Tuesday, November 02, 2010

Quando chegamos a nossa festa do vilarejo, não poderia estar mais satisfeito com o trabalho que fizemos. Tudo estava impecável, desde a decoração até a caracterização das pessoas que trabalhariam na festa, todos no clima do Halloween e prontos para fazer daquele vilarejo um local mal-assombrado por uma noite. Os alunos do 1º ano, alucinados por terem autorização para sair do castelo pela primeira vez, não sabia em que casa bater primeiro para pedir doce. A mesa farta com guloseimas não era o suficiente, a graça era bater de porta em porta.

Cheguei à festa junto com meus amigos e meu irmão, que estava ridículo em uma fantasia de Super Mario, mas entendi o motivo quando vi seus dois amigos inseparáveis, Lawfer e Alexis. Ele, irmão de Lucian, estava de Luigi e a ela, que era irmã da Parvati, de Peach. Ele se despediu e se juntou ao grupo, e os três saíram de braços dados para o meio da praça.

Não demorou muito para que descobrisse a armação de Jack, que fez com que Parvati e eu viéssemos com fantasias combinadas. Encurralamos ele, mas de nada ia adiantar brigar ali, pois não teríamos tempo para conseguir outra roupa, então depois de algumas ameaças, combinamos que não iríamos brigar durante a festa, mas ele receberia o troco pelo que fez no dia seguinte. Ele desapareceu num passe de mágica no meio da multidão que se aglomerava na praça e fiquei sozinho com Parvati.

O combinado era fingir que estávamos nos entendendo, deixar Jack feliz e depois dar o golpe, então caminhamos de braços dados para o meio das pessoas que já pulavam ao som dos BlackHippogriffs, tentando achar um espaço para começar o teatro. As escolhas de fantasias eram as mais divertidas possíveis. Oleg exibia os músculos falsos da fantasia de Popeye e desafiava qualquer um fantasiado de vilão que passasse, “defendendo” sua Olivia Palito, e as pessoas acabavam entrando na brincadeira. Finn havia descoberto que sua fantasia combinava com a de Leonora e estavam se divertindo às custas disso, sempre com as taças cheias na mão. Julie e Lenneth estavam com um visual fatal, naquelas roupas coladas, e atraiam muitos olhares.

Até os professores entraram na brincadeira, e se já não fosse engraçado o bastante ver a séria professora de Artes vestida de Sra. Incrível, ainda tinha a professora Mira e o treinador Maddox fantasiados de Dorothy e Leão Covarde, o que eram duas fantasias absurdamente contraditórias para eles. Quando viram que Alec e Robert completavam o elenco do livro, puxaram os dois para uma série de fotos. O professor de Poções era o mais sinistro de todos, estava fantasiado Conde Drácula, e se aquilo era um aviso de como ele era nas aulas, era bom começarmos a nos preocupar.

- O que tem em mente para Jack? – perguntei aos gritos, por causa da música alta.
- Estava pensando em enfiar palitos afiados debaixo de suas unhas – ela falou com uma cara perigosa.
- Está brincando, não é?
- Sim, estou, não faria isso com ele. Mas é uma idéia tentadora.
- Você é má – ri – Gosto de como sua mente perversa trabalha.
- Não vamos torturá-lo, mas que tal humilhação publica? Porque foi isso que ele fez com a gente, então estaríamos pagando na mesma moeda.
- Humilhação publica é uma boa idéia, o único problema é que ele está esperando exatamente isso.
- Está certo, ele nos conhece muito bem, sabe nossos movimentos.
- Temos que pegá-lo de surpresa.

Ficamos um bom tempo em silencio, só dançando de acordo com a música que tocavam no palco, tentando bolar um meio de surpreender Jack. Estava tão concentrado em fazer meu amigo pagar que não percebi a mudança no ritmo e muito menos que agora estava dançando com as mãos na cintura dela, enquanto ela apoiava suas mãos nos meus ombros. Só percebi o equivoco quando muita gente começou a olhar esquisito para nós dois.

- Devem estar se perguntando se estamos drogados – ela comentou rindo, ignorando os olhares curiosos – O que foi?
- Nada, estava pensando que para uma garota com gostos tão duvidosos como você, até que tem bom gosto para filmes.
- Jack é culpado por todos os meus vícios, ele é persistente.
- Jack é um sem noção por achar que um dia podemos nos dar bem – ri – Uma noite é fácil, sustentar uma farsa por cinco horas não é nada.
- Ele prometeu não perturbar mais, então depois que de nos vingarmos, voltamos ao normal.
- Mais do que combinado. Já aprendeu a lavar roupa? Ou já esqueceu que vai passar uma semana de elfa doméstica na Kratos?
- Está muito confiante que vai vencer, vai ser ainda mais delicioso derrotá-lo – ela riu com gosto – Acho melhor treinar com aquela chapinha, gosto do meu cabelo liso.
- Ah, não vai deixar o penteado de donut? Ficou tão legal assim.

Quando botei a mão no cabelo dela enrolado na forma de uma rosquinha, senti um empurrão contra o peito e um segundo depois uma mão fechada acertou em cheio meu nariz. Não acreditava que ela pudesse ter tanta força, mas quando olhei para cima entendi o que havia acontecido. Lukas estava parado de pé na minha frente, os punhos fechados e a cara vermelha de raiva. Uma roda já havia se formado a nossa volta e levantei aos tropeços, ainda tonto pelo soco, mas quando levantei a mão para revidar o soco, Oleg apareceu e se atirou em cima de mim, impedindo o golpe.

- O que está acontecendo? – Jack apareceu correndo e se colocou entre nós dois – O que vocês fizeram?
- Eu não fiz nada, esse gladiador de saia que surgiu do nada e me acertou um soco! – gritei furioso, tentando me livrar de Oleg.
- Você estava dando em cima da minha namorada! – Lukas gritou e eu comecei a rir.
- Ok, agora ele está louco mesmo! Eu NUNCA daria em cima da sua namoradinha, seu idiota. Não quero nada com essa garota.
- Eu é que nunca ia querer nada com ele, está louco? – Parvati deu um soco no peito dele, furiosa também – Esse garoto é patético, só estávamos conversando!
- O acordo acabou, Jack – apontei para Parvati ainda preso por Oleg – Fica longe de mim, ou posso esquecer que você é uma garota e arrebentar a sua cara.
- Quem deu um soco em você foi ele, não eu, está nervosinho comigo por quê? – ela gritou de volta.
- Por que foi culpa sua!
- Já chega! – Jack empurrou Lukas e Parvati para trás e agarrou meu braço – Chega!

Parvati saiu cuspindo fogo, mas rebocou o namorado até um lado da festa, e Jack e Oleg me puxaram para o lado oposto ao deles, me empurrando em um banco quando já estávamos longe o suficiente. Julie chegou esbaforida logo depois e já foi colocando o dedo no meu peito.

- Você ficou maluco?
- Eu levei um soco de um homem de SAIA e você ainda briga comigo? Nem me deixaram revidar!
- Como você fala pra uma garota que quer arrebentar a cara dela? Perdeu o pouco juízo que lhe resta?
- Eu disse que tinha vontade, não que faria.
- Dá no mesmo, Ozzy! Não se diz isso, foi muita idiotice sua e deveria pedir desculpas a ela!
- Ok, admito que exagerei e não deveria ter falado isso, mas eu não vou pedir desculpas.
- Por que eles são tão cabeça-duras? – ela virou para Jack parecendo exausta.
- Não adianta, mana, ele não vai se desculpar e ela também não faria se fosse o contrário. Você já conseguiu que ele admitisse que foi idiotice.
- É, fique satisfeita, é o que tem pra hoje – falei impaciente querendo levantar, mas eles não deixavam – Eu não vou lá comprar briga, posso sair?
- Não vai mesmo, vou colar em você pelo resto da noite – Jack falou cruzando os braços.
- Eu vou ver como a Parv está e depois tenho que achar a Lenneth, então confio que vá ficar de olho nele – ela me encarou séria – Fique longe dela, ouviu?
- Vai ser um prazer.

Julie saiu na direção contraria da praça e Oleg também cruzou os braços quando ameacei começar a andar. Ótimo. Só estava tentando bolar uma pegadinha genial, e agora graças ao homem de saias e sua namorada fútil havia ganhado dois guarda-costas. Se antes era briga de egos, agora havia acabado de evoluir para uma guerra. E eu ia pegar pesado.