Monday, October 22, 2007

- Como você consegue comer pizza fria a esta hora da manhã? Faz mal. - disse Luka reprovador.
- O que eu como no café da manhã é problema meu. – a garota respondeu.
- Você precisa se alimentar direito, ainda tá em fase de crescimento. - o garoto provocou e ela começou a rir, dizendo entre um riso e outro:
- Nem meu pai falaria isso. Ele já percebeu que eu sou grandinha.
- Ainda continua baixinha para mim. - ele provocou chegando bem perto e fazendo com que ela olhasse para cima e respondesse séria, avaliando-o. Ele tinha uma expressão estranha enquanto a analisava, e isso estava deixando-a tensa. Ainda não era a hora de ele saber o seu segredo:
- Tenho uma altura normal, você sabe disso. Aliás vá cuidar do seu time, em vez de ficar aqui me incomodando.
- Ah, eu te incomodo? Bom saber... - riu.
- Incomodaria, se você fosse alguém “interessante”. Faça o que quiser.
- Ser brindado pelo seu “bom humor” num dia de jogo, é como tomar pus de Bubotuberas, Milla. Revigorante! E o pior que é que estou começando a gostar disso. Tchau Catatau. - o garoto disse e saiu correndo antes que ela atirasse alguma coisa nele.
- Tonto! – foi seu pensamento enquanto terminava seu peculiar café da manhã, antes de subir correndo ao seu quarto e buscar tudo o que precisava para enfrentar o dia para o qual ela vinha se preparando há algum tempo.

o-o-o-o-o-o-o

- ...E o jogo continua acirrado caros expectadores: Ansuz 40 X Berkana 80, e o lá vão os apanhadores, parecem ter encontrado o pomo de ouro, e Arre! O apanhador da Ansuz quase foi derrubado por um balaço do capitão da Berkana Iago Karkaroff., porém o garoto franzino é bom.- disse o locutor.-‘ Conseguiu desviar do balaço e se manter na partida.... Mas o que é aquilo? É o pomo, é o pomo, é o pomo, eles vão trombar, não, não trombaram e vence a Ansuz senhoras e senhores, 190 a 80, e vejam um dos jogadores da Ansuz foi apanhado por um balaço errante...
Um dos jogadores foi atingido na cabeça por um balaço perdido e começou a cair. Miles, o novo apanhador da Ansuz era quem estava mais próximo e ele não hesitou. Inclinou-se na vassoura e foi atrás do jogador. Conseguiu alcança-lo e amenizar a queda, os outros jogadores do time se aproximaram e ajudaram o novato a pegar o colega machucado. O franzino jogador sustinha a maior parte do peso do jogador e com um esbarrão dos outros na tentativa de ajudar, uma coisa parecida com uma peruca caiu ao chão e revelou uma longa cabeleira loura. A agitação entre os jogadores dos 2 times silenciou:
- É uma garota.
- Não, é um trasgo. Estou vendo que é uma garota.
- Caraca, nosso apanhador é uma garota. – disse outro.
- Claro que não vamos ter uma garota no time. Não é capitão?
Ao soltar o jogador no chão, ela olhou para Luka e ele tinha duas lascas de gelo no lugar dos olhos azuis. Nunca o vira tão zangado, mas isso fez com que erguesse o queixo em desafio.Como se fosse um rastilho de pólvora logo o narrador informava os últimos acontecimentos:
- Senhoras e senhores, o apanhador da Ansuz é uma garota. Nunca na história de Durmstrang uma mulher disputou uma partida de quadribol... - e no campo a confusão continuava. Muitas pessoas das arquibancadas haviam conseguido chegar até eles, suas amigas foram empurrado quem estava no caminho, junto com Ty e Micah:
O jogador machucado começou a acordar e disse ao olhar para quem ainda segurava o seu braço:
- Eu estou no céu... - e antes que ela disse mais alguma coisa o capitão da Ansuz disse:
- Dimitri você não está no céu. Tá olhando para seu colega de time, o “Miles”.
O garoto levantou rápido e disse fazendo careta:
- Você tá brincando. Ai minha cabeça!
Os jogadores do outro time a olhavam pasmos e o juiz da partida o professor Volchov estava um pouco perdido sobre o que fazer. Mas o que a deixava insegura era o olhar irritado do capitão da Berkana, Karkaroff, enquanto os jogadores resmungavam:
- Quadribol é esporte pra homem, e uma garota no time é bizarro. - disse Max, o irmão de Evie.
- Não pode haver meninas no time. Isso em si, já pode desclassificar a Ansuz. – disse um jogador da Berkana.
Milla arregalou os olhos.
- Não podem fazer isso, joguei como qualquer um de vocês, fiz os testes. - defendeu-se.
- Quem fez o teste foi um tal de Miles, que não existe. – respondeu um dos batedores da Ansuz.
- Isso é injusto. Ela jogou bem, e qual o problema em ser mulher? Está na hora das coisas evoluírem aqui. - disse Ty e seus amigos o apoiaram.
- Eu joguei bem, ninguém pode negar isso. Fiz a minha parte. Vocês viram que sou capaz. - disse ao olhar para os colegas de time, e eles ficaram calados.
- Mas aqui só os homens jogam. - insistiu o jogador da Berkana e ela olhou suplicante para o capitão do time adversário que se mantinha calado com uma máscara fria no rosto, quando disse com voz mais fria ainda:
- O time tá certo. Peço a desclassificação da Ansuz neste jogo, juiz. - e ela olhava chocada para o seu namorado:
O diretor da escola se aproximou e ao se por ao tomar pé da situação disse:
- Até o momento só ouvi um lado da questão: o que o capitão da Ansuz acha disso? É a favor dos times mistos?
E os olhares se voltaram para Luka. Milla olhou desafiante para ele e ele disse, rígido:
- Nunca fui a favor dos times mistos, professor, mas após o desempenho da Kovac hoje, acho que... Está na hora de mudarmos esta regra. Devemos nos adaptar aos novos tempos. - e olhou firme para cada um dos outros jogadores, que balançaram as cabeças contrariadas.
- Maravilhoso! Então está decidido: o jogo de hoje está valendo pelo campeonato das casas, e sinto muito senhor Karkaroff, não vou desclassificar a Ansuz por um preconceito tolo. As coisas mudam, e as pessoas evoluem. Estamos numa nova era. – e o juiz apitou e levantou o braço do Luka como vencedor da partida. E misturando vaias e aplausos os alunos foram se dispersando, e comentando entre si a novidade.
Após algum tempo restavam poucas pessoas em campo. Seus amigos a cumprimentaram felizes, e Iago estava parado apenas olhando-a:
- Iago... - ela começou e ele a cortou brusco.
- Depois... Eles a esperam. – e foi embora em direção ao vestiário da Berkana. - ela olhou para seus amigos se desculpando e foi em direção ao time que estava avaliando-a ainda com estranheza. Aquilo a irritou.
- Vão me mandar embora? Vou poupar o trabalho: estou fora!
Luka estreitou os olhos e a pegou pelo braço e foi puxando-a, quando os outros jogadores fizeram menção de segui-los ele disse, sem nem olhar para trás:
- Fiquem aqui. Preciso conversar com ela a sós.
Ele foi com ela até a sala do time, onde entrou e trancou a porta:
- O que você pensou que estava fazendo?- Luka perguntou sem rodeios.
- Só queria te mostrar que era boa o bastante para jogar no seu time. Mulheres sabem jogar quadribol.
- Ótimo provou este ponto e eu quero você no time.
- Mas eu não vou ficar. Sei que você só concordou com o diretor, para não sofrer a desclassificação, então não finja que é liberal. Eu te conheço bem.
- Sim, eu precisei me adaptar para salvar o time, mas você foi o melhor apanhador que me apareceu, provou que pode agüentar uma partida difícil. Deu-me esperança de poder disputar a copa com as outras casas de igual para igual e agora a tira de mim? Porque você me odeia tanto?
Ficaram se encarando e ela pensava na pergunta dele. Via o quanto ele estava irritado e sua língua foi mais rápida que meu pensamento:
- Eu não te odeio. - respondeu por fim.
- Pois você age como se me odiasse. Olha eu não sei o que fiz de errado, mas seja o que for me desculpe. Embora eu precise de você... No time... Eu não posso obrigá-la a ficar.
Ele começou a virar as costas para ir embora e ela disse:
- Eu acho que posso jogar ate o fim do ano letivo, pra dar uma força para o time, depois disso você deve fazer novos testes. E não sei se os outros jogadores vão me aceitar...
- E desde quando você tem medo deles?- ele desafiou.
- Nunca. A vaga é minha? – ela disse.
- Você vai seguir minhas ordens como capitão?
- Você não falou que ia mandar em mim... – ela começou a dizer.
- Eu mando no time, e minhas ordens são leis. Você vai segui-las pelo bem da equipe? Ela podia ver a engrenagem na cabeça dele funcionando. Ele havia levado a melhor. E sabia disso, pois tinha um olhar astuto enquanto aguardava a resposta dela, que suspirou resignada e disse:
- Está bem, capitão. Vou seguir suas instruções. Você deve saber o que faz.
- Eu saberei o que fazer com você, Milla. – estavam tão próximos que ela podia ver que os olhos dele escureciam e respondeu:
- Não tenha tanta certeza, Luka. - ele se aproximou mais e uma batida na porta o interrompeu.
- Milla você está bem?- era a voz de Ty e Luka riu cínico:
- Salva pelo gongo! - e ele se afastou abrindo a porta e chamando o resto do time para uma conversa enquanto a liberava.
Saiu dali e encontrou seus amigos e foram todos juntos para a Avalon. Pelo caminho iam encontrando outras pessoas que apoiavam sua atitude ou a olhavam abismadas para o fato dela ter jogado quadribol, mexendo numa antiga tradição. E embora sorrisse e tivesse achado seu desempenho muito bom, não encontrava o seu namorado entre eles. Micah percebendo seus olhares preocupados disse:
- Hey “garotão”, não fica preocupada. O Yéti deve tá meio chocado, mas depois fica tudo bem entre vocês. Ele se acostuma.
Ty fazendo graça emendou:
- Micah, nossa criança venceu seu primeiro jogo! Vamos tirar uma foto? - disse arrancando risos de todos. Ela festejou com eles e decidiu não dar ouvidos à sensação que apertava o seu peito:
‘ As coisas vão mudar’.