Estava sentada junto das meninas em uma mesa próxima ao palco e reclamávamos das dançarinas nas gaiolas, enquanto esvaziávamos a jarra de ponche. Hoje tudo estava me irritando desde que discuti com Max pela enésima vez, e bem durante o almoço com o vovô. Sempre tentei evitar essas coisas na frente dele, mas Max estava cada dia mais insuportável com sua mania de achar que pode controlar minha vida e acabei batendo boca com ele na mesa. Ouvimos um sermão histórico do vovô e voltei pra republica de mau humor. Quando deu a hora de virmos para a boate já estava mais do que azeda, mas não ia ficar em casa. Ao menos aqui encontraria música e álcool pra me distrair e relaxar.
Enquanto bebia com elas, observava Micah do outro lado da boate. Mesmo sorrindo e conversando com as pessoas, em alguns momentos ele se afastava e ficava apenas olhando os outros se divertindo. Esperei até que ele estivesse no sozinho outra vez, enchi o copo já quase vazio e levantei, traçando uma reta até ele.
‘Geralmente quando estamos em uma boate, nós dançamos, sabia?’ Parei ao seu lado sorrindo e ele me abraçou
‘Estava esperando uma companhia’
‘Não está gostando da festa? Sempre que consegue, você foge das pessoas e fica quieto aqui’
‘Não, estou adorando! De verdade, obrigado por terem orquestrado isso tudo. É que estou cansado, só isso’
‘Deixe o cansaço para amanhã, hoje não é dia disso’ Larguei o copo em cima da mesa e segurei sua mão, já o puxando ‘Vem, vamos dançar’
Abri espaço entre as pessoas que se acotovelavam na pista e paramos bem no meio dela. O ritmo das músicas começava a diminuir e já tinha as mãos em volta do seu pescoço, enquanto ele segurava minha cintura. O clima era de paquera descarada. Não era só ele que me cantava, eu também dava em cima dele sem a menor vergonha.
‘Você é a primeira pessoa que ainda não tentou se aproveitar do fato de que já bebi pra tentar descobrir o que eu tenho’
‘Se você quisesse falar, já teria feito isso. Sei que tem alguma coisa preocupando você, isso é obvio. Mas se não quer falar, ninguém pode te obrigar’
‘Sou tão transparente assim, que todos têm tanta certeza de que alguma coisa me incomoda?’
‘Transparente como água’ Ri ‘Você é péssimo para disfarçar as coisas’
‘Mas é bom manter segredo de vez em quando’ Ele abaixou a cabeça pra falar perto do meu ouvido e senti minhas pernas fraquejarem ‘Assim quando você finalmente for minha namorada, ainda teremos coisas novas para descobrir um do outro’
Ele me abraçou mais forte enquanto beijava meu pescoço me puxando para o mais perto possível de seu corpo, mas senti alguém agarrar meu braço com força e me puxar para trás. Micah me soltou assustado e quando virei, dei de cara com Max. Ele continuava segurando meu braço e Micah me puxou para o lado, já preparado para brigar. Me pus entre os dois depressa.
‘Vamos embora, Evie’ Disse tentando me puxar outra vez, mas consegui soltar o braço
‘Está louco, não é?’ Respondi rindo e isso o irritou mais ‘Não vou a lugar algum com você’
‘O que está fazendo aqui?’ Micah falou irritado ‘Pelo que sei isso é uma festa particular, e você não foi convidado’
‘A boate não é sua, conheço o dono e entro aqui a hora que quero’
‘Não hoje. Será que não percebeu que está sobrando, Zorro? Cai fora, vai procurar sua turma’
‘Acha que pode me dar ordens?’ Max se adiantou para iniciar a confusão e o empurrei
‘Não vai estragar seu aniversario por causa dele, não vale a pena’ Disse virando para Micah enquanto segurava Max do outro lado ‘Deixe que eu resolvo isso’
‘Isso mesmo, não se mete que é assunto de família, e você não é bem vindo nela!’
‘Cala a boca, Max!’ Empurrei-o com raiva pra longe ‘Cala a boca, que você nem devia estar aqui hoje!’
‘Posso saber o que estava fazendo agarrada com aquele imbecil?’ Disse autoritário e cruzei os braços sem paciência ‘Se não chego a tempo, podia ter acontecido alguma coisa. Ele não é pra você, Evie. Não é de confiança’
‘Desculpe, mas desde quando é você quem decide quem é bom ou não pra mim?’ Soltei uma risada nervosa ‘Refresca a minha memória, porque devia estar em coma quando isso ficou acertado’
‘Sou seu irmão, sei o que é bom pra você. E o pai também não gosta dele, isso já devia bastar’
‘Ele nem conhece o Micah, como pode não gostar dele? E nem você o conhece para julgar. Tudo que faz desde que ele e Ty chegaram à escola é implicar. Agora vai embora que é o melhor que você tem a fazer e me deixa em paz!’
Dei as costas pra ele e comecei a andar na direção contraria, mas Max segurou meu braço outra vez e falou em um tom de voz ameaçador.
‘Fica longe dele. Se pegar você com esse sujeito outra vez, vou tomar uma providencia e você pode não gostar’
Puxei o braço pra longe da mão dele irritada e virei de costas outra vez, o ignorando. Podia sentir a fumaça saindo da minha cabeça, de tão nervosa que estava. Micah estava sentado sozinho no sofá e não pensei duas vezes. Caminhei até ele e quando ele levantou, agarrei seu rosto e o beijei com tanta vontade que quase perdi o fôlego. Ele não cortou o beijo e agarrou minha cintura, sentando outra vez e me puxando para cima dele. Tinha certeza que Max estava me vigiando, e queria mais é que ele me visse agarrada com Micah. E principalmente, que ainda estivesse vendo quando deixamos o sofá sem interromper os beijos e sumimos por horas pelos corredores da boate.
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O céu já começava a escurecer e aos poucos os alunos saiam do jantar para as aulas extras da noite, mas eu continuava sentada no mesmo lugar desde que havia saído da aula de poções. Encarava a entrada para o corredor da enfermaria tentando encontrar coragem de levantar e ir até lá, mas começava a desconfiar que ela só tomava conta de mim quando estava alcoolizada. Fechei os olhos ainda com dor de cabeça e deixei-a encostar-se à parede de pedra quando senti que alguém sentou do meu lado. Sabia pelo perfume que era Chris.
‘São só alguns passos até a enfermaria’ Falou rindo um pouco e abri os olhos ‘Sei que você consegue’
‘Pois pra mim parece que são 50 km’
‘Está tudo bem?’
‘Sim, na medida do possível’ Sorri de leve e abaixei a cabeça ‘Ressaca moral é o pior tipo que existe’
‘Concordo, mas não tem como voltar no tempo, então tudo que lhe resta é encarar’
‘Como ele está?’
‘Está bem, na medida do possível também, não é? Todo mundo já foi visitá-lo, menos você. E de todos, você é quem ele mais quer ver, embora não admita’
‘Estão amigos agora, é?’ Ri
‘O mundo dá voltas, não?’ Ele riu também e levantou ‘Quer que empurre você até lá, ou vai sozinha?’
‘Vou sozinha’ Levantei também ‘Pode dizer ao professor Skoblar que estava me sentindo mal?’
Ele assentiu com a cabeça e sorri, entrando no corredor e indo direto para a enfermaria. Se arrependimento matasse, já estaria a sete palmos da terra. Mas ele não mata, e não poderia ficar fugindo para evitar tocar no assunto. Só esperava não descobrir nessa visita que o que fizeram com Micah tem ligação com a ameaça de Max, ou as coisas iam se complicar ainda mais.