Uma figura solitária esperou o jardim ficar deserto e o atravessou até as Estufas. Parou na porta da maior, que mais parecia uma grande catedral de vidro, dourada. Encostou-se na porta, olhando mais uma vez para os dois lados, e então puxou uma chave de dentro do bolso, abrindo-a. Entrou sorrateiramente.
Repetiu o processo com mais dois ou três ramos, e quando conseguiu toda a quantidade que queria, fez o caminho de volta, sem deixar rastros.
Sentiu o gosto da vitória na boca enquanto caminhava para o vilarejo ao lado do castelo. Só faltava um detalhe para que seu plano fosse perfeito...
- Ah, acordou. Estávamos preocupadas. Nina e eu, já planejávamos colocar um espelho embaixo do seu nariz para ver se ainda estava respirando. – a voz de Annia falou irônica da porta do quarto. Continuei revirando meu malão.
- Como está Micah?
- Relativamente bem. Alguns arranhões e cortes, roxos e inchaços, mas ele sobreviveu, o que é mais importante.
- É... – respondi ainda jogando objetos para fora.
- O que você está fazendo Vina? – Nina perguntou, se deitando em sua cama e observando a bagunça ao meu redor. Encarei-as desesperada.
- Estou procurando a chave da estufa Imperial!
- Que chave? Ah... – Nina arregalou os olhos. – A cópia da chave que o professor Mikhail te deu?!
- Obrigada. Me sinto muito melhor agora. – respondi azeda e ela cerrou os olhos para mim. – Eu não tirei essa corrente. E ela pode ter caído em qualquer lugar. Só se...
- Ficaria muito grata se vocês apagassem esse momento das nossas vidas. – disse. Eu e Annia nos entreolhamos e rimos.
- Não sei do que você está reclamando, Nina. Você nem dançou! Saiu correndo.
- Certo, mas a humilhação de ter subido no palco vestida de bombeiro já é o suficiente para minha honra se sentir muito lesada.
- Até a boate, claro. Tenho que recuperar essa chave o mais rápido possível.
- Você está maluca?! É domingo, bem de noite! A boate não está aberta hora dessas!
- Certo, mas ainda é final de semana. Se eu não for hoje, só sexta-feira! – eu completei e elas se olharam já sem argumentos. – Volto logo.
Ricard estava sentado na mesa da cozinha, lendo um livro. Se assustou a me ver.
- Preciso que vá comigo até a boate do vilarejo. Tenho certeza que a chave caiu lá.
- Você perdeu o juízo? Temos só mais 30 minutos para ficarmos fora do castelo. E não é hora de irmos até a boate... Ela não está aberta hoje.
- Se você parasse de falar e agisse, já estaríamos voltando. – Eu disse com raiva e ele nem se mexeu.
- Acho que a bebida alterou seus neurônios.
- Não vem comigo? Ótimo. Vou sozinha. – Estava quase alcançando a porta quando...
- Lavínia. Espera. Eu vou com você. Não adianta eu falar que provavelmente vamos levar uma detenção?
- Já disse que vou sozinha.
- Pois agora eu estou dizendo que vou com você e ponto final.
- Tudo bem. Também não tinha visto vocês... Ricard, os portões já vão se fechar. – ele avisou e a menina concordou com a cabeça apertando o abraço. Tremi. Ricard agarrou meu braço para continuarmos caminhando.
- Eu sei. Até mais.
- Nossa. Hoje a sua espicondilite lateral está em alta. – Ricard comentou rindo abertamente.
- A minha o que? Ite é inflamação. É grave? Como você descobriu que eu tenho isso?
- Respira. Não é nada grave. Espicondilite lateral é popularmente conhecida como “dor de cotovelo”. – ele gargalhou e eu fechei a cara. Não disse mais nada até chegarmos em frente à boate.
- Não viemos aqui para festa. Estou procurando uma coisa que me pertence e que tenho quase certeza de ter deixado cair aqui.
- Uma chave. Pequena, dourada. Estava em um cordão fino e dourado também. Grande o suficiente para passar pela minha cabeça, e...
- É esta mesmo!!! Ah, não acredito! Pelas barbas de Merlin, se tivesse perdido essa chave... – disse aliviada enquanto colocava-a de volta ao redor do meu pescoço. – Obrigada.
- Não agradeça a mim. Você não a perdeu aqui dentro. Deveria estar no chão aqui na porta, ou na rua. Há apenas um par de horas atrás, alguém a colocou dentro de um envelope e jogou-o por debaixo da porta. Deixou um bilhete. – Ele puxou um papel rabiscado com pressa: “encontrei essa chave no chão aqui perto. Alguém deve ter perdido aí.”
- Então... conseguiu? – Milla que também havia chegado, perguntou assim que entrei no quarto, ainda suada. Todas elas me olhavam preocupadas.
- Será que alguém pode me contar o que exatamente aconteceu com Micah? Desde a hora que acordei (e não faz tanto tempo assim), só fiquei por conta dessa chave.