- Não sei se vocês estão se lembrando, mas caso não, faço questão de refrescar: neste castelo ainda não permitem namoros. Pelo menos não assim... tão... à vista. Disfarcem um pouco. – Ricard disse com uma careta de insatisfação quando Victor me abraçou no meio do corredor, mas logo sorrimos.
- Você diz isso por que nunca namorou. Quando namorar, vai entender. – Victor falou sorrindo e eu concordei com a cabeça. Ele levantou a sobrancelha.
- Muito obrigado por me lembrar do meu próprio ‘status’ de encalhado, Victor. Grande amigo que você é.
- Disponha.
- Desfaça essa sua cara feia, Ricard. Eu e Victor só estávamos nos abraçando, nada demais. Mas eu acho que é melhor irmos andando, ou vamos chegar atrasados para o Clube de Poções Avançadas. – consultei o relógio. Faltavam apenas dez minutos.
- Não sei como vocês se divertem tanto nesses clubes todos...
- Não nos divertimos. Nos garantimos, é diferente. Não jogamos trancabola como você, então temos que conseguir pontos extras em clubes. – Ricard respondeu avaliativo e eu concordei. Victor sacudiu os ombros. – Vamos andando. Nos vemos no Clube de Duelos. – Ricard saiu me puxando e acenamos para Victor.
- Vocês dois... – ele exclamou baixo, mais como um pensamento alto. Sorri.
- Voltamos sim. Nos gostamos muito. Felizmente para nós dois e infelizmente para você, imagino. – Victor disse sorrindo e Naveen também riu, ironicamente.
- Imaginou errado. Fico muito feliz por vocês. Se combinam. A hipocondríaca e o problemático. Lindo casal. Além do mais, Lavínia e eu já aproveitamos muito o nosso curto tempo juntos. Devo dizer que ela sabe o que faz... Quem sabe daqui uns dias, quando vocês brigarem de novo e você quiser ‘causar’ demais, ela não venha correndo para desabafar comigo, não é? Já que somos bons amigos... Muito bons amigos. – ele sorriu ainda mais aberto.
- Estávamos duelando, é claro. Isso aqui é um Clube de Duelos, afinal. – Naveen falou cínico guardando a varinha na bainha da calça e olhando Victor, vitorioso.
- É um clube de duelos e não um ringue de luta livre! Vou ter que falar com o professor Skoblar sobre o comportamento de vocês. Com certeza vão levar uma suspensão do Clube. – Lev Nikolaievich disse se intrometendo, sério. Naveen deu uma risadinha.
- Me faça esse favor. Acho que já vou decretar suspensão para mim mesmo, desde já. Tenham uma ótima noite.
- Você não sabe?
- Não.
- Ficamos juntos uma noite, você termina comigo sem mais nem por que, e volta correndo para ele? Que estava fazendo de tudo para que você sofresse. Devo ser mesmo muito chato, ou ter feito algo muito errado.
- Você não fez nada de errado, Naveen. Eu gosto de você. Como amigo. Mas eu amo o Victor, e eu sempre deixei isso muito claro, nunca te enganei. E você também gosta da Deborah!
- Tudo bem. Eu já tinha entendido e aceitado tudo isso, não precisava repetir para mim. Diga isso para o seu namorado, por que acho que ele não se garante... Foi ele quem começou. Se eu revidei, foi só para me defender.
- Não preciso da permissão dele pra ser sua amiga. Só não queria que ficassem lutando por aí.
- Não vai mais acontecer, não se preocupe.
- Lavínia... – Victor apareceu nos encarando sério e Naveen fechou a cara.
- A gente se vê, então... – eu disse e ele concordou. Encarou Victor mais uma vez e sumiu na escada.
- O que ele queria com você? – perguntou limpando o nariz, que ainda estava sangrando um pouco. O rosto estava muito machucado. Acompanhou Naveen com o olhar até ele desaparecer completamente e depois se virou para mim.
- Nada demais. – respondi azeda.
- Não quero te ver perto dele, Vina. Ele não presta.
- WOW, começamos a impor limites, é isso? Estamos namorando, Victor. Naveen é meu amigo. Aceite isso. Você também não é amigo daquela... menina?
- É muito diferente.
- Não vejo por que. Pare de agir feito criança. Estou namorando você agora, não precisa travar duelos com todos os meus amigos e ex-namorados. E se eu fosse você, aproveitaria o fato de que foi suspenso do Clube para ir até a enfermaria. Está ficando pálido.
- Você veio aqui em baixo, Lavínia? – ele perguntou em um tom de voz rouco e sério que me deu medo. Foi agarrando outros ramos diversos, todos mutilados.
- Não, professor. Eu somente uso a parte de cima da Estufa. O senhor mesmo separa as plantas que quer que eu estude com os outros alunos do Clube...
- Só nós dois temos a chave da Estufa, e alguém certamente esteve aqui recentemente podando a Belladona. Você sabe as conseqüências disso, não sabe? – ele perguntou se virando para mim mais sério do que nunca e eu tremi. Concordei.
- Professor, eu posso garantir que nunca estive aqui, e não toquei esta planta.