- Por favor, por favor, por favor!! – disse Nina, quase de joelhos, juntando as mãos – Nós prometemos que...
- Não, nem adianta, Nina! A Vina me avisou para não chegar perto de vocês duas até o fim das Olimpíadas – respondeu Annia, cortando as duas garotas e recolhendo sua pilha de livros.
Evie e Nina passaram o dia todo atrás de voluntários para praticar tênis, mas, aparentemente, Vina havia entregado folders por toda Durmstrang alertando os desavisados. Nem os meninos se arriscavam a participar após os relatos minuciosos do nariz quebrado.
- A Lavínia não perde por esperar...o pescoço dela vai ficar idêntico ao nariz – vociferou Nina, imitando o movimento com as mãos – Podemos pedir para a Milla, o que você acha? “Imagina que a bola é a cabeça do Iago”!
- Ela saiu revoltada e avisou que vai passar o dia fora aproveitando a “liberdade” dela – respondeu Evie, imitando aspas com os dedos.
- Não tem jeito, Evie...a não ser que a gente tente a maldição Imperiatus...
- É uma idéia...- as duas se entreolharam por um segundo e balançaram a cabeça freneticamente – Ok, precisamos de um descanso desses treinos.
- Eu sei...ontem eu sonhei que um bispo estava me atacando com um florete e uma raquete. Dentro de uma piscina. Isso não pode ser normal.
- Então que seja declarado nosso dia de folga, certo? Nós merecemos isso! Vamos estudar ou andar pelo campo, qualquer coisa que não tenha a ver com esportes – disse, Evie
- Fechado, então – Nina respondeu, desanimada, debruçando o corpo sobre a janela – Opa! Ty e os meninos estão passando lá, vamos falar com eles?
- Que animação é essa para falar com o Ty? – perguntou Evie, franzindo a testa e empurrando Nina para olhar pela janela também – Ah, Chris.
- Ridícula...bom, eu preciso falar uma coisa com eles. Já volto, ok?
- Sei, sei – riu Evie – Eu vou procurar a Annia e depois a gente se fala.
Nina se enrolou em um casaco e enfiou a cabeça em um gorro peludo antes de correr para a porta da República. Ty, Micah, Iago e Chris discutiam quadribol animadamente até que a menina derrapou pela porta.
- Ei...meninos! – gritou Nina, recuperando o equilíbrio e sorrindo – Lindo dia, não?
- Hey, Nina! Lindo guaxinim na sua cabeça! – brincou Ty, arrancando risos de todos, menos Chris, que não moveu um músculo desde a aparição brusca da garota.
- Muito espirituoso, Ty, há-há. Bom...do que vocês estão falando? – perguntou Nina, corando.
- De como as garotas acham que podem nos enrolar – disse Micah – Fala logo o que você quer saber, Nina, você é uma péssima atriz!
- Que grosseria!Eu só queria ser simpática e...e...interagir com vocês...
- Eeee? – perguntaram todos eles, em coro
- ...falar com o Parker – respondeu a menina, encarando os pés e corando mais ainda enquanto os garotos riam e faziam um longo “iiiihh” – É rápido! É sobre as Olimpíadas!!
- Claro, claro. Não vamos interromper mais, né, “garotão” – disse Ty, dando tapinhas nas costas de Chris e se afastando junto com os outros garotos, que ainda riam. O rosto de Nina estava magenta.
- Bestas...então...tudo bom, Parker? – perguntou Nina, tentando controlar a voz que insistia em sair esganiçada. Chris levantou a sobrancelha em sinal de resposta, mas continuou em silêncio – Ah, por Merlin, você vai ser infantil a ponto de não falar mais comigo?! O que eu fiz?
Chris permanecia em absoluto silêncio, encarando Nina, mas parecia estar adorando a situação. As mãos da garota começavam a tremer e o silêncio estava se tornando insuportável. Desde o dia do treino, Chris havia parado com qualquer forma de comunicação, incluindo as piadinhas habituais. Passou a evitar a menina nos corredores.
- Deixa de ser idiota, Parker! Você está se comportando como uma criança...me ignorando...isso é patético! Eu não fiz nada...- silêncio – E eu não quis dizer aquilo...eu realmente não quis...- silêncio – eu não quero nada com o Michael, só falei por falar. – um sorriso cínico foi surgindo no rosto de Chris e Nina suspirou aliviada – Ótimo, então. O problema era só esse?
- Imagina, Olenova. Não tinha problema nenhum – começou o garoto, ainda com seu ar constante de cinismo. Quer dizer...temos um problema agora.
- Problema? Que problema?? – perguntou Nina, assustada
- Bom, você me contou que tinha interesse no meu querido irmãozinho, lembra? Eu fiquei radiante e não podia deixar passar a oportunidade de ser o responsável pela união de dois corações que anseiam por isso...
A menina congelou. Estava começando a entender onde Chris queria chegar.
- Do...que...você está...falando? – perguntou Nina, dando ênfase a cada sílaba.
- Ahh, Olenova, minha grandiosa bondade fez com que eu passasse os últimos cinco dias enchendo a cabecinha e o coração do pequeno Michael de esperanças. Inesperadamente – e arregalou os olhos, exagerado – ele já gostava de você, mas achava que não tinha chances! Veja só isso! Tsc tsc...felizmente, eu pude reverter esse erro. Você não imagina a alegria dele...
- Parker...eu não acredito...que você fez isso!!! – Nina começava a recuperar a cor magenta e a cerrar os punhos. – Você sabia que eu só falei por falar, você sabia!!
- Merlin...Olenova...então, então – lutava para falar em meio a falsos soluços – você não está apaixonada pelo meu irmãozinho? Mas e agora? Você não vai quebrar o coração dele, certo? Não posso permitir que faça isso...
- Mas...mas...eu...
- ...ele é muito sensível – e sorriu, triunfante. Nina queria ter bolas de tênis a mão só para fazer com que ele as engolisse. Sua mão tateava os bolsos, procurando a varinha – Não brinque com os sentimentos dele, cunhadinha. Ele está em suas mãos...cuide do meu menino, por favor. Confio em você. Ah, olha só quem está vindo, não morre tão cedo!! – Michael apareceu do outro lado da rua e Chris se aproximou da menina, ignorando a cara de fúria e o perigo de que ela cuspisse fogo – Eu...de certa forma...encorajei ele a tomar uma atitude e declarar seu amor te convidando para um jantar. Ele ficou tão entusiasmado!
- Você não podia ter feito isso... – Nina tentava conter lágrimas de raiva ao encarar o rosto sorridente de Chris.
- Um conselho: beba sua Coca Cola devagar e coma a torta com cuidado...nunca se sabe se pode ter um anel dentro... – enquanto se afastava, piscou e assoprou um beijo para a menina.
Nina sentia o corpo todo tremer. Queria pegar a varinha e gritar o primeiro feitiço que lembrasse, sem se importar com o efeito. Tentou correr para a República, mas uma voz conhecida a impediu.
- NINA! Ah, Nina! Eu te procurei o dia todo, onde você estava?? – disse Michael, com uma alegria maior do que a de costume, se é que era possível.
- Na República... – Nina ainda tremia descontroladamente.
- Você está com frio, quer o meu casaco? – Michael nem esperou a resposta e já estendia a mão com o cachecol e o blusão de frio
- Não, Michael...escuta, preciso falar com você...
- É, eu também! Aliás, vou direto ao assunto! Você-quer-sair-comigo? – e disse tão rápido que Nina mal teve tempo de reagir. A expectativa era notável e o menino mordia os lábios de ansiedade.
- Ah, Michael...eu... – não conseguia dizer “não”, absolutamente penalizada com a tristeza do menino em saber que foi iludido pelo irmão. Nina respirou fundo e fechou os olhos – Tudo bem. Eu vou sim, mas é só um jantar, ok?
- OBRIGADO!!! – Michael pulava de alegria e puxou a menina para um abraço sufocante do qual ela se livrou rapidamente com a desculpa de que tinha “uma pilha de pergaminhos aguardando”.
Enquanto caminhava para a República, com os ossos doloridos após o abraço e a cabeça girando de ódio, lembrou da velha frase que seus irmãos sempre usavam. “A vingança é um prato que se come frio”. Ahh, seria. E como já dizia o cantor trouxa, “what goes around, comes around”...