Sábado, 31 de Outubro de 2015
- Como estou? – Leo virou a cabeça pra trás, mostrando as presas de vampiro falsas.
- Está torto – respondi rindo – Ainda não acredito que vamos mesmo fazer parte disso.
- Nem eu, mas se vestir de crupiê vampira não é tão ruim assim, vai – Leo arrumou a presa torta e se afastou do espelho – Pronto, vamos logo. Quanto mais rápido acabarmos com isso, mais cedo chegamos na festa.
Fechei o estojo de maquiagem que tinha no colo e descemos as escadas para nos juntarmos as outras meninas. Nossa rapública tinha escolhido o tema Cassino Vampiro, então havíamos transformado nossa sala em um cassino digno de Las Vegas, misturado com muito sangue falso e caixões. Com as luzes apagadas era um pouco intimidador, mas o que realmente contava eram as representações. Cada uma tinha seu papel e quando os outros alunos começaram a chegar, a encenação começou. No início não achei que iam realmente se assustar, mas quando Liseria agarrou uma menina do 2º ano e fez menção de morder seu pescoço, ela deu um grito tão apavorado que todas as minhas incertezas evaporaram. No fim, tive que adimitir que foi divertido.
Sai da Atena duas horas depois, quando as atividades nas casas mal-assombradas terminaram. Elas abriram às 19h, duas horas antes da festa no salão principal, para todos terem tempo de explorá-las e ainda assim não perder a festa. A caminhada dos alunos do 6º e 7º ano das repúblicas até o salão principal parecia um circo dos horrores. Tinham as crupiês vampiras da Atena, os zumbis da Kratos, as múmias da Osíris, carrascos da Spartacus e muitas outras bizarrices. Robbie nos alcançou a meio caminho do castelo, arrumando suas ataduras de múmia que já começavam a se desfazer. Alec vinha ao seu lado com uma maquiagem de zumbi tão perfeita que me deu arrepio. Os outros meninos da Kratos iam logo à frente e andavam se arrastando, fazendo da caminhada uma cena de um filme sobre o apocalipse zumbi. Jack adorava esse tipo de filme, não pude deixar de ficar triste em pensar no quanto ele ia gostar de fazer parte daquela brincadeira.
Quando cheguei ao salão vi os professores tendo uma reunião. Eles seriam os encarregados de manter a ordem da festa e estavam vestidos de acordo com o tema. Cinco estavam vestidos como criados, quatro foram vestidos como um lacaio de carruagem e quatro estavam vestidos como aristocratas. Cada um ficaria posicionado em áreas de acordo com suas fantasias. Os aristocratas iam patrulhar a pista de dança e os servos o resto do salão, enquanto os lacaios ficariam no jardim de olho em qualquer casal que deixar o salão para visitar o jardim. Todos devidamente mascarados, era dificil dizer quem cuidada do que, embora eu duvidasse que a professora Mesic estivesse vestida como uma lacaia. Eles também estavam encarregados de distribuir máscaras aos alunos mais desligados que chegassem ao salão sem a sua.
Havia cadeiras que pareciam ter sido tiradas do próprio castelo do Drácula, pufes e sofás e um lustre de cristal lindo sobre a pista de dança. As mesas estavam cobertas de toalhas de aspecto antigo com cortinas de renda branca sobre elas. Cada uma comportava até oito pessoas e estavam arrumadas com pratos de porcelana para o jantar, taças de cristal e talheres de ouro. No meio de cada mesa havia um vidro com rosas como centro de mesa. Havia uma vitrola antiga em um canto tocando música clássica, mas também um espaço reservado para o DJ tocar música popular após o jantar. Parecia que Durmstrang tinha desenterrado seu passado e o reunido no salão principal.
A comida seria servida em estilo buffet. Havia assado de carne, de frango e costela, batata gratinada, legumes misturados e muito pão francês. Havia sodas, espumantes, um ponche delicioso feito a partir de água de gilly e limonada para beber. Conforme os alunos iam chegando, o professores vestido como servos os sentavam nas mesas na ordem em que chegavam. Só depois de sentados eles poderiam levantar e com seus pratos entrar na fila para o buffet.
Eu mal reconheci o diretor quando ele caminhou até o pódio. Estava vestido com uma roupa linda de cavaleiro do século 17 completa, com uma máscara que tinha uma pluma de avestruz escandalosamente longa. Ele circulava pelas mesas satisfeito com o resultado do trabalho do grêmio e parecia estar gostando do estilo de festa que foi criado. Embora a maioria dos alunos mais novos chegasse no salão esbaforidos e assustados depois da visita às repúblicas, o clima no baile não poderia ser melhor. Uma festa divertida e comportada, como há muito tempo Durmstrang nao via. Lucian também chegou cedo ao salão. Como estaria interpretando o anfritrião da festa, foi liberado de ter que se fantasiar de zumbi. Ele estava vestido como Conde Drácula e recebia os alunos junto do diretor, dando as boas vindas à sua casa com as presas sujas de sangue artificial à mostra.
Depois do jantar, e de alguns casais mais desinibidos arriscarem alguns passos de valsa ao som da música classica, todo mundo voltou para o século 21 quando o DJ começou a tocar música atual. Todos tiraram suas máscaras e a festa começou de verdade.
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Já era quase meia noite, mas a festa ainda não dava indícios que que ia terminar. Apesar da comida ter sido quase toda devorada, ainda tinha muita bebida e disposição do DJ, então a pista de dança continuava fervendo. Eu já estava jogada na mesa, exausta. Com um salto alto que acabou com os meus pés depois de muito dançar e o excesso de alcool que havia me tirado o poder da concentração, já não estava mais conseguindo impedir que uma onda de pensamentos invadissem minha mente. Leo e Robbie ainda resistiam bravamente na pista, ela dançando animada com Finn e ele com Alec e Lenneth. A energia deles estava me esgotando. Ainda não estava a ponto de desmaiar, talvez o alcool tenha cooperado para isso, mas já estava com uma dor de cabeça insuportável, então enchi minha taça mais uma vez e levantei da mesa, saindo em direção aos jardins.
Muitos casais ocupavam os bancos do lado de fora, mas os quatro professores encarregados da vigilância externa estavam atentos. Agora que estavam sem as máscaras, via que os lacaios eram Mira Sakharov, Maddox, Marko Skoblar e Georgia Yelchin. Os quatro estavam conversando animados no canto do pátio, mas apesar da conversa parecer estar bastante divertida, mantinham os olhos bem abertos e não perdiam ninguém de vista. Eles estavam fazendo um pouco de vista grossa para os alunos do 7º ano, afinal, todos eram maiores de idade, mas os outros não estavam tendo folga. Passei por eles os cumprimentando com um aceno e caminhei até o lado mais afastado, onde os bancos ainda estavam vazios.
A confusão na minha cabeça já estava bem menor quando sentei afastada das pessoas, mas quando olhei para meu lado direito, na direção do lago congelado, achei que já era tarde demais e tinha ficado louca. Parado a alguns metros de distância, ainda com as roupas do dia do acidente, Jack fitava a entrada do castelo com um sorriso saudoso no rosto. Levantei lentamente, certa de que estava vendo coisas e que aquilo era culpa do alcool, mas então ele me viu. Sentei outra vez, sentindo que estava entrando em estado de choque vendo ele caminhar na minha direção. Em um instante ele estava parado na minha frente, a poucos centímetros de distância, e meu coração estava disparado e meu rosto molhado de lágrimas sem eu nem ao menos ter percebido que chorava. Não sabia o que fazer. Devia falar com ele ou desmaiar?
- Como? – foi tudo que conseguir dizer, depois de um longo tempo o encarando.
- É Halloween. O véu entre os mundos fica mais fino, é a noite em que nós, fantasmas, podemos nos comunicar com os vivos – ele respondeu sorrindo, mas eu ainda não conseguia formar sentenças – Estava me perguntando se em algum momento você ficaria sozinha.
- Por que?
- Porque você ia parecer maluca falando sozinha no meio do salão – ele riu, a mesma risada que eu lembrava – Ninguém mais pode me ver, só você.
- Sinto muito. Devia ter deixado você dirigir – dessa vez as lágrimas que cairam foram sentidas – É minha culpa você e Alexis não estarem aqui.
- O que aconteceu foi um acidente e já é hora de você parar de se culpar. Alexis e eu estamos bem, é com você que nos preocupamos. Muita coisa mudou, Parv. Você ganhou uma segunda chance, precisa provar que a mereceu.
- Se estiver falando do Ozzy, não estamos mais brigando.
- Não estou falando só dele. Você e Julie ainda não estão se falando. Ela sente falta de você, mesmo que brigassem na maioria das vezes. Sente falta da família por perto em Durmstrang.
- Ela também me culpa pelo acidente, como seus pais.
- Ninguém a culpa. Eles estavam ainda muito abalados, algumas coisas podem ter sido ditas sem pensar, mas ninguém realmente acha que a culpa foi sua.
- Como eu conserto as coisas com ela?
- Isso você terá que descobrir sozinha. Houve um tempo que vocês eram amigas, mas cresceram e as diferenças foram ficando mais evidentes. Talvez se pudesse lembrar como era aquela época... – Jack olhou para trás de repente e olhei por cima do seu ombro, mas não vi anda – Preciso ir. Alexis está me chamando.
- Ela está aqui? Por que não a vejo?
- Só podemos falar com uma pessoa, ela precisava encontrar Edgar.
- Você não falou com a Julie?
- Julie já seguiu em frente, minha aparição só a faria regredir – ele olhou para o lado agora e senti como se mais alguém estivesse ali. Ele sorriu e me encarou – Alexis quer que você faça um favor a ela. Tem uma caixa de madeira embaixo de sua cama e deve dar ela a Edgar. Quer também que você cuide da sua mãe, ela precisa de você. Ah, e ela está dizendo que sente sua falta.
- Também sinto sua falta, maninha. Você não imagina o quanto. Pode deixar que vou entregar a caixa a ele.
- Agora precisamos ir, nosso tempo está acabando.
- Vou vê-lo outra vez?
- Não. Você precisa seguir em frente – Jack se aproximou e beijou meu rosto. Tudo que senti foi um vento gelado quando sua boca tocou minha bochecha, mas era como se ele estivesse ali de carne e osso assim mesmo.
Ele se afastou e, com um último sorriso, se foi. Não sei por quanto tempo fiquei parada fitando o lugar onde ele desapareceu, pode ter sido alguns minutos, como também podem ter se passado horas. De repente senti uma mão tocar meu ombro e quando olhei para o lado Ozzy estava sentado do meu lado. Ainda maquiado como zumbi, ele tinha um semblante preocupado, mas quando me perguntou o que havia acontecido, tudo que consegui fazer foi me atirar em seus braços e começar a chorar.