ORIENTAÇÃO VOCACIONAL
Todos os quintanistas deverão ter uma breve reunião com o diretor de sua casa ao longo dessa semana, para discutirem suas futuras carreiras.
Horários individuais estão listados abaixo...
LD: Ótimo! Vou ter que me encontrar com o professor Nicolai amanhã logo depois das aulas!
EP: Ah não, o que vou dizer para a Ivana? “Sabe o que é professora? É que eu ainda não sei muito bem o que quero ser. Talvez dançarina de balé, como a minha mãe!”
NO: Bom, é alguma coisa! Melhor do que eu se disser sem quase nenhuma audácia que quero ser Ministra da Magia!
Nina disse franzindo a testa e começamos a rir. Estávamos as cinco no quarto, conversando sobre como seriam as entrevistas, quando o barulho de algo se chocando contra o vidro da janela nos fez pular de susto. Annia, que estava na cama mais próxima, saltou para a cama de Milla aflita.
LK: O que foi isso???
Não deu tempo de pensarmos sobre o que podia ser, quando outra coisa atingiu a janela. Era uma pedra. Logo depois, um assovio começou a ser entoado e me levantei de um salto, sem acreditar. Corri até a janela e Victor estava lá embaixo, assoviando, com mais uma pedra na mão.
LD: Ficou doido Victor? Quer quebrar nossa janela?
VN: Vinie!!! Preciso conversar com você, agora! – parando de assoviar e sorrindo.
LD: Agora? Já viu que horas são? Preciso dormir... Amanhã a gente conversa!
VN: Não. Eu quero conversar AGORA com você! E se você não descer pra falar comigo, vou atirar tantas pedras na janela que ela vai realmente se quebrar, e começo a cantar uma daquelas serenatas bem altas!
LD: Boa noite, Victor!
Ameacei fechar a janela, e uma pedra passou raspando do meu lado direito. Annia se abaixou assustada quando a pedra caiu no canto da cama. Olhei com raiva e ele já tinha apanhado outra pedra.
LD: É sério Victor, sem conversas hoje ok? Amanhã eu juro que conversamos...
VN: ONLY YOU, CAN MAKE THIS WORLD SEEM RIGHT…
LD: Shhhh!!! Ficou doido?
VN: OOONLY YOOU...
LD: VICTOR, para!
VN: Vai descer ou não vai???
LD: Certo, vou descer. – fechei o vidro da janela e encarei as meninas, que seguravam para não rir. – Não se atrevam!
AI: One and only you... – Annia cantarolou e a fuzilei com os olhos.
Sai do quarto batendo a porta, a tempo de ouvir gargalhadas lá dentro. Victor me esperava parado ao lado da república, e assim que me aproximei, ele abriu um largo sorriso vindo na minha direção.
VN: Eu sou o errado, eu sou um chiclete, não te dou nenhum espaço, e a culpa mais uma vez é minha! Eu sei, meus ciúmes te sufocam, e você está pensando em terminar comigo... – ele falou isso quase sem respirar, não me dando tempo nem de pensar no que estava acontecendo. – Não faz isso, por favor?!
LD: Você quase quebra a minha janela, quase me acerta com uma pedra, quase denuncia em forma de música para todo o castelo que tínhamos alguma coisa e...-disse enumerando com os dedos das mãos.
VN: eu te amo, e mesmo que você termine comigo, eu vou ficar no seu calo! Eu sou um chato!
LD: Eu não disse em terminar ainda Victor, mas a gente precisa conversar muito sério!
VN: Eu já esperava por isso, acredite... Sou todo ouvidos. – disse se sentando.
LD: Você está brincando, não é?
VN: Nunca falei tão sério. Senta aí também. Se eu tiver que te escutar a noite inteira, eu vou escutar...
Olhei pasma para ele, mas achei melhor me sentar também. Ele me olhava sério, esperando eu começar a falar. A verdade era que eu brigava tanto com o Victor, por coisas tão banais, que nem me lembrava qual era o motivo dessa vez. Uma voz desaprovadora de Ricard soou na minha cabeça, e não pude conter um sorriso. “Um dia ele se cansa, Lavínia... Vocês mais discutem a relação do que a vivem... Você é impaciente, e injusta. O Victor é o Dalai Lama!”
VN: Então? Está me esperando pedir desculpas não é? Tudo bem... Desculpa, desculpa, desculpa! Prometo nunca mais ficar te cercando, nem pergunto mais por onde você andou durante a tarde. Eu confio em você.
LD: Não, está tudo bem Victor... Me desculpa você, ok? Eu sei que sou injusta às vezes, mas você sabe bem como eu sou então... – ainda sorrindo, como se pudesse imaginar Ricard ali do meu lado batendo os pés de impaciência. Victor arregalou os olhos.
VN: Você está passando bem Lavínia? Tem certeza que não precisa de uma daquelas poções malucas???
Sorri e me aproximei mais, deitando a cabeça nos ombros dele. Ele segurou minha mão entrelaçando nossos dedos.
VN: Pensei que seria mais difícil.
LD: Aquele seu discurso confessando a culpa foi o suficiente. – falei despreocupada e ele riu.
VN: Bem que o Ricard me disse que ele bastaria...
LD: O Ricard é? Entendo. Vamos ter uma conversa séria sobre nunca se intrometer nas brigas de casais! Mas tudo bem. Só quero que você cumpra sua promessa e que continue confiando em mim.
VN: Fechado. – ele olhou ao redor, e como não tinha movimento algum ali ao redor, me deu um beijo longo.
Ficamos alguns minutos ou horas juntos ali, até ouvirmos passos se aproximando. Só deu tempo de me afastar de Victor e me levantar em um pulo. Nos encarando desconfiado estava ninguém mais, ninguém menos que...
LD: Vlade???
SV: Vínia! –disse me abraçando forte. – Como você está?
LD: Estou bem, mas... O que você está fazendo aqui? – falei nervosa ao olhar Victor do meu lado, confuso.
SV: A pergunta certa é: o que vocês estão fazendo aqui fora uma hora dessas? – olhando Victor de cima a baixo, uma sobrancelha levantada.
VN: Nós, er... Victor Neitchez! – estendendo a mão. Vlade a apertou sorrindo.
LD: Então, Vic, a gente se fala amanhã! – olhei firme para Victor e ele sorriu sem graça.
VN: Certo. Boa noite...
Victor foi embora e Vlade me encarava com um sorrisinho desconfiado no rosto. Sem querer deixar nenhuma evidência, abri um sorriso largo para ele, novamente o abraçando.
SV: Será que minha irmãzinha estava quebrando a principal regra da escola?
LD: Han? Não! Sério! O Vic é só meu amigo e...
SV: Tudo bem. Então, está se alimentando direitinho?
LD: Como sempre. Mas você não veio até aqui perguntar o que ando comendo não é? Vai dizer o que está fazendo aqui ou vou ter que implorar?
Ele sorriu, ainda mantendo um olhar misterioso no rosto. Ele sabia do Victor, eu tinha certeza.
SV: Bom, Durmstrang está recebendo mais aurores para fazerem vigilância nas fronteiras do castelo com o vilarejo, você sabe o que está acontecendo lá fora nesses dias não é? – concordei com a cabeça. – Então, quando estavam fazendo alistamentos, me candidatei. Achei que seria uma boa oportunidade para ficar mais perto de você... Fiz mal?
LD: Não, é claro que não! Que ótimo!!!
SV: Me conta, como está tudo por aqui? Estudando muito?
LD: É, o de sempre também... – eu podia ter parado por aí, mas não, eu nunca controlo a minha língua. – Amanhã eu vou fazer orientação vocacional com o Nicolai e...
SV: Amanhã? Já? Nossa, cheguei bem a tempo então! – os olhos dele até brilharam com força, fiquei assustada.
LD: A tempo de?
SV: De ouvir você dizer que escolheu ser auror, claro!
Comecei a rir, jurando que ele estava brincando. Mas não. Ele substituiu os olhos sonhadores por uns semicerrados. Desde que Vlade tinha se formado e terminado a Academia de Aurores, tinha também adquirido uma obsessão: Fazer eu me tornar auror. Mal podíamos nos encontrar nas férias e ele começava a contar todos os feitos e aventuras perigosas derrotando bruxos das trevas, e no final, sempre aquela alfinetada direta, me fazendo pensar em como seguir essa carreira era prazeroso! Eu já tinha tentado várias vezes (praticamente todas em vão) explicar para ele que nunca tinha pensado em ser auror. Desde criança eu quero me tornar medibruxa, cuidar das pessoas, receitar poções com efeitos imediatos... Era o meu sonho. Mas ele nunca se deteve com isso. Dizia que sonhos a gente mudava quando sonhava com algo maior e melhor. E lá estava ele, mais uma vez, esperando que eu dissesse “ah, sim, vou ser auror”.
SV: Você ainda não está pensando em ser medibruxa, está???
LD: Eu nunca pensei em não ser medibruxa! É o que eu quero e vou ser, Vlade. – disse séria. Tudo bem se ele ia ficar decepcionado, mas não ia abrir mão do meu mais primata (nossa!) sonho, para ele ficar feliz.
SV: Ah não Lavínia! Pensei que depois de tudo o que eu te disse sobre aurores em comparação com medibruxos, você teria mudado de idéia. Sinceramente!
LD: E você alguma vez já foi medibruxo por um dia para poder comparar? Olha Vlade, estou com sono, então se você for tentar insistir nessa conversa, me avise para poupar meu tempo, ok? Acho que seria legal ter o seu apoio na carreira que escolhi, mas tudo bem se não tiver! Nunca vou ser auror, nunca. Sirvo para ser Comensal da Morte, e olha que eu daria uma das boas...
Parei de falar. Odiava ver aqueles olhos verdes me encarando irritados, mas estava começando a ficar com sono e sem paciência para discutir.
SV: Certo, certo. Não vou insistir mais. Você já está decidida, então não vai querer nem escutar. Bom, vou então para o castelo me apresentar aos outros aurores. Amanhã a gente se vê, quem sabe... Boa noite. – dando um beijo no meu rosto.
Foi andando erguido para o castelo e sem querer entender o porquê de ele ter desistido tão fácil daquela discussão, finalmente voltei para a República.