Segunda feira, 21:20 hs. 1º andar perto do salão principal
- Hey, o que vão fazer? - perguntei quando vi os nossos amigos saindo de suas aulas extras.
- Eu estou livre por hoje, até do Luka. - respondeu Milla que estava comigo no DQC e rimos.
- Eu ia voltar pra república... Mas estou aberta a sugestões rsrs. - respondeu Annia olhando para Vina que respondeu fingindo seriedade:
- Um pouco de distração até ajuda a aliviar o stress da segunda feira. - rimos e eu disse:
- Poderíamos ficar e ver os ensaios do Micah e da “Evi”. - disse provocando Micah e ele respondeu.
- O professor tá ocupado fazendo testes pro show de talentos, e depois disso ele isola o teatro, bocó :P - continuamos a andar para o teatro rindo e brincando, quando ouvimos a bronca do professor:
- Vocês já animaram velório??Não né? Porque lá ainda tem alguma alegria para alguém. Nem que seja o seguro de vida do morto. – bronqueava o professor Sanander para a banda que se encontrava no palco, enquanto as pessoas iam entrando e se ajeitando nos lugares para assistir ao final dos testes para o show e meu queixo caiu quando vi a vocalista.
Era a mesma garota do bar. Agora eu notava que seu cabelo era de um loiro escuro, bem mais curto do que lembrava, e seus olhos eram castanhos.
- Ih, hoje ele está difícil de agradar. E olha que ele “adorou” ouvir a voz da Milosevic, e ela é muito boa mesmo. - disse Evie sentando-se perto de nós, quando nos viu entrar.
Conseguimos alguns lugares nas primeiras filas e dava para ouvir tudo. Voltaram a tocar e parecia que a má vontade do baterista com a vocalista era palpável. Ela cantava e olhava para ele irritada, mas não perdia o tom da música.
- Até um orangotando toca melhor esta bateria... Ele quer aparecer mais que a menina. – comentei baixo.
O cara da bateria ficou irritado quando a vocalista reprimiu um sorriso. Ele levantou invocadinho e jogou as baquetas na minha direção:
- Tô atravessando ô sabe tudo? Então mostra como se faz. Estou fora!
- Acho que ele te chamou de orangotango... . - comentou Micah.
- Não quero saber de brigas aqui senhores. - disse o professor Ivo e após me olhar de cima em baixo perguntou:
- Senhor McGregor, toca bateria?
- Nada sério professor, só por brincadeira.
- E por brincadeira gostaria de tentar? Ouvi suas observações e concordo com algumas coisas, talvez possa injetar algo novo. Aceitei e subi no palco. Sentei-me no banco, girei as baquetas nas mãos, olhei para o pessoal da banda e depois para a vocalista. Respirei fundo e lembrei das coisas que Aidan fazia quando se sentava numa bateria e o mais importante: das minhas aulas de quando era criança.
- Ah propósito senhor McGregor... Seria bom cantar nem que seja o alfabeto enquanto toca. Ninguém quer ter que adivinhar o nome da música. – disse o professor e apenas sacudi a cabeça concordando.
- 1,2,3 ... – pararrarararaapapa, tum, tum, tum,tum
Comecei a tocar uma das minhas favoritas, e acho que estava tocando direito porque a um sinal do professor o baixista se juntou a mim e depois o professor apontou para a vocalista que começou a cantar do ponto onde eu estava, quando acabamos o pessoal começou a aplaudir e o professor falou empolgado:
- Jolie, você foi ótima e senhor McGregor... Isso é “brincar”?? Foram poucos erros. Parecia profissional. Onde estudou?
-Aprendi um pouco há tempos atrás e o marido de minha prima é baterista e sempre que dá toco com ele nas férias. Estou enferrujado.
- Ah é? Baterista de qual banda?- o professor parecia menos irritado, enquanto eu descia do palco e me juntava aos meus amigos.
- Os Duendeiros. – disse baixo.
- Aidan McCleary é o seu parente? E você toca com ele nas férias? - perguntou o professor e Micah aproveitou a deixa para me colocar em mais encrenca:
- É sim, e Ben O’Shea é o tio dele. A música está no sangue. - disse Micah.
- Não quero fazer Artes, seu amigo da onça. – disse pelo canto da boca.
- Se eu posso, você também agüenta. É só pensar no prêmio final. – ele respondeu baixo e na hora olhei para a vocalista que tinha o nome de “Jolie”. E quase não ouvi o que o professor sugeria:
-... Então o senhor poderia fazer parte da banda e se apresentar na feira de talentos do professor Mikhail. Todas as criaturas mágicas merecem o nosso apoio não é? Ou o senhor é daqueles que acham que elfos domésticos pediram a escravidão? – e com o olhar que ele me lançou, com certeza eu arrumaria um par de orelhas pontudas se desse a resposta errada.
- Não senhor, gosto muito dos elfos domésticos e acho que eles não têm o reconhecimento merecido.
- Muito bom, então posso contar com sua presença na banda da escola?? Não se preocupe, são todos amadores e fazem isso para colaborar e os ensaios não vão atrapalhar as suas outras aulas, clubes e afins e é por uma boa causa. Isso sem mencionar os créditos extras ao final.
- Está certo, professor pode contar comigo. – respondi.
Acabei conhecendo os outros integrantes da banda e fiquei sabendo sobre os dias de ensaios. Logo a garota tentou sair sem ser notada, pedi licença e fui atrás dela. Alcancei-a na parte de fora do castelo.
- Podemos conversar?- perguntei quando me aproximei dela.
- Se eu disser não, você vai continuar falando. – ela respondeu enquanto andávamos.
- O que você quer?- ela perguntou finalmente.
- Você é sempre assim tão agradável com quem salva a sua apresentação?? Porque não sei se percebeu, mas o tal de Serj estava te afundando. – ela ficou embaraçada por alguns segundos e disse:
- Certo, você salvou a apresentação, embora eu não tenha lhe pedido nada. Satisfeito?
- Eu te fiz alguma coisa?
- Tirando apostar que sairia comigo? Não. - ela respondeu cínica.
- Touché! - respondi e disse:
- Aproximei-me de você pelos motivos errados, mas eu realmente acho você interessante. E não devo ser tão repugnante assim, para você continuar a me tratar mal, afinal seremos colegas de banda. - e ela me olhou avaliadoramente, e disse:
- É... Você é até bonitinho... Mas é convencido, como todo jogador de quadribol que conheço. Não pense que vou ser mais uma da sua coleção.
- Claro que não, nem ousei pensar uma coisa destas. – fingi indignação, ela quase sorriu, mas continuou andando. Estávamos perto das repúblicas e ela parou na frente de uma chamada Atlântida.
- Então seu nome é Jolie... De onde você vem?- comecei.
- Da casa dos meus pais. - olhei sério para ela e ela suspirou, decidindo responder a minha pergunta.
- Meu pai é diplomata e como ele e minha mãe se mudavam muito, acabei nascendo no Marrocos e vivi lá até o ano passado. Sabe, você devia aproveitar e pagar a minha parte.
- O dinheiro você só vai ver sexta. – respondi.
- Agora que você sabe quem sou não precisamos disso.
Aproximei-me dela e disse olhando-a nos olhos. Ela se manteve firme.
- Não volto atrás quando alguém marca um encontro comigo.
- Eu não marquei um encontro com você. - disse indignada e eu sorri dizendo:
- Sexta, mesma hora, mesmo lugar. E não se engane: É um encontro. - virei as costas e fui embora.
Comecei a rir quando ela bateu o portão com força.