Thursday, November 01, 2007

(¯`·._.·[Um fim de semana antes de começarem as Olimpíadas...]·._.·´¯)

‘Tem certeza de que não querem ir? Vovó realmente convidou vocês...’ Victor perguntou mais uma vez enquanto fechava a mochila.

‘Não posso. Tenho uma pilha de deveres para terminar.’ Ricard disse se levantando da cama e espreguiçando. ‘Lavínia poderia ir...’

‘Não poderia não senhor. Também estou enforcada de coisas atrasadas. Dê os parabéns para sua avô, Vi. Agradeça o convite...’ sorri para Victor enquanto ele jogava a mochila nos ombros. Ele concordou com a cabeça e se aproximou me dando um beijo.

‘Então se comportem. Fica de olho nela para mim, Ricard.’ Ele disse me abraçando forte e olhando Ricard, que girou os olhos indiferente.

‘Fala isso como se eu fizesse outra coisa que não fosse cuidar de um de vocês dois. E além disso, Lavínia já tem idade e tamanho suficientes para se cuidar sozinha!’ ele completou sério e abriu o armário para apanhar vestes. Eu e Victor nos olhamos.

‘Boa sorte com o mal-humor dele...’ Victor cochichou no meu ouvido e rimos. Karl gritou para que ele se apressasse no andar de baixo e ele me deu mais um beijo. ‘Te amo! Tchau Ricard.’

‘Tchau.’

Victor saiu do quarto e me larguei na cama dele observando Ricard apanhar um casaco.

‘Você tem mesmo um monte de deveres para fazer?’ perguntei desconfiada. Ele parou de mexer nas roupas e me olhou.

‘Óbvio que não. E você?’

‘Também estou em dia.’ Rimos. Ele sacudiu os ombros e voltou ao armário. ‘Mas não iria à festa de 75 anos da Carrie de maneira nenhuma. Já me senti super sem graça no aniversário da Lauren... Melhor ficarem em família um pouco.’ Completei e Ricard concordou distraidamente. ‘Tem planos para hoje?’

‘Não. Estava pensando em dar uma andada pelo vilarejo. Preciso comprar alguns ingredientes para meu estoque de poções e penas novas... Alguma idéia?’

‘Nada também. Mas posso te acompanhar se quiser...’ disse animada me levantando. Ele finalmente parou de recolher partes de roupas pelo armário e fechou a porta me encarando em seguida.

‘Ótimo. Assim podemos ir e voltar rápido. E podemos treinar xadrez de bruxo...’

‘Combinado! Então vou colocar uma roupa mais quente e te encontro daqui a 10 minutos no portão, ok?’

‘Ok.’

O sábado tinha acabado de amanhecer, mas como Karl preferiu vir apanhar Victor o mais cedo possível, acabei sendo arrancada da cama para ir ajudá-lo a arrumar a mochila. Na verdade, Victor conseguiria muito bem arrumar um par de roupas dentro da mochila sozinho, mas ele insistira para que eu fosse até lá e não tive outra escolha. Nesse meio tempo, acabamos acordando Ricard.

Quando cheguei à Avalon, estava tudo muito quieto ainda, e todas as minhas amigas dormiam aproveitando para descansar mais uma semana cheia. Troquei de roupa em silêncio e alguns minutos depois me uni à Ricard e saímos juntos para o vilarejo.

‘O que está faltando no seu estoque de ingredientes?’ perguntei quando entramos na loja mal iluminada e mal cheirosa cheia de prateleiras com os mais diversos tipos de raízes, folhas e pedaços de animais para Poções. Ricard leu um pequeno pedaço de papel.

‘Raiz de valeriana, pêlo de lobo vivo, mirra e olíbano.’ A medida que ele ia falando eu apanhava os ingredientes nas prateleiras e não demorou muito, estávamos de volta à fria rua de pedra coberta de neve. Os nossos pés faziam som de trituração a medida que caminhávamos lentamente.

Ricard comprou novas penas, tinteiros e dois rolos de pergaminhos e então voltamos para o castelo. Decidimos ir tomar café antes de começarmos a treinar, e quando chegamos ao Salão Principal, a maioria dos alunos já tinham acordado. Evie e Nina estavam sentadas em uma mesinha próxima e nos sentamos com elas.

‘Onde foram?’ Evie perguntou dando uma mordida em uma torrada coberta de geléia de morango.

‘Até o vilarejo. Ricard precisava fazer umas compras para o estojo de Poções e como Victor já tinha me acordado, fui com ele... Milla e Annia ainda não acordaram?’

‘Não.’ Respondeu Nina pousando a xícara de café e esfregando os olhos. ‘Também não queria ter acordado, mas eu e Evie precisamos treinar tênis.’ Ela de repente adquiriu um tom de voz firme e apontou a raquete aos seus pés. Me senti enjoada. Os treinos de tênis não me lembravam coisas boas...

‘Quem são os cobaias dessa vez?’ Ricard perguntou rindo. Nina o lançou um olhar ofendido.

‘Não são cobaias. São voluntários! Mas como todos estão meio que fugindo de nós duas, hoje vamos jogar uma contra a outra!’ ela completou empolgada e olhou Evie com uma expressão maníaca. Evie pareceu não se importar.

‘Sim. Vai ser divertido...’ disse cínica. Rimos. ‘Milla estava mal, não estava?’ Perguntou ficando séria. Eu e Nina concordamos desanimadas.

‘Iago é um grande idiota. Odeio garotos que não se garantem...’ Nina começou revoltada. Olhei de relance para Evie e rimos nos lembrando de Michael. Nina sacudiu os ombros. ‘Já terminou, Evangeline?’ disse ficando de pé para impedir que prosseguíssemos com a conversa.

Evie concordou se levantando e as duas se despediram sumindo para os jardins. Ricard as acompanhou com um olhar curioso e quando se voltou para mim, tinha o mesmo olhar, misturado com ceticismo.

‘Vocês não perdem a oportunidade não é mesmo?’ perguntou de repente. A olhei intrigada.

‘Oportunidade de quê?’

‘De esconderem seus próprios problemas e julgarem os dos outros.’ Respondeu indiferente e tomou um grande gole de suco.

‘Não comece com o papo terapêutico, Ricard.’

‘Não estou dando sermões. Mas vocês têm manias definitivamente estranhas...Olhem só como trataram a Anastácia só por que descobriram que ela nunca beijou ninguém! Quero dizer. O que isso interfere?’

O que isso interfere??? Ta brincando! Se você ouvisse os conselhos maduros da Annia saberia! Ela sempre deu conselhos tão... avançados! Incrível ter aprendido tudo aquilo em livros!’ respondi rindo ao me lembrar de Annia. Ricard ficou sério.

‘Bom. Que é estranho, é.’

‘Não a tratamos mal. Realmente não faz diferença se ela teve ou não namorados! Mas é que ficamos chocadas quando descobrimos, foi só isso...’

‘Então o que chateou vocês foi o fato de ela se sentir envergonhada para contar?’

‘Exatamente. Somos amigas!’

‘Não tem nada a ver! As pessoas podem ter segredos que não contam nem para os melhores amigos! Às vezes ela pensava que se contasse isso vocês agiriam dessa maneira ridícula... E ela teve razão não é?’

‘Depois você disse que não está dando sermão...’ falei cansada. Ele terminou de beber o suco em silêncio.

‘E não estou. Mas fico imaginando qual seria a sua reação se eu dissesse que nunca namorei ninguém!’ ele disse tranquilamente e eu ri. Ele me observou.

‘Você não diria isso nunca. Seria uma mentira lavada.’

‘E se não for uma mentira?’

‘Você já saiu com outras meninas!!!’

‘Eu saí com você hoje e nem por isso nos agarramos, não foi?’

‘É diferente.’

‘Não vejo como...’

Ele parou de falar e eu fiquei sem entender aonde ele queria chegar. Mas alguma coisa no tom de voz gelado dele fez meu estômago revirar e quando respondi, escolhi bem as palavras...

‘Você nunca namorou ninguém?’ meus olhos se arregalaram. Ele continuou com a mesma expressão “sem expressão”.

‘Não disse isso, mas já tive a resposta que queria.’ Ele se levantou e ainda perplexa me levantei também, a cabeça girando.

‘Espera! Eu vou com você treinar xadrez!’

‘Desisti de xadrez. Vou melhorar meu tempo na natação. A gente se vê depois...’

Sem dizer mais nada, saiu do Salão Principal e eu me sentei novamente me sentindo particularmente em náuseas. A cabeça rodopiava. Isso queria dizer que Ricard também nunca tinha estado com alguém, ou ele só estava me testando???

°°°

‘Pode me dizer o que significou aquilo?’ perguntei indignada enquanto Ricard se sentava ao lado de Victor com um sorriso satisfeito no rosto. Tomou um grande gole de gilly antes de me olhar.

Aquilo o quê?’ perguntou. Victor também se virou para mim sem entender.

‘Você AGARRADO à Miyako! Não se faça de besta, você sabe muito bem!’ respondi zangada. Victor e Ricard se entreolharam rindo e meu sangue ferveu.

‘Ah sim. Bom, tenho que explicar como funciona um beijo?’ Ricard perguntou irônico.

‘Muito engraçado! Realmente muito engraçado’ disse com raiva. Ele sorriu ironicamente. ‘Ela é amiga do Ty, você sabia?’

‘Sabia. Só não entendi a relação ainda...’ ele disse pensativo. Me controlei.

‘Significa que ele não deve estar achando nada legal também você agarrando a amiga dele por aí...’

Ricard me olhava com uma dose de piedade que estava me tirando do sério. Se levantou.

‘Fique sabendo que como você bem disse eles são só AMIGOS. E tenho certeza que se Miyako estiver ok com isso, Ty, Gabriel e todos os outros amigos dela também estarão! Agora, se me dá licença, tenho mais o que fazer e não estou com paciência para discutir com você hoje, Lavínia.’

Ele virou as costas e foi até o balcão de bebidas. Soltei um bufo de indignação ao vê-lo entregar uma garrafa de cerveja amanteigada para Miyako e se sentar ao lado dela sorrindo abertamente. Victor os observava também, mas ele sorria de maneira realmente feliz.

‘Por que está sorrindo?’ perguntei com raiva. Victor se virou para mim.

‘Por que não vejo Ricard tão feliz há anos! Acho que ele se apaixonou... O que é ótimo, não é?’ perguntou distraído.

‘Não, não é! Ela não estuda aqui!!! Vai acabar magoando o Ricard quando for embora e aí eu quem vou ter de agüentar!’

‘Não coloque os carros na frente dos bois, Vinie. Ricard só está curtindo esse momento com a Miyako, ainda não pensaram em nada além, pode ter certeza.’

‘Com certeza Ricard já tem tudo planejado! Você não vê a cara dele? Está em transe! Ele vai acabar se decepcionando...’ disse em desespero. Ricard e Miyako haviam recomeçado com a sessão de canibalismo mútuo.

‘Você está exagerando...’ Victor disse sorrindo e me abraçou. ‘E mesmo que tenha planejado qualquer coisa futura, que mal faz? Se a Miyako também gostar dele, eles podem muito bem namorar...’

Livrei-me dos braços do Victor e levantei tremendo de ódio. Incrível como para os dois era tudo muito simples, muito fácil. Eu tinha uma vontade louca de sacudir Ricard, fazê-lo entender que Miyako não seria ideal para ele. Que em breve ela iria embora. Mas ao mesmo tempo, uma parte de mim se prendia à simplicidade de Victor. Por que eu estava me preocupando com isso? Se eles só estavam se beijando essa noite... Às vezes nem tornassem a ficar juntos! Por que eu estava com tanta raiva?

‘Quer dançar?’ Victor se levantou também, confuso. Eu ainda mantinha meus olhos pregados no casal.

‘Não. Vou dormir. Não quero mais ficar assistindo o começo de uma tragédia sem poder fazer nada!’

‘Você está falando sério? A festa mal começou...’ Victor respondeu chocado olhando ao redor. Sacudi os ombros.

‘Aproveite a festa então. Eu não tenho mais clima.’

Antes que ele tentasse me impedir ou dizer alguma coisa, saí marchando de volta para a Avalon. Esperava encontrar a República completamente deserta, mas para minha surpresa, Evie estava deitada na sua cama, ainda com a fantasia de índia, quieta... A observei curiosa alguns minutos, mas me dei conta de que também não queria conversar com ninguém naquele momento. Troquei de roupa, deitei na cama em silêncio, e acompanhando Evie, me perdi nos meus próprios pensamentos e frustrações enquanto uma festa sacudia os jardins.