Tuesday, October 16, 2007

Masmorras cheias, encapuzados a postos olhando para um tablado um pouco elevado, e na parte mais alta, o líder dava suas últimas instruções aos iniciados... Hoje seria a prova final...

- Quero que vocês duelem entre si e o vencedor será um membro da sociedade, menos o mais velho dos iniciados, para você haverá algo diferente... (dizia Arthur em voz alta e clara).
O garoto mais velho olhou em volta e procurou se manter impassível, sabia que para ele nada seria fácil.
- Quero que você enfrente um dos meus melhores espadachins: Sagramor. – e um homem se adiantou a frente. Pelas roupas podia se ver que era um homem forte, acostumado a duelar.
Não, não seria nada fácil... (era seu pensamento enquanto avaliava seu oponente).
- Sagramor! Lute sem piedade. – foi a ordem dada por Arthur e um sorriso maldoso brincou nos lábios daquele cavaleiro.
Aproximaram-se, cumprimentaram-se e logo os retinir das espadas era ouvido por todos os lados. Aparentemente não se passou muito tempo e as outras lutas foram se encerrando e o garoto mais velho ainda oferecia resistência, embora exibisse pequenos cortes pelos braços e corpo. A luta parecia já ter um final definido, o mais velho exibia um sorriso confiante, porém num momento oportuno, o garoto assumiu a postura de ataque, levantou os dois braços acima da cabeça com as pernas separadas e o homem se preparou para o golpe com certa displicência, achava-se superior, mas o que ele não esperava era a força empregada no golpe pelo garoto. A energia acumulada o fez recuar e perceber que o garoto guardou forças durante toda a luta e se deixou machucar apenas para perceber seu ponto fraco, e quando Sagramor se deu conta disso era tarde demais: um golpe forte desarmou o cavaleiro mais velho, e o impacto o jogou ao chão. O garoto encostou a espada no pescoço do homem que o provocou ainda uma última vez:
- Vamos, faça o que tiver que fazer ou não tem coragem? - e seus olhos se dilataram quando o garoto ergueu a espada no alto, e a bateu no chão a milímetros do rosto do homem. – o garoto disse cansado entre os murmúrios aprovadores e decepcionados:
- Minha espada não precisa do sangue de meu irmão para ser forte. Apenas de minha força. – e estendeu a mão ao homem para ajudá-lo a levantar-se do chão. O homem após olhar para o garoto, assentiu com a cabeça e aceitou a mão oferecida.
Alguns cavaleiros observavam o novato com uma raiva muda. O grande teste ainda não havia sido feito e eles tinham certeza, neste ele falharia. Eles o forçariam a falhar.
Após o duelo de espadas e de 5 novatos serem aprovados e estarem sob os cuidados de outros cavaleiros, Arthur levantou a mão e o silêncio se fez:
- Agora é a vez de nosso iniciado mais velho. Sua ultima tarefa será mais complexa. Você deverá roubar os arquivos da sala do diretor da escola, e nos revelar quais os alunos são mestiços. – um burburinho foi ouvido e Arthur levantou a mão e todos silenciaram novamente. O jovem olhou firme para o líder e perguntou:
- E se eu me recusar, serei eliminado? – novos sussurros.
- A recusa pode acarretar numa punição a você por sua desobediência. - a após observar que o garoto não imploraria por sua entrada, ele disse: - Não, você não seria eliminado por isso. Então o que me diz? Vai roubar os aquivos?
- Não! - foi sua resposta firme, e o líder o olhou curioso:
- Por quê?
- Porque o código da cavalaria é claro: Proteja os inocentes, e isso eu carrego como norma de vida. E eu já provei o meu valor, tenho o direito de fazer parte da irmandade.
Antes que Arthur dissesse algo, um dos cavaleiros disse:
- Ele tem que ser punido, Arthur. Exijo o direito de fazer isso. - e o garoto virou o rosto para olhar o cavaleiro que queria puni-lo. Ele havia reconhecido àquela voz, e se aquela pessoa estava ali, sua chance de ser eliminado após ter passado por tantas provações seriam maiores.
-Ah é? E o que você pensa em fazer Galahad? – perguntou Arthur.- Quero que ele receba 5 golpes de chicote como punição por ousar não cumprir uma ordem sua.
- 10 golpes. - disse uma outra voz que o garoto também reconheceu, mas ficou calado, enquanto o segundo falava:
- Veremos se ele seria capaz de suportar qualquer coisa pela irmandade.
Alguns cavaleiros começaram a reagir em protesto, Sagramor e Derfell entre eles.
- Isso é demais...
- É degradante...
- Nunca vi uma coisa assim...
- Ele se mostrou capaz como qualquer outro de nós...
Um outro cavaleiro mais velho aproximou-se e disse, com um indisfarçável prazer na voz:
- Este poderia ser o teste final caro Arthur, uma vez que ele só está sendo testado, porque reivindicou o direito do sangue. Pois que seu sangue mostre o seu valor.
Arthur após pensar por alguns momentos disse:
- Está decidido: Deverá suportar 10 chibatadas, ao final se ainda estiver de pé, terá vencido o desafio final. Galahad e Gauvain, esta prova será dirigida por vocês.
Os dois cavaleiros se aproximaram e enquanto um deles pegava um chicote, o outro com uma faca rasgava suas vestes, expondo suas costas. O cavaleiro chamado Galahad disse, baixo em seu ouvido antes do primeiro golpe:
- Não deveria ter se metido com a gente...
Ele não teve tempo de responder, pois sua pele ardeu ao primeiro golpe e ele segurou o grito. Fechou os olhos e lembrou-se do porque estava ali, e sua determinação o faria suportar qualquer coisa, até mesmo o gosto de sangue que sentia na boca.
Após o que lhe pareceram horas, em que seus algozes o puniram com toda a força de que eram capazes, seu tormento chegou ao fim. Mantinha-se de pé, com a cabeça erguida e após olhar para Arthur e ouvir ele dizer basta, não demonstrou o alívio esperado, continuou firme, nem sequer tentou se cobrir, pois suas roupas estavam em frangalhos, enquanto Arthur fazia sua declaração:
- Estes nobres cavaleiros, passaram por vários testes ao longo de sua iniciação e agora é chegada a hora de fazerem o juramento de fidelidade ao seu líder e seus companheiros. Eu vos pergunto: Algum de vocês quer desistir?
- Não! - responderam em uníssono.
- Dispam suas vestes. É hora de receberem a marca que nos diferencia dos comuns. – ordenou o líder e ele ouviu os outros iniciados gritarem, enquanto o cheiro de carne queimada enchia as masmorras, a ele pareceu ouvir seu nome de cavaleiro ser pronunciado por outra pessoa, mas era sua própria voz, respondendo à pergunta de Arthur.
A partir daquele dia ele seria chamado de Gareth.
Logo dois homens encapuzados, que haviam permanecido o tempo todo em silencio, se aproximaram, e foram tirando suas máscaras dizendo pesarosos, ante sua surpresa ao reconhecê-los:
- Nos perdoe! Não sabíamos que seria desta maneira. – disse o homem mais velho, enquanto tirava das vestes uma poção para as dores. O mais jovem dos dois homens olhava para suas costas e ao ver o sofrimento em seus olhos, o garoto resolveu amenizar o tormento.
- Acabou! Sou um de vocês agora. Posso saber como chamá-los?
- Sou Heitor. - respondeu o mais velho enquanto lhe dava outra poção.
- E eu sou Leodegrance. - respondeu o outro que usava a varinha para fechar suas feridas, e fazia isso delicadamente para não deixar cicatrizes.
Os dois mascarados que se revezaram em sua punição se aproximaram e retiraram as mascaras. Aquele que sugeriu o açoitamento disse cínico:
- Agora somos irmãos, espero que não haja ressentimentos. – e estendeu a mão com uma postura arrogante. O outro ao seu lado o olhava sério, com as mãos ao lado do corpo.
- Ressentimento é uma emoção, e denota sentimento. Eu não costumo ter sentimentos por aquilo que eu desprezo. – Ignorou a mão estendida e gostou de ver o choque nos olhos de Galahad e Gauvain.
Não se importava com os sentimentos deles, ele havia alcançado o seu objetivo. Agora tudo que ele precisava era se manter firme por mais algum tempo.