quero que concentre seus pensamentos nele. Não pense em mais nada, apenas nele.
Ela me olhou meio desconfiada, mas fez o que pedi sem contestar. No começo fez algumas caretas, certamente porque as muitas vozes estavam atrapalhando sua concentração, mas depois de alguns minutos Parvati abriu um sorriso surpreso. Ela olhou pra mim animada, mas naquele instante sua concentração quebrou e ela voltou a ouvir tudo.
- Droga! Tinha conseguido, estava ouvindo apenas ele!
- Sim, porque estava concentrada.
- Mas sempre vou ouvir alguém? Não estou reclamando, é melhor que 50 alunos de uma vez só, mas nunca vou ter paz?
- Não, você vai poder bloquear tudo, mas um passo de cada vez, ok? Primeiro precisa aprender a canalizar apenas uma mente para ouvir, depois vai aprender a desligar ela também. Outra vez, agora a mulher com o cachorro perto da estátua.
Passamos todo o resto da manhã fazendo a mesma coisa. Depois de uma hora ela já estava conseguindo conversar sem perder a concentração na pessoa e pedi que ela mudasse de foco a cada 10 minutos. Levou mais tempo que a primeira tarefa, mas ela finalmente conseguiu. Ainda que fosse continuar lendo alguma mente, não precisaria mais bloquear os pensamentos para ela não desmaiar. Eram quase 14h quando decidimos voltar pra Durmstrang, mas antes mesmo que saíssemos da praça fui pego de surpresa pela chegada da minha irmã, Katarina. Havia esquecido por completo que ela estaria no vilarejo naquele sábado e que tinha prometido almoçar com ela. Entrei em um desespero tão grande pela presença da Parvati e com o que ela poderia descobrir com uma única olhada pra ela que fechei sua mente por completo. Ela percebeu, pois estava focada em uma senhora que passava ao nosso lado, mas bastou um olhar alarmado para ela entender e não questionar.
- Maninho! – Katarina me abraçou e beijou minha bochecha – Desculpe o atraso, fiquei presa numa reunião chatíssima.
- Nem percebi o atraso – sorri tentando parecer relaxado e virei para Parvati – Nos vemos no castelo?
- Sim, nos falamos depois, bom almoço – ela respondeu depressa, mas quando fez menção de sair minha irmã segurou seu braço.
- Bobagem, sua amiga é bem vinda no nosso almoço. Você é a filha da prefeita, não é? – Parvati assentiu e minha irmã sorriu solidária – Sinto muito por sua irmã. Fomos ao enterro, mas você ainda estava no hospital.
- Obrigada – Parvati tentou soar normal, mas sua voz saiu rouca.
- Acho que ela não quer falar sobre isso, Kat.
- Tem razão, mil desculpas. Deixe-me compensar a falta de tato pagando seu almoço.
- Obrigada, mas tenho mesmo que voltar ao castelo – Parvati tentou se esquivar. Meu olhar de pânico deve ter sido realmente convincente, porque ela estava tão ou mais apavorada que eu.
- Não, não aceito não como resposta! – e agarrou Parvati pela mão, a rebocando para o outro lado da rua.
Ela ainda me lançou um olhar perdido, mas dei de ombros indicando que não tinha nada que pudéssemos fazer e as segui. Minha irmã tinha feito uma reserva para nós dois no Rainbow Room, mas uma rápida conversa com o maître e a reserva foi trocada para acomodar três pessoas. Quando nos sentamos à mesa o desconforto era visível, mas ou minha irmã não estava percebendo ou preferiu ignorar. Muito provavelmente ela achava que eu estava namorando Parvati e escondendo da família, e pensando bem, era melhor deixar que ela pensasse isso mesmo. Se descobrisse a verdade estaria em uma encrenca tão grande que não conseguia nem começar a pensar na dimensão das conseqüências.
- Pensei que Joffrey viria com você. Liberou o pobre coitado dos preparativos pro casamento? – resolvi relaxar. Se não tinha jeito, o melhor era parecer o mais natural possível.
- Você vai casar? – Parvati deve ter pensado o mesmo, porque já parecia mais a vontade.
- Sim, na primeira semana de janeiro – Katarina respondeu animada – Seus pais já receberam o convite, quando chegar em casa para o natal eles com certeza vão avisá-la.
- Adoro casamentos, não vou perder o seu – Parvati sorriu de volta e numa fração de segundos as duas já eram melhores amigas.
Aquilo deveria ter me deixado em pânico, mas estava concentrado demais em não deixar que minha irmã invadisse a mente de Parvati para me preocupar. As duas engataram em um papo sobre casamento que em alguns minutos eu já estava bocejando. Minha presença na mesa foi completamente ignorada e agradeci por isso. Minha irmã já tinha percebido que era por minha causa que ela não conseguia ler Parvati e ela era muito mais forte e experiente que eu, estava custando toda a minha concentração para não deixá-la furar a barreira.
Minha atenção pra conversa foi atraída com a mudança do assunto casamento para a nossa festa de Halloween, que estava sendo feita às pressas. Enquanto experimentávamos os pratos sugeridos pelo garçom favorito de Katarina, contamos a ela nossas idéias para a decoração e das casas mal-assombradas. Ela adorou a idéia de transformarmos as repúblicas em casas do terror e ainda mais os temas, que seriam Fábrica de Brinquedos, Corredor da Morte, Cassino Vampiro, Apocalipse Zumbi, Maldição da Múmia, Labirinto das Almas Perdidas, Câmara de Tortura e Expresso da Agonia. Katarina aproveitou para dar algumas sugestões para a decoração do salão onde a festa principal seria montada e ainda deu muitas idéias sobre o problema com as fantasias. Por termos criado duas ambientações, a idéia de ir a rigor no Baile de Máscaras foi comprometida. Minha irmã então sugeriu que, já que a inspiração foi o Conde Drácula, porque não transformar o baile com ele de anfitrião?
- Lucian vai querer se vestir de Drácula – Parvati e eu falamos ao mesmo tempo e começamos a rir.
- Com licença, volto em um instante – ela levantou da mesa e saiu em direção ao banheiro.
- Por que está me bloqueando, maninho? – ela perguntou assim que Parvati se afastou – O que está escondendo?
- Não estou escondendo nada, só achei que podia acabar com a sua diversão.
- Você nunca fez isso com seus outros amigos, o que tem de especial nela? – sua voz era cheia de malícia, mas era melhor ela pensar assim do que descobrir a verdade.
- Kat, tive todo um ano longe de você pra treinar, não vai conseguir me arrancar nada.
- Sabe que tenho meus meios de torturá-lo, não? E também posso desfazer o convite para ser meu padrinho – continuei sorrindo debochado pra ela e ela riu – Brincadeira, nunca ia deixá-lo de fora do casamento, mas falei sério sobre a tortura.
Ia responder, mas Parvati voltou à mesa na hora e o assunto morreu. Voltamos a falar da nova idéia de ambientação pro salão principal enquanto saboreávamos a sobremesa e já eram quase 16h quando deixamos o restaurante. Katarina se despediu de nós com abraços calorosos e aparatou de volta a Bulgária.
- Então ela também pode ler mentes? – Parvati perguntou assim que ficamos sozinhos outra vez.
- E muito bem. Entrei em pânico, tive que passar o almoço todo bloqueando as tentativas dela de saber o que queria esconder.
- Ela faz isso com todo mundo?
- Na maioria das vezes, quando ela não conhece a pessoa não resiste à tentação de espiar. E como eu não deixei, ela ficou ainda mais curiosa. Kat é muito forte, se eu consegui mantê-la afastada é porque meus poderes estão aumentando.
- Tirando a parte que ela tentou invadir minha mente, gostei da sua irmã.
- Ela também gostou de você. Devo me preocupar?
- Eu me preocuparia – sacudi a cabeça e ela riu – Quer tomar um café?
- Claro.
Atravessamos a rua na direção do Café Cultural e ocupamos um dos sofás vazios, cada um com uma xícara gigante na mão. A maioria do conselho do grêmio estava lá e aproveitamos para contar das novas idéias. Como tínhamos previsto, Lucian logo se candidatou a ir de Conde Drácula e já começamos a bolar as mudanças na decoração e também um bom argumento para fazer os professores entrarem na brincadeira. Ia ser uma semana tumultuada, mas no fim valeria à pena. Teríamos um Halloween tão bom quanto o do ano passado, sem precisar invadir o vilarejo.
Tuesday, October 18, 2011
Cinco dias já haviam se passado desde a minha tentativa frustrada de suicídio. Leo e Robbie não me davam folga e não conseguia dar um passo sem ter pelo menos um dos dois na minha cola. Eles ainda não sabiam do fora que havia levado de Ozzy e não estava nos meus planos contar tão cedo, já era ruim o bastante ter que me lembrar daquela conversa sem ter que vê-los com a expressão de “bem feito” estampada no rosto.
O fato é que, depois do passa-fora, estava decidida a retomar a vida que tinha deixado em junho, quando sai de férias. Ainda não estava pronta para abandonar o iPod, mas me esforçava ao máximo para não usá-lo o dia inteiro. Quando o desligava precisava de muita concentração para não enlouquecer. E fora o enjôo, que ainda não tinha acabado. Passava o dia inteiro me sentindo mal, com ânsia de vomito, mas felizmente desde domingo não tinha colocado mais nada pra fora.
E se estava colocando minha antiga vida em ordem, precisava reunir o conselho do grêmio estudantil. Odiava admitir, mas Ozzy estava certo: estávamos a apenas duas semanas do Halloween e não havia sinal de que teríamos algum tipo de celebração. Terça era o melhor dia para marcar as reuniões, então enviei um recado a cada membro do conselho e às 19h já estava na sala esperando cada um chegar. E cada um que entrava tinha a mesma expressão de espanto no rosto e todos, sem exceção, pensavam naquele momento que eu nunca ia reassumir o posto.
- Está mesmo pronta pra isso? – Robbie perguntou sentado na cadeira mais próxima.
- Não – respondi tentando sorrir, já começando a ter dor de cabeça com o excesso de pensamentos – Boa noite, pessoal.
- Então ainda temos um grêmio? – Maria disse em tom de deboche, que ignorei – Muito bom, estava achando que íamos passar o ano sem função.
- Sim, ainda temos um grêmio. Peço desculpas pela ausência nas últimas semanas, precisava de um tempo, mas isso acabou porque temos muito que fazer. E quero começar a reunião dando boas vindas aos dois novos membros do conselho, Nina Petrova e Mitchell Callahan – os dois levantaram e foram cumprimentados pelos outros – Feito isso, vamos à nossa festa de Halloween.
- Sim, por favor! – Yanic, que estava sentado na outra ponta da mesa, ergueu os braços – O que vamos fazer? Só temos duas semanas.
- Não temos como fazer outra festa no vilarejo, isso pede tempo e infelizmente não temos, então temos que fazer a festa aqui dentro da escola – Lucian falou e assenti.
- Sim, terá que ser aqui dentro. Temos duas semanas, podemos providenciar uma decoração bem elaborada sendo em um espaço fechado. Idéias para o tema?
Esse foi o meu erro. Enquanto cada um estava falando ao mesmo tempo, mesmo que cada um tivesse um pensamento diferente na cabeça, eu estava conseguindo me manter concentrada. Quando pedi sugestões e o falatório tomou conta da mesa, perdi o controle. Um queria falar mais alto que o outro, cada um com mil idéias na cabeça e tentando falar cada uma delas em voz alta, um discordando do outro e querendo mostrar que sua idéia era melhor, enfim, um caos. A confusão de vozes na minha cabeça era tanta que fiquei tonta. A sensação era que meu cérebro ia entrar em combustão a qualquer instante.
A visão daquelas nove pessoas discutindo começava a ficar embaçada quando vi uma gota de sangue cair na mesa. Levei a mão ao rosto e percebi que meu nariz estava sangrando. Limpei depressa antes que alguém visse e de repente tudo ficou em silêncio. Além das palavras que estavam de fato sendo pronunciadas, não ouvia mais nada. No mesmo instante soube que Ozzy estava fazendo isso, mas quando olhei para ele, ele não me encarava. Mantinha o olhar fixo em Mitchell, que estava sentado de frente para ele, como se estivesse muito interessado em sua idéia para a festa, mas na verdade não estava ouvindo uma única palavra. Estava apenas concentrado. Sem as vozes pude pensar com mais clareza e saiu da boca de Nina a idéia que chamou minha atenção.
- Baile de máscaras do século 17 – ouvi-a dizer em meio a uma confusão de idéias malucas – Todos vestidos a rigor.
- Isso! – bati a mão na mesa com tanto entusiasmo que todos se assustaram – Nina, sua idéia é perfeita!
- Que idéia? – Valéria perguntou confusa – O que ela falou?
- Baile de Máscaras do Século 17 – Nina repetiu surpresa por ter gostado.
- E todos vestidos a rigor – completei, repetindo o que ela tinha dito – Durmstrang tem todo o clima para um baile nos moldes do século 17, isso parece o castelo do Conde Drácula.
- Conde Drácula nasceu em 1431, não é do século 17 – Lucian me corrigiu, embora suspeitasse que ele só estivesse sendo preciso.
- Não importa, ele é um vampiro, passou pelo século 17.
- Na verdade, isso é uma lenda – Lucian não se conteve – A verdadeira história é que-
- Lucian, agora não – disse em tom de aviso e ele riu, pedindo desculpas – Baile de máscaras, o que acham?
- É, acho que vai ficar legal – Leo me apoiou – E as roupas são magníficas, vamos todos ficar muito sofisticados.
- E a decoração já está praticamente feita se a festa for no salão principal, só vamos precisar dar alguns retoques – Robbie completou e a mesa acabou animando.
- Ótimo, então está decidido. Vamos começar a falar da decoração e o que cada um vai fazer.
- Ainda não – Yanic levantou a mão, me interrompendo – E os calouros? Sempre pensamos em alguma coisa voltada pra eles.
- Bem lembrado – Ozzy falou pela primeira vez desde que chegou à sala – É o nosso último ano, temos que caprichar. E se me permitem uma sugestão... Casa Mal-Assombrada.
O falatório recomeçou, mas felizmente dessa vez estava protegida e pude prestar atenção. Era verdade, precisávamos bolar algo voltado para os calouros de Durmstrang e nada gritava mais “diversão” que uma casa mal-assombrada. Não que eu tivesse qualquer pretensão de entrar em uma, mas pregar peça e dar sustos nos novatos era sempre divertido.
Consegui que cada um falasse na sua vez e ficou decidido que as repúblicas seriam transformadas em casas mal-assombradas, cada uma com seu tema próprio, que seria decidido pelo seu presidente, e que somente os alunos do 6º ano poderiam ajudar os veteranos na organização. Elas funcionariam a noite inteira, paralelas a festa que aconteceria nos jardins e salão principal. E decidido isso, começamos a discutir a decoração da festa principal. Quando saímos da sala já passava das 21h, mas pela primeira vez desde que voltara a Durmstrang, estava satisfeita com alguma coisa. A sensação de dever cumprido era, sem dúvida, revigorante. E sim, na primeira oportunidade, agradeceria Ozzy pelo que fez, por mais duro que isso fosse, afinal, eu precisava mudar. E quer mudança maior que ser grata a ele por qualquer coisa?
O fato é que, depois do passa-fora, estava decidida a retomar a vida que tinha deixado em junho, quando sai de férias. Ainda não estava pronta para abandonar o iPod, mas me esforçava ao máximo para não usá-lo o dia inteiro. Quando o desligava precisava de muita concentração para não enlouquecer. E fora o enjôo, que ainda não tinha acabado. Passava o dia inteiro me sentindo mal, com ânsia de vomito, mas felizmente desde domingo não tinha colocado mais nada pra fora.
E se estava colocando minha antiga vida em ordem, precisava reunir o conselho do grêmio estudantil. Odiava admitir, mas Ozzy estava certo: estávamos a apenas duas semanas do Halloween e não havia sinal de que teríamos algum tipo de celebração. Terça era o melhor dia para marcar as reuniões, então enviei um recado a cada membro do conselho e às 19h já estava na sala esperando cada um chegar. E cada um que entrava tinha a mesma expressão de espanto no rosto e todos, sem exceção, pensavam naquele momento que eu nunca ia reassumir o posto.
- Está mesmo pronta pra isso? – Robbie perguntou sentado na cadeira mais próxima.
- Não – respondi tentando sorrir, já começando a ter dor de cabeça com o excesso de pensamentos – Boa noite, pessoal.
- Então ainda temos um grêmio? – Maria disse em tom de deboche, que ignorei – Muito bom, estava achando que íamos passar o ano sem função.
- Sim, ainda temos um grêmio. Peço desculpas pela ausência nas últimas semanas, precisava de um tempo, mas isso acabou porque temos muito que fazer. E quero começar a reunião dando boas vindas aos dois novos membros do conselho, Nina Petrova e Mitchell Callahan – os dois levantaram e foram cumprimentados pelos outros – Feito isso, vamos à nossa festa de Halloween.
- Sim, por favor! – Yanic, que estava sentado na outra ponta da mesa, ergueu os braços – O que vamos fazer? Só temos duas semanas.
- Não temos como fazer outra festa no vilarejo, isso pede tempo e infelizmente não temos, então temos que fazer a festa aqui dentro da escola – Lucian falou e assenti.
- Sim, terá que ser aqui dentro. Temos duas semanas, podemos providenciar uma decoração bem elaborada sendo em um espaço fechado. Idéias para o tema?
Esse foi o meu erro. Enquanto cada um estava falando ao mesmo tempo, mesmo que cada um tivesse um pensamento diferente na cabeça, eu estava conseguindo me manter concentrada. Quando pedi sugestões e o falatório tomou conta da mesa, perdi o controle. Um queria falar mais alto que o outro, cada um com mil idéias na cabeça e tentando falar cada uma delas em voz alta, um discordando do outro e querendo mostrar que sua idéia era melhor, enfim, um caos. A confusão de vozes na minha cabeça era tanta que fiquei tonta. A sensação era que meu cérebro ia entrar em combustão a qualquer instante.
A visão daquelas nove pessoas discutindo começava a ficar embaçada quando vi uma gota de sangue cair na mesa. Levei a mão ao rosto e percebi que meu nariz estava sangrando. Limpei depressa antes que alguém visse e de repente tudo ficou em silêncio. Além das palavras que estavam de fato sendo pronunciadas, não ouvia mais nada. No mesmo instante soube que Ozzy estava fazendo isso, mas quando olhei para ele, ele não me encarava. Mantinha o olhar fixo em Mitchell, que estava sentado de frente para ele, como se estivesse muito interessado em sua idéia para a festa, mas na verdade não estava ouvindo uma única palavra. Estava apenas concentrado. Sem as vozes pude pensar com mais clareza e saiu da boca de Nina a idéia que chamou minha atenção.
- Baile de máscaras do século 17 – ouvi-a dizer em meio a uma confusão de idéias malucas – Todos vestidos a rigor.
- Isso! – bati a mão na mesa com tanto entusiasmo que todos se assustaram – Nina, sua idéia é perfeita!
- Que idéia? – Valéria perguntou confusa – O que ela falou?
- Baile de Máscaras do Século 17 – Nina repetiu surpresa por ter gostado.
- E todos vestidos a rigor – completei, repetindo o que ela tinha dito – Durmstrang tem todo o clima para um baile nos moldes do século 17, isso parece o castelo do Conde Drácula.
- Conde Drácula nasceu em 1431, não é do século 17 – Lucian me corrigiu, embora suspeitasse que ele só estivesse sendo preciso.
- Não importa, ele é um vampiro, passou pelo século 17.
- Na verdade, isso é uma lenda – Lucian não se conteve – A verdadeira história é que-
- Lucian, agora não – disse em tom de aviso e ele riu, pedindo desculpas – Baile de máscaras, o que acham?
- É, acho que vai ficar legal – Leo me apoiou – E as roupas são magníficas, vamos todos ficar muito sofisticados.
- E a decoração já está praticamente feita se a festa for no salão principal, só vamos precisar dar alguns retoques – Robbie completou e a mesa acabou animando.
- Ótimo, então está decidido. Vamos começar a falar da decoração e o que cada um vai fazer.
- Ainda não – Yanic levantou a mão, me interrompendo – E os calouros? Sempre pensamos em alguma coisa voltada pra eles.
- Bem lembrado – Ozzy falou pela primeira vez desde que chegou à sala – É o nosso último ano, temos que caprichar. E se me permitem uma sugestão... Casa Mal-Assombrada.
O falatório recomeçou, mas felizmente dessa vez estava protegida e pude prestar atenção. Era verdade, precisávamos bolar algo voltado para os calouros de Durmstrang e nada gritava mais “diversão” que uma casa mal-assombrada. Não que eu tivesse qualquer pretensão de entrar em uma, mas pregar peça e dar sustos nos novatos era sempre divertido.
Consegui que cada um falasse na sua vez e ficou decidido que as repúblicas seriam transformadas em casas mal-assombradas, cada uma com seu tema próprio, que seria decidido pelo seu presidente, e que somente os alunos do 6º ano poderiam ajudar os veteranos na organização. Elas funcionariam a noite inteira, paralelas a festa que aconteceria nos jardins e salão principal. E decidido isso, começamos a discutir a decoração da festa principal. Quando saímos da sala já passava das 21h, mas pela primeira vez desde que voltara a Durmstrang, estava satisfeita com alguma coisa. A sensação de dever cumprido era, sem dúvida, revigorante. E sim, na primeira oportunidade, agradeceria Ozzy pelo que fez, por mais duro que isso fosse, afinal, eu precisava mudar. E quer mudança maior que ser grata a ele por qualquer coisa?
Thursday, October 13, 2011
“O Jornal da Escola acha que pode me calar, mas eu digo que não e essa é a mostra do que eu posso fazer.
Não vou me calar e nego as acusações de roubo. Quem está me acusando é o verdadeiro responsável por adquirir sem autorização meus textos e ainda dizer que sou uma farsa. Ainda tem a audácia de proibir que eu escreva!
Por isso convido todos a participar comigo de um novo jornal. Sem limitações, sem censura, onde todos podem escrever o que quiser.
Mas não posso permitir que qualquer um escreva. Aqueles interessados deverão descobrir nessa edição como fazer as matérias e como fazê-las chegar até mim.
Que as estrelas brilhem por todos,
Antaris”
Foi esse o trecho que me levou à sala do diretor naquela manhã de Sexta-Feira.
Era o dia de lançamento da minha primeira edição, após a homenagem à Jack e Alexis, onde começaria a editar o jornal. Como sempre fazíamos, a edição foi finalizada na Quinta e colocada na gráfica da escola para que o jornal fosse rodado. Na Quarta eu recebi um pacote com outro texto do tal Antaris e irritado eu o destruí. Editei então uma nota na edição de hoje, em que eu denunciava-o como ladrão e dizia que nenhum de seus textos eram verdadeiros.
Como eu sabia que ele poderia tentar influenciar na edição do jornal, eu mesmo estive na gráfica naquela noite, acompanhando a tiragem do mesmo. Só me ausentei por alguns minutos, eu e o funcionário da gráfica, quando ouvimos uma barulheira do lado de fora. E o resultado foi o trecho acima.
Assim que abri o jornal naquela manhã, antes de qualquer um por acordar mais cedo do que todos, eu fiquei com raiva e sabia que aquele trecho ia dar confusão. Não sei como ele fez isso, ou melhor, cheguei a conclusão de que não é uma única pessoa, mas sim um grupo que está publicando meus textos roubados. Eles haviam retirado a minha nota do jornal e acrescentado aquele trecho escrito pelo Antaris, substituindo a minha coluna de histórias, com outra história minha roubada.
Sai correndo da república e fui atrás de da professora Mira, pois os professores deveriam ser avisados o mais rápido possível.
- Lucian? O que faz tão cedo acordado? – Ela perguntou, após eu tomar coragem e bater em sua porta. Ela já estava acordada, se arrumando para sair e tomar café.
- Me perdoe, professora, você precisa ver isso. – Eu falei e entreguei o jornal para ela. Ela começou a ler e vi seus olhos ficarem arregalados, e em seguida olhou para mim. – Por Odin, ele passou dos limites...
- Professora, se isso cair nas mãos dos alunos vai dar muita confusão. – Eu falei, preocupado e ela assentiu.
- Vá chamar a Ferania e alguém do jornal, retirem essa edição de circulação. Eu vou procurar o diretor agora.
Eu assenti e sai correndo. No caminho para a casa de Ferania, que ficava na vila vizinha, eu passei pela Avalon e chamei Leo e Lis. Expliquei correndo para elas o acontecido e elas saíram correndo atrás das edições imediatamente.
Quando cheguei à casa de Ferania, ela já corria na direção contrária com uma edição na mão e pelo seu olhar ela também havia visto aquilo. Não precisamos falar mais nada e saímos correndo para recolher as edições. Mas foi em vão. Algumas poucas edições conseguiram ser abertas e logo o assunto espalhou-se pela escola. A notícia de que tentamos retirar a edição de circulação se espalhou e por isso mesmo ela ficou ainda mais popular.
- Senhor Valesti, como me explica isso? – O Diretor Ivanovich perguntou, massageando a cabeça. Eu estava sentado em sua sala, acompanhado por Ferania e Mira, além de Reno e professora Ivana.
- Eu não sei professor. Ontem à noite eu mesmo estive na tiragem do jornal, mas ouve um barulho estranho do lado de fora e eu e o gráfico fomos olhar. Ela deve ter sido alterada nesse instante. – Eu expliquei. O Diretor assentiu.
- Eu não o culpo, Lucian, então não se culpe. Isso já passou dos limites. Quando a Mira e a Ferania me falaram sobre os roubos de textos, achei que ele pararia quando seus textos roubados fossem negados de serem publicados, mas não imaginei que isso fosse acontecer.
- Igor, esse trecho é muito sério. Ele está desafiando a autoridade da Escola. Se ele realmente publicar qualquer texto e matéria enviada a ele, consegue imaginar o tipo de coisa que pode sair nesse novo jornal? – Ivana perguntou e o diretor suspirou.
- Sim, Ivana, isso me preocupa e muito. Esse tal Antaris passou dos limites, ele será punido assim que for descoberto, assim como qualquer um que o esteja ajudando. – Ele falou.
- Severamente, eu espero. – Reno falou. Eu olhei para ele e me perguntei o que fazia ali, claro agradecia sua presença, pois quando cheguei ele e Ferania estavam me defendendo para o diretor.
- E será, Reno. Não posso permitir que esse jornal clandestino ganhe força e que esse lunático faça tudo sem ser punido. – O diretor falou e o semblante de Reno ficou mais sério antes de falar.
- E tem outro problema... – Reno começou e jogou uma edição em cima da mesa do diretor. – Olhe as palavras cruzadas.
- Como assim? São palavras-cruzadas comuns não são? – Eu perguntei, mas assim que os outros professores olharam-na eles ficaram mais apreensivos.
- Não, Lucian, não são. – Mira falou. Eu ia perguntar o que queriam dizer, mas Reno respondeu por mim.
- Reis e Sombras. – Ele falou.
- O que? – Eu perguntei. Já ouvira falar da R&S, mas achei que tinha sido desmantelada há alguns anos.
- Palavras cruzadas é a forma que a Reis e Sombras costuma convocar seus membros para as suas reuniões. – Ferania explicou e Mira completou.
- Eles escondiam charadas dentro das palavras cruzadas, com seus codinomes e locais secretos. – Ela falou e me mostrou que algumas linhas em diagonais formavam “O Rei os convoca, para a masmorra abaixo do sol”. Eu li e reli a frase, mas sem entender.
- Achei que tínhamos desmantelado-a a alguns anos atrás. – Eu falei.
- Não totalmente, ela apenas se escondeu nas sombras e sossegou, esperando que nós a esquecêssemos. – Ivanovich falou e vi que agora ele estava realmente preocupado.
- Igor, não sabemos o que eles podem fazer a partir daqui. Se esse Antaris conhece os códigos da Reis e Sombras, ele é um deles ou conhece membros dela. E se ele for o Rei? – Ivana falou.
- Eu sei, eu sei... Vou deixar um vigia permanente na gráfica, assim como vou avisar a qualquer gráfica da região que não aceite nenhum trabalho sem antes entrar em contato comigo antes. – Ele falou e todos assentimos. – Lucian, continue publicando o Expresso normalmente e coloque uma nova edição em circulação ainda hoje. Faça uma nota sobre o ocorrido, pode ser direto e dizer que se trata de impostores, mas não cite a R&S. É isso que eles querem que façamos.
- Sim, senhor. – Eu respondi e ele continuou.
- Mira, Ivana e Ferania prestem atenção nos alunos e vigiem qualquer tentativa de levar textos para fora da vila. – Elas assentiram e ele se virou para Reno por fim. – Reno, quero que investigue a R&S a fundo.
- Pode contar comigo, Igor. – Reno falou e todos saímos da sala. Reno pediu para falar comigo e as outras professoras foram em frente. Mira e Ferania iriam convocar a equipe do jornal.
- Lucian, quero que tome cuidado. – Ele falou, olhando sério para mim. – Talvez eu me ausente por alguns dias, mas tome cuidado. Procure não provocar muito esse tal de Antaris. Ainda não sabemos quem ele é e, pior, o que pode fazer.
- Eu não tenho medo, Reno, é isso que ele quer, que eu me sinta acuado. – Eu respondi e Reno suspirou.
- Eu concordo, mas tome cuidado. A R&S é capaz de coisas monstruosas. Igor não vai deixar isso barato, já tivemos problemas demais com ela no passado. Eu vou investigar e manterei você informado.
Reno falou e se despediu de mim indo com pressa para seu gabinete. Eu fui correndo para a sala do jornal, pronto para editar uma nova edição de emergência.
--------------
Diário de Lucian P. Valesti
Além dos problemas do Jornal, minha cabeça andava a mil com o meu problema sentimental.
Estava me sentindo um lixo, com nojo de mim mesmo.
Namorava a Liseria há 2 anos, e no ano passado beijei, ok, em minha defesa posso dizer que fui beijado, por uma garota completamente estranha. Até hoje eu não sei quem era ela e às vezes me pego imaginando quem seria.
Mas pior do que isso era o que eu estava sentindo esse ano.
Desde aquele dia em que vi Lenneth e Patrick brigando eu percebi que estava gostando da Lenneth.
Eu não entendia o porquê disso! Passei minha vida inteira com ela ao meu lado, sempre como minha melhor amiga e nunca senti nada por ela? Por que agora?!
Estava confuso... Isso poderia ser simplesmente ciúme de amigo? Não tinha certeza, pois estava muito forte...
Isso estava me matando aos poucos. Sem conseguir colocar para fora isso tudo ou mesmo entender eu guardava tudo para mim e comecei a me fechar para o mundo exterior. Queria muito conversar com alguém, mas não queria sobrecarregar o Ozzy. Ele já estava passando por grandes dificuldades e tentava ajudar a Parv e eu não queria atrapalhar...
E quanto a Patrick ou Ayala? Eu sentia vergonha de contar para eles o que estava se passando na minha cabeça... Sentia vergonha de estar gostando de outra garota além da minha namorada e vergonha de admitir que era da Lenneth...
Liseria percebeu algo essa tarde. Ela me perguntou por que eu estava estranho e distante, mas consegui dizer que era por causa do jornal. Dói muito pensar que a estou enganando e mais ainda pelo fato de que eu ainda gosto da Lis.
Se eu tivesse deixado de gostar dela seria mais fácil, pois sempre concordamos que o dia que um deixasse de gostar do outro, deveríamos ser sinceros um com o outro. Mas estava gostando das duas e não sabia como administrar isso.
Minha única forma de extravasar esses sentimentos é escrevendo esse diário, aqui no armazém da livraria, para onde venho com cada vez mais freqüência.
--------------
- Que foi, Lucian, você está bem? – Orion me perguntou, na biblioteca. Eu levantei o olho do diário sobressaltado e o olhei. Percebi que tinha cochilado e por sorte o diário estava tampado.
- Desculpa, acho que cochilei. – Eu falei.
- Você desmaiou ai isso sim, te chamei da porta, mas não respondeu. Não vai pro treino do Hóquei não? – Ele perguntou e só então percebi que ele já estava quase que com todo o uniforme. Então me toquei da hora e levantei sobressaltado, jogando o material na mochila.
- Caramba perdi a hora!
- Vamos, eu te acompanho até a república e depois vamos juntos. – Ele falou rindo e saímos andando pelos terrenos da escola, agora meio desertos. – Mas é sério, está tudo bem?
- Está sim, por que pergunta?
- Você anda muito aéreo, pensativo até demais. Parece sempre com algo engasgado ou preocupado com algo. – Ele respondeu, dando de ombros.
- É por causa do jornal, esse tal Antaris está me dando nos nervos. – Eu respondi. Essa desculpa estava ficando cada vez mais fácil.
- Nossa, é horrível o que ele está fazendo. – Ele comentou e eu concordei.
- E começar com essa história de jornal alternativo! É loucura! O diretor ficou irado. – Eu comentei.
- E o que vão fazer?
- Ainda não sei. Vamos tentar investigar, mas o Jornal vai continuar sem publicar nada dele e fazer propaganda negativa dele.
- Boa sorte, conte comigo para a campanha negativa! – Ele falou e chegamos à república. Ele esperou sentado na cama dele, enquanto eu me arrumava. Me vesti rapidamente e voltei para o quarto, só faltando o taco de hóquei.
- E a Lenneth? Aconteceu alguma coisa entre ela e o Patrick? – Ele perguntou.
- Não que eu saiba, porque pergunta? – Eu perguntei, esquivo.
- É que eu tenho visto os dois pouco juntos, parecem que estão brigados... Como você se sente com isso? Afinal ela é sua amiga.
- Eu tento não me meter. – Eu falei evasivo... Porém, os últimos dias pesaram em minha consciência e senti a necessidade de falar para alguém. E o Orion era um cara legal, um pouco chato e estranho às vezes, mas bem legal. – Na verdade, Orion, eu não sei o que estou sentindo.
- Como assim? – Ele perguntou e eu sentei na minha cama, olhando para a janela.
- Vou ser direto. Acho que estou começando a gostar da Lenneth. – Eu falei e ele ficou em silêncio um pouco e notei que estava surpreso.
- E a Lis?
- Esse é o problema. Ainda gosto dela, não sei como agir.
- Mas isso não é só ciúme de amigo, não?
- Eu não tenho certeza... Não consigo parar de pensar na Lenneth e sempre que a vejo perto do Patrick fico com raiva. Fora que eu tenho sonhado com ela.
- Mas sonhar não tem problema ué.
- Tenho sonhado em beijá-la e mais de uma vez eu tive vontade de beijá-la. É muito forte. Ai cara, estou com nojo de mim mesmo.
- Putz, pode falar, eu sou seu amigo lembra? Estou aqui ao menos para te ouvir.
Ele falou isso e sentou do meu lado. Eu sorri agradecido e me abri pra ele, contando tudo que sentia. Contei também da garota do Halloween passado e ele ouviu quieto, sem me julgar. Ele me disse para dar um tempo para mim mesmo, para ver no que daria isso tudo. Ele pode não ter ajudado muito, mas apenas de poder falar disso com alguém serviu para me deixar mais leve e tranqüilo.
Não vou me calar e nego as acusações de roubo. Quem está me acusando é o verdadeiro responsável por adquirir sem autorização meus textos e ainda dizer que sou uma farsa. Ainda tem a audácia de proibir que eu escreva!
Por isso convido todos a participar comigo de um novo jornal. Sem limitações, sem censura, onde todos podem escrever o que quiser.
Mas não posso permitir que qualquer um escreva. Aqueles interessados deverão descobrir nessa edição como fazer as matérias e como fazê-las chegar até mim.
Que as estrelas brilhem por todos,
Antaris”
Foi esse o trecho que me levou à sala do diretor naquela manhã de Sexta-Feira.
Era o dia de lançamento da minha primeira edição, após a homenagem à Jack e Alexis, onde começaria a editar o jornal. Como sempre fazíamos, a edição foi finalizada na Quinta e colocada na gráfica da escola para que o jornal fosse rodado. Na Quarta eu recebi um pacote com outro texto do tal Antaris e irritado eu o destruí. Editei então uma nota na edição de hoje, em que eu denunciava-o como ladrão e dizia que nenhum de seus textos eram verdadeiros.
Como eu sabia que ele poderia tentar influenciar na edição do jornal, eu mesmo estive na gráfica naquela noite, acompanhando a tiragem do mesmo. Só me ausentei por alguns minutos, eu e o funcionário da gráfica, quando ouvimos uma barulheira do lado de fora. E o resultado foi o trecho acima.
Assim que abri o jornal naquela manhã, antes de qualquer um por acordar mais cedo do que todos, eu fiquei com raiva e sabia que aquele trecho ia dar confusão. Não sei como ele fez isso, ou melhor, cheguei a conclusão de que não é uma única pessoa, mas sim um grupo que está publicando meus textos roubados. Eles haviam retirado a minha nota do jornal e acrescentado aquele trecho escrito pelo Antaris, substituindo a minha coluna de histórias, com outra história minha roubada.
Sai correndo da república e fui atrás de da professora Mira, pois os professores deveriam ser avisados o mais rápido possível.
- Lucian? O que faz tão cedo acordado? – Ela perguntou, após eu tomar coragem e bater em sua porta. Ela já estava acordada, se arrumando para sair e tomar café.
- Me perdoe, professora, você precisa ver isso. – Eu falei e entreguei o jornal para ela. Ela começou a ler e vi seus olhos ficarem arregalados, e em seguida olhou para mim. – Por Odin, ele passou dos limites...
- Professora, se isso cair nas mãos dos alunos vai dar muita confusão. – Eu falei, preocupado e ela assentiu.
- Vá chamar a Ferania e alguém do jornal, retirem essa edição de circulação. Eu vou procurar o diretor agora.
Eu assenti e sai correndo. No caminho para a casa de Ferania, que ficava na vila vizinha, eu passei pela Avalon e chamei Leo e Lis. Expliquei correndo para elas o acontecido e elas saíram correndo atrás das edições imediatamente.
Quando cheguei à casa de Ferania, ela já corria na direção contrária com uma edição na mão e pelo seu olhar ela também havia visto aquilo. Não precisamos falar mais nada e saímos correndo para recolher as edições. Mas foi em vão. Algumas poucas edições conseguiram ser abertas e logo o assunto espalhou-se pela escola. A notícia de que tentamos retirar a edição de circulação se espalhou e por isso mesmo ela ficou ainda mais popular.
- Senhor Valesti, como me explica isso? – O Diretor Ivanovich perguntou, massageando a cabeça. Eu estava sentado em sua sala, acompanhado por Ferania e Mira, além de Reno e professora Ivana.
- Eu não sei professor. Ontem à noite eu mesmo estive na tiragem do jornal, mas ouve um barulho estranho do lado de fora e eu e o gráfico fomos olhar. Ela deve ter sido alterada nesse instante. – Eu expliquei. O Diretor assentiu.
- Eu não o culpo, Lucian, então não se culpe. Isso já passou dos limites. Quando a Mira e a Ferania me falaram sobre os roubos de textos, achei que ele pararia quando seus textos roubados fossem negados de serem publicados, mas não imaginei que isso fosse acontecer.
- Igor, esse trecho é muito sério. Ele está desafiando a autoridade da Escola. Se ele realmente publicar qualquer texto e matéria enviada a ele, consegue imaginar o tipo de coisa que pode sair nesse novo jornal? – Ivana perguntou e o diretor suspirou.
- Sim, Ivana, isso me preocupa e muito. Esse tal Antaris passou dos limites, ele será punido assim que for descoberto, assim como qualquer um que o esteja ajudando. – Ele falou.
- Severamente, eu espero. – Reno falou. Eu olhei para ele e me perguntei o que fazia ali, claro agradecia sua presença, pois quando cheguei ele e Ferania estavam me defendendo para o diretor.
- E será, Reno. Não posso permitir que esse jornal clandestino ganhe força e que esse lunático faça tudo sem ser punido. – O diretor falou e o semblante de Reno ficou mais sério antes de falar.
- E tem outro problema... – Reno começou e jogou uma edição em cima da mesa do diretor. – Olhe as palavras cruzadas.
- Como assim? São palavras-cruzadas comuns não são? – Eu perguntei, mas assim que os outros professores olharam-na eles ficaram mais apreensivos.
- Não, Lucian, não são. – Mira falou. Eu ia perguntar o que queriam dizer, mas Reno respondeu por mim.
- Reis e Sombras. – Ele falou.
- O que? – Eu perguntei. Já ouvira falar da R&S, mas achei que tinha sido desmantelada há alguns anos.
- Palavras cruzadas é a forma que a Reis e Sombras costuma convocar seus membros para as suas reuniões. – Ferania explicou e Mira completou.
- Eles escondiam charadas dentro das palavras cruzadas, com seus codinomes e locais secretos. – Ela falou e me mostrou que algumas linhas em diagonais formavam “O Rei os convoca, para a masmorra abaixo do sol”. Eu li e reli a frase, mas sem entender.
- Achei que tínhamos desmantelado-a a alguns anos atrás. – Eu falei.
- Não totalmente, ela apenas se escondeu nas sombras e sossegou, esperando que nós a esquecêssemos. – Ivanovich falou e vi que agora ele estava realmente preocupado.
- Igor, não sabemos o que eles podem fazer a partir daqui. Se esse Antaris conhece os códigos da Reis e Sombras, ele é um deles ou conhece membros dela. E se ele for o Rei? – Ivana falou.
- Eu sei, eu sei... Vou deixar um vigia permanente na gráfica, assim como vou avisar a qualquer gráfica da região que não aceite nenhum trabalho sem antes entrar em contato comigo antes. – Ele falou e todos assentimos. – Lucian, continue publicando o Expresso normalmente e coloque uma nova edição em circulação ainda hoje. Faça uma nota sobre o ocorrido, pode ser direto e dizer que se trata de impostores, mas não cite a R&S. É isso que eles querem que façamos.
- Sim, senhor. – Eu respondi e ele continuou.
- Mira, Ivana e Ferania prestem atenção nos alunos e vigiem qualquer tentativa de levar textos para fora da vila. – Elas assentiram e ele se virou para Reno por fim. – Reno, quero que investigue a R&S a fundo.
- Pode contar comigo, Igor. – Reno falou e todos saímos da sala. Reno pediu para falar comigo e as outras professoras foram em frente. Mira e Ferania iriam convocar a equipe do jornal.
- Lucian, quero que tome cuidado. – Ele falou, olhando sério para mim. – Talvez eu me ausente por alguns dias, mas tome cuidado. Procure não provocar muito esse tal de Antaris. Ainda não sabemos quem ele é e, pior, o que pode fazer.
- Eu não tenho medo, Reno, é isso que ele quer, que eu me sinta acuado. – Eu respondi e Reno suspirou.
- Eu concordo, mas tome cuidado. A R&S é capaz de coisas monstruosas. Igor não vai deixar isso barato, já tivemos problemas demais com ela no passado. Eu vou investigar e manterei você informado.
Reno falou e se despediu de mim indo com pressa para seu gabinete. Eu fui correndo para a sala do jornal, pronto para editar uma nova edição de emergência.
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Diário de Lucian P. Valesti
Além dos problemas do Jornal, minha cabeça andava a mil com o meu problema sentimental.
Estava me sentindo um lixo, com nojo de mim mesmo.
Namorava a Liseria há 2 anos, e no ano passado beijei, ok, em minha defesa posso dizer que fui beijado, por uma garota completamente estranha. Até hoje eu não sei quem era ela e às vezes me pego imaginando quem seria.
Mas pior do que isso era o que eu estava sentindo esse ano.
Desde aquele dia em que vi Lenneth e Patrick brigando eu percebi que estava gostando da Lenneth.
Eu não entendia o porquê disso! Passei minha vida inteira com ela ao meu lado, sempre como minha melhor amiga e nunca senti nada por ela? Por que agora?!
Estava confuso... Isso poderia ser simplesmente ciúme de amigo? Não tinha certeza, pois estava muito forte...
Isso estava me matando aos poucos. Sem conseguir colocar para fora isso tudo ou mesmo entender eu guardava tudo para mim e comecei a me fechar para o mundo exterior. Queria muito conversar com alguém, mas não queria sobrecarregar o Ozzy. Ele já estava passando por grandes dificuldades e tentava ajudar a Parv e eu não queria atrapalhar...
E quanto a Patrick ou Ayala? Eu sentia vergonha de contar para eles o que estava se passando na minha cabeça... Sentia vergonha de estar gostando de outra garota além da minha namorada e vergonha de admitir que era da Lenneth...
Liseria percebeu algo essa tarde. Ela me perguntou por que eu estava estranho e distante, mas consegui dizer que era por causa do jornal. Dói muito pensar que a estou enganando e mais ainda pelo fato de que eu ainda gosto da Lis.
Se eu tivesse deixado de gostar dela seria mais fácil, pois sempre concordamos que o dia que um deixasse de gostar do outro, deveríamos ser sinceros um com o outro. Mas estava gostando das duas e não sabia como administrar isso.
Minha única forma de extravasar esses sentimentos é escrevendo esse diário, aqui no armazém da livraria, para onde venho com cada vez mais freqüência.
--------------
- Que foi, Lucian, você está bem? – Orion me perguntou, na biblioteca. Eu levantei o olho do diário sobressaltado e o olhei. Percebi que tinha cochilado e por sorte o diário estava tampado.
- Desculpa, acho que cochilei. – Eu falei.
- Você desmaiou ai isso sim, te chamei da porta, mas não respondeu. Não vai pro treino do Hóquei não? – Ele perguntou e só então percebi que ele já estava quase que com todo o uniforme. Então me toquei da hora e levantei sobressaltado, jogando o material na mochila.
- Caramba perdi a hora!
- Vamos, eu te acompanho até a república e depois vamos juntos. – Ele falou rindo e saímos andando pelos terrenos da escola, agora meio desertos. – Mas é sério, está tudo bem?
- Está sim, por que pergunta?
- Você anda muito aéreo, pensativo até demais. Parece sempre com algo engasgado ou preocupado com algo. – Ele respondeu, dando de ombros.
- É por causa do jornal, esse tal Antaris está me dando nos nervos. – Eu respondi. Essa desculpa estava ficando cada vez mais fácil.
- Nossa, é horrível o que ele está fazendo. – Ele comentou e eu concordei.
- E começar com essa história de jornal alternativo! É loucura! O diretor ficou irado. – Eu comentei.
- E o que vão fazer?
- Ainda não sei. Vamos tentar investigar, mas o Jornal vai continuar sem publicar nada dele e fazer propaganda negativa dele.
- Boa sorte, conte comigo para a campanha negativa! – Ele falou e chegamos à república. Ele esperou sentado na cama dele, enquanto eu me arrumava. Me vesti rapidamente e voltei para o quarto, só faltando o taco de hóquei.
- E a Lenneth? Aconteceu alguma coisa entre ela e o Patrick? – Ele perguntou.
- Não que eu saiba, porque pergunta? – Eu perguntei, esquivo.
- É que eu tenho visto os dois pouco juntos, parecem que estão brigados... Como você se sente com isso? Afinal ela é sua amiga.
- Eu tento não me meter. – Eu falei evasivo... Porém, os últimos dias pesaram em minha consciência e senti a necessidade de falar para alguém. E o Orion era um cara legal, um pouco chato e estranho às vezes, mas bem legal. – Na verdade, Orion, eu não sei o que estou sentindo.
- Como assim? – Ele perguntou e eu sentei na minha cama, olhando para a janela.
- Vou ser direto. Acho que estou começando a gostar da Lenneth. – Eu falei e ele ficou em silêncio um pouco e notei que estava surpreso.
- E a Lis?
- Esse é o problema. Ainda gosto dela, não sei como agir.
- Mas isso não é só ciúme de amigo, não?
- Eu não tenho certeza... Não consigo parar de pensar na Lenneth e sempre que a vejo perto do Patrick fico com raiva. Fora que eu tenho sonhado com ela.
- Mas sonhar não tem problema ué.
- Tenho sonhado em beijá-la e mais de uma vez eu tive vontade de beijá-la. É muito forte. Ai cara, estou com nojo de mim mesmo.
- Putz, pode falar, eu sou seu amigo lembra? Estou aqui ao menos para te ouvir.
Ele falou isso e sentou do meu lado. Eu sorri agradecido e me abri pra ele, contando tudo que sentia. Contei também da garota do Halloween passado e ele ouviu quieto, sem me julgar. Ele me disse para dar um tempo para mim mesmo, para ver no que daria isso tudo. Ele pode não ter ajudado muito, mas apenas de poder falar disso com alguém serviu para me deixar mais leve e tranqüilo.
Depois da tentativa frustrada de Parvati de se suicidar e de explicar toda a situação a Leo, Robbie e Finn, Ozzy resolveu desencanar. Sabia que ela ainda ia dormir por um bom tempo e não ia mais se preocupar. Queria ajudar, mas sua paciência já tinha acabado. Se suas tentativas de explicar as coisas com calma não estavam surtindo efeito, ia começar a falar da maneira que sabia que ela ouvia. E se ela ia gostar ou não, ele já não se importava mais.
Sábado levantou cedo e foi direto para a ala hospitalar. Há dois anos seu irmão tinha feito a mesma coisa que ela, mas por diversão, queria testar seus limites. Ele havia ingerido quase a mesma quantidade de comprimidos e dormiu por 24 horas, então Ozzy sabia que Parvati já devia estar perto de despertar. A enfermeira já estava de pé quando bateu na porta.
- Sinto muito, Sr. Lusth. Ela ainda não acordou e não posso deixar que fique aqui.
- Tudo bem, eu posso ficar – disse encarando-a. Já havia aprendido a manipular mentes muito bem – É melhor que eu esteja aqui quando ela acordar.
- Acho melhor o senhor estar aqui quando ela acordar – ela sorriu e lhe deu passagem.
- Pode esperar no seu quarto, chamarei quando for embora.
Ela obedeceu e sumiu por trás de uma porta. Parvati ainda estava do mesmo jeito que ele havia deixado na quinta-feira a noite. Puxou uma cadeira para perto de sua cama, colocou os pés no colchão e abriu o livro que tinha nas mãos. Pouco mais de uma hora depois, ela abriu os olhos. Acordou assustada, tentando puxar o ar desesperadamente, como se estivesse sendo salva de um afogamento.
- Bom dia, Bela Adormecida – Ozzy disse cheio de sarcasmo, sem tirar os olhos do livro que lia – Ou devo dizer Courtney Love?
- O que está fazendo aqui? – ela tentou se sentar na cama, mas ainda estava tonta e caiu sobre o travesseiro.
- Certificando que não vai tentar se enforcar com o lençol. As marcas não saem com facilidade, ia ficar com um colar roxo por uns bons dois meses.
- Vai embora! – disse virando de lado e o movimento a fez sentir-se mal. Ozzy levantou calmamente e lhe entregou um balde bem a tempo.
- Você engoliu 20 comprimidos que deveriam tê-la matado, vai vomitar a semana toda até sair tudo.
- O que você quer comigo? Já não fez o bastante?
- Sabe, você devia estar mais agradecida. Salvamos sua vida, lhe demos uma segunda chance. Ao invés de estar nessa coisa de rebelde sem causa devia estar feliz.
- Feliz? Quer que eu fique feliz por ter matado duas pessoas, mas sobrevivido a isso?
- Se não se importa com a sua vida, pense um pouco nas pessoas que gostam de você. Já parou pra pensar em como sua mãe ficaria se as duas filhas dela tivessem morrido? Nunca lhe ocorreu que você é o motivo para ela ainda querer sair da cama todo dia de manhã? Que ela só encontra forças pra continuar porque você sobreviveu? – ela não soube o que responder e ele aproveitou para continuar – E Leo e Robbie? Já pensou em como eles ficariam se você morresse? Pode achar que isso é uma punição, mas não é. Você ganhou uma segunda chance. A pergunta é: o que vai fazer com ela?
Ozzy não esperou ela responder. Pegou o livro em cima da cadeira, chamou a enfermeira avisando que ela tinha acordado e saiu da ala hospitalar. Parvati continuou encarando a porta fechada depois que ele saiu, ainda sem ter uma resposta para sua pergunta.
ºººººººº
Já passava da hora do almoço quando Alec e Oleg saíram juntos da república para visitar Parvati. Mesmo depois de despertar e não aparentar estar em perigo, a enfermeira insistia em observá-la por mais algumas horas por causa do mal estar.
- Estou bem, já disse! – eles ouviram a voz da garota quando abriram a porta da ala hospitalar – Não preciso de babá o dia inteiro.
- Você tentou se matar! – Robbie abaixou a voz para falar – Não vamos mais perder você de vista.
- E não adianta fazer cara feia – Leo lhe deu uma bronca - Se sente culpa pelo acidente, vá fazer um trabalho comunitário. Usar aquele macacão laranja já é punição suficiente.
- Olá... – Alec bateu na porta já aberta para que notassem que não estavam sozinhos – Viemos ver como está a paciente.
- Está impaciente – Robbie respondeu – Quer sair, mas não para de vomitar. A enfermeira não vai deixá-la ir a lugar nenhum enquanto estiver assim.
- Então talvez seja melhor relaxar, você não vai melhorar por mais alguns dias – Oleg respondeu se aproximando com o irmão – O irmão do Ozzy fez isso uma vez e passou mal por quase uma semana.
- Que ótimo – Parvati respondeu mal humorada, o rosto pálido de tanto vomitar.
- Ninguém mandou engolir os remédios. Se não morreu por isso, alguma punição deveria ter – Leo disse séria, ainda irritada pelo que a amiga havia feito.
- Sinto muito pelo que fizemos – Oleg apoiou os braços na ponta da cama e encarou Parvati – Não tínhamos o direito de decidir sua vida, só fizemos o que achamos que era certo. Não culpe Ozzy por isso, a culpa foi minha. Eu sabia como fazer o feitiço, eu dei a idéia. Eles só ajudaram, mas fui eu quem fez tudo.
- Não, eu que tenho que pedir desculpas – Parvati respondeu em um tom de voz que não parecia em nada com o seu habitual – Eu exagerei na reação. Vocês salvaram a minha vida e eu estou agradecida por isso.
- Sim, ela está arrependida de ter agido como uma idiota e vai cooperar mais – Robbie completou o que a amiga disse e ela assentiu – Não vai mais se negar a entender.
- É muito pra digerir, mas vou colaborar mais – ela tentou sorrir, mas o mal estar era tão grande que não estava conseguindo fazer um bom trabalho – Então, como isso funciona? Se não posso morrer, porque estou me sentindo como lixo?
- Você não pode morrer, mas isso não quer dizer que não pode se machucar – Oleg respondeu rindo – Não somos um dos X-Men, não nos regeneramos como o Wolverine.
- Apesar da comparação idiota, meu irmão está certo – Alec segurou o riso – Podemos nos machucar e ficar doentes como qualquer pessoa, mas sempre vamos nos recuperar. Algumas vezes demora mais, dependendo do seu estado, mas sempre ficamos bem.
- A menos que arranquem sua cabeça, ai nem mesmo o Wolverine conseguiria regenerar isso – Oleg completou e até mesmo Parvati riu – No fundo, não somos totalmente Imortais. Sempre tem um meio de morrer.
- Não dê idéias a ela! – Leo se alarmou, mas todo mundo começou a rir.
- Não vou tentar arrancar minha cabeça! – Parvati se defendeu.
- Tudo que sei é que de agora em diante não vou mais deixar que use uma faca sem supervisão – Leo ergueu as mãos como se não pudesse fazer nada para evitar aquilo.
- Resumindo, se você se jogar de uma ponte, tudo que vai conseguir é uma coleção de fraturas e muita dor. Vai sofrer meses em um hospital cheia de gessos pelo corpo e muitos hematomas, mas vai sair de lá como se nada tivesse acontecido quando as fraturas curarem. Então não se jogue de uma ponte, é uma idiotice – Alec concluiu.
- Não vou me jogar de uma ponte – ela assentiu achando graça, mas o sorriso foi morrendo aos poucos – Onde está o Ozzy? Acho que devo um pedido de desculpas a ele – os dois trocaram um olhar sem graça – Ele me odeia, não é? Pode falar, não me importo.
- Não, ele não odeia você, ele só está um pouco chateado – Alec tentou amenizar – Ele disse que já fez a parte dele em lhe contar o que aconteceu e que não vai mais interferir, já que não quer entender.
- A verdade é que ele vai voltar a interferir, mas não agora – Oleg completou – Dê um tempo a ele, deixe que esfrie a cabeça e ele vai ajudá-la com o problema das vozes.
- Ele é mesmo o único que pode me ajudar? Não tem mais ninguém?
- Bom, a única outra pessoa que conhecemos com esse dom é a irmã dele, mas como ninguém além de nós sabe o que aconteceu, não podemos contar com a ajuda dela.
- Ninguém sabe o que vocês fizeram? Isso vai causar problemas pra vocês, não é?
- É, com certeza, mas não tem problema – Alec riu, mas era uma risada nervosa – Só precisamos descobrir como contar a eles, mas tudo vai ficar bem.
- Não é como se pudessem nos matar por isso, sabe? – Oleg disse debochado.
Todos riram da brincadeira e os dois começaram a contar a Parvati tudo que sabiam e podiam sobre as famílias Imortais. Era tanta coisa para ouvir e absorver que ninguém viu a tarde passar. E graças ao bom humor dos irmãos, a novidade já não parecia mais tão difícil de suportar.
ºººººººº
Já começava a anoitecer quando a enfermeira, convencida que o mal estar de Parvati não era grave, a liberou. Leo e Robbie queriam que ela voltasse com eles para a republica para descansar, mas depois de dormir por mais de 24h, descansar era a última coisa que ela queria. Com muita relutância eles concordaram em deixá-la sozinha por alguns minutos. Ela tinha um assunto a resolver e já seria difícil o suficiente fazer sozinha, com platéia seria impossível.
Uma passada rápida na Kratos e ela soube que Ozzy estava no rinque de Hóquei. Sempre que ele estava irritado com alguma coisa, frustrado, descarregava no gelo. Irritava Parvati saber isso, mas era algo que ela não podia evitar. E ele estava mesmo lá. Com metade do uniforme dos Ducks e uma dúzia de discos espalhados pelo gelo, Ozzy batia neles com o taco com tanta raiva que a maioria estava passando longe do gol.
- Ei! – ela gritou da borda do campo – Ozzy!
- Estou ocupado – ele olhou rápido para ver quem chamava e voltou à atenção para os discos.
- Quero conversar com você.
- Não temos nada pra conversar, já disse tudo que sabia – ele acertou um disco com força e ele bateu no vidro por cima do gol – Se quer saber mais alguma coisa, pergunte ao Alec. Ele é o compreensivo do grupo.
- Reagi mal, estou arrependida – ela insistiu e entrou no rinque, deslizando com cautela até onde ele estava – Quero pedir desculpas.
- Já pediu, agora sai do gelo antes que caia – ele rebateu outro disco, esse certeiro no gol – Se bater a cabeça no chão só vai sujar o gelo de sangue e não vai morrer por isso.
- Não, não vou sair. Precisamos conversar – ela cruzou os braços, teimosa – Eu errei, mas eu não fui a única. Eu admito isso, mas você age como se eu fosse a única culpada.
- Não, não temos. Você já sabe o que aconteceu, já deu seu show e minha paciência já esgotou. Agora sai do gelo.
- Não estou falando do acidente, e você sabe disso.
- Não quero falar sobre isso.
- Mas nós precisamos – ela insistiu – Somos parceiros agora, ou já esqueceu? Temos que confiar um no outro e não vamos conseguir isso enquanto não conversarmos.
- Bom, isso não vai acontecer agora – ele se afastou depressa e acertou três discos em seqüência.
- Você prometeu me ajudar com as vozes. Prometeu me ensinar a controlar isso. É seu dever como meu parceiro me apoiar e me ajudar com meus problemas.
- É, mas isso foi antes de descobrir que minha parceira é suicida. Não acho que internar você está na lista de deveres.
- Você é um imbecil.
- Pode ser, mas não sou irresponsável, cumpro as minhas obrigações. Quando for embora, pode fazer o favor de procurar a professora Mira e dizer que não vai cumprir seu dever como presidente do grêmio e liberá-la para escolher outro? Já estamos em outubro e ela não nos deixa reunir o grupo para começar os preparativos pro Halloween por sua causa.
- Não vai dizer que está irritado por causa disso?
- Não, isso é só uma coisa a mais na lista de irresponsabilidades suas que me tiram do sério. Agora sai do gelo! – ele agarrou seus braços e a rebocou para fora do rinque.
Parvati não conseguiu lutar contra ele e acabou se deixando arrastar. Ozzy a largou do lado de fora do rinque e voltou aos discos ignorando sua presença. Ela ainda bufou por algum tempo, mas se deu por vencida e foi embora. Ela havia pisado na bola e para conseguir o que queria, agora teria que correr atrás.
Sábado levantou cedo e foi direto para a ala hospitalar. Há dois anos seu irmão tinha feito a mesma coisa que ela, mas por diversão, queria testar seus limites. Ele havia ingerido quase a mesma quantidade de comprimidos e dormiu por 24 horas, então Ozzy sabia que Parvati já devia estar perto de despertar. A enfermeira já estava de pé quando bateu na porta.
- Sinto muito, Sr. Lusth. Ela ainda não acordou e não posso deixar que fique aqui.
- Tudo bem, eu posso ficar – disse encarando-a. Já havia aprendido a manipular mentes muito bem – É melhor que eu esteja aqui quando ela acordar.
- Acho melhor o senhor estar aqui quando ela acordar – ela sorriu e lhe deu passagem.
- Pode esperar no seu quarto, chamarei quando for embora.
Ela obedeceu e sumiu por trás de uma porta. Parvati ainda estava do mesmo jeito que ele havia deixado na quinta-feira a noite. Puxou uma cadeira para perto de sua cama, colocou os pés no colchão e abriu o livro que tinha nas mãos. Pouco mais de uma hora depois, ela abriu os olhos. Acordou assustada, tentando puxar o ar desesperadamente, como se estivesse sendo salva de um afogamento.
- Bom dia, Bela Adormecida – Ozzy disse cheio de sarcasmo, sem tirar os olhos do livro que lia – Ou devo dizer Courtney Love?
- O que está fazendo aqui? – ela tentou se sentar na cama, mas ainda estava tonta e caiu sobre o travesseiro.
- Certificando que não vai tentar se enforcar com o lençol. As marcas não saem com facilidade, ia ficar com um colar roxo por uns bons dois meses.
- Vai embora! – disse virando de lado e o movimento a fez sentir-se mal. Ozzy levantou calmamente e lhe entregou um balde bem a tempo.
- Você engoliu 20 comprimidos que deveriam tê-la matado, vai vomitar a semana toda até sair tudo.
- O que você quer comigo? Já não fez o bastante?
- Sabe, você devia estar mais agradecida. Salvamos sua vida, lhe demos uma segunda chance. Ao invés de estar nessa coisa de rebelde sem causa devia estar feliz.
- Feliz? Quer que eu fique feliz por ter matado duas pessoas, mas sobrevivido a isso?
- Se não se importa com a sua vida, pense um pouco nas pessoas que gostam de você. Já parou pra pensar em como sua mãe ficaria se as duas filhas dela tivessem morrido? Nunca lhe ocorreu que você é o motivo para ela ainda querer sair da cama todo dia de manhã? Que ela só encontra forças pra continuar porque você sobreviveu? – ela não soube o que responder e ele aproveitou para continuar – E Leo e Robbie? Já pensou em como eles ficariam se você morresse? Pode achar que isso é uma punição, mas não é. Você ganhou uma segunda chance. A pergunta é: o que vai fazer com ela?
Ozzy não esperou ela responder. Pegou o livro em cima da cadeira, chamou a enfermeira avisando que ela tinha acordado e saiu da ala hospitalar. Parvati continuou encarando a porta fechada depois que ele saiu, ainda sem ter uma resposta para sua pergunta.
ºººººººº
Já passava da hora do almoço quando Alec e Oleg saíram juntos da república para visitar Parvati. Mesmo depois de despertar e não aparentar estar em perigo, a enfermeira insistia em observá-la por mais algumas horas por causa do mal estar.
- Estou bem, já disse! – eles ouviram a voz da garota quando abriram a porta da ala hospitalar – Não preciso de babá o dia inteiro.
- Você tentou se matar! – Robbie abaixou a voz para falar – Não vamos mais perder você de vista.
- E não adianta fazer cara feia – Leo lhe deu uma bronca - Se sente culpa pelo acidente, vá fazer um trabalho comunitário. Usar aquele macacão laranja já é punição suficiente.
- Olá... – Alec bateu na porta já aberta para que notassem que não estavam sozinhos – Viemos ver como está a paciente.
- Está impaciente – Robbie respondeu – Quer sair, mas não para de vomitar. A enfermeira não vai deixá-la ir a lugar nenhum enquanto estiver assim.
- Então talvez seja melhor relaxar, você não vai melhorar por mais alguns dias – Oleg respondeu se aproximando com o irmão – O irmão do Ozzy fez isso uma vez e passou mal por quase uma semana.
- Que ótimo – Parvati respondeu mal humorada, o rosto pálido de tanto vomitar.
- Ninguém mandou engolir os remédios. Se não morreu por isso, alguma punição deveria ter – Leo disse séria, ainda irritada pelo que a amiga havia feito.
- Sinto muito pelo que fizemos – Oleg apoiou os braços na ponta da cama e encarou Parvati – Não tínhamos o direito de decidir sua vida, só fizemos o que achamos que era certo. Não culpe Ozzy por isso, a culpa foi minha. Eu sabia como fazer o feitiço, eu dei a idéia. Eles só ajudaram, mas fui eu quem fez tudo.
- Não, eu que tenho que pedir desculpas – Parvati respondeu em um tom de voz que não parecia em nada com o seu habitual – Eu exagerei na reação. Vocês salvaram a minha vida e eu estou agradecida por isso.
- Sim, ela está arrependida de ter agido como uma idiota e vai cooperar mais – Robbie completou o que a amiga disse e ela assentiu – Não vai mais se negar a entender.
- É muito pra digerir, mas vou colaborar mais – ela tentou sorrir, mas o mal estar era tão grande que não estava conseguindo fazer um bom trabalho – Então, como isso funciona? Se não posso morrer, porque estou me sentindo como lixo?
- Você não pode morrer, mas isso não quer dizer que não pode se machucar – Oleg respondeu rindo – Não somos um dos X-Men, não nos regeneramos como o Wolverine.
- Apesar da comparação idiota, meu irmão está certo – Alec segurou o riso – Podemos nos machucar e ficar doentes como qualquer pessoa, mas sempre vamos nos recuperar. Algumas vezes demora mais, dependendo do seu estado, mas sempre ficamos bem.
- A menos que arranquem sua cabeça, ai nem mesmo o Wolverine conseguiria regenerar isso – Oleg completou e até mesmo Parvati riu – No fundo, não somos totalmente Imortais. Sempre tem um meio de morrer.
- Não dê idéias a ela! – Leo se alarmou, mas todo mundo começou a rir.
- Não vou tentar arrancar minha cabeça! – Parvati se defendeu.
- Tudo que sei é que de agora em diante não vou mais deixar que use uma faca sem supervisão – Leo ergueu as mãos como se não pudesse fazer nada para evitar aquilo.
- Resumindo, se você se jogar de uma ponte, tudo que vai conseguir é uma coleção de fraturas e muita dor. Vai sofrer meses em um hospital cheia de gessos pelo corpo e muitos hematomas, mas vai sair de lá como se nada tivesse acontecido quando as fraturas curarem. Então não se jogue de uma ponte, é uma idiotice – Alec concluiu.
- Não vou me jogar de uma ponte – ela assentiu achando graça, mas o sorriso foi morrendo aos poucos – Onde está o Ozzy? Acho que devo um pedido de desculpas a ele – os dois trocaram um olhar sem graça – Ele me odeia, não é? Pode falar, não me importo.
- Não, ele não odeia você, ele só está um pouco chateado – Alec tentou amenizar – Ele disse que já fez a parte dele em lhe contar o que aconteceu e que não vai mais interferir, já que não quer entender.
- A verdade é que ele vai voltar a interferir, mas não agora – Oleg completou – Dê um tempo a ele, deixe que esfrie a cabeça e ele vai ajudá-la com o problema das vozes.
- Ele é mesmo o único que pode me ajudar? Não tem mais ninguém?
- Bom, a única outra pessoa que conhecemos com esse dom é a irmã dele, mas como ninguém além de nós sabe o que aconteceu, não podemos contar com a ajuda dela.
- Ninguém sabe o que vocês fizeram? Isso vai causar problemas pra vocês, não é?
- É, com certeza, mas não tem problema – Alec riu, mas era uma risada nervosa – Só precisamos descobrir como contar a eles, mas tudo vai ficar bem.
- Não é como se pudessem nos matar por isso, sabe? – Oleg disse debochado.
Todos riram da brincadeira e os dois começaram a contar a Parvati tudo que sabiam e podiam sobre as famílias Imortais. Era tanta coisa para ouvir e absorver que ninguém viu a tarde passar. E graças ao bom humor dos irmãos, a novidade já não parecia mais tão difícil de suportar.
ºººººººº
Já começava a anoitecer quando a enfermeira, convencida que o mal estar de Parvati não era grave, a liberou. Leo e Robbie queriam que ela voltasse com eles para a republica para descansar, mas depois de dormir por mais de 24h, descansar era a última coisa que ela queria. Com muita relutância eles concordaram em deixá-la sozinha por alguns minutos. Ela tinha um assunto a resolver e já seria difícil o suficiente fazer sozinha, com platéia seria impossível.
Uma passada rápida na Kratos e ela soube que Ozzy estava no rinque de Hóquei. Sempre que ele estava irritado com alguma coisa, frustrado, descarregava no gelo. Irritava Parvati saber isso, mas era algo que ela não podia evitar. E ele estava mesmo lá. Com metade do uniforme dos Ducks e uma dúzia de discos espalhados pelo gelo, Ozzy batia neles com o taco com tanta raiva que a maioria estava passando longe do gol.
- Ei! – ela gritou da borda do campo – Ozzy!
- Estou ocupado – ele olhou rápido para ver quem chamava e voltou à atenção para os discos.
- Quero conversar com você.
- Não temos nada pra conversar, já disse tudo que sabia – ele acertou um disco com força e ele bateu no vidro por cima do gol – Se quer saber mais alguma coisa, pergunte ao Alec. Ele é o compreensivo do grupo.
- Reagi mal, estou arrependida – ela insistiu e entrou no rinque, deslizando com cautela até onde ele estava – Quero pedir desculpas.
- Já pediu, agora sai do gelo antes que caia – ele rebateu outro disco, esse certeiro no gol – Se bater a cabeça no chão só vai sujar o gelo de sangue e não vai morrer por isso.
- Não, não vou sair. Precisamos conversar – ela cruzou os braços, teimosa – Eu errei, mas eu não fui a única. Eu admito isso, mas você age como se eu fosse a única culpada.
- Não, não temos. Você já sabe o que aconteceu, já deu seu show e minha paciência já esgotou. Agora sai do gelo.
- Não estou falando do acidente, e você sabe disso.
- Não quero falar sobre isso.
- Mas nós precisamos – ela insistiu – Somos parceiros agora, ou já esqueceu? Temos que confiar um no outro e não vamos conseguir isso enquanto não conversarmos.
- Bom, isso não vai acontecer agora – ele se afastou depressa e acertou três discos em seqüência.
- Você prometeu me ajudar com as vozes. Prometeu me ensinar a controlar isso. É seu dever como meu parceiro me apoiar e me ajudar com meus problemas.
- É, mas isso foi antes de descobrir que minha parceira é suicida. Não acho que internar você está na lista de deveres.
- Você é um imbecil.
- Pode ser, mas não sou irresponsável, cumpro as minhas obrigações. Quando for embora, pode fazer o favor de procurar a professora Mira e dizer que não vai cumprir seu dever como presidente do grêmio e liberá-la para escolher outro? Já estamos em outubro e ela não nos deixa reunir o grupo para começar os preparativos pro Halloween por sua causa.
- Não vai dizer que está irritado por causa disso?
- Não, isso é só uma coisa a mais na lista de irresponsabilidades suas que me tiram do sério. Agora sai do gelo! – ele agarrou seus braços e a rebocou para fora do rinque.
Parvati não conseguiu lutar contra ele e acabou se deixando arrastar. Ozzy a largou do lado de fora do rinque e voltou aos discos ignorando sua presença. Ela ainda bufou por algum tempo, mas se deu por vencida e foi embora. Ela havia pisado na bola e para conseguir o que queria, agora teria que correr atrás.
Wednesday, October 05, 2011
"Para toda beleza há um olho em algum lugar para vê-la.
Para toda verdade há um ouvido em algum lugar para ouvi-la.
Para todo amor há um coração em algum lugar para recebe-lo."
(Ivan Panin)
Quinta feira, após o almoço....
Quinta feira, costumava ser o melhor dia da semana para mim. Eu tinha aula apenas na parte da manhã e o resto do dia livre para fazer o que quisesse, optei por resolver um problema que me atormentava há algum tempo. Eu já havia feito contato com minha mãe e havia pedido a ela que viesse me encontrar no vilarejo, pois precisavamos conversar. Claro que sua primeira resposta foi um não, então tive que usar outros meios para convencê-la.
Nos encontramos num restaurante novo, numa parte mais afastada do vilarejo, e ela não estava satisfeita em me ver. Mal sentei na mesa e ela já disse:
- O que você quer?
- Olá mãe! Estou contente em vê-la com saúde.- eu disse e ela me olhou sarcástica:
- Se estiver esperando que eu retribua o cumprimento, esqueça. Tem noção dos diversos compromissos que tive que desmarcar para estar aqui neste fim de mundo?
- Tem noção da vontade que tenho de votar contra no négócio com os americanos, só para contrariar a ‘ele’?- disse e ela entendeu que o ‘ele’, era George Ivashkov. Ela franziu os olhos:
- O...Que...Você...Quer?
- Quero saber quem é o meu pai.
- George Ivashkov.- ela respondeu e se levantou e eu disse tensa:
- Isso não é verdade e se você não me contar, eu vou...
- Vai o quê? Pedir ao conselho que vote contra George e percam milhões? Não, você não vai fazer isso,então não venha com ameaças que não pode cumprir. Ainda não esqueci suas atitudes grosseiras ao me expulsar do que é meu por direito.
- Eu tenho o direito de saber a verdade, é a minha vida.- eu disse e me detestei pelo leve tremor na voz e ela riu:
- Sabe... A velha não a treinou tão bem assim.Quando você tentar ameaçar a mim, venha com alto poder de fogo, ou então mantenha-se a distância que é o lugar onde você pertence.- e foi embora.
Respirei fundo para me recuperar do breve encontro com aquela que apesar de tudo era a minha mãe, e aproveitei que estava em um local com bom acesso em internet e linhas telefônicas, precisava fazer algumas ligações e pesquisas.Ela tinha razão...Quando você for ‘puxar a faca para alguém esteja disposto a enfiar até o cabo’.-o-o-o-o-o-o-o
Depois que Ozzy e Alec contaram a mim e ao Robbie, sobre a imortalidade deles e agora de Parv, os três me deixaram na minha república e foram embora. Ao entrar na Atena, logo fui cercada pelas colegas de casa, que após ouvirem que Parvati estava dormindo na enfermaria do castelo, não acreditaram muito na história de que ela havia misturado bebida alcóolica com seus remédios por ‘acidente’ e por isso havia tido uma reação parecida com uma overdose.
Como algumas garotas da casa, nunca gostaram de nós, e poderiam começar a espalhar rumores, que chegariam até tia Karen e ela viria feito um tornado até a escola, falei que o que aconteceu com Parvati poderia acontecer com qualquer pessoa desavisada sobre a mistura de de remédios e álcool, mas que se o diretor aparecesse por lá, suspeitando de algo tão ruim, quanto uma hipotética tentativa de suicídio ou mesmo uma overdose, é claro que ele não encontraria nada ilegal. Isso bastou para que as perguntas parassem e todas voltassem aos seus quartos e seus assuntos. Contei a verdade apenas para Lis, que não era dada a fofocas, e era uma pessoa leal aos amigos,mesmo que não fossem tão próximos. Quando vi a roupa que ia usar para sair aquela noite, caída no chão, foi que me lembrei do meu encontro.
Sexta feira final do dia....
Após a reunião no jornal, Robbie e eu passamos na enfermaria e Parv ainda estava dormindo. Deixei Robbie junto com Alec e me dirigi ao vilarejo, iria ao meu encontro.
Cheguei ao restaurante, e logo fui direcionada á mesa onde um rapaz moreno com idade em torno de 30 anos, já me aguardava. Ele se levantou e me cumprimentou:
-Senhorita Ivashkov, sou Arhur Greywolf,seu advogado em enviou.
-Obrigada por vir, assim tão de repente.Desculpe por ontem.- e ele sorriu e eu notei que ele era bonito, muito bonito para a verdade. (Foco Léo, foco).
-Estou habituado a solicitações de emergência, tomei a liberdade de pedir algo para você.- ele disse quando o garçom das bebidas, apareceu com uma água de gilly para mim e um wiscky com gelo para ele. Levantei a sombrancelha curiosa e ele sorriu:
- Procuro conhecer os hábitos das pessoas para quem vou trabalhar,não gosto de desonestos.- disse franco e eu sorri:
- Acho que vamos nos dar bem senhor Greywolf.
- Sua amiga está melhor?- oolhei espantada com medo do que ele já poderia ter ouvido por ai, quando ele me tranquilizou:
- Isso foi o que o seu advogado me disse quando você não apareceu ontem à noite.- assenti e perguntei depois de tomar um gole do meu drink:
- Ela está bem, obrigada. Aos negócios?
- Diga o que quer.- Comecei a dizer a ele o que queria quando...
- Léo? O que faz aqui?-olhei para o lado e era Finn, usando roupa de garçom e olhava de mim para Greywolf.
- Não sabia que você trabalhava aqui, Finn.
- Só quando o dono precisa de ajuda extra, ele é amigo do meu pai.- e continuou encarando o rapaz que o encarava de volta analiticamente.- ficou um clima desconfortável e antes que eu dissesse alguma coisa, Greywolf fez os pedidos e Finn logo foi fazer o seu trabalho.
Ao terminar o jantar, eu ja tinha dito tudo o que queria de Greywolf e ele se ofereceu para me levar até a república. Recusei, educadamente e disse que ficaria mais algum tempo. Não demorou muito e Finn se aproximou, já com suas roupas normais:
- Seu acompanhante foi embora e te deixou sozinha?
- Não era um encontro, eram negócios. Não que isso seja da sua conta. Eu estou indo embora.- respondi me levantando e seus rosto ficou um pouco vermelho,mas ele disse:
- Eu posso ir com você? Faz tempo que não conversamos e com tudo o que tem acontecido...- concordei e fomos caminhando juntos para nossas repúblicas.
- Passei mais cedo na enfermaria da escola, Parv ainda dormia.- ele disse e eu assenti:
- Sim, ela ainda está apagada.
- Bom considerando o acidente, a clínica de ‘repouso’, e depois descobrir que é uma imortal, isso abalaria qualquer um, ainda mais se você estiver mergulhada em sofrimento.- o olhei espantada e ele deu de ombros:
-Ozzy e Alec me contaram tudo. Fico feliz por eles terem tido a oportunidade de salva-la.
- Eles vão nos ver envelhecer e morrer, Finn. Parv não vai ter que se preocupar com as rugas, com a lei da gravidade...Ozzy nunca vai precisar de remédios para calvície ou impotência. – eu disse e ele riu:
- E também vão estar por perto quando nossos filhos e netos precisarem de ajuda, já pensou nisso? Estarão vivos e com saúde.- disse me colocando de frente para ele. Olhei-o nos olhos e respondi:
-Não, não havia pensado nisso, é um ótimo argumento para impedir os pensamentos suicidas da minha melhor amiga: Ser a eterna babá das minhas crianças, será um objetivo de vida para Parvati Karev. Ela vai reclamar muito pelo trabalho não remunerado. - ri e ele me puxou mais para perto e eu não recuei quando ele me beijou.
- Finn...não estamos voltando...- eu disse meio tonta depois do beijo, e ele riu:
- Estamos só nos divetindo, Léo. Vamos deixar as coisas sérias, para quando elas forem realmente sérias ok?- fiz que sim com a cabeça e tornei a beijá-lo, havia sentido muito a falta dele.
Quando Robbie soubesse, ele iria me bater, e Parv...Ah eu adoraria que ela me batesse por causa destes momentos de fraqueza, seria um sinal de que ela estava ficando melhor.
Para toda verdade há um ouvido em algum lugar para ouvi-la.
Para todo amor há um coração em algum lugar para recebe-lo."
(Ivan Panin)
Quinta feira, após o almoço....
Quinta feira, costumava ser o melhor dia da semana para mim. Eu tinha aula apenas na parte da manhã e o resto do dia livre para fazer o que quisesse, optei por resolver um problema que me atormentava há algum tempo. Eu já havia feito contato com minha mãe e havia pedido a ela que viesse me encontrar no vilarejo, pois precisavamos conversar. Claro que sua primeira resposta foi um não, então tive que usar outros meios para convencê-la.
Nos encontramos num restaurante novo, numa parte mais afastada do vilarejo, e ela não estava satisfeita em me ver. Mal sentei na mesa e ela já disse:
- O que você quer?
- Olá mãe! Estou contente em vê-la com saúde.- eu disse e ela me olhou sarcástica:
- Se estiver esperando que eu retribua o cumprimento, esqueça. Tem noção dos diversos compromissos que tive que desmarcar para estar aqui neste fim de mundo?
- Tem noção da vontade que tenho de votar contra no négócio com os americanos, só para contrariar a ‘ele’?- disse e ela entendeu que o ‘ele’, era George Ivashkov. Ela franziu os olhos:
- O...Que...Você...Quer?
- Quero saber quem é o meu pai.
- George Ivashkov.- ela respondeu e se levantou e eu disse tensa:
- Isso não é verdade e se você não me contar, eu vou...
- Vai o quê? Pedir ao conselho que vote contra George e percam milhões? Não, você não vai fazer isso,então não venha com ameaças que não pode cumprir. Ainda não esqueci suas atitudes grosseiras ao me expulsar do que é meu por direito.
- Eu tenho o direito de saber a verdade, é a minha vida.- eu disse e me detestei pelo leve tremor na voz e ela riu:
- Sabe... A velha não a treinou tão bem assim.Quando você tentar ameaçar a mim, venha com alto poder de fogo, ou então mantenha-se a distância que é o lugar onde você pertence.- e foi embora.
Respirei fundo para me recuperar do breve encontro com aquela que apesar de tudo era a minha mãe, e aproveitei que estava em um local com bom acesso em internet e linhas telefônicas, precisava fazer algumas ligações e pesquisas.Ela tinha razão...Quando você for ‘puxar a faca para alguém esteja disposto a enfiar até o cabo’.-o-o-o-o-o-o-o
Depois que Ozzy e Alec contaram a mim e ao Robbie, sobre a imortalidade deles e agora de Parv, os três me deixaram na minha república e foram embora. Ao entrar na Atena, logo fui cercada pelas colegas de casa, que após ouvirem que Parvati estava dormindo na enfermaria do castelo, não acreditaram muito na história de que ela havia misturado bebida alcóolica com seus remédios por ‘acidente’ e por isso havia tido uma reação parecida com uma overdose.
Como algumas garotas da casa, nunca gostaram de nós, e poderiam começar a espalhar rumores, que chegariam até tia Karen e ela viria feito um tornado até a escola, falei que o que aconteceu com Parvati poderia acontecer com qualquer pessoa desavisada sobre a mistura de de remédios e álcool, mas que se o diretor aparecesse por lá, suspeitando de algo tão ruim, quanto uma hipotética tentativa de suicídio ou mesmo uma overdose, é claro que ele não encontraria nada ilegal. Isso bastou para que as perguntas parassem e todas voltassem aos seus quartos e seus assuntos. Contei a verdade apenas para Lis, que não era dada a fofocas, e era uma pessoa leal aos amigos,mesmo que não fossem tão próximos. Quando vi a roupa que ia usar para sair aquela noite, caída no chão, foi que me lembrei do meu encontro.
Sexta feira final do dia....
Após a reunião no jornal, Robbie e eu passamos na enfermaria e Parv ainda estava dormindo. Deixei Robbie junto com Alec e me dirigi ao vilarejo, iria ao meu encontro.
Cheguei ao restaurante, e logo fui direcionada á mesa onde um rapaz moreno com idade em torno de 30 anos, já me aguardava. Ele se levantou e me cumprimentou:
-Senhorita Ivashkov, sou Arhur Greywolf,seu advogado em enviou.
-Obrigada por vir, assim tão de repente.Desculpe por ontem.- e ele sorriu e eu notei que ele era bonito, muito bonito para a verdade. (Foco Léo, foco).
-Estou habituado a solicitações de emergência, tomei a liberdade de pedir algo para você.- ele disse quando o garçom das bebidas, apareceu com uma água de gilly para mim e um wiscky com gelo para ele. Levantei a sombrancelha curiosa e ele sorriu:
- Procuro conhecer os hábitos das pessoas para quem vou trabalhar,não gosto de desonestos.- disse franco e eu sorri:
- Acho que vamos nos dar bem senhor Greywolf.
- Sua amiga está melhor?- oolhei espantada com medo do que ele já poderia ter ouvido por ai, quando ele me tranquilizou:
- Isso foi o que o seu advogado me disse quando você não apareceu ontem à noite.- assenti e perguntei depois de tomar um gole do meu drink:
- Ela está bem, obrigada. Aos negócios?
- Diga o que quer.- Comecei a dizer a ele o que queria quando...
- Léo? O que faz aqui?-olhei para o lado e era Finn, usando roupa de garçom e olhava de mim para Greywolf.
- Não sabia que você trabalhava aqui, Finn.
- Só quando o dono precisa de ajuda extra, ele é amigo do meu pai.- e continuou encarando o rapaz que o encarava de volta analiticamente.- ficou um clima desconfortável e antes que eu dissesse alguma coisa, Greywolf fez os pedidos e Finn logo foi fazer o seu trabalho.
Ao terminar o jantar, eu ja tinha dito tudo o que queria de Greywolf e ele se ofereceu para me levar até a república. Recusei, educadamente e disse que ficaria mais algum tempo. Não demorou muito e Finn se aproximou, já com suas roupas normais:
- Seu acompanhante foi embora e te deixou sozinha?
- Não era um encontro, eram negócios. Não que isso seja da sua conta. Eu estou indo embora.- respondi me levantando e seus rosto ficou um pouco vermelho,mas ele disse:
- Eu posso ir com você? Faz tempo que não conversamos e com tudo o que tem acontecido...- concordei e fomos caminhando juntos para nossas repúblicas.
- Passei mais cedo na enfermaria da escola, Parv ainda dormia.- ele disse e eu assenti:
- Sim, ela ainda está apagada.
- Bom considerando o acidente, a clínica de ‘repouso’, e depois descobrir que é uma imortal, isso abalaria qualquer um, ainda mais se você estiver mergulhada em sofrimento.- o olhei espantada e ele deu de ombros:
-Ozzy e Alec me contaram tudo. Fico feliz por eles terem tido a oportunidade de salva-la.
- Eles vão nos ver envelhecer e morrer, Finn. Parv não vai ter que se preocupar com as rugas, com a lei da gravidade...Ozzy nunca vai precisar de remédios para calvície ou impotência. – eu disse e ele riu:
- E também vão estar por perto quando nossos filhos e netos precisarem de ajuda, já pensou nisso? Estarão vivos e com saúde.- disse me colocando de frente para ele. Olhei-o nos olhos e respondi:
-Não, não havia pensado nisso, é um ótimo argumento para impedir os pensamentos suicidas da minha melhor amiga: Ser a eterna babá das minhas crianças, será um objetivo de vida para Parvati Karev. Ela vai reclamar muito pelo trabalho não remunerado. - ri e ele me puxou mais para perto e eu não recuei quando ele me beijou.
- Finn...não estamos voltando...- eu disse meio tonta depois do beijo, e ele riu:
- Estamos só nos divetindo, Léo. Vamos deixar as coisas sérias, para quando elas forem realmente sérias ok?- fiz que sim com a cabeça e tornei a beijá-lo, havia sentido muito a falta dele.
Quando Robbie soubesse, ele iria me bater, e Parv...Ah eu adoraria que ela me batesse por causa destes momentos de fraqueza, seria um sinal de que ela estava ficando melhor.
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