Ele não é meu pai...
Será que minha avó sabia disso?
Tudo o que ele sempre quis, agora é meu... Ah vovó porque você fez isso?
Depois de andar bastante,comecei a correr sem rumo e nem percebi que minhas lágrimas caiam, quando esbarrei em alguém saindo de uma loja. Quase derrubei a mulher, mas ela era ágil, se aprumou e ainda me segurou:
- Leonora? O que foi que houve? Porque está chorando?- olhei e era Sasha,a dona da boate Luxury, atrás dela estava o seu segurança, Apolo. Ele era enorme, todo músculos e muito sério.Mas me encarou de forma gentil.
- Está com algum problema? Quer que chamemos aos seus pais?
- Eles me odeiam...eles me disseram...- respondi com a voz embargada e ela ficou em duvida:
- Os pais não odeiam aos filhos, Leonora, às vezes numa discussão falam coisas ruins, mas não quer dizer que são verdadeiras.
- O que você sabe da minha vida? Nada, então por favor não queria explicar a minha familia.- disse grosseira.
- Desculpe, não devia ter dito nada, sinto que com a morte de sua avó, tudo deva estar confuso na sua cabeça, e espero que tudo se resolva. Vamos embora Apolo.
- Não, não vá...Perdoe-me Sasha...Você não tem culpa de nada.
- Gostaria de tomar um café? Quem sabe um chá, você parece precisar.- ela disse eu respondi amargurada:
-Quero sumir do mundo, para poder ter tempo de saber o que vou fazer com a minha vida e... não quero perturbar meus amigos, eles estão de férias.
- E você vai ficar andando de um lado a outro assim? – dei de ombros e ela após olhar para o segurança disse:
- Se quiser você pode ficar um tempo em minha casa para se acalmar.
- Na boate? Não é o que eu chamaria de o lugar mais isolado do mundo. - E ela riu:
- Eu não misturo o meu trabalho com minha vida pessoal.Tenho uma casa, como todo mundo.
- Sim, claro não quis ofendê-la.- disse sem graça, enxugando o rosto e ela sorriu:
- Garanto que seria o último lugar do mundo em que alguém iria procurá-la. Você poderá ficar no quarto de hóspedes e somente eu, Apolo e os empregados da casa, saberiam de sua presença, e todos são de confiança e muito discretos. E acho que você deveria avisar a algum adulto onde você está, afinal não é seguro, ir para a casa de estranhos. - e eu respondi:
- Não sei porque, mas confio em você, e sei que ficarei bem.- segui Sasha e Apolo para um carro e após rodarmos algum tempo, paramos numa casa de 2 andares, de arquitetura tradicional, num bairro de classe média alta, afastado do centro de Sofia, e era uma casa de extremo bom gosto e cheia de conforto. Havia inclusive piscina aquecida e uma academia nos fundos. Por incrível que pareça, eu tive a sensação de entrar em um lar.
o-o-o-o-o-
Ela já estava naquela casa, há mais de dois dias e havia trocado poucas palavras com a sua anfitriã, pois quando anoitecia a mulher saía para administrar o seu negócio. Mas as poucas conversas eram divertidas, e haviam descobertos muitos gostos em comum.E durante as manhãs, Sasha dormia. O único que tinha alguma energia pela manhã, embora trabalhasse á noite, era o guarda costas, Apolo. E numa destas manhãs, ele ensinou a garota a como usar a esteira para correr, a usar os punhos e descarregar as frustrações num saco de areia ou mesmo que braçadas na piscina, faziam milagres para quem tem a cabeça cheia de problemas, e para quem sempre havia demonstrado aversão aos esportes, a garota passou a ser uma praticante assídua.
Observando por uma porta de vidro, Sasha, observava enquanto a garota corria na esteira, ouvindo música alta. Sorriu consigo, enquanto o guarda costas se aproximava e sem se virar, disse:
- Ainda acha que fiz mal em trazê-la para cá?
- A garota é maluquinha, mas gente boa. Mas ainda acho perigoso, você se tornar amiga dela.
- Já não preciso ter medo de nada e de ninguém, meu caro.Eu sei me defender.
- Sim, sabe, pois eu a ensinei bem, mas dizendo o óbvio: ela não é a sua filha, Mariska.
- Por favor, um assunto de cada vez. E deixe-me ter a ilusão de como seria ter a minha filha crescida andando por esta casa.
-o-o-o-o-o-
- Vamos logo Finn...
Dois garotos, um loiro e um moreno, com a aprência de jovens em férias, andavam pela rua de um bairro de classe alta, de Sofia e pareciam discutir:
- Já viemos aqui ontem, Rob e a Leo não voltou, e os empregados se recusam a nos dar alguma informação. Não acha que é melhor, procurarmos as autoridades?- disse o loiro.
- Ah sim, procuramos a polícia e dizemos que nossa amiga, a herdeira de um conglomerado de empresas multimilionário desapareceu por conta própria e que queremos saber aonde ela está, para trocarmos receitas de bolo. Afinal, ela nos deve sartisfações, e nem preciso acrescentar que só isso, já bastaria para o pai dela pedir para o conselho que tire tudo que vovó deu para a Leo. - e o garoto de cabelos escuros, deu um leve empurrão no garoto loiro.
- Dããã! Vamos continuar procurando por ela, agora mais que nunca. – caminhavam em direção a casa,quando encontraram um garoto conhecido voltando pela mesma calçada.
- Robert, Finnegan. – disse o rapaz como cumprimento e o moreno disse dramático:
- Mitch, por favor diga que você está vindo da casa da Léo e que tem alguma noticia dela?
- Estou vindo da casa de meu tio, acabei de voltar de um mochilão pela Europa, e não tenho notícias da Leonora. E só pra constar: É Mitchell. O que aconteceu com ela?- e o garoto loiro disse:
- Acho que não devemos incomoda-lo com isso, afinal você e Léo não têm mais nada em comum.- e tentou passar pelo garoto e Mitchell o segurou pelo braço dizendo:
- Ela e eu terminamos, mas eu me importo com ela, quer você goste ou não, o que houve? – quis saber Mitchell e Finn respondeu provocador:
- Acontece que ela é a minha namorada, e isso é assunto meu...
- Você não está fazendo um bom trabalho se não sabe aonde ela está. Quero saber o que aconteceu. Agora!- ficaram se encarando a ponto de começar uma briga, quando ouviram:
- Parem de bancar os machos disputando território. Isso nem é tão excitante quando passa no Animal Planet. Leonora, sumiu desde o funeral da avó e não disse a ninguém aonde ia. E eu preciso dela, Parvati pirou. Você pode nos ajudar a procura-la?
- E os pais dela? Devem saber aonde a filha está...- quis saber Mitchell, depois de soltar o braço de Finnegan.
- Curtindo férias em Aspen. Eles não se dão muito bem, acho que deu para notar isso no funeral da vovó.- Von Hoult explicou e o garoto chamado Mitch após pensar alguns segundos, pegou um celular e depois de discar, começou a falar em um idioma diferente.
- O que foi isso, Mitch? Porque o seu inglês soava diferente?- quis saber Robert depois que Mitchell desligou:
- Falei escocês.(ante o olhar intrigado, respondeu) - Uma longa história e não tão interessante.- antes que falasse mais alguma coisa, duas enormes Land Rovers de cor preta, chegaram derrapando pela rua e quando parou perto deles, as portas se abriram e de cada uma saltaram quatro homens de ternos e usando óculos escuros, todos pareciam seguranças.
- Algum problema senhor Callahan?- quis saber o mais forte deles e de cabeça raspada.
- Quero que me explique Gunther, como se eu fosse um menino de cinco anos, porque eu não fui comunicado do desaparecimento de Leonora Ivashkov?- quis saber Mitchell tenso.
- Paramos de protege-la quando o seu namoro terminou, senhor. Já acionei nossos contatos e todos estão em alerta procurando a senhorita Ivashkov.- e um som de mensagem recebida no celular, fez o careca desviar o olhar e depois voltou a encarar Callahan.
- Não há nenhum corpo nem no necrotério e nem no hospital com as características da senhorita Ivashkov, ela deve estar escondida na casa de algum amigo, já estamos rastreando os seus passos.- e Mitchell, respondeu sério, enquanto se dirigia a um dos carros:
- Encontre-a! - e se virando para os dois rapazes que o olhavam espantados.
- Vamos até a casa de meu tio, ficaremos mais confortáveis enquanto esperamos, já está quase na hora do jantar. Gunther...- e o segurança o olhou tenso:
- Não preciso dizer, que você tem o tempo do jantar para nos trazer alguma noticia.
-o-o-o-o-o-o-
No dia seguinte pela manhã, os três rapazes estavam parados em frente, à antiga casa da avó de Leonora, quando uma limousine, preta e reluzente deslizou pela rua e parou. Quando o motorista, um negro alto e forte, abriu a porta, pernas bem torneadas, usando saltos altos e um vestido de griffe, deslizaram para fora, e uma garota de corpo bem feito e com cabelos bem penteados, usando maquiagem sutil, saltou. Ela os olhou e disse sorrindo:
- Uau! Um comitê de boas vindas.- dos rapazes o primeiro a sair do choque foi Robert, que chegou perto dela e a agarrou num abraço apertado e quando a soltou disse:
- Como você sumiu assim?
- Eu estava com.... Quer dizer, eu estava em um spa, e...Como souberam que eu votlava hoje?
- Spa? Você estava num spa? Como você sumiu assim? Tem noção da nossa preocupação?O segurança do Mitch, nos avisou que você estava voltando hoje.
- Desculpe Robbie, mas eu preecisava de um tempo para mim. Mitchell tem seguranças? Desde quando?
- Você foi uma vaca Leonora, o mundo aqui fora pegando fogo e você relaxando num spa? Claro que você está maravilhosa, amei as luzes, mas eu não a perdôo pela aflição que me fez passar, tem ideia de que perdi alguns anos de minha vida? Está vendo estas linhas aqui na minha testa? – disse apontando o indicador para o rosto.
- Não há linhas aí...
- Mas elas estão ai, eu sinto, é só eu relaxar.
- Sinto muito mesmo Robbie, prometo passar um longo tempo me desculpando, agora quero mostrar para Parv, o novo visual. Onde ela está?- e enquanto isso, o motorista levou a mala dela para dentro da casa e quando voltou ela disse:
- Obrigada Apolo, por tudo.
- Ao seu dispor senhorita, sempre que precisar.- e foi embora, enquanto
- Leo, você não soube?- quis saber Finnegan e só então ela olhou para ele. Lançou um olhar caloroso para Mitchell e após um breve cumprimento, ele se foi, e ela tornou a olhar para o namorado.
- Soube do quê? Quando fiquei no spa, não quis receber nenhuma noticia de fora.
- Leonora, uma semana depois que você sumiu, Alexis, Parv e Jack sofreram um acidente de carro.
- Ai que horror! Como eles estão? Vamos vê-los, trouxe presentes...
- Jack e Alexis....Eles morreram, Leo. E a Parvati depois que saiu do coma e soube, pirou pois se sente culpada.
- É claro que ela não tem culpa de nada. Eu sou uma imbecil, se eu não tivesse sido tão fraca, teria ficado e estaria aqui quando ela precisou.- eu disse chateada e Robbie me consolou:
- Você não tinha como adivinhar, e sim não devia ter sumido.Ela ficou frenética atrás de você, mas daí aconteceu o acidente e ela surtou. Agora ela está numa clinica, tipo um hospício, para ganhar carimbo de maluca só falta a camisa de força.Ela diz que pode ouvir o que as pessoas estão pensando.
- Ai céus, está esquizofrênica. Mas ela não pode ficar lá Robbie, daqui a pouco surgem os amigos imaginários que cultuam extra terrestres e daí não tem volta. - eu disse firme e ele me olhou descrente:
- Ah não? E o que você sugere? Que a gente sequestre a filha pirada da prefeita de Sofia? Eu já fiz visitas lá, e o lugar é seguro. Afinal, guarda ‘maluco’.- disse fazendo aspas com os dedos.
- Não nada de sequestro, por ora, nós só vamos estar lá para a Parv, mesmo que seja para limpar a baba dela.
- Ela vai te matar quandou souber que você a chamou de louca babona.- disse Robbie.
- Se com isso ela voltar ao normal, posso correr o risco. E se ela, em algum momento de lucidez ver que nós estamos ao lado dela, pode melhorar e nem vamos precisar fazer nada errado. E te garanto Robbie: se precisarmos tomar alguma medida drástica, sei quem pode nos ajudar.
- Santo Kurt Cobain, aonde você esteve e com quem, Leonora Marie? – e eu sorri marota enquanto cantava baixinho, só para Robbie ouvir:
I'm a bitch, I'm a bitch
Oh the bitch is back
Stone cold sober as a matter of fact
I can bitch, I can bitch
`Cause I'm better than you
It's the way that I move
The things that I do
Sunday, July 31, 2011
Saturday, July 30, 2011
‘It has been said that time heals all wounds. I do not agree.
The wounds remain. In time, the mind, protecting its sanity, covers them with scar tissue, and the pain lessens, but it is never gone’
Rose Kennedy
Hoje era o dia do meu enterro. Meu e da minha prima, Alexis. Nossa família está arrasada. Foi despedaçada de uma hora pra outra de uma maneira muito bruta. Vendo-os daqui, não parece que um dia vão se recuperar, mas sei que vão ficar bem. As expressões duras e machucadas que vejo enquanto cercam nossos caixões uma hora irão se desfazer e a dor não vai passar, mas vai diminuir.
Meus pais estavam de pé ao lado do meu caixão, ambos com os rostos molhados de lágrimas. Papai tentava ser forte para consolar minha mãe, mas todos conseguiam sentir o seu sofrimento. Julie estava de pé ao lado deles, papai apertando seu ombro esquerdo. Ela não chorava. Mantinha uma expressão séria e concentrada, mas que não transmitia nada mais que pura dor. Estava sendo especialmente difícil para ela. Não éramos apenas irmãos, mas irmãos gêmeos e melhores amigos. Desde que nascemos, dependemos um do outro, nos apoiamos e nos ajudamos. Brigamos muitas vezes, mas um estava sempre lá quando o outro precisava. Agora ela teria que aprender a viver sem isso.
Lord make me a rainbow, I'll shine down on my mother
She'll know I'm safe with you when she stands under my colors, oh and
Life ain't always what you think it ought to be, no
Ain't even grey, but she buries her baby
Meus tios estavam ao lado da minha família. Tio Demetri estava com a mesma expressão de Julie, mas tia Karen não conseguia esconder a tristeza. Ela chorava sem parar e estava sendo amparada pelo marido. Alexis só tinha 15 anos, sempre foi o xodó de toda a família Karev. Parvati não estava lá. Ainda estava no hospital, em coma, e quando acordar alguém terá que contar a ela que não sobrevivemos.
Ela vai se culpar e dizer que ela é quem deveria ter morrido no nosso lugar. Não é verdade. Todos têm seu tempo, e não era o dela. Não a culpo pelo acidente. Ela estava dirigindo e estava alterada, mas foi um acidente. Parvati não tinha a intenção de bater de frente com aquele caminhão e teria que aceitar que tudo não passou de uma terrível fatalidade.
If I die young bury me in satin
Lay me down on a bed of roses
Sink me in the river at dawn
Send me away with the words of a love song
Os meninos foram os últimos a chegar ao enterro. Ozzy estava em casa, se recusando a sair. Foi preciso uma comitiva formada por Oleg, Alec, Lucian e Finn para convencê-lo de que seu lugar era lá, ao lado do irmão, que precisava mais do que nunca do seu apoio. Por fim todos chegaram ao cemitério e Edgar se afastou do consolo dos pais e abraçou o irmão com força, enterrando o rosto em seu paletó. Ozzy afagou seus cabelos e chorou junto dele.
There's a boy here in town says he'll love me forever
Who would have thought forever could be severed by
The sharp knife of a short life, well
I've had just enough time
Alec procurou consolo no abraço do namorado e Robbie se sentiu aliviado ao poder descarregar um pouco do peso que estava sentindo naquele abraço. Estava sendo um verão difícil para ele. Tinham coisas demais ocupando sua mente e o preocupando. A perda de dois amigos, Parvati em coma no hospital e Leonora que havia desaparecido e não sabia o que estava acontecendo. Tudo estava pesando em seus ombros e ele não sabia o que fazer ou com o que se preocupar primeiro.
A penny for my thoughts, oh no I'll sell them for a dollar
They're worth so much more after I'm a goner
And maybe then you'll hear the words I been singin'
Funny when you're dead how people start listenin'
Nossos caixões desceram e as pessoas começaram a cumprimentar meus pais, minha irmã e meus tios. Foram longos minutos ouvindo o quanto as pessoas sentiam e recebendo condolências. Muitos professores de Durmstrang estavam ali, tão abalados quanto os amigos que também vieram. Muitos eu nem conhecia tão bem, mas já havia trocado uma palavra ou outra. Nossa morte havia afetado mais pessoas do que eu poderia imaginar. Depois de um tempo mamãe desmaiou e tio Demetri precisou socorrê-la. Queria poder abraçá-la e dizer que tudo ficaria bem, mas ela teria que descobrir isso com o tempo.
- Ela está bem? – Alexis sentou ao meu lado e observou a comoção no cemitério em volta de minha mãe. Chewie, seu Cocker Spaniel que havia morrido ano passado estava lambendo seu rosto. Ele estava lá para nos receber quando chegamos, sentado obediente ao lado do vovô.
- Vai ficar - Chewie lambeu minha orelha, feliz por nos ter de volta – Só precisa de um pouco de ar.
- Eddie não parece bem – ela suspirou ao falar dele – Começamos a namorar a menos uma semana, ele foi meu primeiro beijo.
- Ele vai ficar bem também – sorri para ela – Ozzy vai ajudá-lo.
- E quem vai ajudar o Ozzy?
- Parvati – e ela me olhou descrente – Você entendeu porque ela não fez a travessia, não é? – e ela fez que não com a cabeça – Parvati não estava pronta. Você e eu estávamos felizes, não deixamos nada pendente, mas ela ainda não aprendeu tudo.
- Mas ela não sobreviveu por acaso, foram seus amigos.
- Sim, verdade, mas se ela estivesse pronta teria nos seguido. Ela precisou voltar, ainda tem muitas coisas a aprender.
- E Ozzy vai ajudar ela com isso? Não vejo isso acontecendo.
- Eles vão se ajudar. Vai ser demorado e difícil, mas um precisa do outro mais do que nunca agora e com o tempo eles vão compreender isso.
- Estou preocupada com ela. Não há nada que possamos fazer?
- Muito pouco, mas não se preocupe, vou fazer tudo que estiver ao meu alcance – ela sorriu ainda preocupada e cocei atrás da orelha de Chewie, que latiu feliz.
Morremos cedo, é verdade. Mas não deixamos de fazer nada enquanto vivemos. Foi por isso que não ficamos, embora Oleg não tenha compreendido quando nos viu fazer a travessia. Parvati ainda precisava entender e aprender muitas coisas. Ia ser um longo caminho até que ela chegasse a esse entendimento, mas estaríamos aqui para guiá-la no que pudéssemos. Íamos ser seus anjos da guarda. Ela ia ficar bem.
The sharp knife of a short life, well
I've had just enough time
N.A.: If I Die Young – The Brand Perry
The wounds remain. In time, the mind, protecting its sanity, covers them with scar tissue, and the pain lessens, but it is never gone’
Rose Kennedy
Hoje era o dia do meu enterro. Meu e da minha prima, Alexis. Nossa família está arrasada. Foi despedaçada de uma hora pra outra de uma maneira muito bruta. Vendo-os daqui, não parece que um dia vão se recuperar, mas sei que vão ficar bem. As expressões duras e machucadas que vejo enquanto cercam nossos caixões uma hora irão se desfazer e a dor não vai passar, mas vai diminuir.
Meus pais estavam de pé ao lado do meu caixão, ambos com os rostos molhados de lágrimas. Papai tentava ser forte para consolar minha mãe, mas todos conseguiam sentir o seu sofrimento. Julie estava de pé ao lado deles, papai apertando seu ombro esquerdo. Ela não chorava. Mantinha uma expressão séria e concentrada, mas que não transmitia nada mais que pura dor. Estava sendo especialmente difícil para ela. Não éramos apenas irmãos, mas irmãos gêmeos e melhores amigos. Desde que nascemos, dependemos um do outro, nos apoiamos e nos ajudamos. Brigamos muitas vezes, mas um estava sempre lá quando o outro precisava. Agora ela teria que aprender a viver sem isso.
Lord make me a rainbow, I'll shine down on my mother
She'll know I'm safe with you when she stands under my colors, oh and
Life ain't always what you think it ought to be, no
Ain't even grey, but she buries her baby
Meus tios estavam ao lado da minha família. Tio Demetri estava com a mesma expressão de Julie, mas tia Karen não conseguia esconder a tristeza. Ela chorava sem parar e estava sendo amparada pelo marido. Alexis só tinha 15 anos, sempre foi o xodó de toda a família Karev. Parvati não estava lá. Ainda estava no hospital, em coma, e quando acordar alguém terá que contar a ela que não sobrevivemos.
Ela vai se culpar e dizer que ela é quem deveria ter morrido no nosso lugar. Não é verdade. Todos têm seu tempo, e não era o dela. Não a culpo pelo acidente. Ela estava dirigindo e estava alterada, mas foi um acidente. Parvati não tinha a intenção de bater de frente com aquele caminhão e teria que aceitar que tudo não passou de uma terrível fatalidade.
If I die young bury me in satin
Lay me down on a bed of roses
Sink me in the river at dawn
Send me away with the words of a love song
Os meninos foram os últimos a chegar ao enterro. Ozzy estava em casa, se recusando a sair. Foi preciso uma comitiva formada por Oleg, Alec, Lucian e Finn para convencê-lo de que seu lugar era lá, ao lado do irmão, que precisava mais do que nunca do seu apoio. Por fim todos chegaram ao cemitério e Edgar se afastou do consolo dos pais e abraçou o irmão com força, enterrando o rosto em seu paletó. Ozzy afagou seus cabelos e chorou junto dele.
There's a boy here in town says he'll love me forever
Who would have thought forever could be severed by
The sharp knife of a short life, well
I've had just enough time
Alec procurou consolo no abraço do namorado e Robbie se sentiu aliviado ao poder descarregar um pouco do peso que estava sentindo naquele abraço. Estava sendo um verão difícil para ele. Tinham coisas demais ocupando sua mente e o preocupando. A perda de dois amigos, Parvati em coma no hospital e Leonora que havia desaparecido e não sabia o que estava acontecendo. Tudo estava pesando em seus ombros e ele não sabia o que fazer ou com o que se preocupar primeiro.
A penny for my thoughts, oh no I'll sell them for a dollar
They're worth so much more after I'm a goner
And maybe then you'll hear the words I been singin'
Funny when you're dead how people start listenin'
Nossos caixões desceram e as pessoas começaram a cumprimentar meus pais, minha irmã e meus tios. Foram longos minutos ouvindo o quanto as pessoas sentiam e recebendo condolências. Muitos professores de Durmstrang estavam ali, tão abalados quanto os amigos que também vieram. Muitos eu nem conhecia tão bem, mas já havia trocado uma palavra ou outra. Nossa morte havia afetado mais pessoas do que eu poderia imaginar. Depois de um tempo mamãe desmaiou e tio Demetri precisou socorrê-la. Queria poder abraçá-la e dizer que tudo ficaria bem, mas ela teria que descobrir isso com o tempo.
- Ela está bem? – Alexis sentou ao meu lado e observou a comoção no cemitério em volta de minha mãe. Chewie, seu Cocker Spaniel que havia morrido ano passado estava lambendo seu rosto. Ele estava lá para nos receber quando chegamos, sentado obediente ao lado do vovô.
- Vai ficar - Chewie lambeu minha orelha, feliz por nos ter de volta – Só precisa de um pouco de ar.
- Eddie não parece bem – ela suspirou ao falar dele – Começamos a namorar a menos uma semana, ele foi meu primeiro beijo.
- Ele vai ficar bem também – sorri para ela – Ozzy vai ajudá-lo.
- E quem vai ajudar o Ozzy?
- Parvati – e ela me olhou descrente – Você entendeu porque ela não fez a travessia, não é? – e ela fez que não com a cabeça – Parvati não estava pronta. Você e eu estávamos felizes, não deixamos nada pendente, mas ela ainda não aprendeu tudo.
- Mas ela não sobreviveu por acaso, foram seus amigos.
- Sim, verdade, mas se ela estivesse pronta teria nos seguido. Ela precisou voltar, ainda tem muitas coisas a aprender.
- E Ozzy vai ajudar ela com isso? Não vejo isso acontecendo.
- Eles vão se ajudar. Vai ser demorado e difícil, mas um precisa do outro mais do que nunca agora e com o tempo eles vão compreender isso.
- Estou preocupada com ela. Não há nada que possamos fazer?
- Muito pouco, mas não se preocupe, vou fazer tudo que estiver ao meu alcance – ela sorriu ainda preocupada e cocei atrás da orelha de Chewie, que latiu feliz.
Morremos cedo, é verdade. Mas não deixamos de fazer nada enquanto vivemos. Foi por isso que não ficamos, embora Oleg não tenha compreendido quando nos viu fazer a travessia. Parvati ainda precisava entender e aprender muitas coisas. Ia ser um longo caminho até que ela chegasse a esse entendimento, mas estaríamos aqui para guiá-la no que pudéssemos. Íamos ser seus anjos da guarda. Ela ia ficar bem.
The sharp knife of a short life, well
I've had just enough time
N.A.: If I Die Young – The Brand Perry
Friday, July 29, 2011
- Lucian, o Reno é o melhor professor que existe, eu já disse isso? – Ozzy comentou, pela quarta vez pelo menos.
- Sim, Ozzy, umas cinco vezes só hoje. – Eu falei rindo. Estávamos sentados na sala da minha casa e Ozzy não escondia o nervosismo. Todos os seus equipamentos de Hockey estavam prontos em uma mochila que eu ajudei a organizar. Reno combinara de ir buscar o Ozzy na hora marcada para o treino e ele por vez quis esperar em minha casa. Todos nossos amigos já tinham ido para a festa de Sófia, ainda estava cedo é verdade, mas todos queriam aproveitar ao máximo essa festa. Eu disse que só iria depois que Ozzy fosse fazer seu teste.
- É ele! – Ozzy falou e levantou para atender a porta.
- Fique a vontade, a casa é sua né? – Eu falei rindo e o acompanhei, mas ele me ignorou e abriu a porta. Era Reno realmente e eu esperava seu sorriso calmo e acolhedor, mas ele estava sério e irritado.
- O que houve? – Eu e Ozzy perguntamos juntos. Reno entrou resmungando e se virou para nós.
- Um problema. Eu acabei de ligar para o Vancouver Canucks para confirmar seu teste e descobri que houve um grande problema.
- O que aconteceu? Eles não querem me dar o teste? – Ozzy perguntou e vi os seus olhos afundarem.
- Pior. Eles deram sua entrevista para outra pessoa, há duas semanas atrás. O técnico pareceu confuso ao falar comigo, dizendo que eles já tinham contratado a pessoa que eu indiquei.
- Mas como? A duas semanas o Ozzy mal tinha descoberto da entrevista! – Eu falei, chocado.
- Eu pedi que ele conferisse e me dissesse o nome da pessoa contratada. Ele alegou que houve uma troca de nomes.
- Quem tomou minha vaga? – Ozzy perguntou e notei sua voz ao mesmo tempo triste e com raiva.
- Quero que fique calmo, Ozzy, não podemos fazer nada agora. Mas vou arranjar outro teste para você a qualquer custo. Foi o Lukas Oliver Hölzenben.
- O que?! AQUELE IDIOTA?! – Ozzy explodiu e tentamos acalmá-lo.
- Ozzy, fica calmo, houve um engano! – Eu falei, mas ele andava de um lado para o outro da minha sala, bufando.
- Exatamente ele. Como ele conseguiu eu não sei. Ozzy me desculpa, não poderei fazer nada hoje. Mas prometo que te ajudarei novamente. – Reno falou e Ozzy agradeceu a ele, sabendo que Reno não tinha culpa. Reno se despediu de nós e eu fechei a porta. Ao me virar Ozzy deixava toda a sua raiva transparecer e começou a gritar.
- Foi aquela vadia da Karev! Ela me paga, Lucian, ela me paga! – Dizendo isso, ele sacou a varinha e desaparatou. Eu xinguei e tentei segurá-lo, mas era tarde demais.
Eu sabia que tinha que ir atrás dele imediatamente, mas como? Eu faria os testes de aparatação na semana seguinte. Parvati só poderia estar na casa de sua família, por sorte junto de Julie e Jack e acreditei que eles seriam capaz de impedir Ozzy de fazer uma burrice. Peguei o carro dos meus pais e dirigi rapidamente para lá, mas eles moravam em um terreno afastado do centro de Sófia. Assim que abri o carro, liguei para Oleg do meu celular. Ele atendeu depois do quarto toque.
- Oi Lucian, está perdendo o início da festa! O Ozzy já foi?
- Oleg! – Eu gritei no telefone e ele logo ficou preocupado. – Vocês precisam ir para a casa do Jack agora! Ozzy saiu daqui possesso. A Parvati cancelou o teste dele para os Vancouvers!
- Por Odin... – Oleg praguejou. – O que o Ozzy vai fazer?
- Você acha que eu sei? Eu estou indo pra lá de carro agora, mas vou demorar muito. Vá rápido Oleg, tenho um mal pressentimento.
Não precisei dizer duas vezes e Oleg desligou o telefone, mas ouvi ele chamando Alec. Os dois chegariam antes de mim com certeza. Para chegar mais rápido que eu pudesse lá, peguei um atalho numa estrada de terra e dirigi mais rápido do que estou acostumado, mas cheguei na casa dos Karev em menos de 15 minutos. Eu não vi nem sinal de Ozzy ou dos gêmeos, mas corri para a porta e toquei a companhia. A casa estava silenciosa demais para o que eu esperava encontrar. Foi Nina, a amiga de Julie que atendeu, e logo atrás estava Julie.
- Lucian? Estávamos de saída agora. – Nina falou e eu entrei na casa pedindo desculpas, ela pareceu um pouco assustada, mas Julie logo entendeu.
- Eles já saíram Lu. Os gêmeos vieram buscar o Ozzy. – Julie falou e sua voz estava cansada. – Eu estava só esperando a Nina para irmos para a festa, eles devem estar lá já.
- E a Parvati? Julie, o que ela fez foi horrível! Ela destruiu os sonhos do Ozzy! – Eu falei irritado. Julie concordou comigo e vi seus olhos duros.
- Eu concordo. Mas o Ozzy falou tantas besteiras aqui, Lu. Ele disse coisas horríveis. Minhas primas e meu irmão saíram pouco antes deles.
- Ele saiu da minha casa possesso. Tive que ligar para o Oleg e pedir a ajuda deles. – Eu falei e me sentei, respirando mais aliviado.
- Eles chegaram a tempo. Não passou por eles na estrada? – Nina perguntou.
- Não, eu peguei um atalho. Vocês querem carona? – Eu perguntei indicando o carro.
- Eu aceito, ia chamar um taxi agora. – Julie falou e saímos juntos da casa.
Julie sentou ao meu lado no carona e Nina sentou atrás. Estava um clima tenso no carro, mas conseguimos conversar mais calmamente após um tempo. Julie me perguntou se Lis iria na festa e eu disse que sim. Ela comentou que Lenneth iria com Patrick e notei que ela não gostava muito dele. Perguntei o porque, quando ouvi as sirenes.
Fizemos uma curva na estrada e me deparei com um acidente horrível. Um carro batera de frente a um caminhão. O carro estava todo amassado e os vidros da frente estavam destruídos. O caminhão estava amassado também e vi os paramédicos retirando o corpo do motorista dali. Senti quando Julie segurou meu braço com força.
- Lucian, pára o carro! É o carro do Jack! – Ele gritou e eu parei o carro imediatamente, pois ela já abria a porta e saia dele quase em movimento.
Nina e eu saímos do carro também e fui para o lado de Julie. Ela olhava com olhos vidrados para o carro, sem piscar e parecia ter medo de olhar em volta. Eu segurei sua mão, mas não obtive um aperto de volta. Nina segurou a outra mão dela, enquanto eu olhava ao redor aterrorizado.
Era o carro do Jack. E havia muito sangue em todos os lugares.
Os policiais e paramédicos andavam ao redor e vi um grupo deles subindo com macas cobertas por sacos. Julie soltou um pequeno grito e começou a chorar intensamente. Nina a abraçou e chorava também. Eu vi que também chorava.
- Não olhe. – Eu falei, abraçando-a também. Mas ela estava em choque, sem reação.
Eu olhei para Nina e pedi que cuidasse dela e fui até os policiais. O chefe deles me viu e me reconheceu, pois era freqüentador da minha livraria. Eu quis saber sobre o acidente e ele me disse que haviam três mortos. Apenas um deles sobreviveu e ele não sabia como.
Ele me levou até os corpos e levantou o saco para eu vê-los. Quase vomitei, mas me segurei e reconheci Jack e Alexis. Eu comecei a chorar mais intensamente. Jack fora um amigo para mim em todos esses anos e um excelente amigo. Alexis era amiga do meu irmão, sempre carinhosa e meiga, e começara a pouco tempo a namorar o Edgar. O chefe de polícia me segurou pelo ombro e eu disse que avisaria seus pais, mas eu falei que ligaria para eles.
Voltei para Julie, que continuava no mesmo lugar, e ajudei Nina a fazê-la sentar no meu carro. Chamei um dos paramédicos para olhá-la, enquanto eu pegava seu celular e ligava para Tio Viktor, pai de Jack e dela. O telefone demorou a atender e precisei ligar duas vezes, mas finalmente a voz alegre dele atendeu.
- Julie, cadê você? A festa está ótima! E seu irmão?
- Tio Viktor, é o Lucian.
- Lucian? Está tudo bem? Cadê a Julie? – Ele falou, sua voz pesada, pois notara meu tom de voz.
- Tio. Não sei como falar. Você deveria voltar para casa. Aconteceu um acidente na estrada. – Eu falei, mas comecei a chorar.
- Fica calmo, Lucian, me conte o que houve? – Ele falou e ouvi no fundo ele chamando a esposa e pegando as chaves do carro.
- O Jack e a Alexis. Sofreram um acidente. – Eu consegui falar entre lágrimas. Eu tinha me afastado para que Julie não me ouvisse. – A Parvati está em estado grave.
- E meu filho, minha sobrinha? – Ele perguntou, mas quando eu fiquei calado ele respondeu. – Estou indo para aí agora.
Ele desligou o telefone e eu voltei para Julie. Ela continuava a olhar para frente, sem perceber nem Nina, nem o paramédico ou eu. Eu contei que Parv tinha sobrevivido, mas ela pareceu não me ouvir.
--------------
Eu tive a péssima tarefa de avisar a quem pudesse e todos pareciam não acreditar.
O funeral foi poucos dias depois e muito triste. Eu entrei na sala um pouco no início e vi as fotos sorridentes de Jack e Alexis em grandes quadros. Haviam flores por todos os lugares e nossos amigos do Instituto estavam por todos os cantos, se apoiando e chorando. Haviam professores também e o próprio Ivanovich conversava tristemente com Tio Viktor.
Eu sai logo depois e fui para a casa do Ozzy. Ele estava trancado lá desde o dia do acidente e não queria ir ao velório. Eu, Alec, Oleg e Finn tentávamos convencê-lo a ir, mas ele não queria.
- Foi culpa minha. – Ele repetiu mais uma vez, enquanto olhava para frente.
- Não foi culpa sua Ozzy, foi uma fatalidade. – Finn respondeu, mas Ozzy olhou para mim e para os gêmeos e repetiu.
- Foi culpa minha! – Ele falou. Eu sabia da condição dele e de sua família e ele já tinha me dito isso. Ele achava que ele tinha hipnotizado-a e causado o acidente e nada que nós falássemos mudava isso.
- Ozzy, vamos ao funeral. Jack merecia isso. – Oleg falou, mas Ozzy o olhou com tristeza.
- Ele merecia estar vivo! Falando e rindo conosco! Não metido em um caixão! – Ele falou, quase gritando.
- Ozzy, ele foi nosso amigo, está sendo duro para todos! Mas não pode se abater assim. Pense nos outros. Seu irmão está arrasado! A Julie ainda parece em estado de choque. Isso é egoísmo seu. – Eu falei e ele me olhou irritado.
- Lu está certo, Ozzy. Seu irmão está sofrendo tanto quanto a gente ou até mais, era a namorada dele. – Alec falou e Ozzy nos olhou por um longo tempo. Pensar em seu irmão acho que o fez se decidir.
- Tudo bem, eu vou. – Ele falou e se levantou.
Esperamos enquanto ele se arrumava e fomos juntos para o funeral.
Assim que entramos no salão e os outros nos viram, Edgar saiu correndo de perto dos pais e se jogou nos braços de Ozzy, abraçando-o com força. Ele parecia não ser mais capaz de chorar e Ozzy acariciou sua cabeça. Julie nem notou nossa entrada, estava ao lado dos pais e evitava falar com qualquer um. Karen, a mãe de Parvati e prefeita de Sófia, estava série e mantendo a compostura, mas muito triste e agora conversava com Ivanovich.
Fui na direção dos meus amigos, junto de Finn, Oleg e Alec, enquanto deixávamos Ozzy e seu irmão a sós. Lis chorava abraçada a Lenneth, que também chorava muito. Patrick estava sentado do lado delas, imponente. Assim que cheguei perto, apertei sua mão e ele me desejou suas condolências. Quando ouviram minha voz, Lis e Lenneth se afastaram e me olharam, as duas com olhos cheios de lágrimas. Lis se levantou e me abraçou, chorando em meu pescoço. A abracei também, tentando ser forte, mas então Lenneth se levantou e me abraçou também. Eu abracei as duas tentando confortá-las, mas eu comecei a chorar também. De relance vi que Patrick não gostou de Lenneth procurar a mim e não ele, mas ignorei isso. Tinha coisas muito mais sérias para pensar e me preocupar. Dois jovens estavam mortos, dois amigos, tão cedo e de forma tão horrível.
- Sim, Ozzy, umas cinco vezes só hoje. – Eu falei rindo. Estávamos sentados na sala da minha casa e Ozzy não escondia o nervosismo. Todos os seus equipamentos de Hockey estavam prontos em uma mochila que eu ajudei a organizar. Reno combinara de ir buscar o Ozzy na hora marcada para o treino e ele por vez quis esperar em minha casa. Todos nossos amigos já tinham ido para a festa de Sófia, ainda estava cedo é verdade, mas todos queriam aproveitar ao máximo essa festa. Eu disse que só iria depois que Ozzy fosse fazer seu teste.
- É ele! – Ozzy falou e levantou para atender a porta.
- Fique a vontade, a casa é sua né? – Eu falei rindo e o acompanhei, mas ele me ignorou e abriu a porta. Era Reno realmente e eu esperava seu sorriso calmo e acolhedor, mas ele estava sério e irritado.
- O que houve? – Eu e Ozzy perguntamos juntos. Reno entrou resmungando e se virou para nós.
- Um problema. Eu acabei de ligar para o Vancouver Canucks para confirmar seu teste e descobri que houve um grande problema.
- O que aconteceu? Eles não querem me dar o teste? – Ozzy perguntou e vi os seus olhos afundarem.
- Pior. Eles deram sua entrevista para outra pessoa, há duas semanas atrás. O técnico pareceu confuso ao falar comigo, dizendo que eles já tinham contratado a pessoa que eu indiquei.
- Mas como? A duas semanas o Ozzy mal tinha descoberto da entrevista! – Eu falei, chocado.
- Eu pedi que ele conferisse e me dissesse o nome da pessoa contratada. Ele alegou que houve uma troca de nomes.
- Quem tomou minha vaga? – Ozzy perguntou e notei sua voz ao mesmo tempo triste e com raiva.
- Quero que fique calmo, Ozzy, não podemos fazer nada agora. Mas vou arranjar outro teste para você a qualquer custo. Foi o Lukas Oliver Hölzenben.
- O que?! AQUELE IDIOTA?! – Ozzy explodiu e tentamos acalmá-lo.
- Ozzy, fica calmo, houve um engano! – Eu falei, mas ele andava de um lado para o outro da minha sala, bufando.
- Exatamente ele. Como ele conseguiu eu não sei. Ozzy me desculpa, não poderei fazer nada hoje. Mas prometo que te ajudarei novamente. – Reno falou e Ozzy agradeceu a ele, sabendo que Reno não tinha culpa. Reno se despediu de nós e eu fechei a porta. Ao me virar Ozzy deixava toda a sua raiva transparecer e começou a gritar.
- Foi aquela vadia da Karev! Ela me paga, Lucian, ela me paga! – Dizendo isso, ele sacou a varinha e desaparatou. Eu xinguei e tentei segurá-lo, mas era tarde demais.
Eu sabia que tinha que ir atrás dele imediatamente, mas como? Eu faria os testes de aparatação na semana seguinte. Parvati só poderia estar na casa de sua família, por sorte junto de Julie e Jack e acreditei que eles seriam capaz de impedir Ozzy de fazer uma burrice. Peguei o carro dos meus pais e dirigi rapidamente para lá, mas eles moravam em um terreno afastado do centro de Sófia. Assim que abri o carro, liguei para Oleg do meu celular. Ele atendeu depois do quarto toque.
- Oi Lucian, está perdendo o início da festa! O Ozzy já foi?
- Oleg! – Eu gritei no telefone e ele logo ficou preocupado. – Vocês precisam ir para a casa do Jack agora! Ozzy saiu daqui possesso. A Parvati cancelou o teste dele para os Vancouvers!
- Por Odin... – Oleg praguejou. – O que o Ozzy vai fazer?
- Você acha que eu sei? Eu estou indo pra lá de carro agora, mas vou demorar muito. Vá rápido Oleg, tenho um mal pressentimento.
Não precisei dizer duas vezes e Oleg desligou o telefone, mas ouvi ele chamando Alec. Os dois chegariam antes de mim com certeza. Para chegar mais rápido que eu pudesse lá, peguei um atalho numa estrada de terra e dirigi mais rápido do que estou acostumado, mas cheguei na casa dos Karev em menos de 15 minutos. Eu não vi nem sinal de Ozzy ou dos gêmeos, mas corri para a porta e toquei a companhia. A casa estava silenciosa demais para o que eu esperava encontrar. Foi Nina, a amiga de Julie que atendeu, e logo atrás estava Julie.
- Lucian? Estávamos de saída agora. – Nina falou e eu entrei na casa pedindo desculpas, ela pareceu um pouco assustada, mas Julie logo entendeu.
- Eles já saíram Lu. Os gêmeos vieram buscar o Ozzy. – Julie falou e sua voz estava cansada. – Eu estava só esperando a Nina para irmos para a festa, eles devem estar lá já.
- E a Parvati? Julie, o que ela fez foi horrível! Ela destruiu os sonhos do Ozzy! – Eu falei irritado. Julie concordou comigo e vi seus olhos duros.
- Eu concordo. Mas o Ozzy falou tantas besteiras aqui, Lu. Ele disse coisas horríveis. Minhas primas e meu irmão saíram pouco antes deles.
- Ele saiu da minha casa possesso. Tive que ligar para o Oleg e pedir a ajuda deles. – Eu falei e me sentei, respirando mais aliviado.
- Eles chegaram a tempo. Não passou por eles na estrada? – Nina perguntou.
- Não, eu peguei um atalho. Vocês querem carona? – Eu perguntei indicando o carro.
- Eu aceito, ia chamar um taxi agora. – Julie falou e saímos juntos da casa.
Julie sentou ao meu lado no carona e Nina sentou atrás. Estava um clima tenso no carro, mas conseguimos conversar mais calmamente após um tempo. Julie me perguntou se Lis iria na festa e eu disse que sim. Ela comentou que Lenneth iria com Patrick e notei que ela não gostava muito dele. Perguntei o porque, quando ouvi as sirenes.
Fizemos uma curva na estrada e me deparei com um acidente horrível. Um carro batera de frente a um caminhão. O carro estava todo amassado e os vidros da frente estavam destruídos. O caminhão estava amassado também e vi os paramédicos retirando o corpo do motorista dali. Senti quando Julie segurou meu braço com força.
- Lucian, pára o carro! É o carro do Jack! – Ele gritou e eu parei o carro imediatamente, pois ela já abria a porta e saia dele quase em movimento.
Nina e eu saímos do carro também e fui para o lado de Julie. Ela olhava com olhos vidrados para o carro, sem piscar e parecia ter medo de olhar em volta. Eu segurei sua mão, mas não obtive um aperto de volta. Nina segurou a outra mão dela, enquanto eu olhava ao redor aterrorizado.
Era o carro do Jack. E havia muito sangue em todos os lugares.
Os policiais e paramédicos andavam ao redor e vi um grupo deles subindo com macas cobertas por sacos. Julie soltou um pequeno grito e começou a chorar intensamente. Nina a abraçou e chorava também. Eu vi que também chorava.
- Não olhe. – Eu falei, abraçando-a também. Mas ela estava em choque, sem reação.
Eu olhei para Nina e pedi que cuidasse dela e fui até os policiais. O chefe deles me viu e me reconheceu, pois era freqüentador da minha livraria. Eu quis saber sobre o acidente e ele me disse que haviam três mortos. Apenas um deles sobreviveu e ele não sabia como.
Ele me levou até os corpos e levantou o saco para eu vê-los. Quase vomitei, mas me segurei e reconheci Jack e Alexis. Eu comecei a chorar mais intensamente. Jack fora um amigo para mim em todos esses anos e um excelente amigo. Alexis era amiga do meu irmão, sempre carinhosa e meiga, e começara a pouco tempo a namorar o Edgar. O chefe de polícia me segurou pelo ombro e eu disse que avisaria seus pais, mas eu falei que ligaria para eles.
Voltei para Julie, que continuava no mesmo lugar, e ajudei Nina a fazê-la sentar no meu carro. Chamei um dos paramédicos para olhá-la, enquanto eu pegava seu celular e ligava para Tio Viktor, pai de Jack e dela. O telefone demorou a atender e precisei ligar duas vezes, mas finalmente a voz alegre dele atendeu.
- Julie, cadê você? A festa está ótima! E seu irmão?
- Tio Viktor, é o Lucian.
- Lucian? Está tudo bem? Cadê a Julie? – Ele falou, sua voz pesada, pois notara meu tom de voz.
- Tio. Não sei como falar. Você deveria voltar para casa. Aconteceu um acidente na estrada. – Eu falei, mas comecei a chorar.
- Fica calmo, Lucian, me conte o que houve? – Ele falou e ouvi no fundo ele chamando a esposa e pegando as chaves do carro.
- O Jack e a Alexis. Sofreram um acidente. – Eu consegui falar entre lágrimas. Eu tinha me afastado para que Julie não me ouvisse. – A Parvati está em estado grave.
- E meu filho, minha sobrinha? – Ele perguntou, mas quando eu fiquei calado ele respondeu. – Estou indo para aí agora.
Ele desligou o telefone e eu voltei para Julie. Ela continuava a olhar para frente, sem perceber nem Nina, nem o paramédico ou eu. Eu contei que Parv tinha sobrevivido, mas ela pareceu não me ouvir.
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Eu tive a péssima tarefa de avisar a quem pudesse e todos pareciam não acreditar.
O funeral foi poucos dias depois e muito triste. Eu entrei na sala um pouco no início e vi as fotos sorridentes de Jack e Alexis em grandes quadros. Haviam flores por todos os lugares e nossos amigos do Instituto estavam por todos os cantos, se apoiando e chorando. Haviam professores também e o próprio Ivanovich conversava tristemente com Tio Viktor.
Eu sai logo depois e fui para a casa do Ozzy. Ele estava trancado lá desde o dia do acidente e não queria ir ao velório. Eu, Alec, Oleg e Finn tentávamos convencê-lo a ir, mas ele não queria.
- Foi culpa minha. – Ele repetiu mais uma vez, enquanto olhava para frente.
- Não foi culpa sua Ozzy, foi uma fatalidade. – Finn respondeu, mas Ozzy olhou para mim e para os gêmeos e repetiu.
- Foi culpa minha! – Ele falou. Eu sabia da condição dele e de sua família e ele já tinha me dito isso. Ele achava que ele tinha hipnotizado-a e causado o acidente e nada que nós falássemos mudava isso.
- Ozzy, vamos ao funeral. Jack merecia isso. – Oleg falou, mas Ozzy o olhou com tristeza.
- Ele merecia estar vivo! Falando e rindo conosco! Não metido em um caixão! – Ele falou, quase gritando.
- Ozzy, ele foi nosso amigo, está sendo duro para todos! Mas não pode se abater assim. Pense nos outros. Seu irmão está arrasado! A Julie ainda parece em estado de choque. Isso é egoísmo seu. – Eu falei e ele me olhou irritado.
- Lu está certo, Ozzy. Seu irmão está sofrendo tanto quanto a gente ou até mais, era a namorada dele. – Alec falou e Ozzy nos olhou por um longo tempo. Pensar em seu irmão acho que o fez se decidir.
- Tudo bem, eu vou. – Ele falou e se levantou.
Esperamos enquanto ele se arrumava e fomos juntos para o funeral.
Assim que entramos no salão e os outros nos viram, Edgar saiu correndo de perto dos pais e se jogou nos braços de Ozzy, abraçando-o com força. Ele parecia não ser mais capaz de chorar e Ozzy acariciou sua cabeça. Julie nem notou nossa entrada, estava ao lado dos pais e evitava falar com qualquer um. Karen, a mãe de Parvati e prefeita de Sófia, estava série e mantendo a compostura, mas muito triste e agora conversava com Ivanovich.
Fui na direção dos meus amigos, junto de Finn, Oleg e Alec, enquanto deixávamos Ozzy e seu irmão a sós. Lis chorava abraçada a Lenneth, que também chorava muito. Patrick estava sentado do lado delas, imponente. Assim que cheguei perto, apertei sua mão e ele me desejou suas condolências. Quando ouviram minha voz, Lis e Lenneth se afastaram e me olharam, as duas com olhos cheios de lágrimas. Lis se levantou e me abraçou, chorando em meu pescoço. A abracei também, tentando ser forte, mas então Lenneth se levantou e me abraçou também. Eu abracei as duas tentando confortá-las, mas eu comecei a chorar também. De relance vi que Patrick não gostou de Lenneth procurar a mim e não ele, mas ignorei isso. Tinha coisas muito mais sérias para pensar e me preocupar. Dois jovens estavam mortos, dois amigos, tão cedo e de forma tão horrível.
Wednesday, July 27, 2011
- Acalme ele, Jules. E quando ele estiver raciocinando outra vez, vamos conversar – Jack apontou para Ozzy com um olhar sério e saiu atrás de Parvati.
- Essa garota vai me pagar, Julie – ele cuspia as palavras, ainda nervoso – Isso não vai ficar assim, ela não pode destruir a vida das pessoas desse jeito e sair impune! Era o sonho da minha vida! Sabe o quanto eu queria isso?
- Sim, eu sei – ela sentou ao seu lado e passou a mão em suas costas – O que ela fez foi cruel e garanto que vai pagar por isso, mas não vai ser você que vai fazer justiça. Vou contar a minha tia e ela mesma vai se encarregar de puni-la.
- Queria que ela fosse um garoto, porque minha vontade quando entrei aqui era arrebentar ela toda.
- Sei que não é o momento, mas lembra ano passado, quando você estava colocando talco no secador de cabelo dela e eu disse para não fazer isso, porque minha prima não tinha limites e não ia parar até machucá-lo de verdade?
- Tem razão – ele apoiou a cabeça nas mãos – Não é hora pra isso.
- Ozzy! – a porta tornou a abrir e Oleg e Alec entraram esbaforidos.
- Chegaram um pouco tarde, Hardy Boys – Julie os olhou zangada – O estrago já foi feito.
- Ah cara, o que você fez? – Alec andava de um lado para o outro, preocupado.
- Gritou meia dúzia de verdades na cara dela e a xingou de tudo que vocês possam imaginar – Julie respondeu pelo amigo.
- Não conseguimos segurá-lo – Oleg explicou – Quando Lucian ligou pra contar o que tinha acontecido, ele já tinha saído furioso de casa. Viemos pra cá porque sabíamos que ele ia atrás dela arrumar confusão.
- Melhor vocês levarem ele pra festa da cidade, pra espairecer um pouco.
- Não, não quero mais ir pra festa nenhuma – Ozzy levantou do sofá – Meu dia já foi estragado.
- Vai pra festa sim, ficar em casa só vai fazer você se irritar mais – Julie falou em um tom mandão – Vá pra festa, se distraia e fique longe da Parvati.
- Você não vai? – Alec perguntou vendo que a amiga ainda não estava arrumada.
- Não ando nessas motos de vocês – eles riram – E tenho que esperar a Nina. Mantenham-no longe de confusão até eu chegar, acham que podem fazer isso?
- Sim mestre Yoda – Oleg fez uma reverencia e Julie riu – Vamos Anakin. Temos que tirar a raiva de dentro de você antes que seja seduzido pelo lado negro da força.
Alec e Oleg escoltaram Ozzy para fora da casa e voltaram às motos estacionadas no jardim. O caminho até o centro de Sofia não era longo, mas a mansão dos Karev ficava em uma região afastada e para sair dela eram obrigados a passar por uma rodovia longe da civilização. Os gêmeos iam ladeando Ozzy, sempre atentos a qualquer movimento, mas a escolta foi interrompida quando passaram por um caminhão parado na beira da estrada. Ele estava com a frente da carreta completamente destruída e o motorista pendurado no vidro quebrado do painel.
- Está morto? – Alec perguntou ao irmão, que se aproximou do caminhão.
- Sim – confirmou, voltando para junto dos outros – No que ele bateu?
- Ali – Ozzy apontou para outro veiculo. Tinha capotado e rolado da ribanceira - Aquele não é o carro do Jack?
Os três se olharam apavorados e desceram a ribanceira correndo. Era o carro de Jack, eles já tinham certeza disso, mas não havia ninguém dentro dele. Oleg e Ozzy agacharam para ver se o amigo estava preso nos bancos, mas o grito de Alec entregou a localização do corpo. Corpos. Quando os dois viraram para onde o garoto estava, viram o corpo de Jack estirado ao seu pé, uma menina loira que eles reconheceram como a namorada de Edgar perto dele e um pouco mais a frente, Parvati. Os três estavam mortos.
- NÃO! JACK! – Alec se jogou aos pés do amigo, chorando.
- Não, não. Não pode – Ozzy correu até ele, também chorando – Jack, não.
- Jack e Alexis já fizeram a travessia – Oleg falou com uma voz sem emoção. Ele ainda estava parado perto do carro, em choque. – Parvati ainda está aqui.
- Como você sabe? – Ozzy perguntou secando as lágrimas.
- Posso ver suas almas. Jack acenou e disse que estava bem. Estava de mãos dadas com Alexis.
- Não! Jack, volte! – Ozzy começou a gritar desesperado – Podemos salvar você!
- Pare Ozzy – Alec segurou sua mão, mas ainda chorava muito – Não podemos fazer nada.
- Parvati! – Ozzy correu até o corpo da garota – Ela ainda está aqui? – Oleg confirmou com a cabeça – Podemos salvá-la.
- Não, não podemos. Não sabemos fazer isso e é contra as regras. – Alec sentou no chão, sem sair do lado de Jack e Alexis.
- Eu sei como – Oleg falou ainda sem emoção na voz – Vovô me ensinou. Disse que não devia fazer até ser um ancião, mas sei como funciona.
- Então faça! – Ozzy segurou a mão da garota que até alguns minutos estava amaldiçoando – Salve-a!
- Ozzy, pare com isso! – Alec ficou de pé, assustado com a reação do amigo – Eles morreram, não podemos fazer nada.
- Nós devemos isso ao Jack. Eu devo isso a ele.
- Você não deve nada, isso não foi culpa sua.
- Foi sim! Disse a ela para bater com o carro! – Ozzy agora estava em pânico – Eu a hipnotizei!
- Pare agora mesmo! – Alec o enfrentou – Você não fez nada, foi uma fatalidade.
- Posso fazer – Oleg agora se aproximou dos corpos – Mas não consigo sozinho, preciso que me ajudem. Não sou forte o bastante.
- Eu ajudo! – Ozzy ficou de pé e afastou Alec com as mãos – Vamos logo, antes que ela faça a travessia.
- Vocês não podem fazer isso, estarão quebrando umas 50 regras.
- Ninguém precisa saber, só vamos salvar sua vida – Oleg ajoelhou ao lado do corpo de Parvati.
- Está louco? – Alec agora gritava – Como ninguém vai saber? Ela vai voltar diferente, vai ser como nós! Quem vai explicar a ela sobre isso? Não contem comigo!
- Ela vai estar viva, não importa quem vai contar – Ozzy o encarou com um olhar suplicante – Por favor, Alec. Não vamos conseguir sem você. Só quero salvar a vida dela.
Alec tentou resistir, mas acabou cedendo ao apelo do amigo e se juntou a ele e ao irmão. Os três de ajoelharam em volta do corpo sem vida de Parvati e Oleg mandou que Ozzy colocasse um dos dedos em um ponto do corpo dela para ser usado como fio de ligação, mas não explicou o motivo. Ozzy obedeceu, pressionando o polegar direito em um ponto qualquer da sua cintura. Os outros dois juntaram as mãos e Oleg começou a entoar uma canção que nem Alec nem Ozzy compreendiam, mas reconheceram como sendo a canção usada pelos anciões nos rituais.
Oleg repetia as palavras cada vez mais depressa, acelerando a canção. Alec e Ozzy apenas observavam sem interromper e viram quando Oleg olhou para o lado e assentiu com a cabeça, mas eles não viam ninguém. No instante seguinte Ozzy sentiu como se algo tivesse mergulhado para dentro do corpo. Oleg olhou para o corpo e uma expressão de alivio tomou conta de seu rosto, misturado a algumas lágrimas que caíram durante a canção. Ozzy então entendeu que a canção estava chamando a alma de Parvati de volta a seu corpo e ela obedeceu ao comando.
- Está feito – Oleg quebrou o contato com o irmão e ficou de pé, secando as lágrimas com as mãos e olhando para o corpo do amigo próximo a eles - Desculpa Jack, queria ter feito isso por você.
- Ela está respirando – Ozzy encostou o ouvido no peito dela – Está muito fraco, mas está respirando.
- Então vamos embora – Alec ficou de pé também – Chamei a ambulância quando Oleg foi checar de o caminhoneiro estava vivo, eles já devem estar chegando e não quero ter que explicar como ela sobreviveu.
- Ela vai ficar bem? – Ozzy levantou, mas ainda estava inseguro – Mal está respirando e está muito machucada.
- Ela agora é uma Imortal, vai sobreviver – Alec o puxou pela manga da camisa – Já fizemos tudo que estava ao nosso alcance, o resto é com os paramédicos.
Ozzy ainda relutou em deixar o local, mas Oleg ajudou o irmão a puxá-lo para longe e os três subiram a ribanceira de volta para a estrada. Deram uma última olhada nos três corpos estirados na grama e ainda com lágrimas cobrindo seus rostos, subiram nas motos e partiram ao ouvirem o som da sirene da ambulância.
- Essa garota vai me pagar, Julie – ele cuspia as palavras, ainda nervoso – Isso não vai ficar assim, ela não pode destruir a vida das pessoas desse jeito e sair impune! Era o sonho da minha vida! Sabe o quanto eu queria isso?
- Sim, eu sei – ela sentou ao seu lado e passou a mão em suas costas – O que ela fez foi cruel e garanto que vai pagar por isso, mas não vai ser você que vai fazer justiça. Vou contar a minha tia e ela mesma vai se encarregar de puni-la.
- Queria que ela fosse um garoto, porque minha vontade quando entrei aqui era arrebentar ela toda.
- Sei que não é o momento, mas lembra ano passado, quando você estava colocando talco no secador de cabelo dela e eu disse para não fazer isso, porque minha prima não tinha limites e não ia parar até machucá-lo de verdade?
- Tem razão – ele apoiou a cabeça nas mãos – Não é hora pra isso.
- Ozzy! – a porta tornou a abrir e Oleg e Alec entraram esbaforidos.
- Chegaram um pouco tarde, Hardy Boys – Julie os olhou zangada – O estrago já foi feito.
- Ah cara, o que você fez? – Alec andava de um lado para o outro, preocupado.
- Gritou meia dúzia de verdades na cara dela e a xingou de tudo que vocês possam imaginar – Julie respondeu pelo amigo.
- Não conseguimos segurá-lo – Oleg explicou – Quando Lucian ligou pra contar o que tinha acontecido, ele já tinha saído furioso de casa. Viemos pra cá porque sabíamos que ele ia atrás dela arrumar confusão.
- Melhor vocês levarem ele pra festa da cidade, pra espairecer um pouco.
- Não, não quero mais ir pra festa nenhuma – Ozzy levantou do sofá – Meu dia já foi estragado.
- Vai pra festa sim, ficar em casa só vai fazer você se irritar mais – Julie falou em um tom mandão – Vá pra festa, se distraia e fique longe da Parvati.
- Você não vai? – Alec perguntou vendo que a amiga ainda não estava arrumada.
- Não ando nessas motos de vocês – eles riram – E tenho que esperar a Nina. Mantenham-no longe de confusão até eu chegar, acham que podem fazer isso?
- Sim mestre Yoda – Oleg fez uma reverencia e Julie riu – Vamos Anakin. Temos que tirar a raiva de dentro de você antes que seja seduzido pelo lado negro da força.
Alec e Oleg escoltaram Ozzy para fora da casa e voltaram às motos estacionadas no jardim. O caminho até o centro de Sofia não era longo, mas a mansão dos Karev ficava em uma região afastada e para sair dela eram obrigados a passar por uma rodovia longe da civilização. Os gêmeos iam ladeando Ozzy, sempre atentos a qualquer movimento, mas a escolta foi interrompida quando passaram por um caminhão parado na beira da estrada. Ele estava com a frente da carreta completamente destruída e o motorista pendurado no vidro quebrado do painel.
- Está morto? – Alec perguntou ao irmão, que se aproximou do caminhão.
- Sim – confirmou, voltando para junto dos outros – No que ele bateu?
- Ali – Ozzy apontou para outro veiculo. Tinha capotado e rolado da ribanceira - Aquele não é o carro do Jack?
Os três se olharam apavorados e desceram a ribanceira correndo. Era o carro de Jack, eles já tinham certeza disso, mas não havia ninguém dentro dele. Oleg e Ozzy agacharam para ver se o amigo estava preso nos bancos, mas o grito de Alec entregou a localização do corpo. Corpos. Quando os dois viraram para onde o garoto estava, viram o corpo de Jack estirado ao seu pé, uma menina loira que eles reconheceram como a namorada de Edgar perto dele e um pouco mais a frente, Parvati. Os três estavam mortos.
- NÃO! JACK! – Alec se jogou aos pés do amigo, chorando.
- Não, não. Não pode – Ozzy correu até ele, também chorando – Jack, não.
- Jack e Alexis já fizeram a travessia – Oleg falou com uma voz sem emoção. Ele ainda estava parado perto do carro, em choque. – Parvati ainda está aqui.
- Como você sabe? – Ozzy perguntou secando as lágrimas.
- Posso ver suas almas. Jack acenou e disse que estava bem. Estava de mãos dadas com Alexis.
- Não! Jack, volte! – Ozzy começou a gritar desesperado – Podemos salvar você!
- Pare Ozzy – Alec segurou sua mão, mas ainda chorava muito – Não podemos fazer nada.
- Parvati! – Ozzy correu até o corpo da garota – Ela ainda está aqui? – Oleg confirmou com a cabeça – Podemos salvá-la.
- Não, não podemos. Não sabemos fazer isso e é contra as regras. – Alec sentou no chão, sem sair do lado de Jack e Alexis.
- Eu sei como – Oleg falou ainda sem emoção na voz – Vovô me ensinou. Disse que não devia fazer até ser um ancião, mas sei como funciona.
- Então faça! – Ozzy segurou a mão da garota que até alguns minutos estava amaldiçoando – Salve-a!
- Ozzy, pare com isso! – Alec ficou de pé, assustado com a reação do amigo – Eles morreram, não podemos fazer nada.
- Nós devemos isso ao Jack. Eu devo isso a ele.
- Você não deve nada, isso não foi culpa sua.
- Foi sim! Disse a ela para bater com o carro! – Ozzy agora estava em pânico – Eu a hipnotizei!
- Pare agora mesmo! – Alec o enfrentou – Você não fez nada, foi uma fatalidade.
- Posso fazer – Oleg agora se aproximou dos corpos – Mas não consigo sozinho, preciso que me ajudem. Não sou forte o bastante.
- Eu ajudo! – Ozzy ficou de pé e afastou Alec com as mãos – Vamos logo, antes que ela faça a travessia.
- Vocês não podem fazer isso, estarão quebrando umas 50 regras.
- Ninguém precisa saber, só vamos salvar sua vida – Oleg ajoelhou ao lado do corpo de Parvati.
- Está louco? – Alec agora gritava – Como ninguém vai saber? Ela vai voltar diferente, vai ser como nós! Quem vai explicar a ela sobre isso? Não contem comigo!
- Ela vai estar viva, não importa quem vai contar – Ozzy o encarou com um olhar suplicante – Por favor, Alec. Não vamos conseguir sem você. Só quero salvar a vida dela.
Alec tentou resistir, mas acabou cedendo ao apelo do amigo e se juntou a ele e ao irmão. Os três de ajoelharam em volta do corpo sem vida de Parvati e Oleg mandou que Ozzy colocasse um dos dedos em um ponto do corpo dela para ser usado como fio de ligação, mas não explicou o motivo. Ozzy obedeceu, pressionando o polegar direito em um ponto qualquer da sua cintura. Os outros dois juntaram as mãos e Oleg começou a entoar uma canção que nem Alec nem Ozzy compreendiam, mas reconheceram como sendo a canção usada pelos anciões nos rituais.
Oleg repetia as palavras cada vez mais depressa, acelerando a canção. Alec e Ozzy apenas observavam sem interromper e viram quando Oleg olhou para o lado e assentiu com a cabeça, mas eles não viam ninguém. No instante seguinte Ozzy sentiu como se algo tivesse mergulhado para dentro do corpo. Oleg olhou para o corpo e uma expressão de alivio tomou conta de seu rosto, misturado a algumas lágrimas que caíram durante a canção. Ozzy então entendeu que a canção estava chamando a alma de Parvati de volta a seu corpo e ela obedeceu ao comando.
- Está feito – Oleg quebrou o contato com o irmão e ficou de pé, secando as lágrimas com as mãos e olhando para o corpo do amigo próximo a eles - Desculpa Jack, queria ter feito isso por você.
- Ela está respirando – Ozzy encostou o ouvido no peito dela – Está muito fraco, mas está respirando.
- Então vamos embora – Alec ficou de pé também – Chamei a ambulância quando Oleg foi checar de o caminhoneiro estava vivo, eles já devem estar chegando e não quero ter que explicar como ela sobreviveu.
- Ela vai ficar bem? – Ozzy levantou, mas ainda estava inseguro – Mal está respirando e está muito machucada.
- Ela agora é uma Imortal, vai sobreviver – Alec o puxou pela manga da camisa – Já fizemos tudo que estava ao nosso alcance, o resto é com os paramédicos.
Ozzy ainda relutou em deixar o local, mas Oleg ajudou o irmão a puxá-lo para longe e os três subiram a ribanceira de volta para a estrada. Deram uma última olhada nos três corpos estirados na grama e ainda com lágrimas cobrindo seus rostos, subiram nas motos e partiram ao ouvirem o som da sirene da ambulância.
"De todos os animais, o homem é o único que é cruel. É o único que inflige dor pelo prazer de fazê-lo."
Mark Twain.
- Parvati, visita pra você – Alexis bateu na porta do meu quarto e a abriu.
Lukas entrou com um sorriso que ia de uma orelha a outra e me puxou da cama para um abraço apertado. Ele me girou pelo quarto e quase caímos no chão.
- Ok, o que aconteceu? – comecei a rir da empolgação dele.
- Você é a melhor namorada do mundo.
- Isso eu já sei, mas porque está me lembrando disso?
- O teste no Vancouver Canucks – ele agarrou meu rosto e me beijou – Acabei de voltar do Canadá e a vaga é minha!
- Lukas, isso é maravilhoso! – abracei-o feliz – Mas pensei que o teste era só daqui a duas semanas.
- Era, mas liguei pra lá e expliquei que já estava no país de férias, eles concordaram em conversar comigo antes.
- Parabéns, você mereceu essa vaga.
- Não sei como conseguiu isso, mas vou ser eternamente grato a você. Esse era meu emprego dos sonhos.
- Eu sei disso, por isso consegui a entrevista. Digamos apenas que eu conheço as pessoas certas.
- Só tem um problema... – a voz dele perdeu um pouco da empolgação – Vou precisar me mudar até o final de julho, os treinos começam em agosto. Vamos ficar longe.
- Lukas, eu volto pra Durmstrang em setembro e você já se formou, já íamos passar um ano separados. Vamos fazer assim, você vai pro Canadá, eu volto pra escola e nos encontramos nos seus finais de semana de folga. E ai ano que vem, quando eu estiver formada, conversamos. Quem sabe não vou para o Canadá com você?
- Você é mesmo a melhor namorada do mundo.
- Outra vez, falando o óbvio. Por que não para de repetir isso e me recompensa?
- É pra já.
Lukas me pegou no colo e me derrubou na cama, caindo por cima de mim. Não tinha sido simples conseguir aquele teste pra ele, mas se ele conseguiu a única vaga disponível no time, tinha valido a pena o esforço.
ºººººº
Duas semanas depois
Depois que a viagem a Nova York foi brutalmente interrompida pela morte da avó da Leo, voltamos todos para a Bulgária. Tínhamos muitos planos para as férias, outras viagens, mas Robbie já havia decretado que estavam todas suspensas, a menos que Leo dissesse o contrário. Ninguém sabia bem como confortá-la, ela não nos deixava muitas brechas para isso, então tudo que fizemos foi dar a ela tempo e espaço para que se recuperasse sozinha.
Meus novos planos não incluíam muitas coisas. Com todas as atividades para as próximas duas semanas canceladas, Robbie se viu preso a viagens de negócios com o pai e eu acabei confinada em casa com Alexis, Jack e Julie. Os três tinham acabado de voltar de uma viagem à França e me ocupava em dividir com eles as histórias de Nova York e começar a planejar nossa road trip pela costa do Mar Negro. Partiríamos em três semanas, só nós quatro, e Alexis estava especialmente animada. Era a primeira vez que nossos pais a deixavam viajar conosco sem um adulto supervisionando.
Enquanto o dia da partida não chegava, procurávamos outras coisas para nos manter ocupados, como uma festa que acontecia todo ano na última semana de julho em Sofia. Não era o tipo de evento que eu adorava, mas mamãe sempre tinha que ir e acabávamos sendo arrastados com ela. Era divertido, não nego, mas esse ano não estava animada. Leo não ia comigo e Robbie ainda não tinha voltado da Alemanha, com quem ia falar mal dos mal vestidos espalhados pela praça? Mamãe já estava no local do evento desde cedo e me preparava para sair com minha irmã e meus primos quando a campainha tocou. Julie abriu a porta e Ozzy entrou feito um furacão na sala, gritando meu nome.
- Sua vadia! – ele gritou apontando o dedo pra mim. Levantei do sofá, já furiosa.
- Olha como fala comigo, está na minha casa!
- Você tem idéia do que fez? – ele ainda gritava, vermelho de raiva – Você acabou com o meu futuro!
- Ai Merlin, que drama! – debochei – Isso é pra aprender a não se meter comigo.
- Então você nem nega, não é? – ele riu, mas era de nervoso – Sua filha da-
- Ei! – Jack apareceu na sala, atraído pelos gritos – Ozzy, olha como fala com ela.
- Falo com essa vagabunda como eu quiser, você sabe o que ela fez? Cancelou minha entrevista com o dirigente do Vancouver Canucks, alegando erro nos nomes, e mandou o namoradinho no meu lugar duas semanas antes! Ele ficou com a minha vaga!
- Você fez isso? – Julie saiu do estado de transe pela gritaria.
- Fiz, e faria de novo. Ele foi contar pro diretor que eu estava com a pasta roxa, quase fui expulsa!
- Está maluca? Não falei nada com ele e nem com ninguém!
- Você foi o único que nos viu com a pasta e ele só não nos expulsou porque não podia provar. Só você poderia ter nos dedurado.
- Ah, então você acabou com o meu sonho baseado em uma suposição? Por que você acha que só eu poderia ter contado a ele? Já lhe ocorreu que ele sempre desconfia de vocês duas pra tudo de ruim que acontece na escola e só precisou somar 2 + 2 pra descobrir as autoras do roubo?
- Parv, você foi longe demais – Julie o apoiou e me irritei mais ainda.
- Se estão esperando que eu diga que estou arrependida, podem desistir. Não estou. E faria outra vez.
- Não vim aqui esperando ouvir um pedido de desculpas, não se preocupe. Sei que você é egoísta e prepotente o suficiente pra não sentir remorso. É por isso que só tem dois amigos de verdade, ninguém gosta de você além dos seus dois comparsas. Ninguém confia em você. Acha que manda na escola e todos fazem o que quer e dão risada das suas piadas, mas na verdade estão todos rindo de você. Se ouvisse o que falam pelas suas costas, perderia umas boas noites de sono. Eu tenho pena de você, sabia? Por que vai ser uma daquelas velhas ricas que não tem amigos e quando morrer, sozinha em casa, vão levar dias pra achar o corpo porque ninguém vai sentir sua falta.
- Já chega – Jack se pôs entre nós dois e Julie já segurava o braço de Ozzy, que avançada contra mim – Vá embora, depois conversamos.
- Não, ele não vai a lugar nenhum desse jeito, vai se acalmar antes! – Julie puxou Ozzy pra longe de mim.
- Não queria interromper a confusão, mas realmente quero ir pra festa – Alexis apareceu na sala pronta pra sair – Eddie está me esperando.
- E você fique longe do meu irmão! – ele apontou o dedo pra Alexis, que se assustou – Não quero ele metido com a irmã dessa vadia.
- Não grita com a minha irmã! – agora era eu que gritava e botava o dedo na cara dele – E sou eu que não quero ela metida com aquele esquisito do seu irmão. Sei lá se aquele garoto vai surtar de uma hora pra outra e atacar minha irmã.
- Eddie não é psicopata como você!
- Parvati, para com isso! – Alexis segurou meu braço – Parem de discutir! Nenhum dos dois tem que se meter na nossa vida!
- Vamos embora – agora era Jack que me puxava na direção da porta – Vamos pra festa, você se acalma no caminho.
- Tudo bem, mas eu dirijo.
- Ah, vai dirigir? Então faz um favor pra humanidade e joga esse carro contra um muro. – ele falou frio, me encarando.
Peguei a chave do carro no balcão e sai batendo a porta. Minha mão tremia, de tanta raiva que estava sentindo. Alexis saiu logo depois e Jack vinha atrás dela. Ele tentou tomar as chaves da minha mão, mas o olhei atravessado e ele desistiu, me deixando dirigir. Estava tão nervosa que minhas mãos não ficavam firmes no volante e eu ainda bufava de raiva. Era muito audácia dele entrar na minha casa e me ofender.
- Parv, ele estava nervoso e não pensou direito quando disse aquelas coisas, mas você também passou dos limites – Jack falou ao meu lado e o olhei furiosa.
- Não ouse defende-lo! Você ouviu do que ele me chamou?
- Sim, ouvi, e também não gostei, mas o que você fez foi sério.
- Ele não tinha o direito de entrar na minha casa e me ofender! – comecei a gritar dentro do carro, fora de controle – E ainda me chamar de vadia! Não vou deixar isso barato!
- Parv, calma – Jack se dividia entre olhar a estrada e me acalmar – Presta atenção no volante, depois a gente fala disso.
- Garoto insuportável e arrogante! – continuei gritando – Quem ele pensa que é?
- PARVATI, CUIDADO!
Olhei para frente, mas era tarde demais. A luz forte do farol do caminhão já estava a milímetros do carro. As lembranças me invadiram como um turbilhão. Era como se cada defesa, cada fachada, cada insegurança que tinha na vida tivessem sido arrancadas. Estava ali em carne e osso indo de encontro à morte. E então fechei os olhos, sentindo o impacto do carro contra o caminhão.
Mark Twain.
- Parvati, visita pra você – Alexis bateu na porta do meu quarto e a abriu.
Lukas entrou com um sorriso que ia de uma orelha a outra e me puxou da cama para um abraço apertado. Ele me girou pelo quarto e quase caímos no chão.
- Ok, o que aconteceu? – comecei a rir da empolgação dele.
- Você é a melhor namorada do mundo.
- Isso eu já sei, mas porque está me lembrando disso?
- O teste no Vancouver Canucks – ele agarrou meu rosto e me beijou – Acabei de voltar do Canadá e a vaga é minha!
- Lukas, isso é maravilhoso! – abracei-o feliz – Mas pensei que o teste era só daqui a duas semanas.
- Era, mas liguei pra lá e expliquei que já estava no país de férias, eles concordaram em conversar comigo antes.
- Parabéns, você mereceu essa vaga.
- Não sei como conseguiu isso, mas vou ser eternamente grato a você. Esse era meu emprego dos sonhos.
- Eu sei disso, por isso consegui a entrevista. Digamos apenas que eu conheço as pessoas certas.
- Só tem um problema... – a voz dele perdeu um pouco da empolgação – Vou precisar me mudar até o final de julho, os treinos começam em agosto. Vamos ficar longe.
- Lukas, eu volto pra Durmstrang em setembro e você já se formou, já íamos passar um ano separados. Vamos fazer assim, você vai pro Canadá, eu volto pra escola e nos encontramos nos seus finais de semana de folga. E ai ano que vem, quando eu estiver formada, conversamos. Quem sabe não vou para o Canadá com você?
- Você é mesmo a melhor namorada do mundo.
- Outra vez, falando o óbvio. Por que não para de repetir isso e me recompensa?
- É pra já.
Lukas me pegou no colo e me derrubou na cama, caindo por cima de mim. Não tinha sido simples conseguir aquele teste pra ele, mas se ele conseguiu a única vaga disponível no time, tinha valido a pena o esforço.
ºººººº
Duas semanas depois
Depois que a viagem a Nova York foi brutalmente interrompida pela morte da avó da Leo, voltamos todos para a Bulgária. Tínhamos muitos planos para as férias, outras viagens, mas Robbie já havia decretado que estavam todas suspensas, a menos que Leo dissesse o contrário. Ninguém sabia bem como confortá-la, ela não nos deixava muitas brechas para isso, então tudo que fizemos foi dar a ela tempo e espaço para que se recuperasse sozinha.
Meus novos planos não incluíam muitas coisas. Com todas as atividades para as próximas duas semanas canceladas, Robbie se viu preso a viagens de negócios com o pai e eu acabei confinada em casa com Alexis, Jack e Julie. Os três tinham acabado de voltar de uma viagem à França e me ocupava em dividir com eles as histórias de Nova York e começar a planejar nossa road trip pela costa do Mar Negro. Partiríamos em três semanas, só nós quatro, e Alexis estava especialmente animada. Era a primeira vez que nossos pais a deixavam viajar conosco sem um adulto supervisionando.
Enquanto o dia da partida não chegava, procurávamos outras coisas para nos manter ocupados, como uma festa que acontecia todo ano na última semana de julho em Sofia. Não era o tipo de evento que eu adorava, mas mamãe sempre tinha que ir e acabávamos sendo arrastados com ela. Era divertido, não nego, mas esse ano não estava animada. Leo não ia comigo e Robbie ainda não tinha voltado da Alemanha, com quem ia falar mal dos mal vestidos espalhados pela praça? Mamãe já estava no local do evento desde cedo e me preparava para sair com minha irmã e meus primos quando a campainha tocou. Julie abriu a porta e Ozzy entrou feito um furacão na sala, gritando meu nome.
- Sua vadia! – ele gritou apontando o dedo pra mim. Levantei do sofá, já furiosa.
- Olha como fala comigo, está na minha casa!
- Você tem idéia do que fez? – ele ainda gritava, vermelho de raiva – Você acabou com o meu futuro!
- Ai Merlin, que drama! – debochei – Isso é pra aprender a não se meter comigo.
- Então você nem nega, não é? – ele riu, mas era de nervoso – Sua filha da-
- Ei! – Jack apareceu na sala, atraído pelos gritos – Ozzy, olha como fala com ela.
- Falo com essa vagabunda como eu quiser, você sabe o que ela fez? Cancelou minha entrevista com o dirigente do Vancouver Canucks, alegando erro nos nomes, e mandou o namoradinho no meu lugar duas semanas antes! Ele ficou com a minha vaga!
- Você fez isso? – Julie saiu do estado de transe pela gritaria.
- Fiz, e faria de novo. Ele foi contar pro diretor que eu estava com a pasta roxa, quase fui expulsa!
- Está maluca? Não falei nada com ele e nem com ninguém!
- Você foi o único que nos viu com a pasta e ele só não nos expulsou porque não podia provar. Só você poderia ter nos dedurado.
- Ah, então você acabou com o meu sonho baseado em uma suposição? Por que você acha que só eu poderia ter contado a ele? Já lhe ocorreu que ele sempre desconfia de vocês duas pra tudo de ruim que acontece na escola e só precisou somar 2 + 2 pra descobrir as autoras do roubo?
- Parv, você foi longe demais – Julie o apoiou e me irritei mais ainda.
- Se estão esperando que eu diga que estou arrependida, podem desistir. Não estou. E faria outra vez.
- Não vim aqui esperando ouvir um pedido de desculpas, não se preocupe. Sei que você é egoísta e prepotente o suficiente pra não sentir remorso. É por isso que só tem dois amigos de verdade, ninguém gosta de você além dos seus dois comparsas. Ninguém confia em você. Acha que manda na escola e todos fazem o que quer e dão risada das suas piadas, mas na verdade estão todos rindo de você. Se ouvisse o que falam pelas suas costas, perderia umas boas noites de sono. Eu tenho pena de você, sabia? Por que vai ser uma daquelas velhas ricas que não tem amigos e quando morrer, sozinha em casa, vão levar dias pra achar o corpo porque ninguém vai sentir sua falta.
- Já chega – Jack se pôs entre nós dois e Julie já segurava o braço de Ozzy, que avançada contra mim – Vá embora, depois conversamos.
- Não, ele não vai a lugar nenhum desse jeito, vai se acalmar antes! – Julie puxou Ozzy pra longe de mim.
- Não queria interromper a confusão, mas realmente quero ir pra festa – Alexis apareceu na sala pronta pra sair – Eddie está me esperando.
- E você fique longe do meu irmão! – ele apontou o dedo pra Alexis, que se assustou – Não quero ele metido com a irmã dessa vadia.
- Não grita com a minha irmã! – agora era eu que gritava e botava o dedo na cara dele – E sou eu que não quero ela metida com aquele esquisito do seu irmão. Sei lá se aquele garoto vai surtar de uma hora pra outra e atacar minha irmã.
- Eddie não é psicopata como você!
- Parvati, para com isso! – Alexis segurou meu braço – Parem de discutir! Nenhum dos dois tem que se meter na nossa vida!
- Vamos embora – agora era Jack que me puxava na direção da porta – Vamos pra festa, você se acalma no caminho.
- Tudo bem, mas eu dirijo.
- Ah, vai dirigir? Então faz um favor pra humanidade e joga esse carro contra um muro. – ele falou frio, me encarando.
Peguei a chave do carro no balcão e sai batendo a porta. Minha mão tremia, de tanta raiva que estava sentindo. Alexis saiu logo depois e Jack vinha atrás dela. Ele tentou tomar as chaves da minha mão, mas o olhei atravessado e ele desistiu, me deixando dirigir. Estava tão nervosa que minhas mãos não ficavam firmes no volante e eu ainda bufava de raiva. Era muito audácia dele entrar na minha casa e me ofender.
- Parv, ele estava nervoso e não pensou direito quando disse aquelas coisas, mas você também passou dos limites – Jack falou ao meu lado e o olhei furiosa.
- Não ouse defende-lo! Você ouviu do que ele me chamou?
- Sim, ouvi, e também não gostei, mas o que você fez foi sério.
- Ele não tinha o direito de entrar na minha casa e me ofender! – comecei a gritar dentro do carro, fora de controle – E ainda me chamar de vadia! Não vou deixar isso barato!
- Parv, calma – Jack se dividia entre olhar a estrada e me acalmar – Presta atenção no volante, depois a gente fala disso.
- Garoto insuportável e arrogante! – continuei gritando – Quem ele pensa que é?
- PARVATI, CUIDADO!
Olhei para frente, mas era tarde demais. A luz forte do farol do caminhão já estava a milímetros do carro. As lembranças me invadiram como um turbilhão. Era como se cada defesa, cada fachada, cada insegurança que tinha na vida tivessem sido arrancadas. Estava ali em carne e osso indo de encontro à morte. E então fechei os olhos, sentindo o impacto do carro contra o caminhão.
Tuesday, July 26, 2011
- Não vai atender? – Eu perguntei, quando o celular da Lenneth continuou tocando.
- Agora não. Depois falo com o Patrick.
- Está tudo bem? – Phil perguntou.
- Sim, é só que ele cisma de ficar me ligando o tempo todo durante as férias. Agora estou ocupada! – Ela falou sorrindo, enquanto dava de ombros.
- Voltando ao assunto dessa conversa, então. – Ayala falou, após olhar de forma curiosa para Lenneth. Voltamos nossa atenção para meu notebook, que estava aberto com um programa que ele havia carregado e rodado. O programa tinha feito um escaneamento completo dele, e Ayala usara seus conhecimentos para ir mais a fundo na memória do meu computador.
- Diga. – Eu falei sério. Era nossa primeira semana de férias e Ayala chegara naquele mesmo dia, trazendo meu notebook com ele.
No mesmo dia em que descobrimos sobre o roubo dos meus textos, enviei meu notebook para que Ayala pudesse dar uma olhada nele. Ferania em pessoa se providenciou em mandá-lo pelo correio trouxa. E hoje, eu, Phil, Ayala e Lenneth nos reunimos na casa de Lenneth para conversar sobre isso. Lis, Ozzy e Jack também participariam da reunião, mas Lis estava na França visitando sua família, Jack viajando com seus pais e Ozzy ocupado com alguns compromissos de família, algo sobre um visitante em sua casa.
- Eu usei um programa rastreador e consegui descobrir algumas coisas. Quem roubou seu texto utilizou a sua senha para isso. Você a deu para alguém?
- Não, apenas a Lis conhece a senha do meu notebook além de mim e do meu irmão. – Lawfer estava na casa do Ozzy, brincando com Edgar. – E confio plenamente neles.
- Eu sei que confia e já imaginava sua resposta. Então, encontrei em seu computador alguns programas que fazem a cópia de seus dados e senhas salvos. Ele não estava programado para enviar esses dados pela rede, pois imagino que o ladrão não queria isso. O programa enviava os dados salvos para um arquivo temporário que foi copiado para um pen drive, ou outro dispositivo quando ele foi inserido. Assim ele obteve sua senha.
- E também meus textos? – Eu perguntei, sentindo a raiva.
- Não, de início foram apenas suas senhas. Depois, exatamente 2 semanas depois de ter copiado suas senhas. O seu computador foi acessado usando sua senha durante a noite, no horário entre 18 e 20 horas da noite.
- É quando vocês estavam no treino de Hockey, não é? – Lenneth falou e eu assenti.
- Ele acessou seu computador por 15 minutos e conseguiu copiar os textos da pasta “Memórias de Taugor”. Ele também copiou alguns textos avulsos, totalizando mais de 30 arquivos roubados. – Ele falou, indicando-me uma lista com 30 arquivos meus. Em quantidade de textos era muito mais do que isso, pois alguns arquivos continham séries completas ou quase finalizadas.
- Então, é alguém da República? – Phil perguntou, o tom sério.
- Provável, ou alguém com acesso a ela. Pode ser qualquer um... – Lenneth falou, olhando para todas aquelas informações com os olhos sérios.
- Eu acredito que é alguém próximo, ao menos de nossa República. Nem todos sabem como eu gosto de escrever e sobre a existência dos meus textos. – Eu comentei e eles concordaram.
Continuamos a conversar sobre esse assunto por mais pelo menos meia hora, quando a mãe da Lenneth, Tia Freya bateu a porta trazendo doces para todos. A reunião pouco durou depois disso, todos muito ocupados em comer os deliciosos bolos que ela tinha trazido para a gente.
Ayala e Phil saíram alguns minutos depois, perto do final da tarde, pois iriam no mercado do centro de Sofia. Eu e Lenneth nos sentamos em um balanço em seu jardim e começamos a conversar, colocando o papo em dia. Nas férias era comum passarmos muito mais tempo juntos que durante as aulas, principalmente pelo fato de sermos de turmas diferentes.
O jardim de Lenneth sempre foi um dos meus locais favoritos, pela sua beleza e como era bem tratado. Os pais dela adoravam a natureza e sua mãe era apaixonada por jardins. Passamos muito de nossas infâncias ali, principalmente nesse balanço, em meio a gargalhadas e brincadeiras com Ozzy, Phil e mais tarde Ayala.
Lenneth estava vestida com blusa branca com listras rosas que eu dei a ela em seu último aniversário e uma calça cinza, pois ela sentia frito, enquanto eu estava de camisa e bermuda, acostumado ao frio. A abracei para tentar espantar o frio e continuamos conversando, mas pela primeira vez eu senti uma sensação incômoda ao abraçá-la. Não era uma sensação ruim, pelo contrário, era boa, mas me parecia como se fosse errado. O que era estranho, pois sempre fomos próximos.
Ouvi um latido alto e familiar e logo depois a campanhia tocou. Nos levantamos do balanço curiosos de ver quem era e chegamos perto da entrada do jardim, quando Tia Freya surgiu, conversando com alguém que nos foi uma grande surpresa.
- Estava vindo chamá-los, vocês têm visitas. – Ela falou sorrindo para Reno.Notei que ele parecia abatido, e que seu sorriso parecia um pouco triste. Reno sorriu para nós dois e Huan, meu labrador, passou correndo por ele. Ele se jogou em mim e lambeu meu rosto quando me derrubou no chão. Logo em seguida saiu correndo para o jardim latindo animado, enquanto um garoto com uns 10 anos o seguia correndo. Assim que vi o garoto eu não tinha dúvidas de quem era seu pai. Ele tinha os olhos de Reno, assim como o cabelo, mas o rosto era idêntico ao de sua esposa.
- Boa tarde a todos. Tomei a liberdade de trazer seu cão conosco, Archer gostou tanto dele. – Ele falou sorrindo, esticando a mão para me ajudar a levantar. Eu me levantei rindo.
- Tudo bem, e Huan pelo visto adorou a oportunidade de sair de casa. – Eu falei, observando meu cachorro correr livre pelo jardim, enquanto Archer o seguia, sorrindo alegremente.
- O que traz o senhor aqui, professor? – Lenneth perguntou curiosa.
- Não estamos na escola, Lenneth, e já falei que não precisam me chamar de professor e senhor. – Ele falou e nos fez repetir o seu apelido, e chamamos de Reno enquanto ríamos.
- Tudo bem, Reno. – Ela falou sorrindo. Ele sorriu também, mas percebi novamente que tinha um olhar triste e fiquei preocupado.
- Está tudo bem?
- Bem, sim. – Ele falou, enquanto caminhávamos para uma mesa e nos sentávamos. Ele deixou seu olhar fixo em seu filho por um longo tempo antes de voltar a responder. Via ali tristeza e alegria juntos.
- Reno? – Lenneth perguntou, ficando preocupada e tocando sua mão de leve. Ele pareceu acordar e nos olhou novamente.
- Desculpem, esses últimos dias têm sido corridos... Eu vim à Sófia para falar com o Ozzy, e pensei em procurá-los também. Fazer uma visita.
- Algo muito urgente? – Eu perguntei apreensivo.
- Acho que desabafar não seria muito... – Ele falou sua voz tornando-se cansada. – Sabia que minha esposa e a mãe de sua namorada, Liseria, são amigas e trabalham juntas? – Ele perguntou de repente e eu assenti.
- Sim, a Lis me falou isso já. Ela diz que sua esposa é uma excelente estilista e trabalha com a mãe dela, que também é estilista.
- Sim. O apoio delas está sendo muito bom para Julie. – Ele falou e aguardamos que falasse. – Minha esposa teve um aborto ontem a noite. É o segundo aborto em menos de um ano. – Ele falou suspirando e vi que segurava as lágrimas.
Ele voltou a olhar o filho e entendi sua dor. Reno podia ser ranzinza e chato muitas vezes, muito exigente e tudo mais, mas era uma pessoa excelente. Se ele tratava seus alunos tão bem e com tanto carinho eu imaginava seu filho. Dava para ver em seu olhar o amor que sentia pelo filho e pensar que ele perdera um segundo filho em um ano era doloroso.
- Reno, não sei nem o que te dizer. – Vi que Lenneth não conseguia segurar as lágrimas e apertou a mão dele com carinho, enquanto tentava limpar as lágrimas discretamente. Eu apertei sua mão também e ele nos devolveu com um aperto forte, mas sem derramar lágrimas.
- Seu filho sabe? – Eu perguntei olhando para ele também.
- Sabe, contei a ele hoje de manhã. Por isso o trouxe comigo. A Julie está muito abalada e precisa descansar e eu não podia deixar de vir. E não faria bem para o Archer ficar triste também.
- Vocês terão muitos filhos ainda, tenho certeza. – Eu falei e ele me olhou sorrindo.
- Espero Lucian. Mas não tenho certeza. Os médicos e curandeiros dizem que podemos não ter mais filhos. – Ele falou, gaguejando. Lenneth não conseguia mais falar e vi quando ela virou o rosto, segurando as lágrimas. Eu senti a dor que aquelas palavras tinham para Reno e tentei dar meu apoio a ele.
- Reno, se há algo que nos ensinou nesses anos é que não devemos nos dar por vencidos e acreditar enquanto ainda houverem esperanças. – Eu falei e Reno me olhou nos olhos. Via força que ele tinha e acho que consegui passar um pouco da força que eu queria dar a ele.
- Obrigado Lucian e Lenneth. Essa visita me fez bem. Ozzy também foi um bom amigo e me apoiou. – Ele falou. Nesse momento Archer foi correndo até nós e Reno voltou ao seu rosto alegre para o filho. Lenneth levantou e ficou as minhas costas, como se me abraçasse, para esconder as lágrimas dele.
- Pai, eu achei esse graveto, você consegue fazer algo com ele? – Ele perguntou sorrindo.
- O que quiser. – Reno falou. Ele fez pequenos símbolos na madeira com a própria unha e tocou-a de leve. Um pequeno raio percorreu o graveto e ele mudou de forma, assumindo a forma de um freesbie. Archer o pegou alegre e jogou para Huan que saiu correndo atrás dele.
- Você não disse o por quê de vir visitar o Ozzy. Pensei que gostaria de estar com sua esposa. – Lenneth falou, voltando a se sentar ao meu lado. Ela estava de mãos dadas a mim, e eu a apertava com força.
- É para o bem dele. Consegui uma entrevista no Vancouver Canucks para ele. – Ele falou e eu não segurei uma exclamação. Vancouver Canucks era o time dos sonhos do Ozzy.
- É o time favorito dele, ele sempre quis jogar neles!
- Eu sei, por isso mesmo que me empenhei em conseguir essa entrevista. Não poderia deixar de vir e dar essa notícia ao Ozzy, fora que falei com o treinador do time que eu mesmo o levaria até lá. Não poderia faltar com vocês também. – Ele disse, sorrindo. Eu não sei bem o porquê, mas o “também” dele me soou de forma estranha. E acho que ele percebeu, pois olhou em meus olhos profundamente.
- Eu preciso ir, queria apenas visitá-los. Torçam pelo Ozzy. Se ele passar no teste, estaremos ajudando-o a realizar seu sonho. – Ele falou, levantando-se. Archer pareceu triste ao ir embora, mas prometi que deixaria que Reno levasse Huan algum dia para visitá-lo e disse que a próxima vez que tivéssemos filhotes, mandaria um para ele.
Archer me agradeceu feliz, abraçando-me com força. Na hora da despedida eu abracei Reno com força e desejei que ele fosse forte, e Lenneth também o abraçou, deixando de lado o fato de ser nosso professor. E acho que foi bom para ele, que sorriu de forma alegre para nós e saiu de mãos dadas com Archer.
Quando dei por mim, continuava de mãos dadas com Lenneth e ela tinha a cabeça deitada em meu ombro, ainda comovida com a história. Huan latia alegre, enquanto eu segurava sua coleira com a outra mão. Abracei Lenneth e voltamos para casa, enquanto ela dizia que eu seria um excelente pai, e eu dizia que ela seria sempre uma manteiga derretida.
- Agora não. Depois falo com o Patrick.
- Está tudo bem? – Phil perguntou.
- Sim, é só que ele cisma de ficar me ligando o tempo todo durante as férias. Agora estou ocupada! – Ela falou sorrindo, enquanto dava de ombros.
- Voltando ao assunto dessa conversa, então. – Ayala falou, após olhar de forma curiosa para Lenneth. Voltamos nossa atenção para meu notebook, que estava aberto com um programa que ele havia carregado e rodado. O programa tinha feito um escaneamento completo dele, e Ayala usara seus conhecimentos para ir mais a fundo na memória do meu computador.
- Diga. – Eu falei sério. Era nossa primeira semana de férias e Ayala chegara naquele mesmo dia, trazendo meu notebook com ele.
No mesmo dia em que descobrimos sobre o roubo dos meus textos, enviei meu notebook para que Ayala pudesse dar uma olhada nele. Ferania em pessoa se providenciou em mandá-lo pelo correio trouxa. E hoje, eu, Phil, Ayala e Lenneth nos reunimos na casa de Lenneth para conversar sobre isso. Lis, Ozzy e Jack também participariam da reunião, mas Lis estava na França visitando sua família, Jack viajando com seus pais e Ozzy ocupado com alguns compromissos de família, algo sobre um visitante em sua casa.
- Eu usei um programa rastreador e consegui descobrir algumas coisas. Quem roubou seu texto utilizou a sua senha para isso. Você a deu para alguém?
- Não, apenas a Lis conhece a senha do meu notebook além de mim e do meu irmão. – Lawfer estava na casa do Ozzy, brincando com Edgar. – E confio plenamente neles.
- Eu sei que confia e já imaginava sua resposta. Então, encontrei em seu computador alguns programas que fazem a cópia de seus dados e senhas salvos. Ele não estava programado para enviar esses dados pela rede, pois imagino que o ladrão não queria isso. O programa enviava os dados salvos para um arquivo temporário que foi copiado para um pen drive, ou outro dispositivo quando ele foi inserido. Assim ele obteve sua senha.
- E também meus textos? – Eu perguntei, sentindo a raiva.
- Não, de início foram apenas suas senhas. Depois, exatamente 2 semanas depois de ter copiado suas senhas. O seu computador foi acessado usando sua senha durante a noite, no horário entre 18 e 20 horas da noite.
- É quando vocês estavam no treino de Hockey, não é? – Lenneth falou e eu assenti.
- Ele acessou seu computador por 15 minutos e conseguiu copiar os textos da pasta “Memórias de Taugor”. Ele também copiou alguns textos avulsos, totalizando mais de 30 arquivos roubados. – Ele falou, indicando-me uma lista com 30 arquivos meus. Em quantidade de textos era muito mais do que isso, pois alguns arquivos continham séries completas ou quase finalizadas.
- Então, é alguém da República? – Phil perguntou, o tom sério.
- Provável, ou alguém com acesso a ela. Pode ser qualquer um... – Lenneth falou, olhando para todas aquelas informações com os olhos sérios.
- Eu acredito que é alguém próximo, ao menos de nossa República. Nem todos sabem como eu gosto de escrever e sobre a existência dos meus textos. – Eu comentei e eles concordaram.
Continuamos a conversar sobre esse assunto por mais pelo menos meia hora, quando a mãe da Lenneth, Tia Freya bateu a porta trazendo doces para todos. A reunião pouco durou depois disso, todos muito ocupados em comer os deliciosos bolos que ela tinha trazido para a gente.
Ayala e Phil saíram alguns minutos depois, perto do final da tarde, pois iriam no mercado do centro de Sofia. Eu e Lenneth nos sentamos em um balanço em seu jardim e começamos a conversar, colocando o papo em dia. Nas férias era comum passarmos muito mais tempo juntos que durante as aulas, principalmente pelo fato de sermos de turmas diferentes.
O jardim de Lenneth sempre foi um dos meus locais favoritos, pela sua beleza e como era bem tratado. Os pais dela adoravam a natureza e sua mãe era apaixonada por jardins. Passamos muito de nossas infâncias ali, principalmente nesse balanço, em meio a gargalhadas e brincadeiras com Ozzy, Phil e mais tarde Ayala.
Lenneth estava vestida com blusa branca com listras rosas que eu dei a ela em seu último aniversário e uma calça cinza, pois ela sentia frito, enquanto eu estava de camisa e bermuda, acostumado ao frio. A abracei para tentar espantar o frio e continuamos conversando, mas pela primeira vez eu senti uma sensação incômoda ao abraçá-la. Não era uma sensação ruim, pelo contrário, era boa, mas me parecia como se fosse errado. O que era estranho, pois sempre fomos próximos.
Ouvi um latido alto e familiar e logo depois a campanhia tocou. Nos levantamos do balanço curiosos de ver quem era e chegamos perto da entrada do jardim, quando Tia Freya surgiu, conversando com alguém que nos foi uma grande surpresa.
- Estava vindo chamá-los, vocês têm visitas. – Ela falou sorrindo para Reno.Notei que ele parecia abatido, e que seu sorriso parecia um pouco triste. Reno sorriu para nós dois e Huan, meu labrador, passou correndo por ele. Ele se jogou em mim e lambeu meu rosto quando me derrubou no chão. Logo em seguida saiu correndo para o jardim latindo animado, enquanto um garoto com uns 10 anos o seguia correndo. Assim que vi o garoto eu não tinha dúvidas de quem era seu pai. Ele tinha os olhos de Reno, assim como o cabelo, mas o rosto era idêntico ao de sua esposa.
- Boa tarde a todos. Tomei a liberdade de trazer seu cão conosco, Archer gostou tanto dele. – Ele falou sorrindo, esticando a mão para me ajudar a levantar. Eu me levantei rindo.
- Tudo bem, e Huan pelo visto adorou a oportunidade de sair de casa. – Eu falei, observando meu cachorro correr livre pelo jardim, enquanto Archer o seguia, sorrindo alegremente.
- O que traz o senhor aqui, professor? – Lenneth perguntou curiosa.
- Não estamos na escola, Lenneth, e já falei que não precisam me chamar de professor e senhor. – Ele falou e nos fez repetir o seu apelido, e chamamos de Reno enquanto ríamos.
- Tudo bem, Reno. – Ela falou sorrindo. Ele sorriu também, mas percebi novamente que tinha um olhar triste e fiquei preocupado.
- Está tudo bem?
- Bem, sim. – Ele falou, enquanto caminhávamos para uma mesa e nos sentávamos. Ele deixou seu olhar fixo em seu filho por um longo tempo antes de voltar a responder. Via ali tristeza e alegria juntos.
- Reno? – Lenneth perguntou, ficando preocupada e tocando sua mão de leve. Ele pareceu acordar e nos olhou novamente.
- Desculpem, esses últimos dias têm sido corridos... Eu vim à Sófia para falar com o Ozzy, e pensei em procurá-los também. Fazer uma visita.
- Algo muito urgente? – Eu perguntei apreensivo.
- Acho que desabafar não seria muito... – Ele falou sua voz tornando-se cansada. – Sabia que minha esposa e a mãe de sua namorada, Liseria, são amigas e trabalham juntas? – Ele perguntou de repente e eu assenti.
- Sim, a Lis me falou isso já. Ela diz que sua esposa é uma excelente estilista e trabalha com a mãe dela, que também é estilista.
- Sim. O apoio delas está sendo muito bom para Julie. – Ele falou e aguardamos que falasse. – Minha esposa teve um aborto ontem a noite. É o segundo aborto em menos de um ano. – Ele falou suspirando e vi que segurava as lágrimas.
Ele voltou a olhar o filho e entendi sua dor. Reno podia ser ranzinza e chato muitas vezes, muito exigente e tudo mais, mas era uma pessoa excelente. Se ele tratava seus alunos tão bem e com tanto carinho eu imaginava seu filho. Dava para ver em seu olhar o amor que sentia pelo filho e pensar que ele perdera um segundo filho em um ano era doloroso.
- Reno, não sei nem o que te dizer. – Vi que Lenneth não conseguia segurar as lágrimas e apertou a mão dele com carinho, enquanto tentava limpar as lágrimas discretamente. Eu apertei sua mão também e ele nos devolveu com um aperto forte, mas sem derramar lágrimas.
- Seu filho sabe? – Eu perguntei olhando para ele também.
- Sabe, contei a ele hoje de manhã. Por isso o trouxe comigo. A Julie está muito abalada e precisa descansar e eu não podia deixar de vir. E não faria bem para o Archer ficar triste também.
- Vocês terão muitos filhos ainda, tenho certeza. – Eu falei e ele me olhou sorrindo.
- Espero Lucian. Mas não tenho certeza. Os médicos e curandeiros dizem que podemos não ter mais filhos. – Ele falou, gaguejando. Lenneth não conseguia mais falar e vi quando ela virou o rosto, segurando as lágrimas. Eu senti a dor que aquelas palavras tinham para Reno e tentei dar meu apoio a ele.
- Reno, se há algo que nos ensinou nesses anos é que não devemos nos dar por vencidos e acreditar enquanto ainda houverem esperanças. – Eu falei e Reno me olhou nos olhos. Via força que ele tinha e acho que consegui passar um pouco da força que eu queria dar a ele.
- Obrigado Lucian e Lenneth. Essa visita me fez bem. Ozzy também foi um bom amigo e me apoiou. – Ele falou. Nesse momento Archer foi correndo até nós e Reno voltou ao seu rosto alegre para o filho. Lenneth levantou e ficou as minhas costas, como se me abraçasse, para esconder as lágrimas dele.
- Pai, eu achei esse graveto, você consegue fazer algo com ele? – Ele perguntou sorrindo.
- O que quiser. – Reno falou. Ele fez pequenos símbolos na madeira com a própria unha e tocou-a de leve. Um pequeno raio percorreu o graveto e ele mudou de forma, assumindo a forma de um freesbie. Archer o pegou alegre e jogou para Huan que saiu correndo atrás dele.
- Você não disse o por quê de vir visitar o Ozzy. Pensei que gostaria de estar com sua esposa. – Lenneth falou, voltando a se sentar ao meu lado. Ela estava de mãos dadas a mim, e eu a apertava com força.
- É para o bem dele. Consegui uma entrevista no Vancouver Canucks para ele. – Ele falou e eu não segurei uma exclamação. Vancouver Canucks era o time dos sonhos do Ozzy.
- É o time favorito dele, ele sempre quis jogar neles!
- Eu sei, por isso mesmo que me empenhei em conseguir essa entrevista. Não poderia deixar de vir e dar essa notícia ao Ozzy, fora que falei com o treinador do time que eu mesmo o levaria até lá. Não poderia faltar com vocês também. – Ele disse, sorrindo. Eu não sei bem o porquê, mas o “também” dele me soou de forma estranha. E acho que ele percebeu, pois olhou em meus olhos profundamente.
- Eu preciso ir, queria apenas visitá-los. Torçam pelo Ozzy. Se ele passar no teste, estaremos ajudando-o a realizar seu sonho. – Ele falou, levantando-se. Archer pareceu triste ao ir embora, mas prometi que deixaria que Reno levasse Huan algum dia para visitá-lo e disse que a próxima vez que tivéssemos filhotes, mandaria um para ele.
Archer me agradeceu feliz, abraçando-me com força. Na hora da despedida eu abracei Reno com força e desejei que ele fosse forte, e Lenneth também o abraçou, deixando de lado o fato de ser nosso professor. E acho que foi bom para ele, que sorriu de forma alegre para nós e saiu de mãos dadas com Archer.
Quando dei por mim, continuava de mãos dadas com Lenneth e ela tinha a cabeça deitada em meu ombro, ainda comovida com a história. Huan latia alegre, enquanto eu segurava sua coleira com a outra mão. Abracei Lenneth e voltamos para casa, enquanto ela dizia que eu seria um excelente pai, e eu dizia que ela seria sempre uma manteiga derretida.
Monday, July 25, 2011
Anotações de Leonora Carrara
Estava na república, fazendo as malas para voltar para casa para as férias de final de ano letivo, quando bateram na porta do meu quarto, e era uma segundanista me avisando que Finn estava na sala me esperando. Estranhei, pois não haviamos combinado de sair. Desci e eo encontrei sentado no sofá, segurando um embrulho.
- Oi Finn, aconteceu alguma coisa?- disse beijando-o nos lábios e ele disse aflito:
- Léo, você precisa me ajudar.
- Ok ajudo, mas o que aconteceu?- perguntei preocupada e ele me esticou o embrulho, que peguei num reflexo, e ele miou nervoso.
- Ai Mérlim isso é um gato? Vivo? - empurrei de volta, mas ele não pegou.
- Sim, é uma gata e ela ia ser sacrificada, porque ninguém queria ficar com ela. É lá da loja de animais, pedi para o dono que me desse, e a trouxe para você.
- Então você tem que leva-la para sua casa, oras.Eu não preciso de um gato.
- Não posso, sabe que meu pai tem alergia a animais, seria questão de tempo até ele ter uma crise de asma e descobrir a Condessa em casa. Por favor, Leo, fica com ela? Você ainda tem as coisas do outro gato, nem vai gastar nada...
- Condessa? Uma gata vira-lata com o nome de Condessa?- disse irônica e a gata resmungou me encarando, e eu olhei de volta para os olhos verdes dela.
- Mas você sabe que seres vivos e eu não combinam. É como usar tecido sintético na praia. - disse vendo a gatinha branca, se esticar, manhosa.
- Ela é limpinha, e é muito bonitinha, leve-a com você, por favor?- e ele tinha um jetio de me pedir favores, que me amoleciam.
- Ok, eu levo, mas se ela ousar arranhar algum dos meus sapatos, ou espalhar pêlo nas minhas roupas, eu a devolvo a você.- disse séria e Finn sorriu:
- Combinado, sabia que podia contar com você.- e me deu um beijo tão demorado, que esqueci completamente de onde eu estava.
o-o-o-o-o-o-o-
A semana na Itália com a minha avó estava chegando ao fim, e como semrpe nossas férias jutnas foram ótimas. Passeamos muito, fizemos compras, conversávamos bastante, e na última noite, iriamos jantar na villa dos Salvatori, já que eles eram muito amigos de minha avó.
Quando chegamos na casa do avô de Damon, o senhor Vincenzo veio nos receber e não demorou encontrei Damon, após cumprimentar todos os primos, e parentes e convidados, e começamos a conversar e ele estava todo animado contando sobre a sua entrada na Academia de Aurores de Londres, e queria saber sobre a minha vida; a noite ficou mais animada ainda, quando começaram a cantar músicas italianas em um karaokê, e eu não fiz feio, cantando uma das favoritas de minha avó, ‘Io che non vivo senza te’ , e ao final todos cantavam as músicas, típicas, e foi muito divertido.
Voltamos para Sofia, na véspera da viagem para Nova York, e após me despedir de minha avó e ouvir todas as suas recomendações, pegar os presentes que ela estava enviando para Parv e Robbie, nos abraçamos forte, e combinamos de nos reencontrar em uma semana. Fui dormir na casa de Parvati, pois ficaria mais fácil para nós sairmos todos juntos. Nós três mal conseguimos dormir, tamanha a animação.
-o-o-o-o-o-o
Já estavamos no quarto dia de viagem, e nosso dia havia começado cedo, com Robbie nos tirando da cama antes das seis da manhã para um autêntico café a ‘la bonequinha de luxo’. Era engraçado ver a nós três parados em frente à Tiffany's, tomando café e comendo bagel, enquanto a cidade que nunca pára, parecia estar em camera lenta.
E depois fomos até a Brodway, onde conseguimos entrar no teatro onde era encenado Wicked, e o zelador até nos pegou, mas quando soube que éramos da Bulgária nos deixou cantar uma música naquele palco, e não nos fizemos de rogados. Olhamos para Robbie e como haviamos visto Wicked duas vezes naquela semana, cantamos “Defying Gravity’. Voltamos para o hotel, animados e mal haviamos tirado os sapatos, bateram na porta. Achamos que fosse o serviço de quarto, e quando Robbie abriu a porta, vimos tia Karen, a mãe de Parv entrar. Olhei para Parvati e nossa reação foi instantânea:
- Nós não fizemos nada de errado.- dissemos juntas e tia Karen sorriu tensa:
- Eu sei que não. Não foi por isto que vim.
- Aconteceu alguma coisa, mamãe?- Parv disse se aroximando da mãe e ela fez que sim e me encarou:
- Leonora, eu vim conversar com você, sobre a sua avó.
- Vovó? O que aconteceu com ela? Ficou doente? - perguntei preocupada e já comecei a procurar a minha bolsa, e tia Karen se aproximou de mim e me segurou pelos ombros, me fazendo parar e olhar para ela:
- Leonora, foi o coração dela. Ela morreu dormindo.- tudo o que fiz foi olhar para tia Karen negando com a cabeça, mas os seus olhos cheios de lágrimas, me confirmavam a triste verdade. Senti que um buraco negro se abriu e eu caí nele.
o-o-o-o-o-o-o-o-o
A fila de cumprimentos estava enorme, as pessoas cumprimentavam rapidamente meus pais e minha irmã, e se demoravam mais comigo, e no caso de alguns amigos de minha avó, como o avô de Damon, eu o consolei ao invés de ser consolada, pois ele estava devastado. Notei o olhar preocupado de Damon, e quando ele me abraçou, ele disse:
- Estou com você Leonora Marie, para o que precisar, sempre.- dei um meio sorriso e assenti. Finn estava o tempo todo ao meu lado, mas eu não o procurava. Parv e Robbie seguravam as minhas mãos, mas eu não segurava de volta. Não conseguia retribuir o carinho, eu só conseguia pensar no que eu faria sem a minha avó. Ouvi ele bufar e prestei atenção.
Era Mitchell que vinha em minha direção e não estava sozinho. Havia uma linda oriental com ele e ela segurava o seu braço.Devia ser a nova namorada dele.
- A Lucy Liu é bonita.- Robbie comentou e Finn disse:
- Foi ela que vi com ele...
- Leonora, sinto muito eu gostava muito de sua avó.- disse Mitchell segurando a minha mão, assenti com a cabeça e a garota se aproximou, e me puxou de surpresa para um abraço:
- Sinto muito pela sua perda, meu irmão me contou o quanto sua avó era maravilhosa. – fiquei sem reação e só assenti. Tornei a olhar para Mitchell e ele hesitava em sair de minha frente, mas se decidiu quando Finn passou o braço por meus ombros de forma possessiva.
Quando o serviço terminou, as pessoas mais próximas, se reuniram na casa de minha avó para comer alguma coisa. Minha mãe e minha irmã, quiseram bancar as donas da casa, e eu não estava disposta a discutir com elas. Porém, a cada ordem delas, os empregados me procuravam e só obedeciam após o meu assentimento. Subi ao meu quarto para pegar um agasalho, e quando voltei, ouvi uma movimentação na biblioteca, a porta estava semi aberta e vi Finn, encostado na mesa e minha irmã Camille, colada a ele:
- ...Não faça isso, eu namoro a Leo...
- Como você tem estômago para namorar aquela baleia?
- ...Gosto dela...
- Mas gosta de mim também, eu vejo o jeito que você me olha...- e ele ficou vermelho. Para mim aquilo foi a gota d’água. Voltei para a sala, não podia deixar os amigos de minha avó sozinhos.Ela não gostaria disso.
Quando a última pessoa foi embora, Robbie, Finn e Parv queriam ficar comigo, mas eu assegurei a eles que estava bem. Robbie e Parv me abraçaram e Finn tentou me beijar, mas eu virei o rosto, alegando estar com um cisco no olho. Depois que ele saíram, subi para o meu quarto e não demorou muito, comecei a ouvir barulhos estranhos pela casa. Fui verificar e eram minha mãe e minha irmã, revirando a casa.
- O que pensam que estão fazendo?- eu quis saber e minha mãe respondeu:
- Vou ver o que pode ser aproveitado e o que não, tudo o que há nesta casa, agora é meu.- e os empregados de minha avó as olhavam assustados.
- Parem com isso já! Ninguem vai tirar nada daqui.- eu disse tensa e minha irmã respondeu:
- Vovó não está esta mais aqui para ajudar você, Leonora. A casa é da mamãe, afinal era a filha dela.- e Martha, que trablhou por mais de 20 anos com minha avó disse:
- Ninguém deve mexer nas coisas da dona Marie, sem a leitura do testamento, foi o que o advogado disse.
- Nenhum advogado vai me dizer o que posso ou não fazer dentro do que é meu.- disse minha mãe e nesta hora saquei a varinha:
- Vovó acabou de morrer e ninguém vai mexer nas coisas dela. Não vou pensar duas vezes antes de atacar pra valer.E se isso não resolver, eu vou armar o maior escândalo, digno ds páginas policiais.Aliás, posso ligar agora para a prefeita Karev. - minha mãe, vendo que eu falava a sério, recuou:
- Aproveite seus ultimos momentos aqui.O advogado virá amanhã para ler o testamento e depois disso vou mandar derrubar esta casa e destruir tudo que tem aqui dentro, pois sei que isso é o que mais ofenderia a minha ‘querida mamãe’.
Não consegui dormir aquela noite, minha gata Condessa, subiu em meu colo e passou a noite em vigília comigo.
No dia seguinte pela manhã, o doutor Jarrod, advogado de minha avó, se apresentou e procedeu a leitura do testamento.
- ‘Eu Leonora Marie Altobello Carrara, comunico estou em pleno uso de minhas faculdades mentais, com atestado firmado em cartório, pelo doutor Demetri Karev deixo todo o meu patrimônio para minha neta e única herdeira, Leonora Marie Carrara Ivashkov, patrimônio este constituído de todas as propriedades em meu nome, das ações das empresas das quais sou sócia, e também de toda a carteira de ações das empresas do conglomerado Ivashkov. Para minha filha Christine, meu genro George e minha outra neta Camille, deixo 5 galões para cada um. É o máximo que vão receber de meu dinheiro. Esta é a minha vontade e se alguém tentar contestar este testamento, todo o meu patrimônio deverá ser revertido para entidades que cuidam de crianças doentes...’- e depois que ele leu tudo, meus pais e minha irmã começarm a esbravejar revoltados. O advogado os ignorou e se dirigiu a mim:
- Senhorita Ivashkov, eu era o advogado de sua avó e estou á sua disposição para passar toda a papelada para o advogado que você constituir.
- Gostaria de continuar contando com os seus serviços legais, doutor Jarrod.Minha avó o tinha em alta conta, e eu sei que preciso de pessoas de confiança ao meu lado. - e nos despedimos. Meus pais continuavam a discutir, os ignorei e comecei a sair da biblioteca, quando ouvi:
- Tem que haver um jeito de contestar isso. Aquela criatura não pode ter ficado com tudo.
- Onde se viu, uma bastarda tendo mais poderes do que eu nas empresas...
Quando ouvi aquilo,comecei a tremer, e me apoiei na cadeira para não cair. De todas as ofensas que eu já tinha ouvido, aquela era pior.
- Como é que é?
- Você não passa de uma bastarda, não pode ficar com tudo o que é nosso por direito.- gritou Camille e quando olhei para o homem que eu achava que era meu pai, ele me olhava com desprezo. Senti uma raiva tão grande daquelas pessoas e disse fria:
- Quero que vocês saiam de minha propriedade agora.
- Você não pode fazer isso...- disse Camille e eu respondi:
- Já estou fazendo. Martha, leve-os para fora e se eles se recusarem, chame a polícia por invasão de propriedade. - mandei os criados acompanharem meus pais e minha irmã, antes deles saírem da casa, eu disse alto:
- Áccio tudo o que me pertença...- e saíram algumas jóias dos bolsos de minha mãe e irmã, elas ficaram muito indignadas, mas foram embora antes que eu as acusasse de roubo.
Subi para meu quarto e me troquei, coloquei um tênis e agasalho e dentro do bolso dele havia algum dinheiro. Iria sair para caminhar um pouco, e pensar em tudo que havia ouvido.
Estava na república, fazendo as malas para voltar para casa para as férias de final de ano letivo, quando bateram na porta do meu quarto, e era uma segundanista me avisando que Finn estava na sala me esperando. Estranhei, pois não haviamos combinado de sair. Desci e eo encontrei sentado no sofá, segurando um embrulho.
- Oi Finn, aconteceu alguma coisa?- disse beijando-o nos lábios e ele disse aflito:
- Léo, você precisa me ajudar.
- Ok ajudo, mas o que aconteceu?- perguntei preocupada e ele me esticou o embrulho, que peguei num reflexo, e ele miou nervoso.
- Ai Mérlim isso é um gato? Vivo? - empurrei de volta, mas ele não pegou.
- Sim, é uma gata e ela ia ser sacrificada, porque ninguém queria ficar com ela. É lá da loja de animais, pedi para o dono que me desse, e a trouxe para você.
- Então você tem que leva-la para sua casa, oras.Eu não preciso de um gato.
- Não posso, sabe que meu pai tem alergia a animais, seria questão de tempo até ele ter uma crise de asma e descobrir a Condessa em casa. Por favor, Leo, fica com ela? Você ainda tem as coisas do outro gato, nem vai gastar nada...
- Condessa? Uma gata vira-lata com o nome de Condessa?- disse irônica e a gata resmungou me encarando, e eu olhei de volta para os olhos verdes dela.
- Mas você sabe que seres vivos e eu não combinam. É como usar tecido sintético na praia. - disse vendo a gatinha branca, se esticar, manhosa.
- Ela é limpinha, e é muito bonitinha, leve-a com você, por favor?- e ele tinha um jetio de me pedir favores, que me amoleciam.
- Ok, eu levo, mas se ela ousar arranhar algum dos meus sapatos, ou espalhar pêlo nas minhas roupas, eu a devolvo a você.- disse séria e Finn sorriu:
- Combinado, sabia que podia contar com você.- e me deu um beijo tão demorado, que esqueci completamente de onde eu estava.
o-o-o-o-o-o-o-
A semana na Itália com a minha avó estava chegando ao fim, e como semrpe nossas férias jutnas foram ótimas. Passeamos muito, fizemos compras, conversávamos bastante, e na última noite, iriamos jantar na villa dos Salvatori, já que eles eram muito amigos de minha avó.
Quando chegamos na casa do avô de Damon, o senhor Vincenzo veio nos receber e não demorou encontrei Damon, após cumprimentar todos os primos, e parentes e convidados, e começamos a conversar e ele estava todo animado contando sobre a sua entrada na Academia de Aurores de Londres, e queria saber sobre a minha vida; a noite ficou mais animada ainda, quando começaram a cantar músicas italianas em um karaokê, e eu não fiz feio, cantando uma das favoritas de minha avó, ‘Io che non vivo senza te’ , e ao final todos cantavam as músicas, típicas, e foi muito divertido.
Voltamos para Sofia, na véspera da viagem para Nova York, e após me despedir de minha avó e ouvir todas as suas recomendações, pegar os presentes que ela estava enviando para Parv e Robbie, nos abraçamos forte, e combinamos de nos reencontrar em uma semana. Fui dormir na casa de Parvati, pois ficaria mais fácil para nós sairmos todos juntos. Nós três mal conseguimos dormir, tamanha a animação.
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Já estavamos no quarto dia de viagem, e nosso dia havia começado cedo, com Robbie nos tirando da cama antes das seis da manhã para um autêntico café a ‘la bonequinha de luxo’. Era engraçado ver a nós três parados em frente à Tiffany's, tomando café e comendo bagel, enquanto a cidade que nunca pára, parecia estar em camera lenta.
E depois fomos até a Brodway, onde conseguimos entrar no teatro onde era encenado Wicked, e o zelador até nos pegou, mas quando soube que éramos da Bulgária nos deixou cantar uma música naquele palco, e não nos fizemos de rogados. Olhamos para Robbie e como haviamos visto Wicked duas vezes naquela semana, cantamos “Defying Gravity’. Voltamos para o hotel, animados e mal haviamos tirado os sapatos, bateram na porta. Achamos que fosse o serviço de quarto, e quando Robbie abriu a porta, vimos tia Karen, a mãe de Parv entrar. Olhei para Parvati e nossa reação foi instantânea:
- Nós não fizemos nada de errado.- dissemos juntas e tia Karen sorriu tensa:
- Eu sei que não. Não foi por isto que vim.
- Aconteceu alguma coisa, mamãe?- Parv disse se aroximando da mãe e ela fez que sim e me encarou:
- Leonora, eu vim conversar com você, sobre a sua avó.
- Vovó? O que aconteceu com ela? Ficou doente? - perguntei preocupada e já comecei a procurar a minha bolsa, e tia Karen se aproximou de mim e me segurou pelos ombros, me fazendo parar e olhar para ela:
- Leonora, foi o coração dela. Ela morreu dormindo.- tudo o que fiz foi olhar para tia Karen negando com a cabeça, mas os seus olhos cheios de lágrimas, me confirmavam a triste verdade. Senti que um buraco negro se abriu e eu caí nele.
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A fila de cumprimentos estava enorme, as pessoas cumprimentavam rapidamente meus pais e minha irmã, e se demoravam mais comigo, e no caso de alguns amigos de minha avó, como o avô de Damon, eu o consolei ao invés de ser consolada, pois ele estava devastado. Notei o olhar preocupado de Damon, e quando ele me abraçou, ele disse:
- Estou com você Leonora Marie, para o que precisar, sempre.- dei um meio sorriso e assenti. Finn estava o tempo todo ao meu lado, mas eu não o procurava. Parv e Robbie seguravam as minhas mãos, mas eu não segurava de volta. Não conseguia retribuir o carinho, eu só conseguia pensar no que eu faria sem a minha avó. Ouvi ele bufar e prestei atenção.
Era Mitchell que vinha em minha direção e não estava sozinho. Havia uma linda oriental com ele e ela segurava o seu braço.Devia ser a nova namorada dele.
- A Lucy Liu é bonita.- Robbie comentou e Finn disse:
- Foi ela que vi com ele...
- Leonora, sinto muito eu gostava muito de sua avó.- disse Mitchell segurando a minha mão, assenti com a cabeça e a garota se aproximou, e me puxou de surpresa para um abraço:
- Sinto muito pela sua perda, meu irmão me contou o quanto sua avó era maravilhosa. – fiquei sem reação e só assenti. Tornei a olhar para Mitchell e ele hesitava em sair de minha frente, mas se decidiu quando Finn passou o braço por meus ombros de forma possessiva.
Quando o serviço terminou, as pessoas mais próximas, se reuniram na casa de minha avó para comer alguma coisa. Minha mãe e minha irmã, quiseram bancar as donas da casa, e eu não estava disposta a discutir com elas. Porém, a cada ordem delas, os empregados me procuravam e só obedeciam após o meu assentimento. Subi ao meu quarto para pegar um agasalho, e quando voltei, ouvi uma movimentação na biblioteca, a porta estava semi aberta e vi Finn, encostado na mesa e minha irmã Camille, colada a ele:
- ...Não faça isso, eu namoro a Leo...
- Como você tem estômago para namorar aquela baleia?
- ...Gosto dela...
- Mas gosta de mim também, eu vejo o jeito que você me olha...- e ele ficou vermelho. Para mim aquilo foi a gota d’água. Voltei para a sala, não podia deixar os amigos de minha avó sozinhos.Ela não gostaria disso.
Quando a última pessoa foi embora, Robbie, Finn e Parv queriam ficar comigo, mas eu assegurei a eles que estava bem. Robbie e Parv me abraçaram e Finn tentou me beijar, mas eu virei o rosto, alegando estar com um cisco no olho. Depois que ele saíram, subi para o meu quarto e não demorou muito, comecei a ouvir barulhos estranhos pela casa. Fui verificar e eram minha mãe e minha irmã, revirando a casa.
- O que pensam que estão fazendo?- eu quis saber e minha mãe respondeu:
- Vou ver o que pode ser aproveitado e o que não, tudo o que há nesta casa, agora é meu.- e os empregados de minha avó as olhavam assustados.
- Parem com isso já! Ninguem vai tirar nada daqui.- eu disse tensa e minha irmã respondeu:
- Vovó não está esta mais aqui para ajudar você, Leonora. A casa é da mamãe, afinal era a filha dela.- e Martha, que trablhou por mais de 20 anos com minha avó disse:
- Ninguém deve mexer nas coisas da dona Marie, sem a leitura do testamento, foi o que o advogado disse.
- Nenhum advogado vai me dizer o que posso ou não fazer dentro do que é meu.- disse minha mãe e nesta hora saquei a varinha:
- Vovó acabou de morrer e ninguém vai mexer nas coisas dela. Não vou pensar duas vezes antes de atacar pra valer.E se isso não resolver, eu vou armar o maior escândalo, digno ds páginas policiais.Aliás, posso ligar agora para a prefeita Karev. - minha mãe, vendo que eu falava a sério, recuou:
- Aproveite seus ultimos momentos aqui.O advogado virá amanhã para ler o testamento e depois disso vou mandar derrubar esta casa e destruir tudo que tem aqui dentro, pois sei que isso é o que mais ofenderia a minha ‘querida mamãe’.
Não consegui dormir aquela noite, minha gata Condessa, subiu em meu colo e passou a noite em vigília comigo.
No dia seguinte pela manhã, o doutor Jarrod, advogado de minha avó, se apresentou e procedeu a leitura do testamento.
- ‘Eu Leonora Marie Altobello Carrara, comunico estou em pleno uso de minhas faculdades mentais, com atestado firmado em cartório, pelo doutor Demetri Karev deixo todo o meu patrimônio para minha neta e única herdeira, Leonora Marie Carrara Ivashkov, patrimônio este constituído de todas as propriedades em meu nome, das ações das empresas das quais sou sócia, e também de toda a carteira de ações das empresas do conglomerado Ivashkov. Para minha filha Christine, meu genro George e minha outra neta Camille, deixo 5 galões para cada um. É o máximo que vão receber de meu dinheiro. Esta é a minha vontade e se alguém tentar contestar este testamento, todo o meu patrimônio deverá ser revertido para entidades que cuidam de crianças doentes...’- e depois que ele leu tudo, meus pais e minha irmã começarm a esbravejar revoltados. O advogado os ignorou e se dirigiu a mim:
- Senhorita Ivashkov, eu era o advogado de sua avó e estou á sua disposição para passar toda a papelada para o advogado que você constituir.
- Gostaria de continuar contando com os seus serviços legais, doutor Jarrod.Minha avó o tinha em alta conta, e eu sei que preciso de pessoas de confiança ao meu lado. - e nos despedimos. Meus pais continuavam a discutir, os ignorei e comecei a sair da biblioteca, quando ouvi:
- Tem que haver um jeito de contestar isso. Aquela criatura não pode ter ficado com tudo.
- Onde se viu, uma bastarda tendo mais poderes do que eu nas empresas...
Quando ouvi aquilo,comecei a tremer, e me apoiei na cadeira para não cair. De todas as ofensas que eu já tinha ouvido, aquela era pior.
- Como é que é?
- Você não passa de uma bastarda, não pode ficar com tudo o que é nosso por direito.- gritou Camille e quando olhei para o homem que eu achava que era meu pai, ele me olhava com desprezo. Senti uma raiva tão grande daquelas pessoas e disse fria:
- Quero que vocês saiam de minha propriedade agora.
- Você não pode fazer isso...- disse Camille e eu respondi:
- Já estou fazendo. Martha, leve-os para fora e se eles se recusarem, chame a polícia por invasão de propriedade. - mandei os criados acompanharem meus pais e minha irmã, antes deles saírem da casa, eu disse alto:
- Áccio tudo o que me pertença...- e saíram algumas jóias dos bolsos de minha mãe e irmã, elas ficaram muito indignadas, mas foram embora antes que eu as acusasse de roubo.
Subi para meu quarto e me troquei, coloquei um tênis e agasalho e dentro do bolso dele havia algum dinheiro. Iria sair para caminhar um pouco, e pensar em tudo que havia ouvido.
Monday, July 18, 2011
“Cuidado para com a fogueira que acendes contra teu inimigo; ela poderá chamuscar a ti mesmo.”
William Shakespeare
Já era fim de tarde quando uma mulher alta, cabelos loiros com um corte sério e caminhar firme e decidido se dirigia à rua das republicas. Era alguém importante, pois os alunos que estavam nas varandas de suas casas viravam a cabeça ao vê-la passar. Traçou uma reta até a porta da Atenas e bateu três vezes. Uma garota de não mais que 13 anos abriu.
- Boa tarde. Estou procurando Parvati Karev, ela está?
- Ahn, sim – a menina gaguejou ao reconhecer a mulher na sua frente – Vou chamá-la pra senhora.
- Não é necessário, apenas diga qual é seu quarto. Eu mesma a encontro.
- Quarto andar, 2ª porta à direita.
- Obrigada.
Subiu às escadas com passadas duras e nem bateu na porta quando a encontrou. Quando entrou no quarto, sua filha estava sentada na cama atirando roupas na mala, enquanto conversava com a melhor amiga, Leonora.
- As audições foram ótimas, já estou ansiosa pra começarem os ensaios – Leonora falava enquanto dobrava suas roupas.
- E você viu a cara do Robbie quando a professora Yelchin anunciou que Dario Stanislav ia estar na bancada com ela, a Mira e a Ferania? – as duas riram – Achei que ele fosse desmaiar.
- Ham-ham – a mulher para a porta pigarreou.
- Mãe? – Parvati levantou depressa – O que está fazendo aqui?
- Aconteceu alguma coisa, tia? – Leonora também ficou de pé.
- Sim. Gostaria que você me explicasse porque recebi uma carta do diretor me informando que minha filha não poderá cursar o 7º ano em Durmstrang.
- Como é que é? – Parvati puxou o pergaminho amassado da mão da mãe – Ele está me expulsando?
- O que vocês fizeram agora?
- Nada! – as duas responderam juntas.
- Bom, vamos ver o que é esse “nada” – a mulher tomou a carta de volta – Vamos agora ver o diretor, anda.
Parvati não viu alternativa senão seguir sua mãe. E ela nem ousaria desobedecer. Sua mãe era prefeita da cidade de Sofia e embora fosse uma mãe carinhosa, era uma mulher muito rígida. Não tolerava indisciplina e sempre cobrava comportamento exemplar das duas filhas, principalmente se o comportamento inadequado pudesse refletir em seu cargo. E uma expulsão refletiria até demais.
- Podem entrar – Igor Ivanovich já estava à espera delas – Sentem-se, por favor.
- Boa tarde, Igor – Karen o cumprimentou – Não era dessa forma que esperava revê-lo.
- Lamento que tenha tido que vir até aqui, mas queria explicar meus motivos pessoalmente.
- Diretor, eu não fiz nada, isso não é justo! – Parvati se defendeu.
- Não fez nada, Srta. Karev? E quanto a pasta roxa, com os arquivos de cada aluno que ia apresentar na reunião de pais e mestres que tive que cancelar? Nega que a roubou?
- Sim! Não roubei nada, nem sei que pasta é essa! – ela mentiu. Jamais confessaria.
- Que história é essa de pasta roxa? – Karen interrompeu, perdida.
- Sua filha roubou um arquivo importante da escola e sumiu com ele, anulando assim tudo que tinha arquivado nele sobre seu comportamento ao longo desses 6 anos.
- Eu não roubei nada!
- Igor, pode provar isso que está dizendo? Não que não acredite que minha filha possa ter feito isso, mas acho que estou no direito de pedir uma prova.
- Parvati é a única aluna nessa escola com audácia suficiente para invadir um escritório privado e roubar um documento. Ela e Leonora Ivashkov.
- Ele não tem prova de nada, está só supondo.
- Posso não ter provas desse roubo, mas sua lista é extensa. As reclamações dos alunos e professores são sempre as mesmas, você atrapalha as aulas e intimida os alunos. Ano passado uma aluna foi amarrada a um dos postes do campo de quadribol apenas de roupa intima. Vai negar isso também?
- Não, isso não nego que fiz, não escondi de ninguém – ela deu de ombros, indiferente – Estava dando em cima do meu namorado, precisava aprender que não devia ter se metido comigo.
- A história da pasta foi apenas o ponto final, mas tenho motivos de sobra para sua expulsão. Não quero lidar com mais reclamações no próximo semestre, onde todos os alunos do 7º ano extrapolam todos os limites para deixar sua marca antes de se formar – e ele fez uma careta quando falou.
- Igor, vamos ser racionais aqui. Minha filha errou, mas você não tem provas do roubo dessa tal pasta contra ela, apenas a sua certeza. Ela estudou seis anos aqui, fez amigos, não é justo que tenha que abandonar tudo faltando apenas um ano para se formar.
- O que não é justo é continuar permitindo que os alunos sejam aterrorizados por sua filha. Isso sim não é justo, Karen.
- Está falando como se eu fosse um monstro!
- Não um monstro, mas alguém que não tem limites.
- Agora você está ofendendo a educação que dei a ela, Igor – Karen agora parecia ofendida – Sei muito bem que minha filha não é um exemplo a ser seguido, mas não posso ter controle sobre tudo que ela faz quando estou longe. Garanto que a eduquei muito bem, e nada do que acontece aqui foi ensinado por mim ou por seu pai.
- Não quis ofender, me desculpe. Mas mantenho minha decisão, nem ela e nem Leonora Ivashkov voltam em Setembro.
- Deve haver um jeito de fazermos algum acordo.
- A única maneira de permitir que fiquem é que entrem na linha – ele olhou sério para Parvati, que não lhe deu importância – Não quero ouvir mais nenhuma reclamação sobre elas, nem dos professores e muito menos dos alunos.
- Isso pode ser arranjado – Karen olhou para a filha severa – Posso dar minha palavra que as duas iram mudar de atitude no próximo semestre, ou eu mesma venho aqui levá-las embora.
- Vai fazer o que sua mãe está dizendo?
- Posso tentar – respondeu de má vontade.
- Não tente, faça – e Karen levantou, puxando a filha pelo braço.
- Que fique claro que só estou fazendo isso em nome da nossa amizade, Karen – Igor ficou de pé também – Não costumo dar uma segunda chance a esse tipo de atitude, mas sei que vai cumprir sua palavra se elas saírem da linha.
- Vou mantê-las na linha. Vamos embora.
Karen apertou a mão do diretor e saiu rebocando a filha de seu escritório. Caminharam juntas de volta à Atenas sem trocarem uma única palavra. Ela cortava qualquer tentativa da filha de se explicar, apenas ordenando que continuasse andando. Voltaram ao quarto e Leonora ainda estava lá, esperando ansiosa.
- Então? Você foi mesmo expulsa? – perguntou aflita.
- Não, mamãe reverteu a situação – respondeu ainda cautelosa.
- Escutem bem, vocês duas – Karen encarou as duas com uma expressão furiosa no rosto – O diretor não tinha provas, mas sei muito bem que ele estava certo sobre essa tal pasta que sumiu. E não faça essa cara de sou uma coitada, minha mãe não liga pra mim, pois esta mãe aqui liga e conheço muito bem as duas, dona Leonora! – ela cortou logo o teatro quando Leonora começou a soar ofendida – Não permiti que ele expulsasse as duas porque não tenho tempo para procurar outra escola que as aceite, tendo uma gravidade dessa na ficha, e porque sua avó não tem mais idade para lidar com esse tipo de aborrecimento. Fiz um trato com o diretor, que é meu amigo, e pretendo mantê-lo. As duas vão entrar na linha, pois se uma única coruja chegar à Sofia contento reclamações, venho pessoalmente até aqui e arrasto as duas para fora. Estamos entendidas?
- Sim senhora – as duas responderam cabisbaixas.
- Ótimo, porque não gosto de ter minha palavra quebrada.
- Tia, minha avó recebeu uma carta do diretor também? – Leonora perguntou preocupada.
- Não, ele me chamou aqui primeiro. Ela não precisa saber disso, se não me der motivos para contar.
- Não darei!
- Assim espero – e olhou para a filha – Prepare-se, porque quando chegar em casa vai bater um longo papo comigo e seu pai - e saiu pela porta.
- Ai Merlin, acho que vou desmaiar – Leonora botou a mão na testa, dramática.
- Poupe-me de ter que carregá-la até a enfermaria, por favor – Parvati se jogou na cara, enfezada – Quero saber quem foi que nos dedurou.
- Se ele não tinha provas, não foi ninguém. Ele sempre implicou com a gente, só estava querendo um bode expiratório pra dar a história como encerrada.
- Não sei... Ele parecia muito certo, tenho certeza que fomos deduradas e você sabe muito bem por quem.
- Ozzy? Não, ele não faria isso. Ele nos viu, mas disse que não ia falar nada.
- E você confia nele? – Parvati levantou e parou na janela, encarando a rua das republicas – Foi ele. E se ele pensa que isso vai ficar por isso mesmo, está muito enganado.
- O que você vai fazer?
- Acertar onde dói mais. Acabou a trégua.
Leonora não pediu mais detalhes e Parvati também não estendeu o assunto. Quando se tratava de uma vingança, e contra Ozzy, Leonora aprendeu que o melhor era não saber dos planos e tentar ao máximo não se envolver. Independente do que ela fosse fazer, era melhor ficar longe da confusão. Já sabia que, o que quer que fosse, teria conseqüências catastróficas.
William Shakespeare
Já era fim de tarde quando uma mulher alta, cabelos loiros com um corte sério e caminhar firme e decidido se dirigia à rua das republicas. Era alguém importante, pois os alunos que estavam nas varandas de suas casas viravam a cabeça ao vê-la passar. Traçou uma reta até a porta da Atenas e bateu três vezes. Uma garota de não mais que 13 anos abriu.
- Boa tarde. Estou procurando Parvati Karev, ela está?
- Ahn, sim – a menina gaguejou ao reconhecer a mulher na sua frente – Vou chamá-la pra senhora.
- Não é necessário, apenas diga qual é seu quarto. Eu mesma a encontro.
- Quarto andar, 2ª porta à direita.
- Obrigada.
Subiu às escadas com passadas duras e nem bateu na porta quando a encontrou. Quando entrou no quarto, sua filha estava sentada na cama atirando roupas na mala, enquanto conversava com a melhor amiga, Leonora.
- As audições foram ótimas, já estou ansiosa pra começarem os ensaios – Leonora falava enquanto dobrava suas roupas.
- E você viu a cara do Robbie quando a professora Yelchin anunciou que Dario Stanislav ia estar na bancada com ela, a Mira e a Ferania? – as duas riram – Achei que ele fosse desmaiar.
- Ham-ham – a mulher para a porta pigarreou.
- Mãe? – Parvati levantou depressa – O que está fazendo aqui?
- Aconteceu alguma coisa, tia? – Leonora também ficou de pé.
- Sim. Gostaria que você me explicasse porque recebi uma carta do diretor me informando que minha filha não poderá cursar o 7º ano em Durmstrang.
- Como é que é? – Parvati puxou o pergaminho amassado da mão da mãe – Ele está me expulsando?
- O que vocês fizeram agora?
- Nada! – as duas responderam juntas.
- Bom, vamos ver o que é esse “nada” – a mulher tomou a carta de volta – Vamos agora ver o diretor, anda.
Parvati não viu alternativa senão seguir sua mãe. E ela nem ousaria desobedecer. Sua mãe era prefeita da cidade de Sofia e embora fosse uma mãe carinhosa, era uma mulher muito rígida. Não tolerava indisciplina e sempre cobrava comportamento exemplar das duas filhas, principalmente se o comportamento inadequado pudesse refletir em seu cargo. E uma expulsão refletiria até demais.
- Podem entrar – Igor Ivanovich já estava à espera delas – Sentem-se, por favor.
- Boa tarde, Igor – Karen o cumprimentou – Não era dessa forma que esperava revê-lo.
- Lamento que tenha tido que vir até aqui, mas queria explicar meus motivos pessoalmente.
- Diretor, eu não fiz nada, isso não é justo! – Parvati se defendeu.
- Não fez nada, Srta. Karev? E quanto a pasta roxa, com os arquivos de cada aluno que ia apresentar na reunião de pais e mestres que tive que cancelar? Nega que a roubou?
- Sim! Não roubei nada, nem sei que pasta é essa! – ela mentiu. Jamais confessaria.
- Que história é essa de pasta roxa? – Karen interrompeu, perdida.
- Sua filha roubou um arquivo importante da escola e sumiu com ele, anulando assim tudo que tinha arquivado nele sobre seu comportamento ao longo desses 6 anos.
- Eu não roubei nada!
- Igor, pode provar isso que está dizendo? Não que não acredite que minha filha possa ter feito isso, mas acho que estou no direito de pedir uma prova.
- Parvati é a única aluna nessa escola com audácia suficiente para invadir um escritório privado e roubar um documento. Ela e Leonora Ivashkov.
- Ele não tem prova de nada, está só supondo.
- Posso não ter provas desse roubo, mas sua lista é extensa. As reclamações dos alunos e professores são sempre as mesmas, você atrapalha as aulas e intimida os alunos. Ano passado uma aluna foi amarrada a um dos postes do campo de quadribol apenas de roupa intima. Vai negar isso também?
- Não, isso não nego que fiz, não escondi de ninguém – ela deu de ombros, indiferente – Estava dando em cima do meu namorado, precisava aprender que não devia ter se metido comigo.
- A história da pasta foi apenas o ponto final, mas tenho motivos de sobra para sua expulsão. Não quero lidar com mais reclamações no próximo semestre, onde todos os alunos do 7º ano extrapolam todos os limites para deixar sua marca antes de se formar – e ele fez uma careta quando falou.
- Igor, vamos ser racionais aqui. Minha filha errou, mas você não tem provas do roubo dessa tal pasta contra ela, apenas a sua certeza. Ela estudou seis anos aqui, fez amigos, não é justo que tenha que abandonar tudo faltando apenas um ano para se formar.
- O que não é justo é continuar permitindo que os alunos sejam aterrorizados por sua filha. Isso sim não é justo, Karen.
- Está falando como se eu fosse um monstro!
- Não um monstro, mas alguém que não tem limites.
- Agora você está ofendendo a educação que dei a ela, Igor – Karen agora parecia ofendida – Sei muito bem que minha filha não é um exemplo a ser seguido, mas não posso ter controle sobre tudo que ela faz quando estou longe. Garanto que a eduquei muito bem, e nada do que acontece aqui foi ensinado por mim ou por seu pai.
- Não quis ofender, me desculpe. Mas mantenho minha decisão, nem ela e nem Leonora Ivashkov voltam em Setembro.
- Deve haver um jeito de fazermos algum acordo.
- A única maneira de permitir que fiquem é que entrem na linha – ele olhou sério para Parvati, que não lhe deu importância – Não quero ouvir mais nenhuma reclamação sobre elas, nem dos professores e muito menos dos alunos.
- Isso pode ser arranjado – Karen olhou para a filha severa – Posso dar minha palavra que as duas iram mudar de atitude no próximo semestre, ou eu mesma venho aqui levá-las embora.
- Vai fazer o que sua mãe está dizendo?
- Posso tentar – respondeu de má vontade.
- Não tente, faça – e Karen levantou, puxando a filha pelo braço.
- Que fique claro que só estou fazendo isso em nome da nossa amizade, Karen – Igor ficou de pé também – Não costumo dar uma segunda chance a esse tipo de atitude, mas sei que vai cumprir sua palavra se elas saírem da linha.
- Vou mantê-las na linha. Vamos embora.
Karen apertou a mão do diretor e saiu rebocando a filha de seu escritório. Caminharam juntas de volta à Atenas sem trocarem uma única palavra. Ela cortava qualquer tentativa da filha de se explicar, apenas ordenando que continuasse andando. Voltaram ao quarto e Leonora ainda estava lá, esperando ansiosa.
- Então? Você foi mesmo expulsa? – perguntou aflita.
- Não, mamãe reverteu a situação – respondeu ainda cautelosa.
- Escutem bem, vocês duas – Karen encarou as duas com uma expressão furiosa no rosto – O diretor não tinha provas, mas sei muito bem que ele estava certo sobre essa tal pasta que sumiu. E não faça essa cara de sou uma coitada, minha mãe não liga pra mim, pois esta mãe aqui liga e conheço muito bem as duas, dona Leonora! – ela cortou logo o teatro quando Leonora começou a soar ofendida – Não permiti que ele expulsasse as duas porque não tenho tempo para procurar outra escola que as aceite, tendo uma gravidade dessa na ficha, e porque sua avó não tem mais idade para lidar com esse tipo de aborrecimento. Fiz um trato com o diretor, que é meu amigo, e pretendo mantê-lo. As duas vão entrar na linha, pois se uma única coruja chegar à Sofia contento reclamações, venho pessoalmente até aqui e arrasto as duas para fora. Estamos entendidas?
- Sim senhora – as duas responderam cabisbaixas.
- Ótimo, porque não gosto de ter minha palavra quebrada.
- Tia, minha avó recebeu uma carta do diretor também? – Leonora perguntou preocupada.
- Não, ele me chamou aqui primeiro. Ela não precisa saber disso, se não me der motivos para contar.
- Não darei!
- Assim espero – e olhou para a filha – Prepare-se, porque quando chegar em casa vai bater um longo papo comigo e seu pai - e saiu pela porta.
- Ai Merlin, acho que vou desmaiar – Leonora botou a mão na testa, dramática.
- Poupe-me de ter que carregá-la até a enfermaria, por favor – Parvati se jogou na cara, enfezada – Quero saber quem foi que nos dedurou.
- Se ele não tinha provas, não foi ninguém. Ele sempre implicou com a gente, só estava querendo um bode expiratório pra dar a história como encerrada.
- Não sei... Ele parecia muito certo, tenho certeza que fomos deduradas e você sabe muito bem por quem.
- Ozzy? Não, ele não faria isso. Ele nos viu, mas disse que não ia falar nada.
- E você confia nele? – Parvati levantou e parou na janela, encarando a rua das republicas – Foi ele. E se ele pensa que isso vai ficar por isso mesmo, está muito enganado.
- O que você vai fazer?
- Acertar onde dói mais. Acabou a trégua.
Leonora não pediu mais detalhes e Parvati também não estendeu o assunto. Quando se tratava de uma vingança, e contra Ozzy, Leonora aprendeu que o melhor era não saber dos planos e tentar ao máximo não se envolver. Independente do que ela fosse fazer, era melhor ficar longe da confusão. Já sabia que, o que quer que fosse, teria conseqüências catastróficas.
Wednesday, July 06, 2011
- Ozzy, eu quero saber quem foi o responsável por isso. – Eu falei, jogando o jornal nas suas mãos assim que o encontrei. Ele, Jack, Oleg e Finn conversavam enquanto caminhavam para a aula e eu os encontrei no meio das escadas do segundo andar. Ozzy não fazia parte do Jornal, mas foi um dos primeiros que pensei que poderia me ajudar. E Jack fazia parte do Jornal, ele também me ajudaria.
- O que é isso, Lu? O que aconteceu? – Ele perguntou, preocupado pelo meu semblante.
- Leia que você vai entender. – Eu me limitei a falar e ele correu os olhos pelo jornal enquanto falava.
- Aqui não tem nada além do que vimos ontem na versão do jornal... Peraí, que isso? – Jack perguntou, quando seus olhos bateram no meio da página. – Antaris? Quem é esse?
- Lucian, Taugor não é um nome criado por você? Você podia ter nos dito que ia colocar seus textos no jornal. – Oleg comentou.
- Eu não coloquei Jack. A não ser que eu tenha tido minha mente lida por alguém, alguém roubou meus textos e está postando-os como se fossem dele! – Eu falei, a raiva difícil de controlar. Eu sou uma pessoa calma e tranqüila, mas meus textos são parte de mim, uma parte muito querida que carrego comigo há anos. Taugor em especial era um conjunto de crônicas que eu levei anos escrevendo. E alguém simplesmente o tinha roubado.
- Lu deve ter algo errado, tem certeza que você não mandou nada? Ás vezes alguém encontrou alguma carta antiga que mandou pro jornal e decidiu postar. – Finn falou tentando ser sensato, mas eu queria tudo menos ser sensato.
- Tenho certeza absoluta Finn, eu nunca sequer o imprimi! Alguém conseguiu mexer em minhas coisas de alguma forma.
- Vamos no jornal, vamos ver se descobrimos alguma coisa. – Ozzy se apressou a dizer e os outros concordaram.
Nós cinco fomos para a sala do jornal que àquela hora estava vazia. Não encontramos nada ali então decidimos ir olhar na gráfica responsável pelas edições dos jornais. Ali descobrimos com o funcionário responsável que a versão que enviamos na noite anterior estava diferente da correta, com a inclusão daquela parte extra.
- Você recebeu essa versão quando? Foi hoje de manhã como de costume? – Jack perguntou, conhecendo a forma como o jornal operava.
- Sim, o Editor-Chefe, o Oliver, esteve aqui e disse que havia uma modificação do jornal. Então me entregou essa nova versão.
- Obrigado. – Eu agradeci e já saia dali. Os garotos me seguiam calados, pois me conheciam bem para saber que aquilo era demais para mim. Quando chegamos ao castelo, Ozzy me segurou pelo ombro.
- Calma Lucian, assim não vai adiantar nada.
- Estou tentando ficar calmo, Ozzy, mas roubaram coisas pessoais, e se já não fosse crime suficiente, publicaram minhas obras com outro nome! – Eu falei com raiva. – Quero encontrar logo o Lukas.
- Tudo bem. Mas acho que devíamos falar primeiro com a Mira ou com a Ferania, elas podem ajudar. – Jack falou e eu concordei com ele.
- Mas acho que o Lukas pode nos esclarecer algo. – Oleg concordou comigo.
- Muito bem, vamos fazer o seguinte: eu vou com você falar com o Lukas, e enquanto isso o Oleg, Jack e Finn procuram a Mira tudo bem? Ela ainda não deve ter chegado na sala de aula. A essa hora acho que a Ferania está no vilarejo e podem demorar a encontrá-la. – Ozzy falou e concordamos, mas Jack quis vir conosco, para evitar que eu, ou Ozzy, voássemos no pescoço do Lukas.
Lukas era do último ano e sabia que naquele horário estaria nas aulas de Feitiços. Olhei no relógio e vi que ainda eram 8:45 e a sala de Feitiços era ali perto, então teríamos como achá-lo antes da aula. E foi como pensei. Assim que chegamos no corredor de Feitiços, vi que Lukas conversava com um colega de república na porta da sala.
- Oliver! – Eu chamei, quando cheguei perto correndo. Paramos perto dele para recuperarmos o fôlego, mas eu logo falei. – Preciso falar com você.
- O que houve, alguma coisa importante? – Ele perguntou, mas se despediu do amigo e nos acompanhou até o início do corredor.
- Lukas, aconteceu o seguinte: hoje de manhã quando vimos o jornal, tinha uma coluna que não estava na versão que vocês finalizaram sexta. – Ozzy falou por mim.
- Sim, eu resolvi fazer uma alteração. Achei que poderia ceder espaço da minha coluna para o novo texto. Resolvi deixar a entrevista com o Müller para a próxima semana.
- Onde conseguiu aquele texto? – Ozzy perguntou.
- Eu o recebi essa manhã. Veio em um envelope que pedia que fosse publicado. Como achei muito bom decidi arriscar e postar no jornal.
- Envelope? Estava assinado? – Eu perguntei e Lukas me olhou.
- O que houve com você, Lucian?
- Esse texto é meu, e eu não autorizei sua reprodução.
- Então porque me mandou?
- Não fui eu que mandei, Lukas! – Eu falei exasperado. – Alguém o roubou de mim.
- Você tem como provar? – Ele perguntou depois de alguns segundos calado. Seus olhos pareciam calculistas naquele momento. – E o que você espera que eu faça?
- Quero que você me diga como conseguiu o texto! Quero ver esse envelope. E quero que seja retirada do jornal.– Eu falei, tentando controlar a voz.
- E por que eu faria isso? O texto foi um sucesso e não há nada que me prove que você é realmente o autor. – Ele deu de ombros e eu fiquei irritado. Algo no modo como ele falava me fez ver que ele não dava a mínima de quem era o texto, já que aumentava a popularidade do jornal. Ozzy se colocou entre nós no momento em que ia empurrá-lo, tomando a dianteira da conversa.
- Olha Lukas, esses textos são importantes para o Lucian. Se ele não os quer publicados, não serão.
- Novamente, Lusth, o que eu ou o jornal tem a ver com isso? – Ele falou, a voz agora cheia de orgulho, justamente por ser o Ozzy a falar com ele.
- Basta vocês três. – Ouvimos a voz da professora Mira no corredor e todos viramos para ela. Ela parecia ter corrido um pouco e vinha junto de Oleg, Finn e Jack. – Aqui não é lugar nem momento para falarmos sobre isso. E estou chocada em ouvir o que você falou Lukas. Convocarei uma reunião extraordinária do Jornal para o horário do almoço. Quero todos presentes.
Ela falou autoritária e nos mandou voltar as nossas aulas, e ficou esperando até que Lukas entrasse na sala de Feitiços e nos acompanhou de volta para a sua classe. Ela tinha pedido que avisassem à turma que se atrasaria e foi nos procurar, pois sabia que podia ter confusão. Antes de entrarmos na sala, porém, ela falou comigo.
- Lucian, se esses textos são seus mesmo, quero que leve os originais para a reunião, está bem? Não se preocupe, me simpatizo com seus sentimentos com relação a eles. Mas deixe para falar disso na hora da reunião.
--------------
A manhã nunca demorou tanto para passar. Não consegui prestar muita atenção nas aulas, nem mesmo da Mira, e Liseria tentava me acalmar. Ela conseguiu e disse que me apoiaria na reunião de hoje. Beijei sua mão por isso e a amei mais.
No final da aula de Transfiguração corri até a república e peguei meu Notebook, assim como quaisquer anotações que eu tivesse. Quando entrei em Durmstrang conseguira autorização para manter o Notebook comigo durante as aulas. Por isso alguns locais do castelo e das redondezas foram liberados para o uso de tecnologia trouxa. A sala do jornal, meu quarto na república e mais recentemente, na livraria da Ferania, estavam livres para o uso.
Quando entrei na sala do Jornal, já estavam todos ali, sentados na mesa de discussão. Jack, Liseria e Edgar, irmão mais novo do Ozzy e amigo de meu irmão Lawfer, me olhavam com simpatia. Parvati, Leonora e Robie pareciam sem entender o porque da reunião, enquanto Lukas parecia sem jeito, pois provavelmente Mira chamara sua atenção. Ferania me olhava preocupada, sabendo como eu me sentia, e Mira também me olhava com calma.
- Muito bem, podemos dar início a essa reunião extraordinária. – Mira deu início e logo Robbie levantou a mão.
- Professora, por que essa reunião tão repentina? Achei que só iríamos nos reunir novamente na sexta.
- Eu não tenho nada preparado no momento. Claro, posso inventar alguma fofoca, digo dividir com vocês algum rumor de última hora, mas seria meio apressado. – Leonora falou e Ferania respondeu.
- Nas pedimos essa reunião para pedir matérias adiantadas, Leonora. Gostaríamos de discutir a última edição que saiu hoje de manhã. – Ela falou e pegou um exemplar diante dela, abrindo na página 5. – É com relação à coluna “Contos de Antaris”.
- Eu vi que ela foi adicionada, mas não dizia quem a estava assinando. – Florence falou. – E não estava na versão que eu o Lukas enviamos para a gráfica.
- Não, não estava. Eu a modifiquei essa manhã, desculpe, Florence, recebi essa coluna de última hora e achei que seria bom publicá-la. Foi bem recebida pelo público. – Ele respondeu me olhando torto, e todos concordaram com ele. Mas levantei a voz acima dos burburinhos.
- Sim, mas esses textos foram roubados e não autorizados pelo autor original. – Eu falei e abri meu notebook. Na tela aparecia o mesmo texto que fora publicado. Houve um silêncio na sala quando falei que era um texto roubado.
- O que você quer dizer com roubado? Nunca publicamos algo roubado. – Robert falou e vi que ele estava chocado.
- O texto que foi publicado essa manhã eu escrevi ao longo dos últimos anos. Eu não pretendia publicá-lo, na verdade isso nunca passou pela minha cabeça. Porém, alguém mexeu nas minhas coisas e os pegou sem minha autorização.
- E hoje de manhã descobrimos que foi publicado. Não assinaram a coluna, pois seria loucura, mas está claro que pretenderam publicar o texto sem o consentimento do Lucian. – Jack completou.
- E qual o problema com isso? – Parvati perguntou, olhando incrédula para nós todos. Eu a olhei ainda mais incrédula e senti uma pontada de raiva.
- Eles não foram autorizados, Parv. – Leo respondeu por mim.
- Mas foram um sucesso! Todos gostaram do textos. Não vejo razão para termos essa reunião “extraordinária” . – Ela falou, fazendo o símbolo de aspas no ar. Respondi com raiva na voz.
- Me diz uma coisa Parvati. Se alguém roubasse algum diário seu, algum recadinho seu para um namorado ou uma amiga, você iria gostar? E se além disso publicassem isso no jornal? Como se sentiria? Se você for ficar feliz, me avisa que eu mesmo faço isso na minha coluna, com coisas suas. – Eu respondi ríspido e todos notaram a tensão no ar. Parvati inflou-se no mesmo instante e abriu a boca para falar, mas vi quando Robbie deu uma pequena cotovelada nela e a fez se calar.
- Não podemos deixar que isso acontece. Seria contra a imagem de nosso jornal. Fora que se continuarmos publicando esses textos roubados, parecerá que estamos dando apoio a quem quer que tenha feito isso. – Lis falou e todos concordaram com ela, apenas Parvati resolveu ficar quieta.
- Mas temos que pensar nos leitores. Lucian, me desculpe, eu entendo perfeitamente seus sentimentos e odiaria que tivesse algo meu roubado e publicado. Com certeza teria armado um barraco muito maior do que você possa imaginar. – Leonora falou, gesticulando e olhando para mim e vi que ela estava sendo sincera. – Mas pense bem, os leitores adoraram a história, eu inclusa! Eles vão querer saber o final dessa novela.
- Novela? – Eu falei, arregalando os olhos e a tensão da sala se desfez em gargalhadas e eu não pude deixar de rir.
- Desculpa, você entendeu o que eu quis dizer. Odeio ficar sabendo da fofoca pela metade. – Ela deu de ombros. – Ao menos me conte o final disso tudo.
- A Leonora tem um ponto. – Edgar respondeu. – Lucian, seus textos são excelentes e todos gostaram. Não gostei de terem roubado eles de vocês, mas se você os publicasse, eu apoiaria.
- Eu também. É algo que você merece e deve fazer. – Ferania logo se apressou a dizer e todos no jornal votaram no mesmo ponto.
- Lucian, você tem o dom da escrita e isso não deveria ficar escondido. Todos gostaram do que viram, então concordo que devemos continuar postando. – Mira falou e eu fiquei um tempo calado. Nunca tinha pensado em publicar, talvez por medo de não ser aceito ou então por não querer ser conhecido demais. Mas eles estavam me apoiando e incentivando.
- Eu não sei. Nunca tinha pensado nisso... – Eu respondi.
- Não precisa ser agora. Você pode esperar um pouco mais e continuar escrevendo e quando tiver mais seguro de suas obras, publique-as conosco. Retiraremos a coluna “Contos de Antaris” e lhe daremos uma nova coluna, além da que você já tem. – Ferania falou animada e me contagiou.
- Eu... Eu vou pensar, mas gostei da idéia. – Respondi animado. – Mas e os textos roubados? O que impede de não terem sido outros? Posso mandar meu notebook para um amigo e ele pode descobrir tudo que foi acessado.
- Faça isso então, assim saberemos o que foi roubado de você. – Mira falou. – Então entramos em um acordo: qualquer texto enviado por esse “Antaris” deverá ser descartado do jornal e entregue a nós, para que possamos investigar. Vou pedir ajuda ao Diretor quanto a esse assunto, caso ele se repita.
- Eu fiquei com a impressão de que esse “Antaris” pretende continuar mandando esses textos. Ele deve mandar para mim novamente, pois fui eu que recebi o primeiro, mas não os publicarei mais. – Lukas falou, entregando o envelope que recebera para as professoras. Ferania logo lançou um feitiço sobre ele, para tentar identificar algum traço mágico, mas não havia nada, a pessoa tinha sido cautelosa.
--------------
Pelo menos três edições do jornal foram publicadas sem mais incidentes.
Mas isso não significa que não houveram tentativas.
Em todas as segundas-feiras pela manhã, o Lukas recebeu uma cópia de uma nova história para ser publicada, novamente assinada por “Antaris”. Na terceira edição, a Florence também recebeu uma cópia da mesma história. Nelas havia uma carta em anexo, questionando o porque das remessas anteriores não terem sido publicadas. Mas ainda não tínhamos pista de quem quer que fosse que estava mandando aquelas cópias para eles.
Quanto aos leitores, recebemos muitas cartas pedindo que voltássemos com a coluna de “Antaris”. Como não queríamos um escândalo, respondemos que a coluna fora apenas um teste e que ainda estávamos em dúvida sobre sua publicação.
Animado pelos leitores, pelas professoras, por meus amigos, mas principalmente por Liseria e Lenneth eu decidi postar um texto. Dei à nova coluna o nome de “Memórias de Chronos” e publiquei nela meu primeiro texto, na última edição do ano do jornal. A história publicada falava sobre a criação de Lognus, que tinha uma ligação com o texto roubado e publicado anteriormente. Estava animado com a resposta do público e não conseguia esperar que chegasse a sexta-feira. A última edição do ano sempre era especial, pois fazíamos uma retrospectiva do ano e das matérias, preparando uma edição maior e com mais detalhes.
Eu trabalhei particularmente nessa edição, ajudando todos a preparar essa edição especial. Ela foi excelente pois nos permitiu lembrar de todos os fatos acontecidos ao longo do ano. Lembramos da Festa de Halloween, das partidas de Quadribol e de Hóquei, dos ensaios e audições da Yelchin e tudo mais. Eu acabei me lembrando daquela garota misteriosa e descobri que ainda tinha a foto que o Ozzy conseguira para mim. Ainda tinha curiosidade de saber quem era e porque fizera aquilo. Mas estava tão perto de encontrar Antaris, quanto de encontrar a Dama de Branco, como a apelidei.
Entreguei essa edição para a gráfica pessoalmente a pedido da Florence e do Lukas, na quinta- feira a noite.
Mas meu humor tornou-se negro na sexta de manhã.
Abri o jornal assim que acordei, com os garotos animados ao meu redor, todos querendo ver meu primeiro texto publicado oficialmente. Porém, minha coluna havia sido retirada e no lugar dela estava outro texto roubado, novamente assinado por Antaris. E ele ainda se atreveu a dizer que o jornal havia se negado a publicar seus textos e por isso demorara tanto para escrever novamente.
Nunca senti tanto ódio como naquele dia e prometi a mim mesmo que descobriria quem era ele e que ele me pagaria.
- O que é isso, Lu? O que aconteceu? – Ele perguntou, preocupado pelo meu semblante.
- Leia que você vai entender. – Eu me limitei a falar e ele correu os olhos pelo jornal enquanto falava.
- Aqui não tem nada além do que vimos ontem na versão do jornal... Peraí, que isso? – Jack perguntou, quando seus olhos bateram no meio da página. – Antaris? Quem é esse?
- Lucian, Taugor não é um nome criado por você? Você podia ter nos dito que ia colocar seus textos no jornal. – Oleg comentou.
- Eu não coloquei Jack. A não ser que eu tenha tido minha mente lida por alguém, alguém roubou meus textos e está postando-os como se fossem dele! – Eu falei, a raiva difícil de controlar. Eu sou uma pessoa calma e tranqüila, mas meus textos são parte de mim, uma parte muito querida que carrego comigo há anos. Taugor em especial era um conjunto de crônicas que eu levei anos escrevendo. E alguém simplesmente o tinha roubado.
- Lu deve ter algo errado, tem certeza que você não mandou nada? Ás vezes alguém encontrou alguma carta antiga que mandou pro jornal e decidiu postar. – Finn falou tentando ser sensato, mas eu queria tudo menos ser sensato.
- Tenho certeza absoluta Finn, eu nunca sequer o imprimi! Alguém conseguiu mexer em minhas coisas de alguma forma.
- Vamos no jornal, vamos ver se descobrimos alguma coisa. – Ozzy se apressou a dizer e os outros concordaram.
Nós cinco fomos para a sala do jornal que àquela hora estava vazia. Não encontramos nada ali então decidimos ir olhar na gráfica responsável pelas edições dos jornais. Ali descobrimos com o funcionário responsável que a versão que enviamos na noite anterior estava diferente da correta, com a inclusão daquela parte extra.
- Você recebeu essa versão quando? Foi hoje de manhã como de costume? – Jack perguntou, conhecendo a forma como o jornal operava.
- Sim, o Editor-Chefe, o Oliver, esteve aqui e disse que havia uma modificação do jornal. Então me entregou essa nova versão.
- Obrigado. – Eu agradeci e já saia dali. Os garotos me seguiam calados, pois me conheciam bem para saber que aquilo era demais para mim. Quando chegamos ao castelo, Ozzy me segurou pelo ombro.
- Calma Lucian, assim não vai adiantar nada.
- Estou tentando ficar calmo, Ozzy, mas roubaram coisas pessoais, e se já não fosse crime suficiente, publicaram minhas obras com outro nome! – Eu falei com raiva. – Quero encontrar logo o Lukas.
- Tudo bem. Mas acho que devíamos falar primeiro com a Mira ou com a Ferania, elas podem ajudar. – Jack falou e eu concordei com ele.
- Mas acho que o Lukas pode nos esclarecer algo. – Oleg concordou comigo.
- Muito bem, vamos fazer o seguinte: eu vou com você falar com o Lukas, e enquanto isso o Oleg, Jack e Finn procuram a Mira tudo bem? Ela ainda não deve ter chegado na sala de aula. A essa hora acho que a Ferania está no vilarejo e podem demorar a encontrá-la. – Ozzy falou e concordamos, mas Jack quis vir conosco, para evitar que eu, ou Ozzy, voássemos no pescoço do Lukas.
Lukas era do último ano e sabia que naquele horário estaria nas aulas de Feitiços. Olhei no relógio e vi que ainda eram 8:45 e a sala de Feitiços era ali perto, então teríamos como achá-lo antes da aula. E foi como pensei. Assim que chegamos no corredor de Feitiços, vi que Lukas conversava com um colega de república na porta da sala.
- Oliver! – Eu chamei, quando cheguei perto correndo. Paramos perto dele para recuperarmos o fôlego, mas eu logo falei. – Preciso falar com você.
- O que houve, alguma coisa importante? – Ele perguntou, mas se despediu do amigo e nos acompanhou até o início do corredor.
- Lukas, aconteceu o seguinte: hoje de manhã quando vimos o jornal, tinha uma coluna que não estava na versão que vocês finalizaram sexta. – Ozzy falou por mim.
- Sim, eu resolvi fazer uma alteração. Achei que poderia ceder espaço da minha coluna para o novo texto. Resolvi deixar a entrevista com o Müller para a próxima semana.
- Onde conseguiu aquele texto? – Ozzy perguntou.
- Eu o recebi essa manhã. Veio em um envelope que pedia que fosse publicado. Como achei muito bom decidi arriscar e postar no jornal.
- Envelope? Estava assinado? – Eu perguntei e Lukas me olhou.
- O que houve com você, Lucian?
- Esse texto é meu, e eu não autorizei sua reprodução.
- Então porque me mandou?
- Não fui eu que mandei, Lukas! – Eu falei exasperado. – Alguém o roubou de mim.
- Você tem como provar? – Ele perguntou depois de alguns segundos calado. Seus olhos pareciam calculistas naquele momento. – E o que você espera que eu faça?
- Quero que você me diga como conseguiu o texto! Quero ver esse envelope. E quero que seja retirada do jornal.– Eu falei, tentando controlar a voz.
- E por que eu faria isso? O texto foi um sucesso e não há nada que me prove que você é realmente o autor. – Ele deu de ombros e eu fiquei irritado. Algo no modo como ele falava me fez ver que ele não dava a mínima de quem era o texto, já que aumentava a popularidade do jornal. Ozzy se colocou entre nós no momento em que ia empurrá-lo, tomando a dianteira da conversa.
- Olha Lukas, esses textos são importantes para o Lucian. Se ele não os quer publicados, não serão.
- Novamente, Lusth, o que eu ou o jornal tem a ver com isso? – Ele falou, a voz agora cheia de orgulho, justamente por ser o Ozzy a falar com ele.
- Basta vocês três. – Ouvimos a voz da professora Mira no corredor e todos viramos para ela. Ela parecia ter corrido um pouco e vinha junto de Oleg, Finn e Jack. – Aqui não é lugar nem momento para falarmos sobre isso. E estou chocada em ouvir o que você falou Lukas. Convocarei uma reunião extraordinária do Jornal para o horário do almoço. Quero todos presentes.
Ela falou autoritária e nos mandou voltar as nossas aulas, e ficou esperando até que Lukas entrasse na sala de Feitiços e nos acompanhou de volta para a sua classe. Ela tinha pedido que avisassem à turma que se atrasaria e foi nos procurar, pois sabia que podia ter confusão. Antes de entrarmos na sala, porém, ela falou comigo.
- Lucian, se esses textos são seus mesmo, quero que leve os originais para a reunião, está bem? Não se preocupe, me simpatizo com seus sentimentos com relação a eles. Mas deixe para falar disso na hora da reunião.
--------------
A manhã nunca demorou tanto para passar. Não consegui prestar muita atenção nas aulas, nem mesmo da Mira, e Liseria tentava me acalmar. Ela conseguiu e disse que me apoiaria na reunião de hoje. Beijei sua mão por isso e a amei mais.
No final da aula de Transfiguração corri até a república e peguei meu Notebook, assim como quaisquer anotações que eu tivesse. Quando entrei em Durmstrang conseguira autorização para manter o Notebook comigo durante as aulas. Por isso alguns locais do castelo e das redondezas foram liberados para o uso de tecnologia trouxa. A sala do jornal, meu quarto na república e mais recentemente, na livraria da Ferania, estavam livres para o uso.
Quando entrei na sala do Jornal, já estavam todos ali, sentados na mesa de discussão. Jack, Liseria e Edgar, irmão mais novo do Ozzy e amigo de meu irmão Lawfer, me olhavam com simpatia. Parvati, Leonora e Robie pareciam sem entender o porque da reunião, enquanto Lukas parecia sem jeito, pois provavelmente Mira chamara sua atenção. Ferania me olhava preocupada, sabendo como eu me sentia, e Mira também me olhava com calma.
- Muito bem, podemos dar início a essa reunião extraordinária. – Mira deu início e logo Robbie levantou a mão.
- Professora, por que essa reunião tão repentina? Achei que só iríamos nos reunir novamente na sexta.
- Eu não tenho nada preparado no momento. Claro, posso inventar alguma fofoca, digo dividir com vocês algum rumor de última hora, mas seria meio apressado. – Leonora falou e Ferania respondeu.
- Nas pedimos essa reunião para pedir matérias adiantadas, Leonora. Gostaríamos de discutir a última edição que saiu hoje de manhã. – Ela falou e pegou um exemplar diante dela, abrindo na página 5. – É com relação à coluna “Contos de Antaris”.
- Eu vi que ela foi adicionada, mas não dizia quem a estava assinando. – Florence falou. – E não estava na versão que eu o Lukas enviamos para a gráfica.
- Não, não estava. Eu a modifiquei essa manhã, desculpe, Florence, recebi essa coluna de última hora e achei que seria bom publicá-la. Foi bem recebida pelo público. – Ele respondeu me olhando torto, e todos concordaram com ele. Mas levantei a voz acima dos burburinhos.
- Sim, mas esses textos foram roubados e não autorizados pelo autor original. – Eu falei e abri meu notebook. Na tela aparecia o mesmo texto que fora publicado. Houve um silêncio na sala quando falei que era um texto roubado.
- O que você quer dizer com roubado? Nunca publicamos algo roubado. – Robert falou e vi que ele estava chocado.
- O texto que foi publicado essa manhã eu escrevi ao longo dos últimos anos. Eu não pretendia publicá-lo, na verdade isso nunca passou pela minha cabeça. Porém, alguém mexeu nas minhas coisas e os pegou sem minha autorização.
- E hoje de manhã descobrimos que foi publicado. Não assinaram a coluna, pois seria loucura, mas está claro que pretenderam publicar o texto sem o consentimento do Lucian. – Jack completou.
- E qual o problema com isso? – Parvati perguntou, olhando incrédula para nós todos. Eu a olhei ainda mais incrédula e senti uma pontada de raiva.
- Eles não foram autorizados, Parv. – Leo respondeu por mim.
- Mas foram um sucesso! Todos gostaram do textos. Não vejo razão para termos essa reunião “extraordinária” . – Ela falou, fazendo o símbolo de aspas no ar. Respondi com raiva na voz.
- Me diz uma coisa Parvati. Se alguém roubasse algum diário seu, algum recadinho seu para um namorado ou uma amiga, você iria gostar? E se além disso publicassem isso no jornal? Como se sentiria? Se você for ficar feliz, me avisa que eu mesmo faço isso na minha coluna, com coisas suas. – Eu respondi ríspido e todos notaram a tensão no ar. Parvati inflou-se no mesmo instante e abriu a boca para falar, mas vi quando Robbie deu uma pequena cotovelada nela e a fez se calar.
- Não podemos deixar que isso acontece. Seria contra a imagem de nosso jornal. Fora que se continuarmos publicando esses textos roubados, parecerá que estamos dando apoio a quem quer que tenha feito isso. – Lis falou e todos concordaram com ela, apenas Parvati resolveu ficar quieta.
- Mas temos que pensar nos leitores. Lucian, me desculpe, eu entendo perfeitamente seus sentimentos e odiaria que tivesse algo meu roubado e publicado. Com certeza teria armado um barraco muito maior do que você possa imaginar. – Leonora falou, gesticulando e olhando para mim e vi que ela estava sendo sincera. – Mas pense bem, os leitores adoraram a história, eu inclusa! Eles vão querer saber o final dessa novela.
- Novela? – Eu falei, arregalando os olhos e a tensão da sala se desfez em gargalhadas e eu não pude deixar de rir.
- Desculpa, você entendeu o que eu quis dizer. Odeio ficar sabendo da fofoca pela metade. – Ela deu de ombros. – Ao menos me conte o final disso tudo.
- A Leonora tem um ponto. – Edgar respondeu. – Lucian, seus textos são excelentes e todos gostaram. Não gostei de terem roubado eles de vocês, mas se você os publicasse, eu apoiaria.
- Eu também. É algo que você merece e deve fazer. – Ferania logo se apressou a dizer e todos no jornal votaram no mesmo ponto.
- Lucian, você tem o dom da escrita e isso não deveria ficar escondido. Todos gostaram do que viram, então concordo que devemos continuar postando. – Mira falou e eu fiquei um tempo calado. Nunca tinha pensado em publicar, talvez por medo de não ser aceito ou então por não querer ser conhecido demais. Mas eles estavam me apoiando e incentivando.
- Eu não sei. Nunca tinha pensado nisso... – Eu respondi.
- Não precisa ser agora. Você pode esperar um pouco mais e continuar escrevendo e quando tiver mais seguro de suas obras, publique-as conosco. Retiraremos a coluna “Contos de Antaris” e lhe daremos uma nova coluna, além da que você já tem. – Ferania falou animada e me contagiou.
- Eu... Eu vou pensar, mas gostei da idéia. – Respondi animado. – Mas e os textos roubados? O que impede de não terem sido outros? Posso mandar meu notebook para um amigo e ele pode descobrir tudo que foi acessado.
- Faça isso então, assim saberemos o que foi roubado de você. – Mira falou. – Então entramos em um acordo: qualquer texto enviado por esse “Antaris” deverá ser descartado do jornal e entregue a nós, para que possamos investigar. Vou pedir ajuda ao Diretor quanto a esse assunto, caso ele se repita.
- Eu fiquei com a impressão de que esse “Antaris” pretende continuar mandando esses textos. Ele deve mandar para mim novamente, pois fui eu que recebi o primeiro, mas não os publicarei mais. – Lukas falou, entregando o envelope que recebera para as professoras. Ferania logo lançou um feitiço sobre ele, para tentar identificar algum traço mágico, mas não havia nada, a pessoa tinha sido cautelosa.
--------------
Pelo menos três edições do jornal foram publicadas sem mais incidentes.
Mas isso não significa que não houveram tentativas.
Em todas as segundas-feiras pela manhã, o Lukas recebeu uma cópia de uma nova história para ser publicada, novamente assinada por “Antaris”. Na terceira edição, a Florence também recebeu uma cópia da mesma história. Nelas havia uma carta em anexo, questionando o porque das remessas anteriores não terem sido publicadas. Mas ainda não tínhamos pista de quem quer que fosse que estava mandando aquelas cópias para eles.
Quanto aos leitores, recebemos muitas cartas pedindo que voltássemos com a coluna de “Antaris”. Como não queríamos um escândalo, respondemos que a coluna fora apenas um teste e que ainda estávamos em dúvida sobre sua publicação.
Animado pelos leitores, pelas professoras, por meus amigos, mas principalmente por Liseria e Lenneth eu decidi postar um texto. Dei à nova coluna o nome de “Memórias de Chronos” e publiquei nela meu primeiro texto, na última edição do ano do jornal. A história publicada falava sobre a criação de Lognus, que tinha uma ligação com o texto roubado e publicado anteriormente. Estava animado com a resposta do público e não conseguia esperar que chegasse a sexta-feira. A última edição do ano sempre era especial, pois fazíamos uma retrospectiva do ano e das matérias, preparando uma edição maior e com mais detalhes.
Eu trabalhei particularmente nessa edição, ajudando todos a preparar essa edição especial. Ela foi excelente pois nos permitiu lembrar de todos os fatos acontecidos ao longo do ano. Lembramos da Festa de Halloween, das partidas de Quadribol e de Hóquei, dos ensaios e audições da Yelchin e tudo mais. Eu acabei me lembrando daquela garota misteriosa e descobri que ainda tinha a foto que o Ozzy conseguira para mim. Ainda tinha curiosidade de saber quem era e porque fizera aquilo. Mas estava tão perto de encontrar Antaris, quanto de encontrar a Dama de Branco, como a apelidei.
Entreguei essa edição para a gráfica pessoalmente a pedido da Florence e do Lukas, na quinta- feira a noite.
Mas meu humor tornou-se negro na sexta de manhã.
Abri o jornal assim que acordei, com os garotos animados ao meu redor, todos querendo ver meu primeiro texto publicado oficialmente. Porém, minha coluna havia sido retirada e no lugar dela estava outro texto roubado, novamente assinado por Antaris. E ele ainda se atreveu a dizer que o jornal havia se negado a publicar seus textos e por isso demorara tanto para escrever novamente.
Nunca senti tanto ódio como naquele dia e prometi a mim mesmo que descobriria quem era ele e que ele me pagaria.
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