Friday, July 29, 2011

- Lucian, o Reno é o melhor professor que existe, eu já disse isso? – Ozzy comentou, pela quarta vez pelo menos.
- Sim, Ozzy, umas cinco vezes só hoje. – Eu falei rindo. Estávamos sentados na sala da minha casa e Ozzy não escondia o nervosismo. Todos os seus equipamentos de Hockey estavam prontos em uma mochila que eu ajudei a organizar. Reno combinara de ir buscar o Ozzy na hora marcada para o treino e ele por vez quis esperar em minha casa. Todos nossos amigos já tinham ido para a festa de Sófia, ainda estava cedo é verdade, mas todos queriam aproveitar ao máximo essa festa. Eu disse que só iria depois que Ozzy fosse fazer seu teste.
- É ele! – Ozzy falou e levantou para atender a porta.
- Fique a vontade, a casa é sua né? – Eu falei rindo e o acompanhei, mas ele me ignorou e abriu a porta. Era Reno realmente e eu esperava seu sorriso calmo e acolhedor, mas ele estava sério e irritado.
- O que houve? – Eu e Ozzy perguntamos juntos. Reno entrou resmungando e se virou para nós.
- Um problema. Eu acabei de ligar para o Vancouver Canucks para confirmar seu teste e descobri que houve um grande problema.
- O que aconteceu? Eles não querem me dar o teste? – Ozzy perguntou e vi os seus olhos afundarem.
- Pior. Eles deram sua entrevista para outra pessoa, há duas semanas atrás. O técnico pareceu confuso ao falar comigo, dizendo que eles já tinham contratado a pessoa que eu indiquei.
- Mas como? A duas semanas o Ozzy mal tinha descoberto da entrevista! – Eu falei, chocado.
- Eu pedi que ele conferisse e me dissesse o nome da pessoa contratada. Ele alegou que houve uma troca de nomes.
- Quem tomou minha vaga? – Ozzy perguntou e notei sua voz ao mesmo tempo triste e com raiva.
- Quero que fique calmo, Ozzy, não podemos fazer nada agora. Mas vou arranjar outro teste para você a qualquer custo. Foi o Lukas Oliver Hölzenben.
- O que?! AQUELE IDIOTA?! – Ozzy explodiu e tentamos acalmá-lo.
- Ozzy, fica calmo, houve um engano! – Eu falei, mas ele andava de um lado para o outro da minha sala, bufando.
- Exatamente ele. Como ele conseguiu eu não sei. Ozzy me desculpa, não poderei fazer nada hoje. Mas prometo que te ajudarei novamente. – Reno falou e Ozzy agradeceu a ele, sabendo que Reno não tinha culpa. Reno se despediu de nós e eu fechei a porta. Ao me virar Ozzy deixava toda a sua raiva transparecer e começou a gritar.
- Foi aquela vadia da Karev! Ela me paga, Lucian, ela me paga! – Dizendo isso, ele sacou a varinha e desaparatou. Eu xinguei e tentei segurá-lo, mas era tarde demais.
Eu sabia que tinha que ir atrás dele imediatamente, mas como? Eu faria os testes de aparatação na semana seguinte. Parvati só poderia estar na casa de sua família, por sorte junto de Julie e Jack e acreditei que eles seriam capaz de impedir Ozzy de fazer uma burrice. Peguei o carro dos meus pais e dirigi rapidamente para lá, mas eles moravam em um terreno afastado do centro de Sófia. Assim que abri o carro, liguei para Oleg do meu celular. Ele atendeu depois do quarto toque.
- Oi Lucian, está perdendo o início da festa! O Ozzy já foi?
- Oleg! – Eu gritei no telefone e ele logo ficou preocupado. – Vocês precisam ir para a casa do Jack agora! Ozzy saiu daqui possesso. A Parvati cancelou o teste dele para os Vancouvers!
- Por Odin... – Oleg praguejou. – O que o Ozzy vai fazer?
- Você acha que eu sei? Eu estou indo pra lá de carro agora, mas vou demorar muito. Vá rápido Oleg, tenho um mal pressentimento.
Não precisei dizer duas vezes e Oleg desligou o telefone, mas ouvi ele chamando Alec. Os dois chegariam antes de mim com certeza. Para chegar mais rápido que eu pudesse lá, peguei um atalho numa estrada de terra e dirigi mais rápido do que estou acostumado, mas cheguei na casa dos Karev em menos de 15 minutos. Eu não vi nem sinal de Ozzy ou dos gêmeos, mas corri para a porta e toquei a companhia. A casa estava silenciosa demais para o que eu esperava encontrar. Foi Nina, a amiga de Julie que atendeu, e logo atrás estava Julie.
- Lucian? Estávamos de saída agora. – Nina falou e eu entrei na casa pedindo desculpas, ela pareceu um pouco assustada, mas Julie logo entendeu.
- Eles já saíram Lu. Os gêmeos vieram buscar o Ozzy. – Julie falou e sua voz estava cansada. – Eu estava só esperando a Nina para irmos para a festa, eles devem estar lá já.
- E a Parvati? Julie, o que ela fez foi horrível! Ela destruiu os sonhos do Ozzy! – Eu falei irritado. Julie concordou comigo e vi seus olhos duros.
- Eu concordo. Mas o Ozzy falou tantas besteiras aqui, Lu. Ele disse coisas horríveis. Minhas primas e meu irmão saíram pouco antes deles.
- Ele saiu da minha casa possesso. Tive que ligar para o Oleg e pedir a ajuda deles. – Eu falei e me sentei, respirando mais aliviado.
- Eles chegaram a tempo. Não passou por eles na estrada? – Nina perguntou.
- Não, eu peguei um atalho. Vocês querem carona? – Eu perguntei indicando o carro.
- Eu aceito, ia chamar um taxi agora. – Julie falou e saímos juntos da casa.
Julie sentou ao meu lado no carona e Nina sentou atrás. Estava um clima tenso no carro, mas conseguimos conversar mais calmamente após um tempo. Julie me perguntou se Lis iria na festa e eu disse que sim. Ela comentou que Lenneth iria com Patrick e notei que ela não gostava muito dele. Perguntei o porque, quando ouvi as sirenes.
Fizemos uma curva na estrada e me deparei com um acidente horrível. Um carro batera de frente a um caminhão. O carro estava todo amassado e os vidros da frente estavam destruídos. O caminhão estava amassado também e vi os paramédicos retirando o corpo do motorista dali. Senti quando Julie segurou meu braço com força.
- Lucian, pára o carro! É o carro do Jack! – Ele gritou e eu parei o carro imediatamente, pois ela já abria a porta e saia dele quase em movimento.
Nina e eu saímos do carro também e fui para o lado de Julie. Ela olhava com olhos vidrados para o carro, sem piscar e parecia ter medo de olhar em volta. Eu segurei sua mão, mas não obtive um aperto de volta. Nina segurou a outra mão dela, enquanto eu olhava ao redor aterrorizado.
Era o carro do Jack. E havia muito sangue em todos os lugares.
Os policiais e paramédicos andavam ao redor e vi um grupo deles subindo com macas cobertas por sacos. Julie soltou um pequeno grito e começou a chorar intensamente. Nina a abraçou e chorava também. Eu vi que também chorava.
- Não olhe. – Eu falei, abraçando-a também. Mas ela estava em choque, sem reação.
Eu olhei para Nina e pedi que cuidasse dela e fui até os policiais. O chefe deles me viu e me reconheceu, pois era freqüentador da minha livraria. Eu quis saber sobre o acidente e ele me disse que haviam três mortos. Apenas um deles sobreviveu e ele não sabia como.
Ele me levou até os corpos e levantou o saco para eu vê-los. Quase vomitei, mas me segurei e reconheci Jack e Alexis. Eu comecei a chorar mais intensamente. Jack fora um amigo para mim em todos esses anos e um excelente amigo. Alexis era amiga do meu irmão, sempre carinhosa e meiga, e começara a pouco tempo a namorar o Edgar. O chefe de polícia me segurou pelo ombro e eu disse que avisaria seus pais, mas eu falei que ligaria para eles.
Voltei para Julie, que continuava no mesmo lugar, e ajudei Nina a fazê-la sentar no meu carro. Chamei um dos paramédicos para olhá-la, enquanto eu pegava seu celular e ligava para Tio Viktor, pai de Jack e dela. O telefone demorou a atender e precisei ligar duas vezes, mas finalmente a voz alegre dele atendeu.
- Julie, cadê você? A festa está ótima! E seu irmão?
- Tio Viktor, é o Lucian.
- Lucian? Está tudo bem? Cadê a Julie? – Ele falou, sua voz pesada, pois notara meu tom de voz.
- Tio. Não sei como falar. Você deveria voltar para casa. Aconteceu um acidente na estrada. – Eu falei, mas comecei a chorar.
- Fica calmo, Lucian, me conte o que houve? – Ele falou e ouvi no fundo ele chamando a esposa e pegando as chaves do carro.
- O Jack e a Alexis. Sofreram um acidente. – Eu consegui falar entre lágrimas. Eu tinha me afastado para que Julie não me ouvisse. – A Parvati está em estado grave.
- E meu filho, minha sobrinha? – Ele perguntou, mas quando eu fiquei calado ele respondeu. – Estou indo para aí agora.
Ele desligou o telefone e eu voltei para Julie. Ela continuava a olhar para frente, sem perceber nem Nina, nem o paramédico ou eu. Eu contei que Parv tinha sobrevivido, mas ela pareceu não me ouvir.
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Eu tive a péssima tarefa de avisar a quem pudesse e todos pareciam não acreditar.
O funeral foi poucos dias depois e muito triste. Eu entrei na sala um pouco no início e vi as fotos sorridentes de Jack e Alexis em grandes quadros. Haviam flores por todos os lugares e nossos amigos do Instituto estavam por todos os cantos, se apoiando e chorando. Haviam professores também e o próprio Ivanovich conversava tristemente com Tio Viktor.
Eu sai logo depois e fui para a casa do Ozzy. Ele estava trancado lá desde o dia do acidente e não queria ir ao velório. Eu, Alec, Oleg e Finn tentávamos convencê-lo a ir, mas ele não queria.
- Foi culpa minha. – Ele repetiu mais uma vez, enquanto olhava para frente.
- Não foi culpa sua Ozzy, foi uma fatalidade. – Finn respondeu, mas Ozzy olhou para mim e para os gêmeos e repetiu.
- Foi culpa minha! – Ele falou. Eu sabia da condição dele e de sua família e ele já tinha me dito isso. Ele achava que ele tinha hipnotizado-a e causado o acidente e nada que nós falássemos mudava isso.
- Ozzy, vamos ao funeral. Jack merecia isso. – Oleg falou, mas Ozzy o olhou com tristeza.
- Ele merecia estar vivo! Falando e rindo conosco! Não metido em um caixão! – Ele falou, quase gritando.
- Ozzy, ele foi nosso amigo, está sendo duro para todos! Mas não pode se abater assim. Pense nos outros. Seu irmão está arrasado! A Julie ainda parece em estado de choque. Isso é egoísmo seu. – Eu falei e ele me olhou irritado.
- Lu está certo, Ozzy. Seu irmão está sofrendo tanto quanto a gente ou até mais, era a namorada dele. – Alec falou e Ozzy nos olhou por um longo tempo. Pensar em seu irmão acho que o fez se decidir.
- Tudo bem, eu vou. – Ele falou e se levantou.
Esperamos enquanto ele se arrumava e fomos juntos para o funeral.
Assim que entramos no salão e os outros nos viram, Edgar saiu correndo de perto dos pais e se jogou nos braços de Ozzy, abraçando-o com força. Ele parecia não ser mais capaz de chorar e Ozzy acariciou sua cabeça. Julie nem notou nossa entrada, estava ao lado dos pais e evitava falar com qualquer um. Karen, a mãe de Parvati e prefeita de Sófia, estava série e mantendo a compostura, mas muito triste e agora conversava com Ivanovich.
Fui na direção dos meus amigos, junto de Finn, Oleg e Alec, enquanto deixávamos Ozzy e seu irmão a sós. Lis chorava abraçada a Lenneth, que também chorava muito. Patrick estava sentado do lado delas, imponente. Assim que cheguei perto, apertei sua mão e ele me desejou suas condolências. Quando ouviram minha voz, Lis e Lenneth se afastaram e me olharam, as duas com olhos cheios de lágrimas. Lis se levantou e me abraçou, chorando em meu pescoço. A abracei também, tentando ser forte, mas então Lenneth se levantou e me abraçou também. Eu abracei as duas tentando confortá-las, mas eu comecei a chorar também. De relance vi que Patrick não gostou de Lenneth procurar a mim e não ele, mas ignorei isso. Tinha coisas muito mais sérias para pensar e me preocupar. Dois jovens estavam mortos, dois amigos, tão cedo e de forma tão horrível.