Wednesday, December 12, 2007

“A novidade dos primeiros momentos de namoro traz para a vida um colorido diferente, um estímulo que nem a distância, nem as condições atmosféricas, por piores que possam parecer, poderiam fazer que os enamorados adiassem um encontro.

Após algum tempo, muitas vezes, lentamente, o romantismo, que se esperava durar por toda a vida, vai perdendo o empenho e a força. O desinteresse nos compromissos é justificado por “desculpinhas”, entre outras coisas, que originalmente não faziam parte do relacionamento. Há a impressão de que a relação parece estar sendo sustentada apenas por um dos namorados. As evidências apontam para caminhos que talvez o mais apaixonado dos dois não gostaria de assumir… Seja pelo longo tempo de convivência ou seja pela insistência em acreditar que ainda poderá haver o desejo de uma mudança concreta de comportamento do outro.”

[José Eduardo de Moura]


A verdade era que, mesmo não querendo assumir para si mesma, Lavínia sentia a cada dia que o término do namoro com Victor pesava em cada centímetro do seu corpo. Sentimento que ela ainda não conhecia muito bem, mas que estava aprendendo a denominar de “arrependimento”. Uma semana antes de ir para casa passar o Natal em casa (embora sem nenhuma vontade), muitas vezes ela pensou em procurá-lo para dizer que tinha certeza de que o namoro dos dois valia sim a pena, e que não queria desistir disso. Mas o orgulho era maior ou pelo menos, falava mais alto. Acabava deixando tudo como estava...

‘Você não vai MESMO falar com o Victor?’ Ricard perguntou para ela mais uma vez como se cada vez que ele perguntasse fosse por si só, suficiente para causar uma ação.

‘Já disse que não tenho mais nada para falar com ele. Foi ele quem terminou comigo, não eu quem terminei com ele. Se ele quiser, que venha falar comigo então, e conversaremos...’

‘Vocês dois terminaram o namoro simultaneamente! E você sabe muito bem que ele só fez isso por que acha que você precisa de um tempo para definir se é isso mesmo que quer’

‘E ele já tem isso definido?’

‘Arrisco dizer que desde o dia em que nos conhecemos, vocês se conheceram, ele nunca teve dúvidas do que queria com você’

Deixou a voz ir morrendo aos poucos com a frase para que a menina percebesse o tom misterioso e ao mesmo tempo, definido, que ele queria causar. E causou. Como não sabia o que responder, e não queria continuar nesse assunto, se despediu do amigo e seguiu sozinha para a Avalon se perguntando por que tinha que ser tão teimosa.

°°°

Lavínia,

Sei que andei agindo como um verdadeiro idiota nos últimos meses. Peço desculpas. Minha intenção nunca foi e nunca será a de te magoar. Sinto saudades dos tempos em que você confiava em mim e contava comigo como um verdadeiro irmão, ou amigo. Será que podemos recuperar isso?

Espero que tenha aceitado meu convite para passar o Natal em casa. Mamãe e Leopold finalmente conseguiram tirar férias nos trabalhos e vão viajar juntos. Marcella vai viajar com a família do namorado. E eu, definitivamente, não quero passar esse Natal sozinho. Prometo que vou fazer tudo o que puder para que fiquemos em paz durante esses dias e além, e possamos nos divertir.

Se vier, mesmo, mande uma carta. Vou te buscar na estação de Sofia, no sábado.

Com carinho, Vlade.”

°°°

“Vlade,

Eu também devo desculpas por não ter te dado um tapa quando você verdadeiramente se meteu na minha vida. Mas acho que podemos superar isso, ou o espírito natalino nos fará suportar isso à força.

Até pensei em ficar para o Natal no castelo, mas Durmstrang está embaixo de gelo e não me sinto animada a comemorar a única data do ano onde tudo pode dar certo, dentro de um iglu.

Já que estamos só nós dois para o Natal, por que não ficamos em Sofia mesmo, no seu apartamento? Seria bem triste comemorar em uma casa tão grande quanto a nossa da Irlanda, não acha?

Espero que já esteja providenciando algo legal para a ceia, e cronogramas divertidos. Andei um pouco pensativa e triste essas semanas, mas te conto tudo quando estivermos juntos pessoalmente. Você sabe que eu sempre vou confiar em você como amigo, não sabe? Mesmo sendo um idiota de vez em quando...

Não se atrase para me apanhar na estação. Sabe como sou impaciente com atrasos!

Beijos, Vínia”

Dobrou a carta e esperou a coruja sumir de vista para se deixar cair na cama. Com seu irmão ela poderia esquecer por um tempo da angústia que estava sentindo nas últimas semanas, e quem sabe, recuperar a amizade que tinha com Vlade antes de começarem a brigar interminavelmente. Seria um Natal solitário, no fim das contas, mas apesar de tudo ela pensou que talvez seria um Feliz Natal.