Friday, October 05, 2007

LD: Milla, você viu meu livro de feitiços?
LK: Qual é ‘brother’, tá me estranhando meu chapa? – Milla estufou o peito e abriu as pernas engrossando a voz. Annia, Nina e Evie riram.
LD: Ops, desculpa. Miles, GAROTÃO, você por acaso viu aquele meu livro de feitiços?
LK: Vi não, Vínia. – Milla voltou ao seu normal sorrindo orgulhosa da sua própria evolução no ramo ‘como ser um homem’.
LD: Ótimo. Nem estou muito atrasada nos deveres de Feitiços mesmo... Acho que deveríamos arrumar esse quarto de novo, o que acham? – perguntei tentando parecer empolgada, mas ao olhar ao redor desisti da idéia. Arrumar aquele quarto exigiria muito mais do que esforço físico.
NO: Esquece Vina, uma hora você acha. Pode usar o meu se quiser... – Nina estendeu o livro dela e eu sorri agradecida.

Sentei na cama, abri o livro, estiquei um pergaminho, molhei a pena no tinteiro e já ia começar a escrever sobre o Feitiço do Avesso quando bateram na porta.

- Posso entrar sem risco de ver cenas constrangedoras? – a voz de Victor foi ouvida do lado de fora.
ES: Pode entrar. Quer dizer, se você conseguir abrir a porta... – Evie disse brincalhona e rimos. Victor abriu uma fresta da porta e enfiou a cabeça pra dentro me procurando.
- Vina, vamos dar uma volta?
LD: Só se você arrumar um substituto para mim no Clube de Herbologia, que começa em... 10 minutos!!! – consultei meu relógio e levantei de um salto da cama. – Droga. Quase me atraso.
- Ótimo. Você e esses clubes. – Victor cruzou os braços, chateado. – Eu sempre sou trocado por ervas, fungos, plantas venenosas, planetas a serem descobertos...
LD: Não tenho tempo para discutir a relação agora, Vi. Tenho mesmo que ir. Abrir a estufa, preparar o material de hoje...
- Já entendi. Vou te acompanhar até lá, então.
ES: Vou indo daqui a pouco, Vina.
LD: Ok.

Saí apressada da república de mãos dadas com Victor. Paramos ao chegarmos na porta da Estufa Imperial e ele me deu um beijo.

- Vou te esperar aqui depois da reunião então, ok? Temos uma horinha até você ir procurar seus planetas... – ele comentou sarcástico e ri me despedindo.

Abri a estufa com a chave que professor Mikhail tinha me dado na primeira semana de aula (e que eu preferia manter em volta do meu pescoço com receio de que se perdesse no emaranhado do nosso quarto) e comecei a arrumar as Cocleárias em cima dos balcões. Estava distraída distribuindo as mudas quando uma voz na porta me assustou.

- Oi!

O menino moreno de cabelos negros espetados sorriu para mim. Fiquei parada o encarando, ainda me recuperando do susto.

LD: Poderia bater na porta da próxima vez? Não gosto muito de surpresas...
- Me desculpa, não queria te assustar.
LD: Tudo bem. O que você quer?
- Professor Mikhail me disse que era aqui a reunião do Clube de Herbologia. Certo?
LD: É... – olhei desconfiada.
- É por que ele acabou de conseguir uma vaga pra mim, e disse que poderia começar hoje mesmo. Você é a Lavínia?
LD: É, sou eu... Bom, se você vai participar, fique a vontade e seja bem-vindo. Vou esperar o restante da turma chegar e começo as instruções ok?
- Ok. E a propósito, sou Naveen Odebretch. – sacudi a cabeça e continuei arrumando as mudas.

Em cinco minutos a estufa já estava cheia de alunos sentados nos balcões de frente para as mudas de Cocleárias. Fiquei de pé e todos ficaram em silêncio.

LD: Hum. Boa noite. Bom, vocês estão de frente para mudas bem recentes de Cocleária. Iríamos continuar nossos estudos sobre o visgo do diabo, eu sei. Mas professor Mikhail recebeu essas mudas nessa semana e me instruiu a trabalharmos nelas antes que fiquem maiores... Então, alguém sabe as principais propriedades dessa planta?

Antes que qualquer outro pudesse responder, o novato começou a falar com a voz firme, de quem decorou um livro inteiro de Herbologia.

- É conhecida por sua propriedade diurética. Ajuda os rins a funcionarem melhor, combate a retenção de água na urina, e o excesso de ácido úrico. Também ajuda em casos de bronquite e asma. Para as poções, ela é usada para confundir e estontear.

O restante dos alunos ficou encarando ele em silêncio. Quando terminou de falar, olhou em volta e vendo que ninguém se manifestava sacudiu o ombro.

- Estou errado?
LD: Não, está certo. Bom, já que o Naveen listou minuciosamente as propriedades das Cocleárias, o que iremos fazer hoje é na verdade bem simples. Em cada muda tem várias flores brancas, certos? Vamos tirar somente os estames das flores com as pinças e depositá-los nesses vidros que coloquei ao lado de cada um. Evitem machucarem as pétalas, por favor... A importância da planta está nos estames.

Todos começaram a arrancar estames com pinças e a conversa foi crescendo. Me sentei junto com minhas amigas enquanto puxava uma muda para mim mesma e separava as flores do emaranhado de folhas. Quando o tempo acabou, novamente me levantei e novamente a estufa caiu em silêncio.

LD: Ok, fizemos um ótimo trabalho. Se sobraram estames nessas flores, foram poucos. Por favor, coloquem os vidros naquela caixa ali na frente. Semana que vem voltaremos ao visgo do diabo, tudo bem? Obrigada.

Muitos sorriram e se despediram antes de saírem da estufa. Comecei a organizar as mudas novamente nas prateleiras irrigatórias.

ES: Vai para a república com a gente, Vina? – Evie e Nina me ajudaram a recolher as coisas e estavam me esperando.
LD: Não vou não. Victor quer dar uma volta. Acho que vamos na Arena dar uma treinada em alguma coisa até o Clube de Astronomia...
NO: Nossa, acho que vou dormir no Clube de Astronomia hoje! – Nina comentou exausta. – Bom, então até daqui a pouco Vina.
LD: Até.

Elas saíram da Estufa e continuei a arrumar os vidros com estames dentro da caixa.

- Posso ajudar?

Quase saltei novamente de susto e tive que me controlar para não gritar. Respirei fundo e me virei para Naveen, que estava a alguns passos das minhas costas.

LD: Você tem mania de assustar as pessoas ou é só comigo? – perguntei irritada e me virei novamente pegando uma caixa e colocando-a em cima da mesa. Naveen se adiantou e pegou a segunda.
- Juro que não é minha intenção.
LD: Então, conseguiu acompanhar a aula?
- Na verdade, foi bem fácil... – ele respondeu com certo convencimento na voz que me irritou.
LD: Ótimo. Melhor assim. Vamos?

Ele acenou e me deu passagem. Esperei ele sair da estufa e tirei a chave de volta do pescoço para trancá-la. Percebi que ele estava observando.

LD: O que é?
- Nada. Só fico pensando o que pode ter de tão sério nessa ‘Estufa Imperial’ para ter que ser trancada a chave.
LD: Isso você pergunta para o professor Mikhail. – disse azeda. Ele sorriu.
VN: Vina! – Victor chegou andando apressado e me abraçou ignorando os olhares de Naveen. – Então, será que você tem uma horinha pro seu namorado? – perguntou insistente. Sorri.
LD: Tenho sim.
VN: Ótimo. – Victor segurou minha mão e percebeu a presença de Naveen olhando para ele. Naveen observava Victor de maneira fria, mas quando encarei os dois, Naveen sorriu para mim, desviando o olhar.
- Foi um prazer te conhecer, Lavínia. Até semana que vem.

Ele virou as costas e se distanciou. Eu e Victor continuamos parados em silêncio.

VN: Quem é ele? – Victor perguntou com um tom de voz cru. Levantei a sobrancelha.
LD: Um novato no clube. Naveen... Todo cheio de si esse aí. Tirando o fato que gosta de passar susto nas pessoas. Jeitinho arrogante.
VN: Também não gostei dele. Tem alguma coisa naqueles olhos dele que...
LD: Ah não, Vi, qual é. Vamos aproveitar nossa hora juntos ou vamos ficar analisando pessoas perturbadas? – perguntei irritada e embora ele continuasse sério um segundo, me abraçou e me beijou em seguida sorrindo.
VN: A primeira opção.
LD: Então o que acha de me ajudar a treinar esgrima?

Ele me olhou atentamente e murchou.

VN: Vai lá você de novo, Victor. Ser trocado por uma espada! - rindo, fomos juntos até a Arena de esportes.