Thursday, October 04, 2007

Mais uma reunião da Reis & Sombras havia terminado. Aos poucos, as 50 figuras encapuzadas que se encontravam formando um grande círculo na masmorra fria de pedra foram saindo erguendo tochas e abrumando os mantos negros em volta do corpo.

Bedivere, no entanto não se moveu em direção à saída. Antes ele precisava resolver um assunto de interesse próprio. Não dava mais para adiar. Caminhou firmemente até Gauvain, que se preparava para ir embora.

- Preciso falar com você.
- Bedivere?
- É. Pode esperar cinco minutos?

Gauvain olhou ao redor, mas ficou curioso com o que Bedivere tinha para lhe dizer. Balançou os ombros e eles esperaram até que a masmorra estivesse completamente vazia.

- Então? – Gauvain perguntou ansioso.
- Você conhece essa menina? – Bedivere tirou a foto de uma menina loira muito bonita do bolso. Gauvain a olhou atentamente por um minuto antes de confirmar com a cabeça.
- Conheço. Nos falamos pouco, mas conheço. Lavínia Durigan. Por quê?
- Preciso que você me fale o máximo de coisas que souber dela. Qualquer coisa. As aulas que freqüenta, os clubes, o que pretende ser quando se formar, a família, os amigos... Tudo o que souber.
- Posso perguntar por que o interesse tão grande? – Gauvain perguntou desconfiado e receoso. Não fazia parte de seus princípios contar sobre a vida de ninguém, ainda mais de maneira tão suspeita.
- Não posso dizer. Somos amigos ou não somos?
- Somos. Mas não me sinto à vontade com isso.
- Não vou fazer nada contra ela. Absolutamente nenhum mal. Terá de confiar em mim.

Gauvain analisou Bedivere com atenção na dúvida se deveria ou não contar. Mas acabou cedendo e relatou ao amigo tudo o que saberia dizer sobre a menina...

°°°

No outro dia, quando entrou na enfermaria já tinha um plano formado na cabeça. Não estava doente, mas precisava fingir até ter uma oportunidade de invadir a sala das curandeiras e roubar um arquivo. E essa oportunidade surgiu aproximadamente 40 minutos depois de ele ter fingido um mal-estar e ocupado uma das macas. Um garoto havia ido de encontro com um balaço errante e sangrava pelo nariz e boca. O que mais desorientou as curandeiras foi o escândalo que o garoto fazia ao se recusar a tomar as poções necessárias.

Bedivere agiu rápido. Levantou da maca depressa e fingiu gemer de dor para tentar chamar a atenção das três enfermeiras, mas nenhuma delas havia desistido do garoto, que já estava ficando pálido. Aproveitando-se disso, entrou sem ser notado na sala e foi direto aos arquivos. Depois daí, foi bastante fácil. A pasta com o nome ‘Durigan, Lavínia’ era a que mais chamava a atenção na gaveta, mas ele não poderia tecer comparações naquele momento. Arrancou a pasta e a enfiou dentro da mochila e saiu da sala depressa. Deixou a enfermaria um minuto depois, se sentindo tão satisfeito consigo mesmo que foi capaz de sorrir.

Foi até o jardim, onde havia combinado de se encontrar com Gauvain. O amigo já estava a sua espera parecendo aflito...

- Então... Conseguiu? – perguntou depressa. Bedivere sorriu e tirou o arquivo da mochila.
- Muito mais fácil do que imaginava! – eles se sentaram. Bedivere abriu a pasta e uma foto diferente de Lavínia estava fixada. – Quando você disse que encontraria a vida dela na enfermaria, eu achei que estivesse exagerando...
- Ela é hipocondríaca. Dorme mais dias na enfermaria do que na república.
- Certo. Vamos ver o diz... Lavínia Durigan, irlandesa, mãe e pai bruxos, meia-irmã trouxa, meio-irmão auror. Sempre um auror na família!!! – completou com desdém.
- O irmão dela fazia parte do grupo de aurores do castelo até o final do semestre passado. Deve ter sido transferido. Para falar a verdade, só sei sobre ele da família dela. Acho que ela não se dá muito bem com os outros... Passou as férias de verão na casa do namorado.
- Neitchez, certo? Victor Neitchez... – repetiu azedo. Sentia ódio só de pensar naquele sobrenome.
- É. Você conhece? – Gauvain perguntou surpreso. Não se lembrava de ter falado nada sobre Victor para Bedivere. O outro balançou a cabeça confirmando.
- Já conversei algumas vezes... – espantou a raiva da cabeça. Precisava se controlar ou colocaria tudo a perder. Continuou analisando a pasta, mas ela só informava de doenças imaginárias e as visitas regulares à enfermaria. Fechou o arquivo se levantando em seguida. – Acho que tenho tudo o que preciso. Já sei o que fazer. Gauvain, obrigado. Estou em dívida com você.
- Tudo bem. Só espero que cumpra o que disse, sobre não tentar nada de ruim contra ela.
- Não se preocupe...

Saiu andando sozinho repassando todo o plano que passara as férias inteiras bolando. Não iria fazer nada contra ela, se ela colaborasse do jeito que ele esperava. Já estava alcançando sua república, quando viu, do outro lado do pátio, Lavínia saindo de sua própria república sorrindo de mãos dadas com Victor indo na direção do povoado. Precisava começar a agir imediatamente...