- Ozzy, eu quero saber quem foi o responsável por isso. – Eu falei, jogando o jornal nas suas mãos assim que o encontrei. Ele, Jack, Oleg e Finn conversavam enquanto caminhavam para a aula e eu os encontrei no meio das escadas do segundo andar. Ozzy não fazia parte do Jornal, mas foi um dos primeiros que pensei que poderia me ajudar. E Jack fazia parte do Jornal, ele também me ajudaria.
- O que é isso, Lu? O que aconteceu? – Ele perguntou, preocupado pelo meu semblante.
- Leia que você vai entender. – Eu me limitei a falar e ele correu os olhos pelo jornal enquanto falava.
- Aqui não tem nada além do que vimos ontem na versão do jornal... Peraí, que isso? – Jack perguntou, quando seus olhos bateram no meio da página. – Antaris? Quem é esse?
- Lucian, Taugor não é um nome criado por você? Você podia ter nos dito que ia colocar seus textos no jornal. – Oleg comentou.
- Eu não coloquei Jack. A não ser que eu tenha tido minha mente lida por alguém, alguém roubou meus textos e está postando-os como se fossem dele! – Eu falei, a raiva difícil de controlar. Eu sou uma pessoa calma e tranqüila, mas meus textos são parte de mim, uma parte muito querida que carrego comigo há anos. Taugor em especial era um conjunto de crônicas que eu levei anos escrevendo. E alguém simplesmente o tinha roubado.
- Lu deve ter algo errado, tem certeza que você não mandou nada? Ás vezes alguém encontrou alguma carta antiga que mandou pro jornal e decidiu postar. – Finn falou tentando ser sensato, mas eu queria tudo menos ser sensato.
- Tenho certeza absoluta Finn, eu nunca sequer o imprimi! Alguém conseguiu mexer em minhas coisas de alguma forma.
- Vamos no jornal, vamos ver se descobrimos alguma coisa. – Ozzy se apressou a dizer e os outros concordaram.
Nós cinco fomos para a sala do jornal que àquela hora estava vazia. Não encontramos nada ali então decidimos ir olhar na gráfica responsável pelas edições dos jornais. Ali descobrimos com o funcionário responsável que a versão que enviamos na noite anterior estava diferente da correta, com a inclusão daquela parte extra.
- Você recebeu essa versão quando? Foi hoje de manhã como de costume? – Jack perguntou, conhecendo a forma como o jornal operava.
- Sim, o Editor-Chefe, o Oliver, esteve aqui e disse que havia uma modificação do jornal. Então me entregou essa nova versão.
- Obrigado. – Eu agradeci e já saia dali. Os garotos me seguiam calados, pois me conheciam bem para saber que aquilo era demais para mim. Quando chegamos ao castelo, Ozzy me segurou pelo ombro.
- Calma Lucian, assim não vai adiantar nada.
- Estou tentando ficar calmo, Ozzy, mas roubaram coisas pessoais, e se já não fosse crime suficiente, publicaram minhas obras com outro nome! – Eu falei com raiva. – Quero encontrar logo o Lukas.
- Tudo bem. Mas acho que devíamos falar primeiro com a Mira ou com a Ferania, elas podem ajudar. – Jack falou e eu concordei com ele.
- Mas acho que o Lukas pode nos esclarecer algo. – Oleg concordou comigo.
- Muito bem, vamos fazer o seguinte: eu vou com você falar com o Lukas, e enquanto isso o Oleg, Jack e Finn procuram a Mira tudo bem? Ela ainda não deve ter chegado na sala de aula. A essa hora acho que a Ferania está no vilarejo e podem demorar a encontrá-la. – Ozzy falou e concordamos, mas Jack quis vir conosco, para evitar que eu, ou Ozzy, voássemos no pescoço do Lukas.
Lukas era do último ano e sabia que naquele horário estaria nas aulas de Feitiços. Olhei no relógio e vi que ainda eram 8:45 e a sala de Feitiços era ali perto, então teríamos como achá-lo antes da aula. E foi como pensei. Assim que chegamos no corredor de Feitiços, vi que Lukas conversava com um colega de república na porta da sala.
- Oliver! – Eu chamei, quando cheguei perto correndo. Paramos perto dele para recuperarmos o fôlego, mas eu logo falei. – Preciso falar com você.
- O que houve, alguma coisa importante? – Ele perguntou, mas se despediu do amigo e nos acompanhou até o início do corredor.
- Lukas, aconteceu o seguinte: hoje de manhã quando vimos o jornal, tinha uma coluna que não estava na versão que vocês finalizaram sexta. – Ozzy falou por mim.
- Sim, eu resolvi fazer uma alteração. Achei que poderia ceder espaço da minha coluna para o novo texto. Resolvi deixar a entrevista com o Müller para a próxima semana.
- Onde conseguiu aquele texto? – Ozzy perguntou.
- Eu o recebi essa manhã. Veio em um envelope que pedia que fosse publicado. Como achei muito bom decidi arriscar e postar no jornal.
- Envelope? Estava assinado? – Eu perguntei e Lukas me olhou.
- O que houve com você, Lucian?
- Esse texto é meu, e eu não autorizei sua reprodução.
- Então porque me mandou?
- Não fui eu que mandei, Lukas! – Eu falei exasperado. – Alguém o roubou de mim.
- Você tem como provar? – Ele perguntou depois de alguns segundos calado. Seus olhos pareciam calculistas naquele momento. – E o que você espera que eu faça?
- Quero que você me diga como conseguiu o texto! Quero ver esse envelope. E quero que seja retirada do jornal.– Eu falei, tentando controlar a voz.
- E por que eu faria isso? O texto foi um sucesso e não há nada que me prove que você é realmente o autor. – Ele deu de ombros e eu fiquei irritado. Algo no modo como ele falava me fez ver que ele não dava a mínima de quem era o texto, já que aumentava a popularidade do jornal. Ozzy se colocou entre nós no momento em que ia empurrá-lo, tomando a dianteira da conversa.
- Olha Lukas, esses textos são importantes para o Lucian. Se ele não os quer publicados, não serão.
- Novamente, Lusth, o que eu ou o jornal tem a ver com isso? – Ele falou, a voz agora cheia de orgulho, justamente por ser o Ozzy a falar com ele.
- Basta vocês três. – Ouvimos a voz da professora Mira no corredor e todos viramos para ela. Ela parecia ter corrido um pouco e vinha junto de Oleg, Finn e Jack. – Aqui não é lugar nem momento para falarmos sobre isso. E estou chocada em ouvir o que você falou Lukas. Convocarei uma reunião extraordinária do Jornal para o horário do almoço. Quero todos presentes.
Ela falou autoritária e nos mandou voltar as nossas aulas, e ficou esperando até que Lukas entrasse na sala de Feitiços e nos acompanhou de volta para a sua classe. Ela tinha pedido que avisassem à turma que se atrasaria e foi nos procurar, pois sabia que podia ter confusão. Antes de entrarmos na sala, porém, ela falou comigo.
- Lucian, se esses textos são seus mesmo, quero que leve os originais para a reunião, está bem? Não se preocupe, me simpatizo com seus sentimentos com relação a eles. Mas deixe para falar disso na hora da reunião.
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A manhã nunca demorou tanto para passar. Não consegui prestar muita atenção nas aulas, nem mesmo da Mira, e Liseria tentava me acalmar. Ela conseguiu e disse que me apoiaria na reunião de hoje. Beijei sua mão por isso e a amei mais.
No final da aula de Transfiguração corri até a república e peguei meu Notebook, assim como quaisquer anotações que eu tivesse. Quando entrei em Durmstrang conseguira autorização para manter o Notebook comigo durante as aulas. Por isso alguns locais do castelo e das redondezas foram liberados para o uso de tecnologia trouxa. A sala do jornal, meu quarto na república e mais recentemente, na livraria da Ferania, estavam livres para o uso.
Quando entrei na sala do Jornal, já estavam todos ali, sentados na mesa de discussão. Jack, Liseria e Edgar, irmão mais novo do Ozzy e amigo de meu irmão Lawfer, me olhavam com simpatia. Parvati, Leonora e Robie pareciam sem entender o porque da reunião, enquanto Lukas parecia sem jeito, pois provavelmente Mira chamara sua atenção. Ferania me olhava preocupada, sabendo como eu me sentia, e Mira também me olhava com calma.
- Muito bem, podemos dar início a essa reunião extraordinária. – Mira deu início e logo Robbie levantou a mão.
- Professora, por que essa reunião tão repentina? Achei que só iríamos nos reunir novamente na sexta.
- Eu não tenho nada preparado no momento. Claro, posso inventar alguma fofoca, digo dividir com vocês algum rumor de última hora, mas seria meio apressado. – Leonora falou e Ferania respondeu.
- Nas pedimos essa reunião para pedir matérias adiantadas, Leonora. Gostaríamos de discutir a última edição que saiu hoje de manhã. – Ela falou e pegou um exemplar diante dela, abrindo na página 5. – É com relação à coluna “Contos de Antaris”.
- Eu vi que ela foi adicionada, mas não dizia quem a estava assinando. – Florence falou. – E não estava na versão que eu o Lukas enviamos para a gráfica.
- Não, não estava. Eu a modifiquei essa manhã, desculpe, Florence, recebi essa coluna de última hora e achei que seria bom publicá-la. Foi bem recebida pelo público. – Ele respondeu me olhando torto, e todos concordaram com ele. Mas levantei a voz acima dos burburinhos.
- Sim, mas esses textos foram roubados e não autorizados pelo autor original. – Eu falei e abri meu notebook. Na tela aparecia o mesmo texto que fora publicado. Houve um silêncio na sala quando falei que era um texto roubado.
- O que você quer dizer com roubado? Nunca publicamos algo roubado. – Robert falou e vi que ele estava chocado.
- O texto que foi publicado essa manhã eu escrevi ao longo dos últimos anos. Eu não pretendia publicá-lo, na verdade isso nunca passou pela minha cabeça. Porém, alguém mexeu nas minhas coisas e os pegou sem minha autorização.
- E hoje de manhã descobrimos que foi publicado. Não assinaram a coluna, pois seria loucura, mas está claro que pretenderam publicar o texto sem o consentimento do Lucian. – Jack completou.
- E qual o problema com isso? – Parvati perguntou, olhando incrédula para nós todos. Eu a olhei ainda mais incrédula e senti uma pontada de raiva.
- Eles não foram autorizados, Parv. – Leo respondeu por mim.
- Mas foram um sucesso! Todos gostaram do textos. Não vejo razão para termos essa reunião “extraordinária” . – Ela falou, fazendo o símbolo de aspas no ar. Respondi com raiva na voz.
- Me diz uma coisa Parvati. Se alguém roubasse algum diário seu, algum recadinho seu para um namorado ou uma amiga, você iria gostar? E se além disso publicassem isso no jornal? Como se sentiria? Se você for ficar feliz, me avisa que eu mesmo faço isso na minha coluna, com coisas suas. – Eu respondi ríspido e todos notaram a tensão no ar. Parvati inflou-se no mesmo instante e abriu a boca para falar, mas vi quando Robbie deu uma pequena cotovelada nela e a fez se calar.
- Não podemos deixar que isso acontece. Seria contra a imagem de nosso jornal. Fora que se continuarmos publicando esses textos roubados, parecerá que estamos dando apoio a quem quer que tenha feito isso. – Lis falou e todos concordaram com ela, apenas Parvati resolveu ficar quieta.
- Mas temos que pensar nos leitores. Lucian, me desculpe, eu entendo perfeitamente seus sentimentos e odiaria que tivesse algo meu roubado e publicado. Com certeza teria armado um barraco muito maior do que você possa imaginar. – Leonora falou, gesticulando e olhando para mim e vi que ela estava sendo sincera. – Mas pense bem, os leitores adoraram a história, eu inclusa! Eles vão querer saber o final dessa novela.
- Novela? – Eu falei, arregalando os olhos e a tensão da sala se desfez em gargalhadas e eu não pude deixar de rir.
- Desculpa, você entendeu o que eu quis dizer. Odeio ficar sabendo da fofoca pela metade. – Ela deu de ombros. – Ao menos me conte o final disso tudo.
- A Leonora tem um ponto. – Edgar respondeu. – Lucian, seus textos são excelentes e todos gostaram. Não gostei de terem roubado eles de vocês, mas se você os publicasse, eu apoiaria.
- Eu também. É algo que você merece e deve fazer. – Ferania logo se apressou a dizer e todos no jornal votaram no mesmo ponto.
- Lucian, você tem o dom da escrita e isso não deveria ficar escondido. Todos gostaram do que viram, então concordo que devemos continuar postando. – Mira falou e eu fiquei um tempo calado. Nunca tinha pensado em publicar, talvez por medo de não ser aceito ou então por não querer ser conhecido demais. Mas eles estavam me apoiando e incentivando.
- Eu não sei. Nunca tinha pensado nisso... – Eu respondi.
- Não precisa ser agora. Você pode esperar um pouco mais e continuar escrevendo e quando tiver mais seguro de suas obras, publique-as conosco. Retiraremos a coluna “Contos de Antaris” e lhe daremos uma nova coluna, além da que você já tem. – Ferania falou animada e me contagiou.
- Eu... Eu vou pensar, mas gostei da idéia. – Respondi animado. – Mas e os textos roubados? O que impede de não terem sido outros? Posso mandar meu notebook para um amigo e ele pode descobrir tudo que foi acessado.
- Faça isso então, assim saberemos o que foi roubado de você. – Mira falou. – Então entramos em um acordo: qualquer texto enviado por esse “Antaris” deverá ser descartado do jornal e entregue a nós, para que possamos investigar. Vou pedir ajuda ao Diretor quanto a esse assunto, caso ele se repita.
- Eu fiquei com a impressão de que esse “Antaris” pretende continuar mandando esses textos. Ele deve mandar para mim novamente, pois fui eu que recebi o primeiro, mas não os publicarei mais. – Lukas falou, entregando o envelope que recebera para as professoras. Ferania logo lançou um feitiço sobre ele, para tentar identificar algum traço mágico, mas não havia nada, a pessoa tinha sido cautelosa.
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Pelo menos três edições do jornal foram publicadas sem mais incidentes.
Mas isso não significa que não houveram tentativas.
Em todas as segundas-feiras pela manhã, o Lukas recebeu uma cópia de uma nova história para ser publicada, novamente assinada por “Antaris”. Na terceira edição, a Florence também recebeu uma cópia da mesma história. Nelas havia uma carta em anexo, questionando o porque das remessas anteriores não terem sido publicadas. Mas ainda não tínhamos pista de quem quer que fosse que estava mandando aquelas cópias para eles.
Quanto aos leitores, recebemos muitas cartas pedindo que voltássemos com a coluna de “Antaris”. Como não queríamos um escândalo, respondemos que a coluna fora apenas um teste e que ainda estávamos em dúvida sobre sua publicação.
Animado pelos leitores, pelas professoras, por meus amigos, mas principalmente por Liseria e Lenneth eu decidi postar um texto. Dei à nova coluna o nome de “Memórias de Chronos” e publiquei nela meu primeiro texto, na última edição do ano do jornal. A história publicada falava sobre a criação de Lognus, que tinha uma ligação com o texto roubado e publicado anteriormente. Estava animado com a resposta do público e não conseguia esperar que chegasse a sexta-feira. A última edição do ano sempre era especial, pois fazíamos uma retrospectiva do ano e das matérias, preparando uma edição maior e com mais detalhes.
Eu trabalhei particularmente nessa edição, ajudando todos a preparar essa edição especial. Ela foi excelente pois nos permitiu lembrar de todos os fatos acontecidos ao longo do ano. Lembramos da Festa de Halloween, das partidas de Quadribol e de Hóquei, dos ensaios e audições da Yelchin e tudo mais. Eu acabei me lembrando daquela garota misteriosa e descobri que ainda tinha a foto que o Ozzy conseguira para mim. Ainda tinha curiosidade de saber quem era e porque fizera aquilo. Mas estava tão perto de encontrar Antaris, quanto de encontrar a Dama de Branco, como a apelidei.
Entreguei essa edição para a gráfica pessoalmente a pedido da Florence e do Lukas, na quinta- feira a noite.
Mas meu humor tornou-se negro na sexta de manhã.
Abri o jornal assim que acordei, com os garotos animados ao meu redor, todos querendo ver meu primeiro texto publicado oficialmente. Porém, minha coluna havia sido retirada e no lugar dela estava outro texto roubado, novamente assinado por Antaris. E ele ainda se atreveu a dizer que o jornal havia se negado a publicar seus textos e por isso demorara tanto para escrever novamente.
Nunca senti tanto ódio como naquele dia e prometi a mim mesmo que descobriria quem era ele e que ele me pagaria.