Sexta-feira, véspera da feira
Por conta dos ensaios para o show de talentos, todas as aulas dos clubes foram suspensas durante essa semana para que os alunos que fossem se apresentar durante a feira pudesse ensaiar. Micah tinha cancelado o treino daquela noite depois que duas das meninas do time se machucaram no treino da noite anterior e estava com algumas horas livres. De imediato pensei em visitar meu avô. Desde que discuti com Max na frente dele, há quase um mês, não passava em sua sala para uma visita sem compromisso.
Cheguei até seu escritório no 2º andar e antes que pudesse colocar as mãos na maçaneta, alguém a girou primeiro e a porta se abriu, dando passagem para Max. Ele me encarou sério e como sustentei o olhar, saiu calado. Não tinha percebido que vovô estava parado logo atrás dele, e sem dizer nada, fez sinal para que entrasse. Sentei no sofá de frente para a poltrona dele e continuei calada. Não esperava esbarrar com Max, e muito menos na presença dele. Não sabia o que dizer, pois sabia que ele estava esperando algo sobre isso. Mas foi ele que falou primeiro.
‘Max mencionou que não estão se falando’ Disse me servindo uma xícara de chá e me olhando
‘Sim. Não temos nos entendido nos últimos dias’ Respondi vaga e ele sorriu
‘Não precisa explicar o que aconteceu, Evangeline. Vocês não são mais crianças, e se acham que podem resolver suas diferenças ignorando a presença um do outro, não sou eu que devo interferir’
‘Nossas diferenças são tão gritantes que essa foi a única solução’ Respondi um pouco azeda, mas logo voltei ao tom de voz normal ‘Não concordo com as coisas que Max faz, principalmente quando interferem na minha vida’
‘Está certo, confio no seu julgamento’ Ele continuava sorrindo e desfiz a cara fechada ‘Então quer dizer que está treinando para o jogo do pó-de-arroz?’
‘Pois é, olhe onde fui me meter?’ Ele riu ‘Mas confesso que estou adorando. Acho pouco provável que a gente ganhe a partida, mas sem dúvida vamos nos divertir!’
‘Como assim acha pouco provável que vençam?’ Vovô parecia espantado com a minha falta de credibilidade no time ‘Seu amigo não está treinando vocês direito?’
‘Ah não, Micah está fazendo um ótimo, nós que não levamos jeito pra coisa. Ele bem que se esforça, mas o outro time é muito melhor, parecem já ter todas as jogadas ensaiadas!’
‘Nesse caso, vocês precisam de algo novo’ Vovô levantou de repente com um sorriso esquisito no rosto. Fiquei sentada olhando para ele confusa ‘Uma jogada que o outro garoto certamente não irá se lembrar... Anda, levante! Vamos até o campo!’
‘Er... Fazer o que? Vovô? Ei! Me espera!’ Larguei a xícara na mesa e sai atrás dele, que caminhava animado pelo corredor...
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Domingo, 27 de Abril, jogo do pó-de-arroz
‘Vina, a goles! Pega a goles!’ Micah berrou sacudindo os braços ‘Não, não foge dela! O que está fazendo? Levanta do chão!’
A partida já estava no fim e perdíamos por uma diferença não muito grande. Amélia aproveitou minha distração e passou correndo, me derrubando. Ainda sentada, olhei na direção dos gritos e caí na gargalhada. Vina estava deitada no chão se protegendo das meninas que passavam correndo de um lado para o outro e Micah queria invadir o campo para carregar Vina de lá, mas Chris ameaçou expulsá-lo do banco e ele sossegou. Eu não era muito boa no esporte, mas ela conseguia ser pior. Vina simplesmente não conseguia agarrar a goles. Ao invés disso, corria sempre que a lançavam na sua direção. Micah pediu tempo e Milla estendeu a mão para ajudá-la a levantar enquanto caminhávamos para o banco. Ele parou ao lado de Nina e discutiam alguma coisa enquanto rabiscava sem parar em uma prancheta. Alguns minutos depois pediu que nos reuníssemos.
‘Precisamos nos organizar’ Disse rindo de nervoso ‘O time do Igor está anos luz à nossa frente’
‘Mas eles têm Georgia’ Annia respondeu olhando para o outro time que ensaiava algumas jogadas nos esperando ‘Duvido que ele esteja no comando de alguma coisa. É ela que manda ali’
‘Quem comanda o time é o de menos, pois não muda o fato de estarmos perdendo, mesmo que de pouco’ Micah virou a página da prancheta com um monte de riscos ‘Vamos mudar algumas coisas: Milla e Nina, quero vocês na frente do time todo o tempo. Não interessa se mais ninguém consegue correr com a goles até o caldeirão, pois sem alguém para segurá-las a goles nem ao menos chega nas nossas mãos. Vocês não podem deixar ninguém passar, entenderam?’ Elas bateram continência e ele riu ‘Annia, você marca a Georgia. Cole nela como chiclete, mas não deixe que ela toque na goles ou completar algum passo. Quanto a você, Jolie...’ Micah levantou a cabeça e encarou uma das garotas do outro time ‘Esqueça a diplomacia, não quero perder. Derrube a Sarah. Só você consegue jogar ela no chão, então mantenha aquela garota longe do resto do time’
‘Por que não tentamos uma manobra falsa?’ Sugeri tentando fazer minha cara mais séria, pois Micah me olhou espantado ‘Se elas pensarem que vamos passar a goles para Milla ou Jolie, todas vão para cima delas e deixam o resto de nós livre para correr. Só precisamos de um touchdown e vencemos, não está tão apertado assim’ Ele continuava me olhando com cara de assombro e me mantive séria ‘O que foi? Eu presto atenção quando você fala’
‘Não, não presta. Quem é você e o que fez com a Evi?’ Micah disse espantado e as meninas riram
‘OK, foi meu avô quem me disse isso. Ele jogou dois anos pela seleção da Bulgária’ Admiti e ri ‘Mas pode funcionar, não?’
‘Sim, pode funcionar sim...’ Micah ficou pensativo por alguns segundos e depois sorriu ‘Isso que Evi sugeriu se chama engana trouxa, e foi usada pela primeira vez pela seleção búlgara em 1962. É uma excelente idéia e Igor não tem cérebro pra pensar nisso, então vamos fazer essa jogada. Annia, quando Chris apitar, deixe a goles no chão e Nina, proteja-a sem que percebam que ela ficou com você. Annia deve correr como se estivesse protegendo a goles até Milla, finja que completou o passe para ela. Milla, fique dando voltas no campo como se estivesse mesmo com a goles. Deixe que elas derrubem você, não tem problema. Jolie, Lizzie, Katarina, Natasha e Angelina, façam o mesmo. Cada uma corre para uma direção como se estivesse protegendo a goles, vamos espalhar elas. Nina, quando Annia fingir que passou a goles para a Milla, corra para o lado contrario e passe para Evi. Ela vai completar a jogada’
‘Como é que é?’ Agora quem soava espantada era eu ‘Não, não podem passar pra Evi, porque a Evi sou eu!’
‘Eu sei que você consegue’ Ele deu um tapa nas minhas costas e riu
‘E eu? O que faço?’ Vina perguntou temendo a resposta ‘Posso sentar no banco?’
‘Nada disso. Você vai para o campo e quero que corra’ Micah apoiou as mãos no ombro dela e ficaram cara a cara ‘Corra como se não houvesse amanhã, Lavínia. Se por acaso o passe der errado e alguma delas pegar a goles, quero que corra para cima de quem for gritando a plenos pulmões. Se quiser puxar seus cabelos para dar um ar de maníaca, fique a vontade. Pode fazer isso por mim e pelo seu time?’
‘Sem goles para cima de mim?’ Ele confirmou com a cabeça e ela sorriu ‘Ok então. Vamos lá, time!!!’ Vina gritou empolgada e rimos
‘Isso ai, vamos lá, time! E se alguém passar a goles para a Vina, juro que arrumo um jeito de levarem uma detenção depois!’ Micah gritou enquanto voltávamos para o campo
Nos posicionamos outra vez na linha e quando Chris apitou, a jogada do vovô foi se desenvolvendo aos poucos. Quando Igor finalmente percebeu o que estávamos fazendo e tentou avisar às meninas, já era tarde demais. Nina já corria a toda velocidade e atirava a goles para mim. Demorei alguns segundos para processar o que exatamente deveria fazer, mas ela gritou comigo e acordei, disparando na direção do caldeirão. Agora o time adversário inteiro corria na minha direção, mas as meninas aderiram à tarefa da Vina e vinham correndo atrás delas aos berros, conseguindo dar alguns sustos. Meu avô e Micah vinham correndo na lateral do campo gritando junto com elas e, rindo muito, consegui chegar ao caldeirão e trancar a goles dentro dele. Chris apitou e apontou para o nosso lado do campo, indicando que havíamos vencido. Micah invadiu o campo e me agarrou me erguendo do chão, e segundos depois as meninas fizeram um montinho em cima da gente, nos derrubando no chão. O jogo podia não valer nada, mas a sensação de vencer era sempre boa...