- “Você vai se arrepender e vai ver que eu sou tudo, menos uma princesa indefesa” – Leo fez uma cara afetada e jogou o cabelo pra trás, arrancando gargalhadas minhas e de Robbie – Baixinha abusada, não acham?
- Foi ela que deixou essa marca no seu pulso? – Robbie puxou o braço dela, onde uma marca levemente avermelhada ainda era visível.
- É, a invocadinha é forte, mas eu também sou. Ela que não se atreva a vir de graça comigo, ou vai sentir o peso da mão de uma gordinha.
- Calma, Leo, rolar na grama por causa de um garoto é patético demais – falei enquanto prendia meu numero no maiô – Ainda se fosse alguma promoção de bolsas ou sapatos, dá pra relevar.
- Parv tem razão, deixe essa menina pra lá, está na cara que é pura dor de cotovelo – Robbie completou – Está com um irmão, mas quer o outro e ficou mordida porque a gordinha sexy está pegando o rapaz – e ele apertou a cintura dela, que começou a rir com a cosquinha.
- Ela está nessa prova de triatlo, não está? – perguntei com um sorriso perigoso no rosto e ela confirmou – Se quiser, posso garantir que ela não chegue ao pódio.
- Você vai atirar ela do alto da montanha? – Robbie arreganhou os olhos e rimos.
- Claro que não, mas posso tirar ela da pista sem problemas – dei de ombros, indiferente – Não sou tão delicada quanto aparento, costumava correr de bicicleta com Jack e Julie quando éramos crianças e as corridas sempre terminavam com fechadas bruscas e bicicletas descendo barrancos.
- Faça o que for preciso, mas dê um susto na princesinha - Leo consentiu, com um sorriso tão perigoso quanto o meu – Se acha que vai me ameaçar e vou ficar com medo, é porque não sabe mesmo quem eu sou.
Robbie soltou uma de suas gargalhadas idênticas às das bruxas de historinhas trouxas e começamos a rir escandalosamente, atraindo olhares assustados. Terminei de arrumar minhas coisas e eles caminharam comigo até a baia onde ficaria minha bicicleta e meu tênis de corrida, e nos separamos quando me posicionei próximo à largada. Aquela prova de triatlo era a mais importante pra mim, pois poderia me custar uma semana como elfa doméstica de Ozzy e eu não ia deixar aquilo acontecer. Precisava estar naquele pódio, e de preferência no lugar mais alto.
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A prova estava indo bem pra mim, mas podia estar melhor. Desde a largada, quando nos atiramos no lago para percorrer os 750 metros da natação, estava conseguindo me manter entre as seis primeiras. A briga pelas duas primeiras posições estava acirrada entre duas meninas que estavam sempre mais a frente do resto do grupo, e eu oscilava no segundo grupo entre a 3ª e a 5ª posição.
Consegui sair da água em 4º lugar e passei para os 20 km de bicicleta. O percurso era todo em terreno irregular, o que dificultava um pouco as coisas. Havia treinado no terreno plano de Durmstrang, com pista lisa, e não estava acostumada a todos aqueles buracos e ladeiras. Os primeiros 10 km foram os mais sofridos. Pedalar morro acima não era tarefa fácil, minhas pernas gritavam por uma massagem enquanto colocava o máximo de força nos pedais, tentando alcançar a garota que ocupava a 3ª colocação.
Foi quando atingimos o cume da colina e o suor parou de escorrer como uma cachoeira que vi quem estava na minha frente. Era a garota que havia batido de frente com Leo. Agora estávamos em uma descida até a base, onde passaríamos para a última etapa da prova, e minha chance de tirar ela da jogada só se estendia por mais 10 km. Olhei rápido para trás e vi que tinha tomado certa dianteira da 5ª e da 6ª colocada. A garota não estava a mais que 5 metros à minha frente. Poderia facilmente ultrapassá-la e manter a posição até o final, ela já estava cansada, mas não queria. Botei mais força nas pernas e consegui alcançá-la. Não fiz nada mais que pedalar atrás dela por mais 4 km, até que atingimos uma curva aberta. Acelerei o máximo que pude e passei a frente, fechando sua bicicleta com um movimento brusco.
Já havia visto aquilo acontecer inúmeras vezes na minha infância. Ela se assustou com o vulto surgindo na sua frente pela direita e perdeu o controle do guidão, fazendo a bicicleta sair da pista e descer a encosta. Não era alto, ou não teria feito isso. Ela no máximo se arranharia um pouco e retornaria à corrida algumas posições atrás. A bicicleta dela ainda descia pela areia quando inclinei o corpo para pegar mais velocidade e alcançar a linha final da 2ª etapa. Já começava a ver pontinhos brilhantes quando avistei a baia para guardar a bicicleta.
Robbie e Leo começaram a pular enlouquecidos quando viram que eu estava em 3º lugar e não vinha ninguém atrás de mim. Larguei a bicicleta de qualquer jeito e disparei pela pista demarcada, para os últimos 5 km. As meninas que estavam nas duas primeiras colocações já estavam milhas à minha frente, não havia a menor possibilidade de alcançá-las, então minha meta era agarrar aquela medalha de bronze e torcer para que Ozzy não chegasse ao pódio.
- Vamos Parv! – ouvi Robbie gritar de um dos pontos de água que estava com Leo – Seremos seus massagistas de subir naquele pódio!
- Foco na medalha, foco na medalha! – Leo gritou também, me atirando uma garrafa d’água.
Consegui ter uma visão distante das duas garotas, já próximas da linha de chegada. Ainda faltavam 3 km pra mim e pela gritaria atrás, sabia que mais alguém tinha completado a 2ª etapa e agora corria para me alcançar. Não ousei olhar para trás ou ia me desesperar. 2 km. Agora via Jack, Julie e Alexis vibrando e me incentivando a continuar, pois estava quase no final.
1 km. Vi Robbie e Leo outra vez, e agora Lukas estava com eles. Um carrinho de golfe denunciava como meus amigos haviam chegado ali tão depressa. Robbie abriu o colete e vi uma camiseta com o emblema da Super Girl. Ele apontava para a camiseta e depois para mim. Era difícil não rir, mas dei apenas um sorriso discreto e me mantive focada.
500 m. 400 m. 300 m. 200 m. 100 m. Já estava vendo a linha de chegada. As duas garotas que estava na minha frente já comemoravam com os amigos e ignorei a dor que se espalhava pelo meu corpo inteiro, aumentando o ritmo da corrida. Não sabia de onde estava tirando forças para correr mais rápido, mas quando mais me aproximava daquela fita, mais vontade de acelerar eu tinha.
Quando cruzei a faixa e o placar mágico me anunciou oficialmente como a 3ª colocada, perdi as forças nas pernas e cai no chão. A grama estava quente como o inferno, mas não me importava, pra mim parecia uma nuvem. Podia ficar ali jogada no chão por horas, mas um par de mãos agarrou meus braços e me ergueu do chão. Estava vendo tantos pontinhos brilhantes que só percebi que era Lukas quando ele me beijou. Abracei-o quase sem forças e logo estava envolvida em um mar de mãos que bagunçavam meus cabelos e beijavam meu rosto. Robbie me atirou uma camiseta igual a que ele usava e vesti com um imenso sorriso no rosto.
No pódio, descobri que a menina que ganhou a medalha de ouro era da escola da Noruega, Milena Turgon, e quem ganhou a medalha de prata era uma garota de Hogwarts, Clara Lupin. A garota que havia fechado na descida da colina havia conseguido se recuperar e cruzou a linha de chegada em 4º lugar. Ela me encarava com um olhar assassino, mas estava pouco me lixando. Estava no pódio com uma linda e brilhante medalha de bronze no pescoço. Do meu ponto de vista, as olimpíadas não poderiam ter começado de um jeito melhor.