Thursday, March 20, 2008

Rabiscados por Naveen Odebrecht

- Vai contar por que está namorando ela? – Max pressionou e o analisei. Luka estava sentado ao lado, escutando com atenção.

Não me sentia na obrigação de dar satisfações à ninguém, mas ambos já tinham me dado provas de confiança e fidelidade, e desde que tinha começado a namorar Lavínia, andava mesmo precisando de amigos por perto. Melhor ainda se fossem amigos que também participavam do círculo de “confiança” que ela e os outros mantinham.
Fui até o armário e peguei uma caixa de madeira escura, trancada por um cadeado de segredo. Abri-o e revirei seu conteúdo na cama: vários recortes de jornais, folhas de plantas encapadas, recortes de livros de herbologia e por último, uma cópia do histórico da enfermaria de Lavínia Durigan. Eles olhavam a tudo, ainda sem entender.

- Nessa caixa eu guardo todos os meus planos. Antes que eu comece a explicar, vocês têm que jurar que tudo o que for dito nesse quarto, fica nesse quarto. Se alguma coisa escapar...
- Não precisa terminar a frase. Isso fica aqui. – Max declarou.
- Morreu o assunto. – Luka completou já ansioso.
- Ótimo. Tudo começou no dia 13 de novembro de 1996. – Peguei um dos recortes de jornal mais antigos e entreguei para Max, que o leu com atenção ficando rígido a cada palavra. Passou para Luka ler, sem comentários. Quando ele terminou, devolveu, trocando um olhar significativo comigo. – Dia que meu pai foi assassinado por um grupo de aurores.
- Sinto muito. – Max começou, mas cortei.
- Eu também. Mas só fui descobrir os nomes dos aurores ano passado... – peguei um segundo recorte, menor do que o anterior, e li em voz alta:

Bulgária, 24 de outubro de 1998.

Será realizada hoje uma Conferência com Aurores de destaque do Norte Europeu. O objetivo da reunião é a nova abordagem dos aurores frente aos bruxos das trevas remanescentes.
Entre os convidados, destaque para Johnny Alenxinsky e Tohry Gheorghieff, protagonistas da maior captura de Comensais da Morte dos últimos 10 anos, em novembro de 1996.

- Já entendi tudo. Você está planejando alguma coisa contra esses dois aurores, certo? – Luka arriscou e Max franziu a testa.
- Certo. No dia da captura, eles prenderam todos os amigos do meu pai, mas o mataram. Somente ele. – despachei sentindo o sangue ferver.
- Previsível e compreensível que você queira se vingar. Mas ainda não entendi o que tudo isso tem a ver com a Lavínia. Se você está claramente namorando ela por interesse, qual é o papel dela nisso tudo?
- Ela não tem nenhum papel direto nessa história. Mas uma coisa que ela carrega o dia todo com ela é indispensável para que meu plano dê certo.
- Quer parar de falar em enigmas e ir direto ao ponto?! – Luka apressou e eu puxei uma das folhas de plantas que estavam plastificadas, mostrando-os.
- Essa é uma folha de Beladona, uma das plantas mais venenosas do mundo bruxo. A essência dela é bem fácil de ser encontrada, mas pode ser rapidamente combatida com bezoar, então, não me interessa. Ela só se torna realmente mortal se for ingerida diretamente, ou se cozinharmos uma boa quantidade de suas folhas em água. Duas gotas desse chá é capaz de matar um homem adulto em menos de 10 minutos, e ainda não encontraram antídoto. Por causa das baixas temperaturas daqui, é muito difícil plantar e cultivar uma boa muda dela, mas alguns bruxos conseguem, se alcançarem uma boa temperatura e luminosidade na estufa...
- Estou me sentindo em uma aula do Mikhail. Não tem como ser mais direto? – novamente Luka perguntou ansioso e o encarei.
- Direto ao ponto: em toda a extensão da Escandinávia e Bulgária, somente uma estufa conseguiu plantar com sucesso a Beladona em tamanho satisfatório para ser feito o chá: a estufa imperial do castelo do Instituto Durmstrang.

Eles se entreolharam montando o quebra-cabeças. Então, ambos se voltaram para mim.

- E a única pessoa que tem a chave da Estufa, além do professor Mikhail, é o líder do Clube de Herbologia, que este ano é... – Luka pensou alto.
- Lavínia Durigan O’Lattern. – Max completou. – É isso o que você quer dela. A chave. Por que se você tiver a chave, tem acesso a todos os compartimentos da estufa. Tem acesso à Beladona. Tem o chá. Se vinga por seu pai.
- Exatamente.

O quarto ficou em completo silêncio. Max analisava a folha de Beladona com atenção, enquanto Luka parecia estar pingando os últimos ‘is’. Depois de uns minutos, perguntou:

- Você já sabe exatamente quem são os aurores?
- Um pouco. Sei que Johnny e Tohry são os líderes do grupo que atacou o grupo do meu pai. Tohry vive sozinho, na Bulgária. Johnny é casado com Agatha Neitchez Alenxinsky, e tem dois filhos: Igor Neitchez Alenxinsky, que está terminando a Academia de Aurores esse ano, e Andrea Neitchez Alenxinsky, que está fazendo o 5° ano de Durmstrang.

Demorou mais tempo do que eu pensei que demoraria, até que eles relacionassem as últimas peças com outras. Max foi o primeiro a empalidecer.

- Neitchez... Victor Neitchez. Ex-namorado da Lavínia. Isso tudo é só uma grande coincidência ou...?
- Coincidência ou destino? Chame do que quiser. Mas Johnny Alenxinsky é tio de Victor Neitchez.
- Não pode ser. Nunca fiquei sabendo que ele tinha uma prima estudando em Durmstrang! – Max contestou. – Agora não estamos conversando muito, mas já fomos muito amigos.
- O motivo de ele ter escondido esse parentesco com a prima dele, não me interessa. E se te interessar, pergunte para ele. Os fatos são esses.

Ambos ficaram calados novamente. Comecei a guardar as coisas na caixa mais uma vez. Max interrompeu seus próprios pensamentos com um sorrisinho sarcástico.

- Pode parecer uma pergunta idiota, mas não consigo evitar: por que não Avada Kedavra? Acho que nós já sabemos muito bem como fazer, e não é muito mais prático do que tudo isso de namoro, chave, planta, chá? Quero dizer: é rápido. Bater e morrer.
- Em alguns pontos você tem razão... É bem mais simples e rápido. O problema é que eu teria de bolar um plano, muito mais complexo, para conseguir entrar na casa de cada um deles. Ou atrai-los até aqui. Se eles percebessem a emboscada, eu teria graves problemas.
- E o chá?
- O chá eu coloco na garrafa de café que vai todos os dias para a sala deles, no Departamento de Aurores do Ministério. Só preciso distrair um elfo doméstico. Mato dois coelhos com uma cajadada só.

Max concordou com a cabeça e novamente se pôs em silêncio. Foi a vez de Luka sair do transe.

- Só uma dúvida, a última. Como você vai fazer para pegar a chave? Lavínia deve carregar ela 24 horas por dia. Me parece quase impossível você tirar sem que ela perceba. Do jeito que é neurótica... – Rimos.
- Também concordo com você, em partes. Ela carrega a chave em uma corrente, em volta do pescoço. Mas não 24 horas por dia. Tira para tomar banho.
- Então seu brilhante plano é invadir o banheiro da Avalon? Se for, pode me incluir nessa aventura. – Luka riu com gosto.
- Não. Não vou pegar durante o banho. Óbvio que não. Se fosse assim, eu não precisaria estar namorando ela, não é? Só preciso que ela fique nua.

Os dois se entreolharam e riram maliciosamente.

- E se ela não tirar a roupa? – Max perguntou.
- Eu tiro por ela, claro.