- Por aqui, Ninys! Feche os olhos...- disse Michael, apoiando gentilmente as mãos sobre os ombros de Nina para tapar seus olhos.
- Me obrigue – cortou Nina, empurrando os braços do garoto para longe – Para onde nós vamos?
Nina mexeu no cabelo, impaciente. Tentou evitar ao máximo que o encontro prometido realmente acontecesse. Porém, quando começou a se trancar em armários de vassoura toda vez que Michael passava pelo corredor, percebeu que havia chegado longe demais. Depois da data marcada, encarou uma semana de zoações de Evie, Milla e Vina e agora se sentia extremamente desconfortável. Michael parava diversas vezes no meio de uma frase e ficava encarando a menina, abobado.
- MICHAEL?! – Nina gritou, estalando os dedos na frente dos olhos do garoto – Para onde nós vamos?
- Eu fiz reserva para nós dois em um lugarzinho lindo – respondeu, como quem acorda de um coma profundo – Sugestão do Chris. É impressionante como nós estamos ficando próximos, sempre sonhei com isso!
- Por Merlin – disse Nina, cerrando os punhos com toda força – Michael, o Parker te enganou. Não tem nenhum lugar decente por aqui...
Uma casinha rosa surgiu no meio das árvores. Tinha uma chaminé de tijolos em formato de coração e tossia uma fumaça quente, vermelha.
- ...a não ser o Ivy&Leo...mas você não espera que eu entre aí...certo?
- Ahá! Deve ser esse. Que lugarzinho fofo, bem que o Chris falou que era tão doce e delicado como você...
- Eu não vou entrar aí! Isso é um motel disfarçado de restaurante! Não...não...NÃO! – gritou, quando Michael tentou puxar seu braço delicadamente.
- Eu liguei para eles para fazer a reserva! É um lugar fantástico...acredita que a fila de espera para conseguir uma mesa nele é de cinco meses?
- ...então eu acho que isso significa que o encontro está cancelado...
- Mas eu consegui dar um jeito...
- ...é até bom, porque eu precisava terminar meu pergaminho de poções mesmo...
- ...tive que pagar 60 galeões...
- AH?! – Nina congelou por alguns segundos, encarando o menino absolutamente chocada – Poxa...que pena, né? Eu te compro um sorvete no caminho.
- Não, Ninys, por favor! Eu tive que gastar economias de um ano para conseguir uma mesa...vai valer a pena, por favor!
- Ah não, não, Michael...por favor digo eu! Esse lugar é...er...abafado! – Nina falava encarando o chão para não capturar um relance dos olhos marejados do menino – Não acredito nisso...ok, ok, mas só por meia hora, tudo bem?
- Obrigada, Ninys! Você não vai se arrepender!
- Pouco. Não vou me arrepender pouco – sussurrou para si mesma.
O Ivy&Leo pertencia a um simpático casal de velhinhos ingleses que se mudou para a Bulgária há oito anos. Inspirado no Madame Puddiffoot, seu restaurante era completamente decorado de rosa e vermelho, com direito a fadinhas, anjinhos, confete e casais apaixonados, que não faziam parte da decoração, mas eram quase figuras permanentes. Nina tremeu da cabeça aos pés quando pisou no lugar e foi recebida por fadinhas cor de rosa. Mike contemplava o local com o queixo caído.
- Vale cada galeão...
- Meef...- Nina tentou balbuciar alguma coisa, mas parecia estar assistindo a um filme de terror.
- Vem, aquela é a nossa mesa. – Mike conduziu a menina até uma mesa no fundo, decorada com azevinhos e mais fadas. Nina sacudia os braços freneticamente para espantar as criaturas de seu rosto – Pronto...ah, senhora? Obrigada. Eu vou querer uma cerveja amantegada. E você, Ninys?
- O que a senhora tiver de mais forte... – respondeu Nina, ainda tentando dizimar as fadas como mosquitos.
- Ah, Nin...- os olhos de Michael voltaram o foco para a menina, com um brilho assustador – Olha! Azevinho...duas pessoas embaixo de azevinho, você sabe o que isso quer dizer?
Nina limitou-se esticar o braço e esmagar lentamente o azevinho com as mãos, sem tirar o olhar fulminante de Michael.
- Er...eles estavam me incomodando, de qualquer maneira – disse o menino, mordendo os lábios – Mas então...do que você quer falar?
A menina tinha uma boa resposta na ponta da língua, mas quando iria começar seu monólogo, o sininho da porta tocou, indicando que mais um casal havia chegado. Uma menina loira, com uma expressão tão confusa quanto a de Nina, deu dois passos para trás ao ser recebida pelas fadas. Seu acompanhante era um garoto mais ao menos da altura de Michael, com os olhos de Michael, cabelo de Michael e um sorriso cínico nos lábios.
- Eu...não...acredito – Nina ressaltou cada sílaba com tamanho ódio que fez as fadas desistirem de vez de animar o casal – O que o seu irmão está fazendo aqui?
- Onde? Ah, o Chris veio! Em troca dos diversos favores, eu consegui uma reserva para ele também. Bonita menina, mas não tanto quanto você – respondeu, porém Nina já não estava mais prestando atenção. Se esticava para enxergar o rosto da garota loira, quando pareceu ter levado um choque da cadeira.
- Georgia?! – engasgou com a palavra e escorregou no banco até ficar invisível. Georgia também parecia prestes a cavar um buraco e enterrar a cabeça. Girava os olhos de um lado para outro, tentando localizar algum conhecido. Chris parecia imensamente satisfeito. – Dessa vez...dessa vez...! – os resquícios de azevinho na mão de Nina estavam sendo triturados.
- O que aconteceu? O que tem a garota?!
- “O que tem a garota?!” – repetiu Nina, com uma voz esganiçada que nem de longe lembrava a de Michael. – É só a garota mais...mais...ridícula e idiota e estúpida e... de toda Durmstrang! – Nina agora cravava as unhas na madeira da mesa – Ai, Merlin, ela está olhando para cá! – exclamou Nina, quase de joelhos no chão do Ivy&Leo.
- E qual é o problema? Ah, as nossas bebidas! Aqui, aqui, senhora! – Michael sacudia os braços no ar, atraindo a atenção de metade do restaurante. Chris fingiu um olhar de surpresa e convidou Georgia a se levantar e ir até a mesa do irmão.
- Michael! Que surpresa agradável...e quem seria a sua acompanhante escondida debaixo da mesa? – perguntou Chris, com um sorriso de orelha a orelha. – Ah, Olenova. – Nina foi surgindo lentamente, sentindo o rosto pegar fogo.
- Eu estava procurando a minha...er...lente – respondeu Nina, apontando para algo invisível na palma da mão.
- Já te apresentei a minha amiga? Essa é a Gretchen. Gretchen, Olenova. – Georgia franziu a testa absolutamente revoltada e soltou a mão de Chris.
- É Georgia!
- Tanto faz. Já conhece, Olenova? – perguntou Chris, sem desviar o olhar de Nina.
- Eu não sei onde eu estava com a cabeça quando aceitei vir aqui com você...e eu já conheço a Nina. – disse a menina, afastando as mechas loiras do rosto com violência.
- Muito infelizmente, diga-se de passagem – respondeu Nina, levantando da mesa e encarando a garota. Precisava descontar a raiva em alguém. Georgia não se intimidou e deu um passo a frente. – Que patético, Georgia. A garota mais popular da escola aceitando convites do Parker?! Tempos decadentes...
- Decadentes mesmo. É duro sair com uma pessoa exatamente idêntica ao namorado de alguém como você!
Michael parecia assistir a uma partida de tênis e Chris filmava mentalmente o confronto, encantado. A senhora, que deveria se chamar Ivy, saiu apressada da cozinha para tentar acabar com a confusão.
- Meus queridos, os ânimos parecem estar exaltados...
- Não tem ninguém exaltado aqui, minha senhora! – disse Georgia, praticamente gritando – Para falar a verdade, eu já estou de saída! – pegou a bolsa, lançou um último olhar de desprezo para Chris e bateu a porta com tanta força que as fadas soltaram gritinhos.
- E eu também, não vou participar do seu espetáculo patético! – falou Nina, apontando as garras para Chris. Michael ainda estava mudo, ao lado da senhora Ivy.
- Mas não foi você que dizia ter taaanto interesse no meu irmão? Pois eu te entrego tudo de bandeja e você se esconde debaixo da mesa, Olenova? Assim fica complicado – disse Chris, ficando de pé para chamar a atenção da menina. Ainda tinha um tom cínico na voz, mas estava sério.
- Você...é...patético. Você e toda a sua ceninha ridícula! Ótima pesquisa, eu realmente não gosto da Georgia. Mas acho que ainda tenho mais pena dela do que de você! – respondeu Nina, voltando dois passos, as mãos tremendo.
- Er...queridos...por que todos não resolvemos isso com uma boa xícara de chá fumegante? – disse a senhora Ivy, parando na metade da frase ao encontrar o olhar assassino de Nina.
- Eu realmente sinto muito por toda a confusão, senhora Ivy. Tome, – tirou 10 galeões do bolso – depois eu pago o resto do seu prejuízo. – começou a caminhar em direção a porta, mas ainda foi surpreendida pela última provocação de Chris.
- Pelo menos o meu encontro foi melhor do que o seu. – disse, com uma expressão desafiadora, tentando testar os limites da garota. O restaurante inteiro havia parado e o senhor Leo segurava o braço da esposa para que ela não interrompesse. Nina sentia o olhos arderem e o rosto pegar fogo. Caminhou a passos longos em direção a Chris, o empurrou para o lado e beijou Michael. A cabeça girava, mas simplesmente ignorou a voz descontrolada que gritava dentro dela e focou a atenção no olhar genuinamente surpreso do outro gêmeo. Puxou a bolsa, engoliu seco e bateu com violência a porta do Ivy&Leo, deixando um Chris com a certeza de que tinha passado dos limites.