Trecho do diário de Lavínia Durigan:
Naveen me perguntou se eu queria dar uma volta, eu o acompanhei. Então, depois, só me lembro de estarmos nos beijando.
Ele tem um jeito fechado, grosso, rude, mas é bastante inteligente e sempre que pode, quer me agradar. Só não consegui ainda fazer com que eu não pense em Victor todas as vezes que ele me abraça, e chego até mesmo a compará-los algumas vezes, embora eu admita que os dois sejam completamente diferentes, em todos os aspectos”.
- Onde está... Quem? – perguntou em voz alta fingindo não ter escutado por causa da música.
- Seu namorado.
- O nome dele é Naveen.
- E o apelido é clorofila boy, biodesagradável, Grinch... O que preferir. Micah tem um estoque imenso.
- Hum, que bom partido! – Ricard disse em tom de ironia e quando ela o encarou, sorriu.
- Não comece as piadinhas, Ricard. Eu gosto do Naveen, ok? Aceite esse fato.
- Gosta mesmo? – ele provocou.
- Isso aqui é uma festa ou entrevista da Santa Inquisição? Vou ficar com as meninas que dá mais resultado.
Depois desse ponto, ela também se lembra de poucas coisas. Sabia que havia bebido exageradamente, mas não conseguia parar. Sentia cada gole de ponche entrar em sua cabeça e aliviar um dos problemas que passavam ali continuamente, principalmente nos últimos meses. Acabou aceitando se transformar em uma dançarina com Milla e Annia, deslizando em postes no palco, na frente de todos. Enquanto dançava, viu Naveen no fundo do local, sentado sozinho em uma mesa, observando-a sério.
Quando a música acabou, caminhou até ele e tirou a peruca de cabelos negros que escondiam os seus. Ao contrário do que imaginava, ele não pareceu surpreso a vê-la ali. Pelo contrário. Sorriu.
Ela sentiu os braços dele em torno de sua cintura a segurando com muita força enquanto as pernas continuavam a envolvê-la como se tivessem dado um nó. Ele puxava seus cabelos e a beijava com uma vontade louca, quase faminta.
Então pararam e se olharam um segundo, ambos recuperando o fôlego. Os dedos dele embaraçados no cabelo dela. Ele se aproximou bem do seu ouvido e deu uma mordidinha de leve que a fez arrepiar.
Estavam em um quarto de cor vermelha viva, e ele serviu um copo de bebida para ela, que o tomou inteiro antes que ele a derrubasse na cama. Depois disso, escuro.
- O de sempre: você achou que todo o ponche do mundo fosse acabar ontem, dançou em cima do palco, depois sumiu com o Naveen. Hoje de manhã ele te trouxe para cá, e desde então, você está dormindo.
- Onde estão as meninas? – perguntei olhando ao redor. Não havia sinal de Milla, Evie, Nina e Annia.
- Foram para a enfermaria.
- Estão passando mal?
- Podem estar, mas não ia adiantar nada. Lá não tem poção que cure ressaca moral. Toma um banho e desce, que te explico tudo o que aconteceu enquanto você estava “ausente”.
Desci as escadas em um tropeço e passei correndo por Ricard, que estava sentado na sala. Ele me acompanhou atravessar correndo a porta para os jardins e me seguiu.
- Preciso falar com o Naveen! Agora.
- Micah foi atacado! – foi a última coisa que o ouvi gritar antes de parar de correr atrás de mim. Mas não parei.
- O que exatamente aconteceu ontem à noite?
- Como assim?
- Entre nós dois.
- Não. De nada.
- Nossa. Parecia tão... acordada... ontem a noite.
- Olha, Naveen, foi um grande erro tudo o que aconteceu. Esquece, ok? Aliás, eu acho que nosso namoro está sendo um imenso equívoco, então é melhor se terminarmos aqui. Eu estava muito bêbada e,...
- Então... está tudo bem pra você? – eu perguntei um tanto surpresa e levemente decepcionada. Ele parecia não estar se importando. Pelo contrário. Parecia estar feliz.
- Está. Se você prefere assim, então é melhor mesmo. Não quero perder sua amizade, que me foi sempre tão valiosa.
- Ótimo então. Amigos. – eu engoli em seco e o estendi a mão, que ele apertou sorrindo.
Passei a mão pelo peito e então parei de andar, aterrorizada. Procurei em volta do pescoço e nos bolsos, nada. A chave da Estufa Imperial havia sumido, da noite para o dia.