Thursday, October 13, 2011

“O Jornal da Escola acha que pode me calar, mas eu digo que não e essa é a mostra do que eu posso fazer.
Não vou me calar e nego as acusações de roubo. Quem está me acusando é o verdadeiro responsável por adquirir sem autorização meus textos e ainda dizer que sou uma farsa. Ainda tem a audácia de proibir que eu escreva!
Por isso convido todos a participar comigo de um novo jornal. Sem limitações, sem censura, onde todos podem escrever o que quiser.
Mas não posso permitir que qualquer um escreva. Aqueles interessados deverão descobrir nessa edição como fazer as matérias e como fazê-las chegar até mim.
Que as estrelas brilhem por todos,
Antaris”


Foi esse o trecho que me levou à sala do diretor naquela manhã de Sexta-Feira.
Era o dia de lançamento da minha primeira edição, após a homenagem à Jack e Alexis, onde começaria a editar o jornal. Como sempre fazíamos, a edição foi finalizada na Quinta e colocada na gráfica da escola para que o jornal fosse rodado. Na Quarta eu recebi um pacote com outro texto do tal Antaris e irritado eu o destruí. Editei então uma nota na edição de hoje, em que eu denunciava-o como ladrão e dizia que nenhum de seus textos eram verdadeiros.

Como eu sabia que ele poderia tentar influenciar na edição do jornal, eu mesmo estive na gráfica naquela noite, acompanhando a tiragem do mesmo. Só me ausentei por alguns minutos, eu e o funcionário da gráfica, quando ouvimos uma barulheira do lado de fora. E o resultado foi o trecho acima.

Assim que abri o jornal naquela manhã, antes de qualquer um por acordar mais cedo do que todos, eu fiquei com raiva e sabia que aquele trecho ia dar confusão. Não sei como ele fez isso, ou melhor, cheguei a conclusão de que não é uma única pessoa, mas sim um grupo que está publicando meus textos roubados. Eles haviam retirado a minha nota do jornal e acrescentado aquele trecho escrito pelo Antaris, substituindo a minha coluna de histórias, com outra história minha roubada.

Sai correndo da república e fui atrás de da professora Mira, pois os professores deveriam ser avisados o mais rápido possível.

- Lucian? O que faz tão cedo acordado? – Ela perguntou, após eu tomar coragem e bater em sua porta. Ela já estava acordada, se arrumando para sair e tomar café.
- Me perdoe, professora, você precisa ver isso. – Eu falei e entreguei o jornal para ela. Ela começou a ler e vi seus olhos ficarem arregalados, e em seguida olhou para mim. – Por Odin, ele passou dos limites...
- Professora, se isso cair nas mãos dos alunos vai dar muita confusão. – Eu falei, preocupado e ela assentiu.
- Vá chamar a Ferania e alguém do jornal, retirem essa edição de circulação. Eu vou procurar o diretor agora.

Eu assenti e sai correndo. No caminho para a casa de Ferania, que ficava na vila vizinha, eu passei pela Avalon e chamei Leo e Lis. Expliquei correndo para elas o acontecido e elas saíram correndo atrás das edições imediatamente.

Quando cheguei à casa de Ferania, ela já corria na direção contrária com uma edição na mão e pelo seu olhar ela também havia visto aquilo. Não precisamos falar mais nada e saímos correndo para recolher as edições. Mas foi em vão. Algumas poucas edições conseguiram ser abertas e logo o assunto espalhou-se pela escola. A notícia de que tentamos retirar a edição de circulação se espalhou e por isso mesmo ela ficou ainda mais popular.

- Senhor Valesti, como me explica isso? – O Diretor Ivanovich perguntou, massageando a cabeça. Eu estava sentado em sua sala, acompanhado por Ferania e Mira, além de Reno e professora Ivana.
- Eu não sei professor. Ontem à noite eu mesmo estive na tiragem do jornal, mas ouve um barulho estranho do lado de fora e eu e o gráfico fomos olhar. Ela deve ter sido alterada nesse instante. – Eu expliquei. O Diretor assentiu.
- Eu não o culpo, Lucian, então não se culpe. Isso já passou dos limites. Quando a Mira e a Ferania me falaram sobre os roubos de textos, achei que ele pararia quando seus textos roubados fossem negados de serem publicados, mas não imaginei que isso fosse acontecer.
- Igor, esse trecho é muito sério. Ele está desafiando a autoridade da Escola. Se ele realmente publicar qualquer texto e matéria enviada a ele, consegue imaginar o tipo de coisa que pode sair nesse novo jornal? – Ivana perguntou e o diretor suspirou.
- Sim, Ivana, isso me preocupa e muito. Esse tal Antaris passou dos limites, ele será punido assim que for descoberto, assim como qualquer um que o esteja ajudando. – Ele falou.
- Severamente, eu espero. – Reno falou. Eu olhei para ele e me perguntei o que fazia ali, claro agradecia sua presença, pois quando cheguei ele e Ferania estavam me defendendo para o diretor.
- E será, Reno. Não posso permitir que esse jornal clandestino ganhe força e que esse lunático faça tudo sem ser punido. – O diretor falou e o semblante de Reno ficou mais sério antes de falar.
- E tem outro problema... – Reno começou e jogou uma edição em cima da mesa do diretor. – Olhe as palavras cruzadas.
- Como assim? São palavras-cruzadas comuns não são? – Eu perguntei, mas assim que os outros professores olharam-na eles ficaram mais apreensivos.
- Não, Lucian, não são. – Mira falou. Eu ia perguntar o que queriam dizer, mas Reno respondeu por mim.
- Reis e Sombras. – Ele falou.
- O que? – Eu perguntei. Já ouvira falar da R&S, mas achei que tinha sido desmantelada há alguns anos.
- Palavras cruzadas é a forma que a Reis e Sombras costuma convocar seus membros para as suas reuniões. – Ferania explicou e Mira completou.
- Eles escondiam charadas dentro das palavras cruzadas, com seus codinomes e locais secretos. – Ela falou e me mostrou que algumas linhas em diagonais formavam “O Rei os convoca, para a masmorra abaixo do sol”. Eu li e reli a frase, mas sem entender.
- Achei que tínhamos desmantelado-a a alguns anos atrás. – Eu falei.
- Não totalmente, ela apenas se escondeu nas sombras e sossegou, esperando que nós a esquecêssemos. – Ivanovich falou e vi que agora ele estava realmente preocupado.
- Igor, não sabemos o que eles podem fazer a partir daqui. Se esse Antaris conhece os códigos da Reis e Sombras, ele é um deles ou conhece membros dela. E se ele for o Rei? – Ivana falou.
- Eu sei, eu sei... Vou deixar um vigia permanente na gráfica, assim como vou avisar a qualquer gráfica da região que não aceite nenhum trabalho sem antes entrar em contato comigo antes. – Ele falou e todos assentimos. – Lucian, continue publicando o Expresso normalmente e coloque uma nova edição em circulação ainda hoje. Faça uma nota sobre o ocorrido, pode ser direto e dizer que se trata de impostores, mas não cite a R&S. É isso que eles querem que façamos.
- Sim, senhor. – Eu respondi e ele continuou.
- Mira, Ivana e Ferania prestem atenção nos alunos e vigiem qualquer tentativa de levar textos para fora da vila. – Elas assentiram e ele se virou para Reno por fim. – Reno, quero que investigue a R&S a fundo.
- Pode contar comigo, Igor. – Reno falou e todos saímos da sala. Reno pediu para falar comigo e as outras professoras foram em frente. Mira e Ferania iriam convocar a equipe do jornal.
- Lucian, quero que tome cuidado. – Ele falou, olhando sério para mim. – Talvez eu me ausente por alguns dias, mas tome cuidado. Procure não provocar muito esse tal de Antaris. Ainda não sabemos quem ele é e, pior, o que pode fazer.
- Eu não tenho medo, Reno, é isso que ele quer, que eu me sinta acuado. – Eu respondi e Reno suspirou.
- Eu concordo, mas tome cuidado. A R&S é capaz de coisas monstruosas. Igor não vai deixar isso barato, já tivemos problemas demais com ela no passado. Eu vou investigar e manterei você informado.

Reno falou e se despediu de mim indo com pressa para seu gabinete. Eu fui correndo para a sala do jornal, pronto para editar uma nova edição de emergência.

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Diário de Lucian P. Valesti

Além dos problemas do Jornal, minha cabeça andava a mil com o meu problema sentimental.
Estava me sentindo um lixo, com nojo de mim mesmo.
Namorava a Liseria há 2 anos, e no ano passado beijei, ok, em minha defesa posso dizer que fui beijado, por uma garota completamente estranha. Até hoje eu não sei quem era ela e às vezes me pego imaginando quem seria.
Mas pior do que isso era o que eu estava sentindo esse ano.
Desde aquele dia em que vi Lenneth e Patrick brigando eu percebi que estava gostando da Lenneth.
Eu não entendia o porquê disso! Passei minha vida inteira com ela ao meu lado, sempre como minha melhor amiga e nunca senti nada por ela? Por que agora?!
Estava confuso... Isso poderia ser simplesmente ciúme de amigo? Não tinha certeza, pois estava muito forte...
Isso estava me matando aos poucos. Sem conseguir colocar para fora isso tudo ou mesmo entender eu guardava tudo para mim e comecei a me fechar para o mundo exterior. Queria muito conversar com alguém, mas não queria sobrecarregar o Ozzy. Ele já estava passando por grandes dificuldades e tentava ajudar a Parv e eu não queria atrapalhar...
E quanto a Patrick ou Ayala? Eu sentia vergonha de contar para eles o que estava se passando na minha cabeça... Sentia vergonha de estar gostando de outra garota além da minha namorada e vergonha de admitir que era da Lenneth...
Liseria percebeu algo essa tarde. Ela me perguntou por que eu estava estranho e distante, mas consegui dizer que era por causa do jornal. Dói muito pensar que a estou enganando e mais ainda pelo fato de que eu ainda gosto da Lis.
Se eu tivesse deixado de gostar dela seria mais fácil, pois sempre concordamos que o dia que um deixasse de gostar do outro, deveríamos ser sinceros um com o outro. Mas estava gostando das duas e não sabia como administrar isso.
Minha única forma de extravasar esses sentimentos é escrevendo esse diário, aqui no armazém da livraria, para onde venho com cada vez mais freqüência.

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- Que foi, Lucian, você está bem? – Orion me perguntou, na biblioteca. Eu levantei o olho do diário sobressaltado e o olhei. Percebi que tinha cochilado e por sorte o diário estava tampado.
- Desculpa, acho que cochilei. – Eu falei.
- Você desmaiou ai isso sim, te chamei da porta, mas não respondeu. Não vai pro treino do Hóquei não? – Ele perguntou e só então percebi que ele já estava quase que com todo o uniforme. Então me toquei da hora e levantei sobressaltado, jogando o material na mochila.
- Caramba perdi a hora!
- Vamos, eu te acompanho até a república e depois vamos juntos. – Ele falou rindo e saímos andando pelos terrenos da escola, agora meio desertos. – Mas é sério, está tudo bem?
- Está sim, por que pergunta?
- Você anda muito aéreo, pensativo até demais. Parece sempre com algo engasgado ou preocupado com algo. – Ele respondeu, dando de ombros.
- É por causa do jornal, esse tal Antaris está me dando nos nervos. – Eu respondi. Essa desculpa estava ficando cada vez mais fácil.
- Nossa, é horrível o que ele está fazendo. – Ele comentou e eu concordei.
- E começar com essa história de jornal alternativo! É loucura! O diretor ficou irado. – Eu comentei.
- E o que vão fazer?
- Ainda não sei. Vamos tentar investigar, mas o Jornal vai continuar sem publicar nada dele e fazer propaganda negativa dele.
- Boa sorte, conte comigo para a campanha negativa! – Ele falou e chegamos à república. Ele esperou sentado na cama dele, enquanto eu me arrumava. Me vesti rapidamente e voltei para o quarto, só faltando o taco de hóquei.
- E a Lenneth? Aconteceu alguma coisa entre ela e o Patrick? – Ele perguntou.
- Não que eu saiba, porque pergunta? – Eu perguntei, esquivo.
- É que eu tenho visto os dois pouco juntos, parecem que estão brigados... Como você se sente com isso? Afinal ela é sua amiga.
- Eu tento não me meter. – Eu falei evasivo... Porém, os últimos dias pesaram em minha consciência e senti a necessidade de falar para alguém. E o Orion era um cara legal, um pouco chato e estranho às vezes, mas bem legal. – Na verdade, Orion, eu não sei o que estou sentindo.
- Como assim? – Ele perguntou e eu sentei na minha cama, olhando para a janela.
- Vou ser direto. Acho que estou começando a gostar da Lenneth. – Eu falei e ele ficou em silêncio um pouco e notei que estava surpreso.
- E a Lis?
- Esse é o problema. Ainda gosto dela, não sei como agir.
- Mas isso não é só ciúme de amigo, não?
- Eu não tenho certeza... Não consigo parar de pensar na Lenneth e sempre que a vejo perto do Patrick fico com raiva. Fora que eu tenho sonhado com ela.
- Mas sonhar não tem problema ué.
- Tenho sonhado em beijá-la e mais de uma vez eu tive vontade de beijá-la. É muito forte. Ai cara, estou com nojo de mim mesmo.
- Putz, pode falar, eu sou seu amigo lembra? Estou aqui ao menos para te ouvir.

Ele falou isso e sentou do meu lado. Eu sorri agradecido e me abri pra ele, contando tudo que sentia. Contei também da garota do Halloween passado e ele ouviu quieto, sem me julgar. Ele me disse para dar um tempo para mim mesmo, para ver no que daria isso tudo. Ele pode não ter ajudado muito, mas apenas de poder falar disso com alguém serviu para me deixar mais leve e tranqüilo.