Junho de 2000
- Onde você estava?
- Não interessa...
- Este cheiro... Você está bêbado?
- Fui beber com alguns amigos... Estou com a cabeça estourando...
- Amigos que só querem ir pra farra e não te dão um emprego, não é? Precisamos fazer alguma coisa... Ninguém me aceita para trabalhar...
- Como você fala demais. Onde está o resto do dinheiro?- ele procura pela bolsa dela.
- Este dinheiro é meu! Foram minhas amigas que me deram. É para pagar a hospedaria, e não para sustentar você e seus vícios... – ela tenta segura-lo pelo braço, enquanto ele revira sua bolsa.
- ME SOLTA!
PAFT!
Ela cai assustada, com a mão no rosto e os olhos arregalados:
- Você me bateu!- ela diz enquanto se levanta do chão e o olha como se o visse pela primeira vez.
- Foi sem querer, me perdoa, eu não sabia o que estava fazendo, foi... Aonde você vai?
- Preciso sair daqui para respirar um pouco. – ela chega perto da porta e se encolhe trêmula, quando ele se aproxima e tenta acalmá-la. Isso sempre funcionou no passado. Mas no passado ele tinha ajuda extra quando queria controlá-la, mas agora com a falta de dinheiro ele contava com o amor que ela já deveria sentir por ele.
- Eu vou resolver esta situação de uma vez por todas... Fica aqui, me espera, por favor... Nós nos amamos... Eu não vou suportar te perder, não depois de tudo... – ele diz desesperado saindo porta afora.
- Não se perde aquilo que nunca foi seu de verdade. – ela disse para o quarto vazio enquanto segura o rosto dolorido e cai no chão desmaiada, tomada por calafrios.
o-o-o-o-o-o
Abril de 1999
- Como você pôde participar de algo assim Luka?- Milla perguntava irritada.
- Não recuso ajuda aos meus amigos.
- Isso não foi ajuda, foi uma atitude covarde...
- Não somos covardes...
- Cinco contra um é muito justo, realmente. Têm noção que vocês quase o mataram?? Sinto vergonha por você.
- Você não devia tomar tanto as dores dele, sou seu namorado e...
- Por isso espero mais de meu namorado, você sempre procurou acertar as coisas sem violência. Já pensou o que o seu pai dirá disso?
-Você não devia se doer tanto pelo novato, e meu pai não saberá sobre isso, estou avisando...
- Ou o quê? Vai usar os punhos em mim também?– ele segurava os braços dela e nesta hora Annia que saía da sala perguntou:
- Milla estamos atrasadas para ir para a república, temos muita lição para fazer. - e olhou feio para Luka enquanto ela discretamente pegava sua varinha.
Milla o encarou e disse irritada:
- Me solta.
- Nos vemos depois. Isso não termina aqui. - ele disse entredentes, enquanto a soltava.
-Não quero vê-lo por um bom tempo, estou muito decepcionada com você. – ela respondeu e ele insistiu:
- Quero vê-la depois, Ludmilla. - e algo naquele tom de voz fez com ela parasse e após pensar por alguns segundos, dissesse com uma voz estranhamente calma:
- Está bem, Luka nos vemos depois. Annia a olhava curiosa e quando a questionou sobre essa mudança de atitude e ela respondeu mecanicamente:
- Eu o amo.
-o-o-o-o-
- Eu não vou até lá... Não posso.
- Não pegamos um bolo destes no castelo para você roer a corda agora, Yéti.
- Ela já fez a escolha dela, não vou ficar correndo atrás. É muita humilhação.
- Você que lembrou do aniversário da Milla, não está correndo atrás. Tá certo que não precisava passar tanto perfume...
- TY! Assim não você não está ajudando. – gritou Micah e Ty riu sem graça emendando:
- Seu perfume é legal, me empresta?- e os três começaram a rir.
- Quer saber? Eu vou lá sim, e se o Luka não gostar, que venha falar comigo. - disse Iago decidido.
- Isso aí, vamos quebrar alguns narizes hoje, minha mão até coça. – comentou Ty.
- Ty...- começou Chris e o garoto respondeu:
- Já sei, ser discreto e não atrair a atenção... Vou deixar para o clube de duelos. - e recebeu um olhar “reprovador” de Chris e deram risada.
Encontraram Ricard, Victor e Reno carregando algumas garrafas de cerveja amanteigada e foram até a Avalon. Ao chegar encontraram as meninas esperando e quando Milla chegou com Annia gritaram “Surpresa”. Comeram bolo, riram e conversaram sobre todas as atividades que teriam na feira e Iago pode aproveitar e conversar com Milla como nos velhos tempos, mas quando ele por força do hábito, tentou pegar a mão dela, ela sentiu uma vontade desesperada de estar com Luka.
Dias depois
Milla estava sentada fazendo algumas anotações sobre os animais que seriam expostos na Feira contra o Preconceito Contra as Criaturas Mágicas, e ela como monitora do clube de TCM, tinha que apresentar um relatório detalhado de cada animal que seria exposto e sua saúde, além de distribuir as credenciais para os encarregados de cuidar das criaturas para que não sofressem nenhum dano. Como o trabalho fosse exaustivo, contava com os membros do clube que estavam animados com a possibilidade de conhecer criaturas novas. Ela já havia passado ao professor Assimov, a carta de sua amiga Morgan, confirmando a presença na feira e trazendo um dragão de dorso cristado norueguês, com quatro anos e um ovo de dragão negro das Ilhas Hébridas, que seria exposto. Tudo corria bem, quando um par de mãos vestidas com luvas de couro de dragão, tampou os seus olhos. Ela levou as mãos até elas e sorriu dizendo:
- Yuri! Não sabia que vinha.
- Alguém tinha que trazer o dragão não é? Como você está? E aqui está o seu presente de aniversário atrasado. - e a girou nos braços enquanto se abraçavam felizes. Nicolai, estava perto e Irina exibia um sorriso, enquanto os colegas se agitavam com a expectativa de ver um dragão em tamanho natural ao de perto. - E a Morgan e o Carlinhos??- perguntou depois de notar que o irmão descansava a mão na cintura de Irina.
- Os gêmeos estão com catapora, então eles nos pediram para trazer o dragão e o ovo para a exposição. Norberto está dormindo, aonde vamos colocá-lo?- e saíram juntos para acomodar o dragão de 5 toneladas.
Quando conseguiu alguns momentos a sós com o irmão, Milla não se conteve e perguntou:
- Você e Mary brigaram?
- Não brigamos... Terminei o namoro porque descobri que amo Irina e vou me casar com ela.
- Casar? Mas vocês mal começaram a namorar...
- Ninguém explica o amor. Basta vivê-lo. E conheço Irina a minha vida toda. – e seu olhar era apaixonado.
Milla ficou triste por Mary, pois gostava dela, mas se era verdade que ele havia descoberto que queria se casar com Irina porque a amava, ela iria apóiá-lo.
- Então vocês estão juntos...
- Sim, ele me ama. – ela respondeu mais para si própria e o garoto retrucou:
- Claro que ama, quem poderia dizer o contrário? Passe a poção para cá. - disse Luka cínico e Irina disse:
- Você sabe que é perigoso usar isso... Algumas pessoas sofrem efeitos colaterais. – dizia enquanto passava a ele um vidro com uma poção de brilho perolado e quando ele abriu o vidro viu a espiral de fumaça subir e o cheiro de cera para polir vassouras encher o ambiente. Logo ele o tampou e disse:
- Não vou me arriscar mais do que você, mas se eu for apanhado, usarei a desculpa que todos usam: um amor desesperado. E se tiver que ir para a cadeia não irei sozinho... Pedirei uma cela perto da sua, para jogarmos baralho. – e após um olhar chocado da irmã, ambos sorriram enquanto observavam os dois irmãos que eram os seus respectivos “amores” conversarem ao longe.