Wednesday, April 23, 2008

A aula de TCM havia terminado e os alunos começavam a caminhar animados para os vestiários, pois a próxima aula seria de educação física. Desde que Maddox chegou a escola, precisou de apenas duas semanas para transformar sua aula na favorita de todos os alunos. Todos, menos eu e Vina, pois até mesmo Nina havia se bandeado para o outro lado. Não suportávamos os intermináveis exercícios malucos que Maddox inventava e participávamos das aulas por obrigação. Mas hoje não estava com a menor paciência para fazer exercícios.

‘Não vou para a aula hoje’ Falei de repente, parando no meio do caminho

‘Como é que é?’ Vina parou também e as meninas continuaram caminhando

‘Nem pensar, hoje não. Vou dar uma volta no vilarejo, quer ir?’ Convidei e ela arregalou o olho

‘Está louca? É proibido?’ Veio andando atrás de mim enquanto olhava as meninas indo na outra direção

‘E daí? Um passeio do outro lado do muro faria bem a você também, Vina’

Vina parou por um segundo, olhou as meninas cada vez mais distantes e me seguiu. Sorri. Ao menos não ficaria sozinha pelo resto da tarde.

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‘Entrem’

Maddox abriu a porta de seu escritório e entramos sem dizer nada. Não havíamos ficado nem meia hora no vilarejo. Quando entramos em uma livraria, demos de cara com o professor. Ele havia saído para resolver assuntos pessoais e não chegou a tempo para a aula. Quais eram as probabilidades disso acontecer? Como íamos prever que ele não daria aula naquele dia e que, ainda por cima, nos pegaria fora dos terrenos da escola em dia de aula? Esperamos caladas e ele começou um sermão interminável sobre burlar regras e de como nunca imaginava que nós duas desobedeceríamos às regras da escola. Não ousamos interromper até ele terminar, apenas ficamos esperando que ele dissesse qual seria a detenção.

‘Desculpa treinador Maddox, não vamos fazer isso outra vez’ Vina começou quando ele finalmente parou de falar

‘Essa desculpa não cola comigo, Srtª Durigan’

‘O que teremos que limpar na detenção?’ Perguntei desanimada, pensando no meu histórico indo para o ralo

‘Não terão que limpar nada. Ao invés disso, inscrevi as duas no jogo do pó-de-arroz’ Maddox sorriu ‘Podem ir para o campo, o inicio dos treinos foi adiantado, começa em meia hora’

‘O QUE?’ Exclamamos juntas e ele riu. Sabia que, para nós duas, aquilo seria pior que limpar comadres...

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O campo de esportes da escola já estava apinhado de garotas quando chegamos. Sentamos cada uma em um canto da arquibancada observando a movimentação de mau humor. Estava considerando aquilo um pesadelo, não entendia como tantas meninas se candidataram para a partida, incluindo Milla, Annia e Nina. Como jogar trancabola pode ser considerado uma diversão, quando os jogadores praticamente lutavam em campo? Não via jeito das coisas melhorarem, e só piorou quando vi o treinador saindo do vestiário trazendo três garotos: Micah, Chris e um que reconheci vagamente como um aluno da Mannaz. O pesadelo estava apenas começando...

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‘Nina’ Micah chamou e Nina levantou animada da arquibancada, parando ao lado dele

Maddox havia deixado o campo e autorizou Micah e o outro garoto que se chamava Igor a escolherem os times. Chris seria o juiz da partida e assistiria a todos os treinos. Nina foi a primeira escolha de Micah, que esperou a vez do outro garoto e em seguida escolheu Milla.

‘Sarah’ O garoto apontou uma menina negra e bem corpulenta e ela levantou sorrindo

‘Annia, pra cá’ Micah disse sorrindo e Annia se juntou a Milla e Nina

‘Amélia’ Uma loirinha com aparência frágil se juntou ao outro time, que já tinha Georgia, e Micah me encarou

‘Evi’ Levantei e ele sorriu pra mim, mas não retribui

Logo depois ele escolheu Vina, que estava tão animada quanto eu, Jolie, e mais oito garotas. Quando a seleção finalmente chegou ao fim, os times se separaram pelo campo e Micah começou a ditar um monte de regras, mas pelas expressões das meninas, ninguém estava entendendo absolutamente nada. Ele riu.

‘Por que não começamos com algo simples hoje?’ Disse fechando o caderno que usava para tentar nos explicar as regras do jogo ‘Vamos brincar de correr e passar a goles hoje. Milla, você começa. Dêem duas voltas nessa metade do campo passando a goles sem deixar cair, ok?’

As meninas começaram a correr em volta da nossa metade do campo e a goles passava de mão em mão sem cair no chão. Micah gritava instruções a todo instante para quem estivesse com ela na mão e quando eu a deixei cair, berrou irritado para que prestasse mais atenção. Olhei na direção dele com raiva e atirei a bola para Vina, que gritou ao invés de agarrá-la, e sai do campo. Sentei outra vez na arquibancada já tirando o tênis, pois não pretendia continuar hoje, e ele veio correndo na minha direção.

‘Nina, você assume o comando. Não deixe que elas parem!’

‘Sou sua quarta opção?’ Disse seca, sem o encarar, assim que ele sentou do meu lado

‘Você nem queria estar aqui’ Se defendeu ‘A Nina é competitiva, queria garantir ela no time. E Milla e Annia são fortes’ Continuei encarando a grama ‘Não é por isso que está chateada comigo’

‘Você é um idiota, sabia?’ Olhei para ele irritada e bati em seu braço sem pensar ‘Por que não me falou nada? Não podia ter escondido isso de mim, eu tinha o direito de saber!’

‘E que bem faria isso?’ Ele agora parecia saber o que estava acontecendo e segurou meus braços para evitar outro soco ‘Não ia contar mesmo, pois sabia que ficaria assim. E eu não queria ver você desse jeito, Evi. Não queria você envolvida!’

‘Odeio quando faz isso, de querer me proteger e não confiar em mim! Devia ter me contado antes, eu podia ter feito alguma coisa!’

‘Confiança?’ Ele riu ‘Quer falar de confiança comigo, quando é você que não confia em mim?’

‘Eu quero poder confiar em você, mas a todo instante você me dá motivos para não fazer’

‘E eu quero que você confie em mim’ Ele me puxou para junto dele e não impedi que me abraçasse ‘E quero proteger você sim, nada que faça vai me fazer desistir. Ele fez alguma coisa com você?’ Neguei com a cabeça e afundei o rosto em seu ombro, começando a chorar

‘Tenho a sensação de que não o conheço mais’ Minha voz saiu abafada ‘Quando ele mudou tanto, que não percebi? Como pode ser capaz disso?’

‘Não sei, e por isso não queria envolver você nisso. Apesar de tudo, ele é seu irmão. Por mais que o odeie, nunca jogaria você contra ele’

‘Ele não é meu irmão. O irmão que cresceu comigo nunca faria isso. Não conheço mais a pessoa em que Max se transformou. Estou com medo dele, Micah’

Micah não conseguiu evitar um sorriso de satisfação ao ouvir minhas últimas palavras e o abracei com mais força, mas quando suas mãos correram pelas minhas costas, saltei para trás assustada. Ele me encarou desconfiado. Sabia que estava machucada, embora eu não admitisse.

‘O que foi? Machuquei você?’ Tentou me pressionar

‘Não, não foi nada’

‘O que aconteceu, Evi? Onde se machucou?’ Insistiu ‘Não adianta dizer que foi no treino ou que não está machucada, pois vi você andar torta a semana inteira, e não consegue colocar a mochila no ombro’

‘Você disse que quer que eu confie em você, mas você confia em mim?’ Perguntei sem responder sua pergunta. Ele confirmou com a cabeça ‘Então se confia mesmo em mim, só me prometa que se um dia eu procurar você pedindo um favor e soar desesperada, você vai me ajudar sem fazer perguntas. Pode me prometer isso?’

‘Qualquer hora, qualquer coisa, sem perguntas’ Ele se deu por vencido e assentiu com a cabeça. Sorri em agradecimento e calcei o tênis, voltando para o campo com as meninas, que tinham os olhos pregados em nós dois e caras desapontadas

Micah sabia que alguma coisa muito séria estava acontecendo, mas não perguntou mais nada. Sabia que quando eu confiasse nele, contaria. Tudo que podia fazer até lá era cumprir a promessa que me fez. E sabia que ele a cumpriria...