Véspera do aniversário do Micah, sexta feira à noite, num certo bar do vilarejo...
Cheguei na hora marcada e fiquei esperando que Jolie aparecesse. Ela atrasou um pouco, mas quando me levantei para falar com ela, o pessoal da banda entrava no bar atrás dela. E tinha um ar maroto no rosto.
- Nós tínhamos marcado, não sabia que você ia mudar os planos e trazer a banda com você. – resmunguei.
- O combinado era: mesma hora e mesmo lugar, não tenho culpa se você imaginou tratar-se de um encontro. – Jolie disse cínica, enquanto fazia o pedido das bebidas.
E ela achava que tinha levado a melhor sobre mim, resolvi virar o jogo. Se ela ia me dispensar fizesse isso cara a cara, nada de trazer um bando com ela.
- De certa forma era um encontro, Jolie, mas já que o pessoal está aqui, vou ficar com vocês.
Aproximei-me e sorri olhando-a nos olhos. Percebi que suas pupilas se dilataram e ela engoliu seco. Andei em direção ao pessoal da banda.
- Você não pode... - ela respondeu rápido, mas ignorei sentei-me na mesa, segurando minha cerveja amanteigada. Serj me olhou feio e resmungou:
- Porque você não vai embora garoto?- perguntou Serj.
- Aqui é um local público e quero conhecer um pouco mais meus novos colegas. – respondi e quando Jolie sentou-se, ele tentou colocar a mão sobre a dela e ela retirou, depois de algum tempo ele tornou a repetir o gesto, e segurou a mão dela antes que ela retirasse. Percebi que ela olhou feio para ele e disse:
- Fica na sua Serj.
Minha vontade de ficar se fortaleceu, e comecei a conversar com os outros membros da banda sobre os ensaios e trocar idéias sobre os arranjos de algumas músicas, quando Serj disse:
- Não quero que mudem os arranjos...
- As músicas que vamos tocar não são suas, portanto faremos os arranjos que quisermos. Se você tem problemas com isso, fale com o professor. – respondi seco e os outros na mesa ficaram pasmos com a minha resposta. Jolie olhava dele para mim, com receio, parecia esperar por uma briga. Ficamos nos avaliando e como nenhum dos dois cedia, Gustav, o baixista, desviou o assunto sobre as músicas que deveríamos tocar na feira de talentos. E aí sugeri uma musica que a Jolie havia cantado, para se aquecer nos ensaios.
- Acho que aquela sua música Jolie, precisa ser mais agitada, já tenho idéia do que fazer e com algumas entradas do Gustav, vai ficar muito legal. - e o tal de Serj resolveu se meter novamente.
- Aquela música é um protesto, não tem que ser animada. Assim você não valoriza a voz dela.
- A voz de Jolie se destaca naturalmente, e você pode fazer um protesto animado, as pessoas vão gostar mais e se juntar à causa. - e antes que ela respondesse, ele retrucou:
- Você não tem que agradar as pessoas, como um bom menino.
- Este é o pensamento medíocre de quem canta no chuveiro. No caso da banda queremos que faça sucesso, então temos que agradar ao público no dia da feira. E se a banda fizer sucesso, não só Jolie como os outros terão chance no mercado musical.
- O Ty tem razão, queremos que a banda dê certo, e vamos fazer os arranjos necessários, é para isso que ensaiamos. - disse Jolie e foi apoiada pelos outros músicos, pelo resto da noite, Serj se limitou a beber.
Durante a semana
Depois do ataque ao Micah, eu me reorganizei de forma a estar sempre junto com ele e facilitava muito estarmos em algumas aulas extras no mesmo horário, e mesmo os ensaios da banda, que eram antes do teatro, facilitavam muito, porém não ficávamos mais que o necessário fora da república.
O pessoal da banda pareceu notar que eu não andava mais atrás da Jolie e até mesmo ela parecia estranhar meu comportamento. Algumas vezes, a peguei me olhando, e eu a olhava como se ela fosse uma vidraça, e no ensaios me limitava a opinar sobre as músicas e só. Não que não gostasse dela, estava a cada dia mais interessado em sair com ela, mas já que ela havia decidido me esnobar, resolvi devolver, pelo visto estava dando certo, porque quando fui levar algumas partituras para a sala do professor a encontrei lá sozinha e ela se virou ríspida para mim, quando passei perto dela:
- Não achei que você fosse medroso, Ty.
- Por quê?
- Você sempre bancou o engraçadinho, e nos últimos dias está calado. Deve ser duro para você levar a sério uma banda de escola, já que quer ser um astro do quadribol. Se quiser, voltamos aos arranjos do Serj, ele está doido para ajudar.
- Não ouse estragar o que temos feito. - disse ríspido e a segurei pelo braço, virando-a para mim, ficamos nos encarando e de repente estávamos nos abraçando e beijando. Encostei-a na parede e ficamos um tempo perdidos um no outro quando ela pôs a mão no meu peito e me empurrou, sem me afastar muito:
- Você não devia ter feito isso, pensa que basta estalar os dedos e eu caio aos seus pés? - ela disse irritada e eu respondi de volta:
- Não fiz nada sozinho. Mal a toquei, e você disparou como um foguete. Não é minha culpa que estivesse tão necessitada.
-Necessitada? Eu? - seus olhos estavam a ponto de saltar das órbitas. – Ora, seu arrogante, insuportável e egoísta idiota! – disse espetando o dedo em riste no meu peito.
- Foi uma má escolha das palavras... –respondi e a provoquei mais:
- Eu deveria ter dito reprimida. Os caras daqui não tratam bem as garotas...
-Vou acabar com você. – ela levantou as mãos e eu as segurei com nossos rostos próximos:
-E... Deveria ter acrescentado que não gosto do fato de desejá-la.
- Pois eu também não gosto. – ela parecia cuspir as palavras.
- Não gosta que eu a deseje ou não gosta de me desejar? – perguntei.
- Ambas as coisas.
Ficamos nos encarando, esperando quem daria o próximo passo:
-Então resolveremos isso amanhã à noite, sem complicações. – eu disse.
-Não quero complicar, Ty. Quero fazer com que seja impossível.
-Por quê?
-Por que é óbvio, inclusive para você. – e ela tinha as faces vermelhas, um brilho nos olhos, que a deixava mais bonita.
- Não sei o quê tem essa atitude irada em você, mas me faz sentir... Já sei, você quer que seja algo tradicional, que a convide para sair, tudo isso?
Ela fechou os olhos e rezou para manter a paciência.
- Parece que não consigo me fazer compreender. -voltou a abri-los-. Não, não quero que me convide para sair, nem nada disso. O que aconteceu agora foi...
- Selvagem. – respondi.
- Uma aberração. – ela rebateu e respondi:
- Não seria muito difícil demonstrar que está enganada. Mas entendo... A assustei e agora está com medo de ficar sozinha comigo. Está com medo de perder o controle novamente.
- Não tenho medo de perder o controle, e muito menos medo de ficar sozinha com você. Tenho mais de 18 anos e você ainda...
- Sou um cara como outro qualquer, e se você for ligar pra este lance de idade, não é a pessoa que eu acho que é. Ninguém aqui está falando em casamento, e quer você goste ou não, tem alguma coisa rolando entre nós.
- Não vamos levar a sério uma simples atração física.
(Pelo menos ela reconhece que se sente atraída por mim)
Ficamos nos encarando e voltamos a nos beijar.
- Não pense que estamos juntos... - ela disse tentando recuperar o fôlego.
- Isso nem passou pela minha cabeça. – respondi.
- Não quero que as pessoas saibam, e que digam que falta objetividade em nós. Depois de hoje, tenho certeza que isso vai passar. - ela disse.
- Por mim tudo bem. Não acho que meus amigos te achem boa o bastante para mim. - e os olhos dela se estreitaram:
- Como não sou boa o bastante para você?- e eu levantei a boca num sorriso dizendo:
- Não falarei nada a ninguém, nem mesmo aos meus amigos, já que você quer assim. Afinal nem sabemos se vamos continuar... - ela tornou a me beijar.
Após mais alguns beijos, nos separamos e cada um foi para o seu lado. Reencontrei meus amigos e voltamos para a república, cada um com seus pensamentos, porém uma coisa eu sabia: a reação química que eu e Jolie tivemos um com o outro, não iria passar tão fácil.